31 de dezembro de 2011

2012...




... aproxima-se. 2011 não foi um ano próspero; pessoalmente, foi um ano razoável. Já passei por melhores, mas também já tive piores (sendo que 2006 é oficialmente o meu annus horribilis, record que ainda não foi batido posteriormente, felizmente!). Habituei-me a não criar expectativas: geralmente - para todos nós - são infundadas e infrutíferas. Quantas e quantas vezes planeamos e delineamos objetivos que não se concretizam? Deixei-me de resoluções. Aliás, há uma que subsiste: viver cada dia, dia-a-dia, e não mais do que isso. Afinal, passando as doze badaladas, não há nada que faça distinguir 2011 de 2012. Evolução na continuidade (onde já ouvi isto?...).
Em todo o caso, Feliz Ano de 2012 para todos vós. Sejam felizes. ^^


29 de dezembro de 2011

Às vezes é bom ser "vulgar".

Estava eu, de tarde, com a avó e uns primos numa pastelaria, quando o primo começa a folhear um qualquer jornal desportivo. O futebol nunca foi um tema que me interessasse, por vários motivos: não aprecio a modalidade (nem os jogadores...), não entendo quase nada do que a futebol diz respeito e nunca tive uma cultura familiar que me iniciasse neste gosto tão português! (risos)
Curiosamente - ou talvez por apatia - resolvi, depois do primo acabar de ler, de eu mesmo folhear com indiferença as páginas daquele periódico comum. Ao fazê-lo, dou com uma foto deste rapaz:




Bom, quanto a vós nada poderei dizer, mas quanto a mim, este rapaz é... o tal. E, do tal entende-se aquele que me diz alguma coisa, o ideal. Não fazia a mínima ideia de quem era (risos) e se o visse na rua ser-me-ia um total desconhecido. Afinal, até parece que é do Sporting (clube da minha simpatia). Será hetero, evidentemente, mas, enfim, até isso já me é habitual. Gostar de heteros tem sido uma constante na minha vida.
Fiquei fã.


28 de dezembro de 2011

I guess I need you, baby.


Quando me sento no mesmo banco de madeira de outras memórias, vejo o que gravaram em cada ripa desgastada pelo tempo e pelos fenómenos meteorológicos. Amo-te, desta vez inscrito bem fundo, perpetuado, pelo menos até o velho banquinho ser substituído por outro. Escrevi por cima, passando o dedo por entre cada letra escrita na vertical. Tentei adivinhar, imaginar, em que altura terá sido escrito, por quem e em que circunstâncias. Como seriam as pessoas? O que sentiriam? Estava eu, naquele momento, sentado em cima dos seus sentimentos. Não bem sentado - o termo não será o correto. Estando sentado, não teria visto a palavra.

Abstraí-me. Abri o caderno e desfolhei as páginas de matéria que ainda não estudei para os exames. Não me apetece fazê-lo. Anoitecera e a luz não era a suficiente para conseguir manter a atenção. Sim, é uma desculpa. O vento também é uma boa desculpa para justificar o facto das minhas mãos se manterem gélidas, mesmo depois de as unir em torno da boca, exalando um ar quente que não as aqueceu.
Não quero escrever, não quero ler, não quero pensar. Quero sentir a leveza do nada, de quando cerramos os olhos e cada poro da pele consegue ver para além do tato. A pele vê, ouve. Eu soube-o, senti-o. Escutei o vento. Disse-me para não me preocupar.
Conquanto tivesse os botões do casaco apertados, senti frio. O botão de cima estava solto. Lembrei-me das palavras da mãe e apertei-o. Não, definitivamente as mãos não aqueceram. O vento trouxe-me o aroma do perfume novo recebido do Natal. Que mais? Não me diz nada.
Quando procuramos um refúgio que não encontramos, um calor que não há, uma palavra que não ouvimos. Quando nos procuramos e não nos encontramos, difícil se torna encontrar um outro alguém.
Quando a noite caiu sobre mim, também ela não mais me encontrou.


26 de dezembro de 2011

In the morning sun.


