8 de abril de 2021

O Segundo Sexo.

 

  Terminei O Segundo Sexo de Simone de Beauvoir, aquele que dizem ser o grande clássico do feminismo. É uma edição de 1976, do Círculo de Leitores, e eu tenho uma predilecção por edições antigas. Parece-me que tudo o que é feito à moda antiga tem mais qualidade.

   Beauvoir traça um retrato duro, sem grandes floreados, daquele que tem sido o papel atribuído à mulher desde que a humanidade existe. A autora identifica-a como o Outro. Os homens vêem-se como iguais, e depois têm o outro, que ora subjugam, ora divinizam, ora demonizam, mas sempre sob a premissa de que este mundo lhes pertence. Ainda que a mulher possa ser a sereia encantada, a ninfa, a feiticeira, quando a elevam ao divino ou a rebaixam às trevas pretendem justificar o seu alheamento dos negócios deste mundo.

    Sem esquecer as suas convicções ideológicas, Beauvoir acredita que a exploração da mulher surgiu com a propriedade e com a escravização do homem pelo homem. Foi exactamente a transmissão que se faz da propriedade, de pai para filho, que levou ao desaparecimento do direito materno. A mulher, como membro da espécie humana, congratulava-se com as vitórias do homem, que também eram suas. Cada superação da espécie humana, cada avanço técnico, científico, através do homem, era seu, e o facto de nunca ter contraposto interesses aos do homem levou a que, gradualmente, lhe ficasse subjugada.

    Há algumas menções, poucas, ao religioso, mas é evidente que a tentação de Eva que levou à queda do homem, segundo as religiões abraâmicas, ajudou ao estigma milenar em torno da mulher.


  "O homem criou a mulher com uma costela do seu deus", disse Nietzsche, um dia.


   Com efeito, a mulher apenas se libertará do jugo que a escraviza quando parar de se encarar também como o Outro que o homem a vê, quando deixar se existir para o homem, ao seu serviço e/ou para seu deleite. Quando, por fim, participar na liderança da ordem internacional, opondo a sua vontade, contrapondo os seus interesses, unindo-se com outras mulheres em razão do seu sexo, e não da sua classe social ou estatuto.

2 comentários:

  1. Estás um grande defensor das causas do mulherio :) Já reparaste que as feministas são na sua maioria Lésbicas e que não curtem gays? Por outro lado, quantas feministas conheces quando tem um filho homem?

    Li algures que no tráfico de mulheres, por norma no Topo está sempre uma mulher

    Abraço amigo

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    1. É cultura. Se calhar também não te faria mal ler mais. Lias mais, passavas menos tempo nos blogues a dizer parvoíces.

      Lê o livro, inteira-te do problema de fundo e depois conversamos. Estás muito verde na matéria. Aliás, pior que verde. Desconheces completamente o que significa a igualdade entre o homem e a mulher, a discriminação que houve desde sempre e qual o caminho a percorrer.

      Um abraço.

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