Uma vez mais, a história parece que se repete: 2021 foi um ano terrível, no seguimento de 2020. Pessoalmente, foi um dos melhores -senão mesmo o melhor- anos que vivi. Aqui no blogue, retomei a assiduidade, já que em 2020, devido a todas as mudanças que se efectivaram, me ausentei sobretudo nos primeiros meses do ano. Em 2021, tal não ocorreu. Cheguei a julgar, em 2020, que o blogue iria definhar pouco a pouco, ao ter saído do ventre materno, constituído família e ganhado outras obrigações. Felizmente, consegui mantê-lo, não como prioridade, senão como espaço privilegiado, que acarinho, e que por isso quero e vou manter.
Farei, à semelhança dos anos anteriores, uma retrospectiva das publicações/acontecimentos que me pareceram mais relevantes, e que abordei aqui, evidentemente, com as respectivas hiperligações.
Logo a abrir o ano, morreu-nos
Carlos do Carmo, um nome maior do estilo musical por excelência em Portugal. Tivemos ainda
eleições presidenciais, que me mereceram a atenção por duas vezes,
aqui a segunda. A
campanha de vacinação começava na Galiza, com o pessoal sanitário. Eu vacinei-me cerca de um ano depois, por opção, porque decidi esperar que se normalizasse o debate em torno das vacinas. Como referi desde o início, iria vacinar-me quando me sentisse seguro. Vacinei-me este mês com ambas as doses. Pelo meio, em Portugal tiveram
outro confinamento da população, e entretanto fiz uma análise aos
resultados das presidenciais.
Em Fevereiro, iniciei a publicação de
conteúdos em castelhano, ou espanhol, como preferirem, que vêm alternando com o português e o galego. Viver em Espanha fez surgir em mim a necessidade de combater aquilo que considero ser um regime injusto e desigual, a monarquia, esgrimindo os meus argumentos em dois momentos (um
aqui e o outro, com mais propriedade,
aqui).
Em Março, e gradualmente, fui recuperando uma faceta de activista que se havia perdido algures na minha trajectória entre o adolescente e o homem adulto, e a primeira manifestação deu-se aquando do
Dia Internacional da Mulher. No mesmo mês, cumpriram-se
sessenta anos sobre a Guerra Colonial, um período que deixou tantas feridas no povo português e nos povos africanos. Entretanto, o meu entendimento sobre estas matérias foi mudando no decurso do ano.
A meio do mês, a
II República Española perfazia noventa anos desde que afastara a monarquia. Simultaneamente, terminava o livro de Fernando Dacosta sobre uma das mais interessantes e caricatas figuras do panorama intelectual-burguês português da segunda metade do século XX,
Natália Correia, no seu
Botequim. Já o mês se encaminhava para o final e, antecipando-me ao vigésimo aniversário da sua morte, ocorreu-me escrever sobre
Cândida Branca-Flor, que perdemos demasiado cedo.
Em Maio, escrevi umas palavras acerca das
eleições autonómicas de Madrid. Deixei também as minhas impressões das nossas miniférias na
Corunha, com uma passagem mais em
Santiago de Compostela. Pelo meio, dei por terminado um clássico da literatura que me impressionou pelo relato cru de existências tão difíceis, em
As Vinhas da Ira, de Steinbeck, numa edição antiga que a minha mãe me fez chegar.
Após quase vinte anos do chamado
jejum em títulos, o
Sporting conseguiu o feito de vencer a liga portuguesa. Como sportinguista que acompanha o futebol à distância, não menos me alegrei com a vitória do clube. Seguiram-se duas perdas no mundo das artes interpretativas:
Maria João Abreu, uma morte totalmente inesperada, e
Eva Wilma, actriz brasileira que nós, portugueses, nos habituámos a ver em tantas produções que nos chegaram por décadas desde a outra margem do Atlântico. O dia 17 coincidiu com a minha primeira publicação na língua galega, precisamente no
Dia das Letras Galegas, também Dia Internacional Contra a LGTBfobia. O Estado espanhol,
volta e meia, tem problemas com os fluxos de imigração ilegal proveniente de Marrocos através de
Ceuta, e foi esse o tema da crónica de dia 21.