Acordei de manhã cedo, e mesmo ainda de pijama, dirigi-me ao exterior da casa da avó e fiquei a observar a cor da manhã. O ar, gélido do orvalho matinal, fazia fumo a cada expiração. O céu no horizonte sobrepunha o azul claro, quase branco no limiar que a minha vista podia atingir, sob o amarelo tímido dos pequenos raios de sol que surgiam.
Um inseto subia as calças do pijama. Trepava incessantemente, que prontamente retirei e coloquei na folha de uma planta, viva de pequenas gotículas de água.
Passou um homem em frente à porta de entrada. Carregava sacos, com pedaços entrelaçados de embrulhos natalícios, laços que caíam pelo caminho, restos de sonhos que se despiam do manto do cinismo social. O seu ar, distante, de mais um Natal que findara, de um pouco mais de ilusão que dera a familiares e amigos. Desembaraçou-se do saco como quem deixa um fardo. Como um embrulho e um laço vermelho fazem toda a diferença!...
Agora o sol estava mais forte. Tocava-me nas costas sobre o casaco do pijama. Senti uma corrente de ar frio trespassar-me o peito desnudo. Os botões cimeiros não estavam por entre as casas. Uma fileira de insetos, encarrilados com um sentido, movia-se agora para a rua, atravessando espaços que poderia percorrer só com a passagem do dedo. Se deixasse um pouco de doce de morango caseiro - restante de ceia - conseguiria mudar o seu trajeto. Seria o seu deus. Nietzsche tivera razão: todo o Homem quer um pouco da divindade.
Podendo mudar o percurso das horas, alterando o sentido do relógio, mandaria as badaladas soarem mais tarde. Pararia os ponteiros com uma caneta, sustendo-os indeterminadamente. Perpetuaria os momentos, mas se o fizesse, não teria o prazer de um novo amanhã. Não havendo amanhã, também não haveria sol, não sentiria os raios na pele nem tampouco veria a fileira de insetos atraídos pelas feromonas comuns à espécie. Isso seria mau. Fico-me com o sol da manhã; o tempo que espere por mim.


24 de dezembro de 2011

Feliz Natal...



... a todos vós.

^^

22 de dezembro de 2011

Sons do Natal.

.


Mais festiva e alegre do que a All I Want For Christmas Is You, a Joy To The World é um dos maravilhosos e intemporais clássicos natalícios. Acompanhada por um coro gospel e interpretada pela melhor voz feminina contemporânea, ganha vida a cada Natal.

Joy to you and me !

20 de dezembro de 2011

Christmas Tree.



Luzinhas que piscam incessantemente, em tons amarelo, azul e vermelho. As bolas, vermelhas e brancas, refletem a luz das lâmpadas e dão ao rosto um formato angular. A grande borboleta com brilhantes parece ganhar vida sobre o ramo de azevinho no qual pousa. Por baixo da árvore, olhando até ao seu topo, sinto-me pequeno. Descolo um pouco da fita-cola que sela os presentes de Natal. Vejo o que os familiares me deram, afinal, são os únicos presentes dos quais nada sei do que se trata.

O frio do exterior e o calor da casa embaciam os vidros altos da janela da sala da avó. Desenho o meu nome no ressoado. O dedo esfria. Engraçado, minutos após desenhar e escrever o que me surge na cabeça, começam a escorrer gotas até ao fundo do amplo vidro.
Anos atrás, sentia o perfume intenso da tia quando se dirigia para a sala e decorava a mesa natalícia. Outros membros da família a auxiliavam na tarefa.

Natal, para mim, significava essencialmente presentes e brinquedos caros. Adorava rasgar impetuosamente o papel colorido das embalagens, quase tomado de uma fúria consumista. Desengane-se quem atribui aos adultos o pior defeito do consumismo... Surpreender-se-iam em como uma simples e aparentemente doce criança pode embirrar e chorar quando vê algo que tanto quer... Sim, fala a voz da experiência na primeira pessoa.


Com os anos, apercebi-me do verdadeiro espírito de Natal. Do espírito muitas vezes hipócrita do Natal. Se todos pensássemos em quem não tem o mínimo de alegria, veríamos que o Natal não são os bens materiais. É preciso crescer e perder o véu da inocência, vendo tudo com tamanha clarividência insuscetível de conduzir a equívocos: o Natal está transformado, deturpadamente, numa festa ao consumo, às tréguas cínicas de uma noite, aos sorrisos dissimulados, aos beijos traidores. Judas são-os muitos e poucos vestem pele de lobo.

