O Império Romano surgiu com o fim da República, no século I a. C. As conquistas territoriais alcançadas por Roma, mais do que planeadas à exaustão, resultaram de felizes acasos. Os romanos não tinham consciência do importante papel que desempenhavam até às guerras com Cartago, entre 264 e 146 a. C., quando Roma se torna a senhora do Mediterrâneo ocidental. O objectivo, posto isto, direccionou-se para o Mediterrâneo oriental. Um dos grandes trunfos de Roma residiu, primordialmente, na generosidade das suas leis que previam a extensão da cidadania romana aos outros povos do Império, conferindo-lhes assim um sentimento de lealdade e de pertença. Aos poucos, esta realidade foi se estendendo a todas as partes do território do grandioso império. Aliás, o Império Romano foi original ao se expandir primeiro e só depois se organizar politicamente. Concediam a sua cidadania consoante o grau de aceitação e integração dos novos espaços no seio do império. A palavra "império" deriva da congénere latina imperium, que designava o poder supremo de comandar o exército e administrar a justiça. Durante a vigência da República, esse poder era confiado pelo Senado a um magistrado, por seis meses, de modo a que resolvesse graves crises políticas ou guerras internas, civis. Daí se explica que Júlio César tenha atingindo uma enorme importância, abrindo portas a que o seu sobrinho, Octávio César Augusto, se tornasse o primeiro imperador de facto.
A ordenação do espaço imperial é feita através do modelo urbanístico. Com as necessidades que surgiam pelo facto de ser a capital de um império, Roma cresceu e tornou-se urgente adaptá-la às novas circunstâncias, reformando-se os templos, os fóruns, os locais de lazer. No apogeu, Roma chegou a ter um milhão de habitantes, o que, com a queda do Império, só aconteceria de novo no século XIX, com a Revolução Industrial e a importância de Londres. Problemas de abastecimento de água, de construção de vias, de esgotos, são prontamente resolvidos pelos romanos. Roma torna-se, com efeito, na primeira cidade cosmopolita global, exportando o seu modelo para as restantes cidades imperiais que se espelham no seu sucesso e procuram imitar.
Para manter e unir o Império, a construção de vias calcetadas foi uma prioridade, trazendo mais-valias económicas, simplificando as trocas comerciais e permitindo uma melhor circulação do exército e dos delegados que transmitiam as ordens do imperador. Augusto, percebendo estas vantagens, aposta no crescimento da rede viária, procedendo ainda à ordenação do território, sujeitando as províncias de mais difícil obediência a si mesmo - as províncias imperais - que requeriam a permanência do exército. Uma dessas províncias era a Lusitânia. As pacificadas são entregues ao Senado, que progressivamente vai perdendo o seu ascendente no exército. Octávio fez questão de manter as instituições republicanas, dando-lhes, porém, um modo mais eficaz de governação - surge o Principado. Augusto obteve assim o que Júlio César sempre quis mas não conseguiu - autoridade suprema. Augusto torna-se o Princeps Senatus, podendo convocar o Senado e vetar as suas leis. Tem a tribunicia potestas, que torna a sua pessoa sagrada e inviolável, e a auctoritas, que lhe permite convocar Comícios, anular decisões do Senado e propor novas leis.
Roma atingiu tal grau de sucesso e ventura graças à eficácia do disciplinado exército, sem dúvida (que propiciaria a queda, séculos depois...), mas também devido às oportunidades que cada povo subjugado percebeu que teria ao sujeitar-se a Roma. Os romanos foram pioneiros com o seu direito codificado, lógico, formal. Duas auras sagradas eram objecto de culto: a cidade-mãe e o próprio Imperador (o carácter sagrado do imperador vivo era algo estranho aos romanos; foi importado pelos políticos romanos das realidades persa e egípcia, sobretudo). A extensão da cidadania, gradualmente concedida, foi outro dos factores que explicam a aventura bem sucedida de Roma - a romanização. A cidadania plena permitia participar na vida política, quer através dos diversos cargos públicos, quer através das magistraturas, somando-se vantagens de cariz fiscal (adquirir e alienar bens), a capacidade de ser sujeito de direito privado e, assim, apresentar-se em juízo, evitando as penas mais degradantes como a crucificação, e ainda o acesso ao casamento. Já na nossa era, em 212 d. C., o imperador Caracala concede a cidadania a todos os homens livres do Império.
Os romanos foram sensíveis a outras culturas. Não podemos falar de total originalidade. Dos etruscos, herdaram as suas ideias de urbanismo, o célebre arco de volta perfeita, o realismo das suas esculturas; dos gregos, os modelos literários, a filosofia, os deuses, os ideais estéticos, o racionalismo; do Oriente, onde entraram, o luxo, a monumentalidade e até mesmo o Cristianismo. A construção de estradas permitiu divulgar o modo de vida romano, o latim, o direito e os seus valores, que os soldados levavam por todos os perímetros do gigantesco espaço imperial. A assimilação do mundo grego, a principal fonte de inspiração dos romanos, é facilitada pelos escravos gregos que desempenhavam o papel de pedagogos das crianças das famílias com mais posses. Houve uma helenização das elites, que não tinham quaisquer problemas em entender o grego antigo.
