Porém, o que me suscitou mais a atenção foi constatar que ninguém se importa verdadeiramente com o velhinho. Há atitudes que revelam imenso sobre as pessoas. A senhora quando tira uns minutos sem movimento para lanchar, senta-se numa mesa no lado oposto ao lugar onde está o velhinho. Nunca a vi dirigir-lhe uma palavra, perguntar-lhe se queria alguma coisa, prestar-lhe algum auxílio... O mesmo se aplica ao marido dela. Anda por ali, bebe e bebe, senta-se com amigos e nem tem a dignidade de convidar o pobre do velhinho para se sentar na sua mesa. Tenho muita pena dele.
Hoje foi o limite. Vi o velhinho a chorar disfarçadamente na mesa, ocultando as lágrimas com as mãos enrugadas e cansadas. Fiquei tão revoltado!... Pedi o meu chá, pedi-lhe licença e sentei-me na mesa do velhinho. A mulher e o marido ficaram perplexos, para mais quando lhes lancei um olhar de reprovação. Reparei que o velhinho ficou feliz por falar com alguém. Perguntei-lhe o nome, falei-lhe da faculdade, até de futebol (tentei...) falei porque soube que era um tema que o agradava. Foi uma hora que não fez diferença para mim, mas que certamente fez toda a diferença para ele. Quando, por fim, disse-lhe que me ia embora, os seus olhos ficaram tristes, quase adivinhando a solidão que o esperaria de novo. Prometi-lhe voltar amanhã e lá estarei de certeza.
Os idosos não são um pedaço de lixo, um pedaço de algo que não serve para nada. São pessoas que viveram as suas vidas e que chegaram a uma idade que lhes deveria conferir algum respeito. Uma sociedade que não respeita os seus idosos não merece ser respeitada.
Eles já lá chegaram. Nós, se tivermos saúde, também chegaremos. Aquilo que eles sofrem, se tudo continuar assim, é aquilo que nós sofreremos.