As horas passaram e na rua escureceu. No horizonte, as luzes dos candeeiros parecem estrelas de cristais através do vidro. A árvore brilha, sozinha, último bastião de um Natal pálido, sem brilho, vida ou cor. Também o espírito se perdeu. Perdeu-se tudo com o ímpeto dos anos, da vida desgastada, da crise de boca em boca... Afinal, dizem os especialistas que o Menino não terá nascido na noite de Consoada. Bacalhau não comeu, de certeza.

Levanto-me do chão e saio. A avó gosta das luzes a brilhar durante a noite. Simboliza a magia do Natal. O que a avó ainda não percebeu é que essa magia não existe mais. Se algum dia existiu, perdeu-se no orvalho da madrugada fria... para sempre.


17 de dezembro de 2011

Quando saíres, não olhes para trás.


"O Homem é um animal político", dizia Aristóteles. O Homem é bem mais do que isso, é um animal social. Como diria uma excelentíssima professora daquela casa, "sim, Homem e não apenas seres humanos; patética essa argumentação de que Homem, admitindo mesmo que escrito com "H", possa discriminar o sexo feminino." Ela di-lo, ela é mulher; eu subscrevo.

Acabei o semestre com positiva a tudo. Ele deixa duas em método alternativo.
Durante as aulas, sentados lado a lado, era quase percetível o bater dos nossos corações. Apesar do clima frio, teve calor e despiu o casaco. Gostei da sua camisa branca sob o casaco azul-escuro. Senti o aroma do seu perfume e o quente que o seu corpo exalava.
O ar irascível e compenetrado dos professores não propiciava a momentos de descontração. Não por mim, por ele, que até ao último instante receou certos resultados, insucessos. Estivemos mais próximos do que é habitual. Transmiti-lhe, durante a manhã, segurança e paz. Tentei fazê-lo. Tentei que se sentisse melhor, fossem quais fossem os resultados finais do seu árduo trabalho.

Um pardal parou no parapeito da janela e ficou a observar-nos atentamente. Lá fora, o céu cinzento contrastava com o colorido do bar novo. Na televisão, um qualquer vídeo do Mick Jagger dançando num fato rosa.
Olhei-o fixamente. Não vi uma pessoa madura, confiante; vi um menino tímido, abandonado. O seu semblante é triste, cabisbaixo, como se revelasse um sofrimento, algo que o atormenta.

"Vem que o amor não é o tempo, nem é o tempo que o faz; vem que o amor é momento em que eu me dou, em que te dás."


No final do dia, acabámos na pizzaria a comer pizzas de todos e mais alguns sabores, ingredientes e características. Rimos e brincámos, primeiro em grupo, com amigos, depois sozinhos. Bebi cola sem gostar, comi a mozzarella derretida enquanto gargalhava com as suas brincadeiras. Adorei quando os pedaços minúsculos de azeitona caíam da sua fatia de pizza e ele tentava apanhá-los no ar. A sua cara, alva e corada (talvez animada pelas cervejas), no momento em que mastigava cada pedaço com sofreguidão, fazia contrações engraçadas que me faziam sorrir.
Tivera ido a uma gala na noite anterior, por isso ainda vestia o fato, com a gravata larga pelo pescoço e um ar desajeitado de meia ressaca. Os olhos, cansados, avermelhados por algum álcool e pouco descanso, tinham uma força gravitacional em mim. Fiquei prisioneiro do seu olhar, pela noite, até nos separarmos.

Foi difícil a despedida. Para quê despedidas? Qual o motivo da realidade sempre nos atraiçoar no pior momento? Há momentos que deveriam não ter fim. Como os de hoje.
Eu não olhei para trás, olhaste?


Gosto de ti, só não sei como.


