Ontem, fui almoçar com a mãe. Tradicionalmente, os domingos são passados em casa dos avós. Há tempos que venho tentando quebrar com esse costume e já o transmiti à mãe. Perco a paciência para estar rodeado de muitas pessoas. Se sempre fui sensível a barulhos, não gostando igualmente de estar cercado, essa tendência tem se acentuado ultimamente, sobretudo quando há crianças pequenas na família. Tenho percebido que a vocação para ser pai é nula. Fui birrento, demasiado até, mas não gritava, guinchava e outros que tais. Pode-se dizer que era um menino educadamente chato e inconveniente. Irrequieto, sim, não me recordando de perder a compostura.
Fomos a uma pizzaria. Oh, há séculos que não comia uma pizza! Soube-me pela vida! A mãe também é apreciadora. Escolhemos a típica Quatro Estações.
Temos poucos momentos nos últimos anos. É comum a mãe chegar tarde. Eu, embora não me deite cedo, geralmente estou a estudar, portanto, aos dias da semana há poucos diálogos.
Temos poucos momentos nos últimos anos. É comum a mãe chegar tarde. Eu, embora não me deite cedo, geralmente estou a estudar, portanto, aos dias da semana há poucos diálogos.
Isolo-me cada vez mais. A idade só piora. Tenho absoluta noção de que serei um eremita, de futuro, não rodeado por gatos ou outros mamíferos (não posso). Bom, um eremita do século XXI, charmoso, bem vestido, grisalho, embora altivo, sobranceiro e até, diria mesmo, sisudo. Não que me desagrade. Temos de ser autosuficientes. Começo a dar razão a todos aqueles que defendem que depender de outros é o pior que pode acontecer. De atenção, de carinho. A vida é uma tragédia, já o sabemos. Temos de estar preparados para as condições adversas. Saber envelhecer (sim, já vou pensando nisso - homem prevenido vale por dez) com classe e sabedoria é virtude de poucos e anseio de muitos. O amor torna-nos frágeis e incapazes. O sexo, enfim, é uma questão de controlo. O celibato pode ser um estímulo para alcançarmos o nosso nirvana. Mais longe do Homem, mais perto da perfeição. Somos dotados da maior caixa craniana do mundo animal, mas tão débeis. Ser um senhor de meia idade que se cuida, pratica desporto, estimula o seu intelecto, pode ser altamente sedutor... para ele mesmo. E tenho bons exemplos que não reproduzo por elegância.
Há que limar algumas arestas. Sou novo e tenho tempo para isso. Não posso ficar vermelho de raiva e inerte perante um bule que se vira e entorna o chá sobre os nossos livros e, quase, o mini portátil, como aconteceu na semana passada. Tive por perto uma colega que lá tirou uns guardanapos e os ensopou. Ainda me irrito com pormenores risíveis. Sei lá; seria de esperar que desse uma valente gargalhada. Passei horas a verificar os estragos - lamento mesmo que as páginas tenham ficado todas encarquilhadas ao secar.
Entre pedaços de cogumelo e de milho, veio à conversa a aparente frieza da sua relação com o marido. Lá me confessou que não mais é feliz no casamento.
"Troque. Já casou três vezes. Mude de novo!"
Surpreendida, chamou-me pelos meus dois nomes próprios. A família, por hábito iniciado pela mãe logo após o meu nascimento, trata-me pelo meu segundo nome. A mãe nunca usa o primeiro. Conjugados, significa que: primeiro, está furiosa; segundo, está perplexa. Comprova-se o segundo.
Tenho um respeito reverencial pela mãe. Algo quase sagrado, não obstante, o mesmo não me impede de alertá-la no sentido de procurar o seu bem-estar. Se não sente nada por aquele que o contrato que celebrou ainda diz que é seu marido, nada como uma boa e célere acção de divórcio. Nada lhe ensino. Ela saberá, melhor do que eu, os passos a dar. Tem experiência no assunto. Atendendo ao passado cada vez menos recente, mas que ainda guardo presente na memória, desligou-se do pai em Outubro de dois mil e cinco, sendo que se separaram em Fevereiro de dois mil e seis. Ora, dá quatro meses. Lá para Julho, Agosto, deixa este. É uma boa média. Ponha o assunto no seu advogado e mexa-se o quanto antes. A felicidade não esperará por si.
Como o céu não auspiciava nada de bom, voltámos a casa, sempre conversando pelo caminho. Decisão acertada. Pouco depois caiu uma enorme chuvada.
Uma tarde profícua.
Entre pedaços de cogumelo e de milho, veio à conversa a aparente frieza da sua relação com o marido. Lá me confessou que não mais é feliz no casamento.
"Troque. Já casou três vezes. Mude de novo!"
Surpreendida, chamou-me pelos meus dois nomes próprios. A família, por hábito iniciado pela mãe logo após o meu nascimento, trata-me pelo meu segundo nome. A mãe nunca usa o primeiro. Conjugados, significa que: primeiro, está furiosa; segundo, está perplexa. Comprova-se o segundo.
Tenho um respeito reverencial pela mãe. Algo quase sagrado, não obstante, o mesmo não me impede de alertá-la no sentido de procurar o seu bem-estar. Se não sente nada por aquele que o contrato que celebrou ainda diz que é seu marido, nada como uma boa e célere acção de divórcio. Nada lhe ensino. Ela saberá, melhor do que eu, os passos a dar. Tem experiência no assunto. Atendendo ao passado cada vez menos recente, mas que ainda guardo presente na memória, desligou-se do pai em Outubro de dois mil e cinco, sendo que se separaram em Fevereiro de dois mil e seis. Ora, dá quatro meses. Lá para Julho, Agosto, deixa este. É uma boa média. Ponha o assunto no seu advogado e mexa-se o quanto antes. A felicidade não esperará por si.
Como o céu não auspiciava nada de bom, voltámos a casa, sempre conversando pelo caminho. Decisão acertada. Pouco depois caiu uma enorme chuvada.
Uma tarde profícua.