Eram pragmáticos, o que é visível nas suas pontes, aquedutos e vias terrestres. Criaram redes de esgotos e de abastecimento de água, canalizada nas domus (casas da elite), que dispunham de latrinas privadas. Gostavam de termas e de espectáculos, dos quais é testemunha o que ainda resta do Coliseu de Roma. Teatros, anfiteatros, circos e estádios eram comuns. Uma das suas preocupações incidia ainda na uniformização da rede escolar. Os vários imperadores foram exigindo que todos os municípios e cidades providenciassem escolas e professores. Daqui se afere a importância da literatura na sociedade romana.
Como todos os impérios, Roma haveria de cair. O Cristianismo tem sido apontado como um dos factores determinantes na queda do maravilhoso Império Romano. A palavra de Cristo, na acção evangelizadora de S. Paulo, defendia que o Homem foi criado à imagem e semelhança de Deus Único, Pai, Criador de toda a alma vivente, o que era incompatível com a mística sagrada e adorada dos imperadores. Mais. A palavra de Jesus chegou a todos que se sentiam oprimidos. Eles existiam e eram importantes aos olhos do Pai. A esperança na vida eterna alimentou o desejo dos mais desfavorecidos e dos escravos a um tratamento igualitário e justo. As vias romanas, bem apetrechadas, ajudariam na difusão das palavras dos apóstolos. O Cristianismo difundiu-se de tal modo que, paulatinamente, chegou à elite e se apoderou do Império, a ponto de os imperadores se converterem. Era o princípio do fim. No ano 330, Constantino transferiu a capital do Império para Constantinopla. A parte ocidental do Império fica vulnerável e desprotegida. Após o Édito de Milão, que concedera liberdade religiosa aos cristãos, em 313, Teodósio I oficializa o Cristianismo como religião oficial, já no ano de 391. Quatro anos depois, não conseguindo administrar tão grande império, divide-o em dois pelos seus dois filhos: Honório com o Império Romano do Ocidente; Arcádio com o Império Romano do Oriente. Em 476, a parte ocidental cairia com a tomada de Roma pelos bárbaros Ostrogodos. Ainda assim, cada rei bárbaro que se apossava de pedaços do extinto Império Romano do Ocidente haveria de se converter ao Cristianismo. Resultava a Igreja como única representante e entidade sobrevivente da ordem romana deposta.
Com o fim da Antiguidade Clássica, assistiríamos ao desmembramento das instituições romanas. A sociedade antiga desagregou-se, formando-se o sistema feudal sob a tutela da omnipresente Igreja Católica. Dá-se a ruralização. As cidades decrescem quase ao ponto de desaparecerem. A sociedade divide-se tripartidamente entre nobreza, clero e povo. O espaço uno, com boas vias de comunicação, estradas, comércio dinâmico, dá lugar a uma miríade de entidades políticas que se guerreiam entre si. Os hábitos de higiene e de culto do corpo são terminantemente proibidos pela moral cristã, favorecendo o aparecimento de graves epidemias que serão frequentes ao longo de toda a Idade Média, a verdadeira Idade das Trevas, tempo de gárgulas e animais assustadores que povoavam o imaginário colectivo, de superstições alimentadas pela Igreja. Um retrocesso histórico-cultural.
Os historiadores não são unânimes quando se referem a este período da história mundial. Há quem defenda a Idade Média, encontrando-lhe benefícios. Houve avanços, seguramente, o Homem tende à evolução, mas o embate fortíssimo da queda de Roma verificar-se-ia por séculos. Parece-me que se perdeu imensuravelmente mais do que se ganhou. Imaginar o que teria sido caso Roma se mantivesse ad aeternum é um puro juízo hipotético. Suponho que estaríamos melhor. O hiato de mil anos ou mais atrasou o desenvolvimento da humanidade. Só na Idade Moderna, com o Renascimento, começaríamos a vislumbrar alguma luz, ténue. Muito ainda se teria de percorrer até chegarmos à Revolução Industrial que, efectivamente, iniciaria uma nova página, não esquecendo a Glorious Revolution (1688), a Revolução Francesa (1789) e a Independência dos Estados Unidos da América (1776) como ponto de partida para o que temos hoje.
Facilmente se constata de que teríamos chegado ao Novo Mundo muito antes do século XV. A Europa estaria unida numa única realidade política, talvez com a mesma língua. As inovações tecnológicas teriam surgido mais cedo. Veneraríamos uma imensidão de deuses. A homossexualidade não teria sido punida. Não saberíamos o que foi a Inquisição, tampouco o que é a missa e os sacramentos cristãos. A moral religiosa não teria toldado o espírito dos homens. Não nos esqueçamos, contudo, de que os romanos escravizavam, inferiorizavam a mulher, faziam guerras. Mas isso está na essência humana (ainda bem que Rousseau que não me lê).
Está em causa se ganhámos com o aparecimento de Cristo ou se, por sua vez, perdemos. Um misto de ambos, quem sabe. Pudéssemos fazer a História de "ses".