14 de dezembro de 2011

Dear Santa,


Lisboa, 14 de dezembro de 2011,

 Mais um ano que passa e é chegada a época de pedidos e pedidos, muitos exagerados; outros que ficarão aquém do que cada um merece. Refletindo bem, a incongruência de cada pedido, a distância que os separa e a futilidade que abarcam entristece-me. Há quem peça nada mais do que a cura de um mal; há quem peça um prato de comida quente; há quem peça um carro novo, um perfume da moda, uma peça de roupa cara. Atenderás a todos os pedidos de igual forma ou farás uma distinção segundo a necessidade?
 A tua imagem continua associada às crianças e aos seus desejos. À partida, uma criança só tem pedidos concretizáveis, legítimos... Não há futilidade num pedido inocente de uma criança. Bom, quando eu era criança, os meus pedidos eram tudo menos inocentes e ingénuos. Inocentes em conteúdo; muito pouco porque sabia que pedia demais e sabia mesmo, inclusivamente, que outras crianças necessitavam bem mais do que eu. O altruísmo não era o que deveria ser, envergonho-me de o dizer, pese embora fosse imaturo.
 Interrogar-te-ás: "por que motivo ele me escreve e por que o fará num blogue?"
 A carta que te escrevo aqui e publico será a mesma que escreverei à mão e colocarei por baixo da árvore de Natal. Exatamente esta, exceto partes demasiadamente pessoais que não poderei colocar aqui. Escrevo-te como sempre o fiz, ano após ano, incansavelmente, mesmo depois de me tornar um homem. Alguns diriam: "que sem noção!". Talvez o seja, embora não esteja minimamente preocupado. Consola-me saber que lerás a minha carta, possivelmente atenderás a alguns pedidos e enviarás os mais "difíceis" para segunda instância. Perdoa-me a inclusão de linguagem jurídica numa carta que se pretende informal e de linguagem coloquial.
 Pedidos? Bom... não sei por onde começar. Lembras-te da minha carta do ano passado, publicada aqui também? (clicar) Serei modesto a pedir. Não me concretizaste o pedido imperioso do ano passado - que se mantém - por isso saltarei propositadamente essa parte. Ainda hoje, quando estivemos juntos, sob a ténue chuva que caiu pela manhã, lembrei-me da carta do Natal passado e do atraso em escrever esta.
 Pedirei o mesmo que no ano passado, nem me atrevo a pedir mais... Olho ao meu redor e descubro: sou um afortunado. Seria injusto pedir mais, não só pelo motivo de que não o mereço (creio), mas também pela injustiça que seria fazê-lo. Eu estou aqui, age como quiseres.

Despeço-me com calorosos cumprimentos e um beijinho terno na ponta do nariz do Rudolph,


lots of love,

Mark

11 de dezembro de 2011

United Kingdom of Great Britain and Northern Ireland


A Europa está em crise. O Euro também. Progressivamente, a ideia dos pais fundadores da designada União Europeia começa a dar sinais da sua inconsistência crónica: é impossível unir países cultural e socialmente distintos num projeto federalista utópico e irreal.
O projeto europeu surgiu num contexto pós-guerra e num cenário típico de perda de influência internacional. Saída enfraquecida da I Guerra Mundial, a velha Europa cedeu o seu lugar cimeiro para as novas potências emergentes na época: E.U.A e União Soviética. A II Guerra Mundial relegou definitivamente a Europa para segundo ou terceiro plano, tornando urgente a necessidade de um aprofundamento dos laços entre os países da Europa. Daí se traduz todos os passos que, década após década, tornaram o projeto europeu numa realidade cada vez mais palpável. O último dos grandes passos decisivos foi, indubitavelmente, o Tratado de Maastricht, em 1992, que institui a União Europeia.

No entanto, não foi o suficiente. Os líderes europeus quiseram mais e mais, como o falhado projeto da Constituição Europeia atestou: os europeus não querem uma Europa federalista; querem, isso sim, cooperação sem federalismo, entreajuda sem perda de soberania, um espaço aberto sem perda das várias identidades que compõem o continente.
O Reino Unido é o expoente máximo do racionalismo europeu. Os ingleses estimam a sua pátria, a sua história e por nada abdicariam dela em nome de algo indefinível. Afinal, o Reino Unido em nada necessita da União Europeia. Toda a História tem demonstrado a supremacia inglesa face aos países da Europa continental...






