26 de outubro de 2023

Marina Machete.


   Portugal continua a ser um país muito pequenino, demasiado pequenino, na mentalidade do seu povo. No concurso Miss Portugal, pela primeira vez ganhou uma mulher transexual, e começaram imediatamente as críticas, algumas inclusive de pessoas com responsabilidade na área da saúde mental e com visibilidade pública.



    Eu, quando olho para Marina Machete, vejo uma mulher. As categorias de homem ou mulher são mais do que uma questão de cromossomas sexuais. Têm que ver com a identificação social de cada qual com determinado género, masculino e feminino. Em suma, ser homem ou mulher é mais do que o sexo biológico; prende-se a um sentimento de pertença a determinada realidade, e no caso de Marina Machete e de tantos/as outros/as transexuais, são pessoas que se identificam, se vêem, como homens ou mulheres, independentemente do sexo biológico. No seu caso, pensa como mulher, age como mulher, é uma mulher à primeira vista, quando ignoramos que já teve um órgão sexual masculino. Não podemos resumir as pessoas a um órgão sexual, ignorando tudo o resto: a sua identificação, a forma como se assumem socialmente e como os outros as vêem. Além disso, trata-se ainda de empatia e boa vontade. Se no desporto há vozes que se levantam lembrando que, biologicamente, as mulheres transexuais são fisicamente mais fortes do que as mulheres cisgénero e que por isso é injusto que compitam juntas, poderá Marina Machete também ser culpada por ter sido considerada a mulher mais bonita entre as que se apresentaram no certame; por ser mais bonita do que muitas mulheres cisgénero? Pelo menos foi essa a avaliação do júri.

24 de outubro de 2023

Professor Doutor Pedro Romano Martinez (1959-2023).


   À semelhança dos Professores Augusto Silva Dias e Eduardo dos Santos Júnior, ambos falecidos precocemente na casa dos sessenta anos, hoje tive conhecimento da morte do Professor Pedro Romano Martinez, meu docente a Direito das Obrigações no ano lectivo 2011/12, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Na recordação fica a imagem de um senhor, educado, refinado, elegante na forma como se apresentava e inclusive na exposição oral da matéria nas aulas. Paz à sua alma. Com os professores que citei acima, é mais uma perda para a ciência do direito, naquela idade em que as pessoas estão na plenitude das suas capacidades intelectuais e maturidade. 





23 de outubro de 2023

Já então a raposa era o caçador.


    Herta Müller ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 2009. Na altura, disse-se que Já então a raposa era o caçador era a sua melhor obra. Eu não conheço nada mais da escritora romena. Comprei este livro como compro tantos outros. 

  É uma escrita alegórica aos últimos tempos do regime de Ceausescu, com a pobreza, a perseguição que se traduz num medo gélido, a corrupção -inclusive moral- a uma escala humana, de vivências comuns e quotidianas numa sociedade socialista tipicamente de estilo pró-soviético pelas inúmeras descrições da autora. É uma escrita intrincada, difícil, elaborada e até cansativa, em que a narrativa e os diálogos se confundem muitas vezes, e tudo é dito onde aparentemente, mas só aparentemente, não se diz nada.

16 de outubro de 2023

Voando sobre um ninho de cucos (1975).


   Ele há coisas. Há dias falei-lhes do Barbie, um filme que, pessoalmente, não considero digno de tanto sururu, e hoje venho falar-lhes de um clássico do cinema, Voando sobre um ninho de cucos, de 1975, um filme que ainda não vira, e que vi ontem à noite. Desde logo, é um filme cuja temática me interessa porque aborda os problemas de saúde mental. Em síntese, o personagem de Jack Nicholson ingressa no hospital psiquiátrico, onde se enfrenta a uma enfermeira seca, não diria má, mas de comportamento manipulador com os doentes. E provoca uma revolução que os leva a ser mais conscientes da sua condição de sujeitos que gozam de direitos, e que apesar dos seus problemas, têm vontades próprias, desejos, vontades. O final impressionou-me deveras, não esperava algo tão trágico.

    É um drama com rasgos de comédia que contrabalançam o nervosismo e o distúrbio emocional presente em cada acção e cena. Uma preciosidade sobre a natureza humana frágil e desequilibrada. Considerado um dos melhores filmes de sempre, é-o, efectivamente, quanto a mim.





14 de outubro de 2023

Barbie.


   Vi o filme Barbie. Detestei. Retrata os estereótipos e os papéis de género, numa abordagem fictícia, em que dois mundos paralelos se cruzam: o real, o nosso, levando os seus preconceitos, medos, defeitos para o irreal, onde se cria uma fantasia de empoderamento feminino que se vende às meninas em forma de bonecas que dominam no universo Mattel. Crítica social à parte, custou-me aguentar até ao fim. Mais que aborrecido, é irritante.





9 de outubro de 2023

Conflito israelo-árabe.


    O Hamas lançou o maior ataque de sempre a Israel. Há décadas que o Estado hebreu não era ferido de forma tão dramática, com tomada de reféns e ocupação de partes do seu território. Perguntamo-nos como é possível que os serviços de inteligência israelitas tenham falhado tanto. 

    Eu sou pró-Israel e sionista. Quero que fique assente desde já. Há uma certa esquerda que defende a Palestina, e que omite, por ignorância ou intencionalmente, que aquela terra já pertencia aos judeus muito antes de surgir o Islão. Os judeus foram expulsos durante séculos pelos babilónios, assírios, romanos, e voltaram, progressivamente, à sua terra, ao longo do século XX. A ONU definiu um plano de partilha da Palestina findo o mandato britânico que os árabes não aceitaram. No dia seguinte à declaração de independência de Israel, uma coligação árabe invadiu o recém-criado Estado. A história de Israel desde 1948 até hoje tem sido de defesa da sua integridade territorial e de tentativas, mais ou menos frutuosas, de se legitimar no mundo árabe. Tem aumentado as fronteiras no seguimento das vitórias que logra perante os ataques ao seu território. Não é um inédito de Israel. Geralmente, os vencedores das guerras aumentam o território com as conquistas.

     Uma vez mais, prevê-se uma resposta contundente de Israel, não se sabendo ao certo o que fará respectivamente à Faixa de Gaza, o reduto problemático. A guerra, porém, não começa agora. A guerra tem sido uma constante desde 1948. É talvez o conflito cujo final menos se vislumbra. Reitero, contudo, que são os árabes os responsáveis por todas estas matanças, ao não reconhecerem em absoluto o direito do povo judeu a ter uma terra à qual possa chamar de sua.