A Europa está em crise. O Euro também. Progressivamente, a ideia dos pais fundadores da designada União Europeia começa a dar sinais da sua inconsistência crónica: é impossível unir países cultural e socialmente distintos num projeto federalista utópico e irreal.
O projeto europeu surgiu num contexto pós-guerra e num cenário típico de perda de influência internacional. Saída enfraquecida da I Guerra Mundial, a velha Europa cedeu o seu lugar cimeiro para as novas potências emergentes na época: E.U.A e União Soviética. A II Guerra Mundial relegou definitivamente a Europa para segundo ou terceiro plano, tornando urgente a necessidade de um aprofundamento dos laços entre os países da Europa. Daí se traduz todos os passos que, década após década, tornaram o projeto europeu numa realidade cada vez mais palpável. O último dos grandes passos decisivos foi, indubitavelmente, o Tratado de Maastricht, em 1992, que institui a União Europeia.
No entanto, não foi o suficiente. Os líderes europeus quiseram mais e mais, como o falhado projeto da Constituição Europeia atestou: os europeus não querem uma Europa federalista; querem, isso sim, cooperação sem federalismo, entreajuda sem perda de soberania, um espaço aberto sem perda das várias identidades que compõem o continente.
O Reino Unido é o expoente máximo do racionalismo europeu. Os ingleses estimam a sua pátria, a sua história e por nada abdicariam dela em nome de algo indefinível. Afinal, o Reino Unido em nada necessita da União Europeia. Toda a História tem demonstrado a supremacia inglesa face aos países da Europa continental...
A Inglaterra foi precursora em variados aspectos. Em 1215, com a Magna Carta, estabeleceu direitos impensáveis na Europa Continental: o respeito pelas liberdades e garantias dos três estados do reino, a liberdade religiosa, as prerrogativas municipais, a moderação na tributação dos mercados, o direito que cada um tem em não ser condenado senão após julgamento pelos seus pares ou segundo o Direito do seu país, o direito que todo o homem tem a que lhe seja feita justiça, etc. Na Europa Continental, vivia-se o feudalismo no seu esplendor, sobretudo na França...
Já no século XVII, uma série de lutas entre a Coroa e o Parlamento leva a que, em 1628, Carlos I convocasse o Parlamento que lhe apresentou a Petition of Rights que, claramente, protestava contra o lançamento de impostos sem o consentimento do Parlamento, contra as prisões arbitrárias, contra o uso da lei marcial em tempo de paz e a ingerência dos militares nas casas dos particulares. Em Portugal, nem tínhamos entrado no Absolutismo Régio, que em França estava no seu apogeu com Luís XIV...
Em 1688, dá-se a enorme Glorious Revolution que viria a instituir o Bill of Rights de 1689. O último soberano da Casa dos Stuarts foi deposto e subiu ao trono Maria e Guilherme de Orange. Negou-se o direito divino do reis e invocou-se a existência de um pacto entre a Nação e o Monarca. Qualquer pretenso soberano teria de aceitar o Bill of Rights se pretendia ascender ao trono inglês. Na Europa Continental, estávamos a cem anos da patética Revolução Francesa que não foi mais do que uma cópia do que os ingleses fizeram um século atrás. Aliás, a própria Revolução Francesa foi inspirada pela Declaração de Independência dos E.U.A, em 1776, seguida da Declaração de Direitos de Virgínia e até mesmo pela Constituição dos E.U.A de 1787 (ainda em vigor). Concluindo: em nada a França foi original e só inspirou países como a Espanha e Portugal nas suas revoluções liberais apenas por uma influência maior.
Por não pertencer geograficamente ao resto do continente europeu; por ser um país inovador em imensas matérias; por ser a mais velha democracia do mundo; por ser diferente, não tendo uma Constituição escrita, não tendo separação religiosa entre o Estado e a Igreja, mas sim liberdade religiosa; por ter um monarca que se mantém no poder em vários dos seus anteriores domínios (Austrália, Nova Zelândia, Canadá, etc.), caso único em todo o mundo; por ser irreverente; por ter sido a grande Rainha dos Mares, detentora de 2/3 da superfície do planeta, o Reino Unido em nada necessita da União Europeia, esse aborto internacional sustentado pela França e pela Alemanha, num claro complexo de inferioridade face aos E.U.A e às novas potências emergentes, como a Índia, a China, o Brasil e a "renascida das cinzas", qual fénix, Rússia. Deste facto resulta o NÃO do Primeiro-Ministro David Cameron a esta Cimeira risível de salvação da não menos risível unidade monetária, Euro. O Reino Unido pertence à Comunidade Europeia por uma questão geoestratégica, desde 1973, e tem uma cláusula de exclusão ao Euro, cláusula irrevogável. Não abdicam da sua libra esterlina forte em detrimento de uma moeda fantoche, filha de golpes de ilusionismo europeu. Nem ratificaram o bárbaro Acordo de Schengen que é mais do que um atentado à soberania interna dos Estados.
Os ingleses, como todos os que valorizam minimamente a sua identidade própria, porquanto, também somos o país a que pertencemos, rejeitam o federalismo europeu e regozijam-se pelos fracassos ante fracassos que a União Europeia sofre. Cooperação e comunidade europeia, sim; federalismo, não...
Pensando bem, é uma preocupação vã: a União Europeia tenta salvar-se. É digna de lástima. Não há com que nos preocuparmos com a perda de soberania. Está moribunda, marcada de morte. O tempo ditará o golpe final.