A Inglaterra foi precursora em variados aspectos. Em 1215, com a Magna Carta, estabeleceu direitos impensáveis na Europa Continental: o respeito pelas liberdades e garantias dos três estados do reino, a liberdade religiosa, as prerrogativas municipais, a moderação na tributação dos mercados, o direito que cada um tem em não ser condenado senão após julgamento pelos seus pares ou segundo o Direito do seu país, o direito que todo o homem tem a que lhe seja feita justiça, etc. Na Europa Continental, vivia-se o feudalismo no seu esplendor, sobretudo na França...
Já no século XVII, uma série de lutas entre a Coroa e o Parlamento leva a que, em 1628, Carlos I convocasse o Parlamento que lhe apresentou a Petition of Rights que, claramente, protestava contra o lançamento de impostos sem o consentimento do Parlamento, contra as prisões arbitrárias, contra o uso da lei marcial em tempo de paz e a ingerência dos militares nas casas dos particulares. Em Portugal, nem tínhamos entrado no Absolutismo Régio, que em França estava no seu apogeu com Luís XIV...
Em 1688, dá-se a enorme Glorious Revolution que viria a instituir o Bill of Rights de 1689. O último soberano da Casa dos Stuarts foi deposto e subiu ao trono Maria e Guilherme de Orange. Negou-se o direito divino do reis e invocou-se a existência de um pacto entre a Nação e o Monarca. Qualquer pretenso soberano teria de aceitar o Bill of Rights se pretendia ascender ao trono inglês. Na Europa Continental, estávamos a cem anos da patética Revolução Francesa que não foi mais do que uma cópia do que os ingleses fizeram um século atrás. Aliás, a própria Revolução Francesa foi inspirada pela Declaração de Independência dos E.U.A, em 1776, seguida da Declaração de Direitos de Virgínia e até mesmo pela Constituição dos E.U.A de 1787 (ainda em vigor). Concluindo: em nada a França foi original e só inspirou países como a Espanha e Portugal nas suas revoluções liberais apenas por uma influência maior.

Por não pertencer geograficamente ao resto do continente europeu; por ser um país inovador em imensas matérias; por ser a mais velha democracia do mundo; por ser diferente, não tendo uma Constituição escrita, não tendo separação religiosa entre o Estado e a Igreja, mas sim liberdade religiosa; por ter um monarca que se mantém no poder em vários dos seus anteriores domínios (Austrália, Nova Zelândia, Canadá, etc.), caso único em todo o mundo; por ser irreverente; por ter sido a grande Rainha dos Mares, detentora de 2/3 da superfície do planeta, o Reino Unido em nada necessita da União Europeia, esse aborto internacional sustentado pela França e pela Alemanha, num claro complexo de inferioridade face aos E.U.A e às novas potências emergentes, como a Índia, a China, o Brasil e a "renascida das cinzas", qual fénix, Rússia. Deste facto resulta o NÃO do Primeiro-Ministro David Cameron a esta Cimeira risível de salvação da não menos risível unidade monetária, Euro. O Reino Unido pertence à Comunidade Europeia por uma questão geoestratégica, desde 1973, e tem uma cláusula de exclusão ao Euro, cláusula irrevogável. Não abdicam da sua libra esterlina forte em detrimento de uma moeda fantoche, filha de golpes de ilusionismo europeu. Nem ratificaram o bárbaro Acordo de Schengen que é mais do que um atentado à soberania interna dos Estados.
Os ingleses, como todos os que valorizam minimamente a sua identidade própria, porquanto, também somos o país a que pertencemos, rejeitam o federalismo europeu e regozijam-se pelos fracassos ante fracassos que a União Europeia sofre. Cooperação e comunidade europeia, sim; federalismo, não...

Pensando bem, é uma preocupação vã: a União Europeia tenta salvar-se. É digna de lástima. Não há com que nos preocuparmos com a perda de soberania. Está moribunda, marcada de morte. O tempo ditará o golpe final.


8 de dezembro de 2011

Beautiful.


Acabara de sair de casa da avó. Não tenho por hábito passar por lá de manhã; apeteceu-me. Precisava de falar com aquela que considero como uma amiga, antes de mais e sobretudo. Os seus conselhos inspiram-me e o som da sua voz, tolerante e vivida, acalmam-me os receios, muitos dos quais infundados.

Almoçámos juntos. O espírito aberto e sadio da avó contrasta até com a sua educação, tradicional, católica. Outros tempos e, essencialmente, outras perspectivas e formas de encarar a realidade. No seu tempo, as meninas não tinham a liberdade de hoje em dia; existia uma quase submissão aos esposos, apesar do mesmo não ser uma regra geral na sociedade informada e esclarecida. O avó sempre foi um homem diferente, talvez mais educado e isso propiciou que, enquanto casal, sempre mantivessem uma postura distinta, eu diria até bem mais avançada para a época. Apesar de não saber em concreto o que pensará o avô acerca do tema controverso, a avó aceita e apoia o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, a adoção, etc.