Meio do ano. Junho começou com uma breve reflexão sobre o
Chile de 1973, muito influenciado pelo livro que lia no momento,
A Casa dos Espíritos, de Allende, que terminaria dias depois. A
SIDA, epidemia que nos acompanha há quarenta anos, preencheu a crónica de dia 6. O
Euro 2020, realizado em 2021, estava prestes a iniciar-se, e não é novidade que gosto de acompanhar estas competições internacionais. No dia 14, expus um lado mui pessoal,
relativo à minha infância e adolescência, dois períodos conturbados. É, talvez, o texto mais pessoal alguma vez publicado por mim.
Julho foi o mês das nossas férias
grandes. Nesse sentido, apenas aludi ao
crime homófobo ocorrido na Galiza, que mais tarde ganhou outros contornos, e ao
fim do Euro 2020.
Durante Agosto, fui expondo em três momentos (
um,
dois,
três) as minhas férias nas Canárias e na Finisterra (
aqui). Gostei de ir à Finisterra, mas, sabendo o que sei hoje, teria ficado mais dias nas Canárias. Gastei o dobro do que gastei nas Canárias por metade dos dias. Sempre a aprender. No final do mês, fomos surpreendidos pelo regresso dos
talibãs ao poder, no Afeganistão.
No último trimestre do ano, em Outubro, terminei um clássico que me ocupava desde o Verão,
Vinte Mil Léguas Submarinas, que li em castelhano, como A Casa dos Espíritos, lido no mesmo idioma. Em Portugal, fazia-se justiça histórica a
Aristides de Sousa Mendes, homenageando-o com um cenotáfio no Panteão Nacional. Onze anos antes, em 2011, a
ETA suspendia as sua actividade armada. Recordar-se-ão de lhes ter tido que, ao longo ano, fui alterando a minha sensibilidade relativamente a um conjunto de matérias sensíveis. Uma delas diz respeito ao
colonialismo português, e deixei-o patente na crónica de dia 26. Mais uma vez atento à realidade do lado de lá
da raia, escrevi algumas considerações sobre a
crise política que viria a culminar na dissolução da Assembleia da República e na convocação, por parte de Marcelo Rebelo de Sousa, de eleições antecipadas para Janeiro de 2022. Regressando à margem norte do Rio Minho, suscitou-se uma polémica enorme em torno da decisão de uma magistrada que fundamentou a sua decisão de entregar a custódia de uma criança a um dos progenitores pelo outro viver na
“Galicia profunda”, e foi assim que o redigiu no acórdão. A minha reacção não se fez esperar, em galego.
Em Novembro, penúltimo mês do ano, tive conhecimento de um caso de
homofobia internalizada na televisão portuguesa. Quis recordar, porque se tratou de um acontecimento decisivo no evoluir da situação social e política em Timor-Leste, o
Massacre de Santa Cruz. Enquanto isso, terminava salvo erro o terceiro livro em castelhano do ano, uma obra que no início deste século gerou uma enorme polémica ao versar sobre um sector sensível junto da opinião pública,
O Código Da Vinci. Num ano particularmente rico em efemérides de relevo para mim, assinalei o trigésimo aniversário sobre a morte de
Freddie Mercury.
Finalmente, no decurso do actual mês, mais uma abordagem à
SIDA, por ocasião do Dia Internacional Contra a SIDA. Sofro de insónias recorrentes e, na decorrência disso, vi um vídeo em que mais uma vez a
a ridicularização de pessoas LGBT levou à minha indignação. Os 43 anos da
Constituição Espanhola proporcionaram-me mais um momento para expor as minhas considerações sobre Espanha. Para terminar o balanço, falei-lhes das nossas mini mini (duas vezes para que fique bem patente que foram
mini) férias em
Vigo e em
Leão.
Está feito. Resta-me desejar-lhes um excelente 2022. Creio que, a nível conjuntural, necessitamo-lo. Feliz ano para todos e, assim espero, cá nos veremos.
A vermelho, as hiperligações para os artigos correspondentes.