Quando saí da sua casa, curiosamente e por um mero acaso, entrei numa pastelaria não muito longe para beber um café. O café estimula-me e tem um efeito vespertino em mim. Não sou o mesmo sem uma dose - uma e controlada - de cafeína diária. Na mesa, ao meu lado, duas raparigas sentadas e um menino falavam e brincavam. Assim que as vi, apercebi-me logo de que se tratava de um casal homossexual. Talvez o famoso sexto sentido funcione também com casais de mulheres... A forma terna em como se olhavam foi o primeiro indício. Envergonho-me, de certo modo, por o dizer, mas o aspecto algo masculino de uma acentuou também a ideia inicial. O cabelo curto, a pose de chefe de família, o ar pouco dado a manifestações entusiastas de feminilidade...

A um dado momento, tocam-se com as mãos, afagam os cabelos mutuamente. A pastelaria tinha um número considerável de pessoas e é evidente que olharam. Uns com repulsa; outros com curiosidade. Pouco lhes importou.
Em que lugar fica o menino no meio disto tudo?
O verdadeiro motivo desta exposição escrita é aquela criança, que deveria ter uns sete, oito anos. Era um menino... feliz. Muito feliz, eu diria. Sorridente, brincando com ambas, a ponto de eu não conseguir decifrar qual, de facto, seria a progenitora. Soube quando uma disse: "... não te escondas atrás da tua mãe." O menino corria atrás da frias cadeiras metalizadas, sorrindo expressivamente. Brincavam com o menino e o mesmo encarava aquelas manifestações de carinho entre as duas de forma tão natural que chegou a emocionar-me. Vi, como nunca antes e afirmo-o perentoriamente, uma família feliz. A outra parceira, companheira da mãe do menino, amava-o e isso era visível, bem como o era o carinho da parte deste último.
A educação daquela criança quando se dirigiu ao balcão para pedir uma caixa de pastilhas elásticas, o trabalho nobre que aquelas mulheres tiveram em educar tão bem aquele ser ainda tão suscetível ao preconceito exterior.

Não vou tecer considerações desnecessárias, refutando inverdades, desconstruindo discursos que destilam ódio, a pessoas que em nada merecem - sequer - uma simples menção neste texto. Nem elas, nem o preconceito amargo que usam nos seus falsos argumentos.

Existia amor, carinho, respeito. Isto é uma família - tomara muitas, "normais".


3 de dezembro de 2011

O verde grama.



A janela está perra. 

Admirar-me-ia se ele conseguisse fechá-la mesmo com toda a força dos seus braços.
O vento que entra pela pequena frincha não é o suficiente para conseguir que fique com frio. Mal tínhamos recuperado de mais um teste naqueles anfiteatros inóspitos e uma outra aula, coincidentemente à mesma disciplina, se aproximava.
Durante os testes, é um bom exercício ficar a observar as reações das pessoas. Alguns, concentrados, não pestanejam sequer à medida que escrevem; outros, tentam copiar; alguns usam as cábulas discretamente e, por fim, uns quantos dão o teste por perdido. Os rostos de desalento são por demais explícitos.
Gostas de disciplinas práticas. Eu gosto mais da parte teórica. Gosto de expor a minha opinião, dissertar sobre os conteúdos dogmáticos de cada questão, de me perder a cada linha do texto. Nos testes que exigem uma menor profundidade, reconheço o meu deslocamento.
Pequenos raios de sol perscrutavam por entre as janelas esguias do novo anfiteatro. O sol batia superficialmente no enunciado do meu teste. Escrevi os artigos por entre o denso texto, uma forma de me guiar. Era demasiado grande. Li por alto o que já tinha feito e depois li o que acabaras de escrever. Fizemos diferente. Acho que desta vez a razão estava do teu lado. Veremos.
Já na aula seguinte, observava o mesmo verde da grama ainda verdejante. Perguntaste-me se queria que fechasses a janela. Se a fechares, não sinto o vento frio e era dele de que precisava naquele momento.

Sim, está mesmo empenada. 

Tirei as bolachas de água e sal da mala e ainda o iogurte líquido de aroma a morango. O paladar teima em contrariar o pré-concebido a acabou por me dizer que, afinal, o aroma é a frutos silvestres. Não gosto deste aroma. Teria preferido de banana, mas nunca bebi iogurtes líquidos desta marca com aroma a banana. Haverá? Não havendo, mande-se fazer.