27 de fevereiro de 2023

Lugo.


   Há umas semanas estivemos em Lugo. O M. já conhecia a cidade, mas eu não. Junto a Pontevedra, era a única cidade galega, das mais importantes, em que nunca tinha estado.

   Lugo é a capital da província homónima. Lucus Augusti, no seu nome romano, está circundada por uma muralha que se pode percorrer por cima, e assim ter uma visão privilegiada pela maior parte do seu perímetro. A muralha tem dois mil anos e mantém-se praticamente inalterada desde então.


A muralha romana de Lugo


    No centro, podemos encontrar a praça composta por uma coluna e uma enorme águia; é a praça do bimilenário de Lugo, construída aquando da comemoração dos seus dois mil anos de história. Li que a águia que decora o topo da coluna, de asas abertas, substituiu a de asas fechadas, transposta para o Parque Rosalía de Castro.


Uma praça que nos remonta a Roma


  O Parque Rosalía de Castro é amplo, luminoso, com um miradouro. Evoca a memória de uma das maiores escritoras nacionais, responsável pelo renascimento das letras galegas. 


Luminoso


   Perto do miradouro está a ponte romana de Lugo, engenho clássico que foi sofrendo inúmeras alterações durante a Idade Média e já mais recentemente, quando passou apenas a receber o trânsito peatonal.


Aqui vê-se um pôr-do-sol magnífico.


    Outro dos atractivos de Lugo é a sua catedral, que embora não seja tão magnânima quanto a de Santiago, é bonita.


Desde o alto da muralha, a catedral al fundo


      Lugo é uma cidade tranquila, entre o rural e o urbano, de gentes amáveis e bastante mais sossegadas do que a generalidade dos galegos, e é tida como uma das mais formosas da Galiza. Gostei bastante.

21 de fevereiro de 2023

Uma igreja (pouco) católica.


  Nunca como agora dois mil anos de história se viram tão ameaçados. As pessoas cansaram-se do controlo sobre as suas vidas, sexualidade, e finalmente dos crimes da instituição, os crimes sexuais, que todos conhecíamos de ouvir falar, e que se juntam aos crimes de maus-tratos e outros que tais. É que aqueles homens (e mulheres) que fazem a igreja podem (e são) ser tão maus como quaisquer outros. Durante demasiado tempo abusaram da sua posição de poder, de influência junto do poder político, da sociedade. Neste momento já não gozam desse poder; não podem silenciar os que os denunciam, travar as investigações, os processos criminais. Ainda bem que assim é. 

    É-me difícil encontrar um lado positivo na existência da Igreja. Sem querer trazer à colação o tema “Deus”, essa entidade é tão pessoal que não vejo a necessidade de haver intermediários na relação humanidade-entidade criadora, existindo. Como no tempo em que não nos permitiam ler a Bíblia -ler, em geral, pois tinham o monopólio do conhecimento-, e tudo quanto sabíamos, sabíamo-lo filtrado. Esse tempo terminou, o que lhe sucedeu também, e antevejo uma mudança social (e religiosa) significativa, que este escândalo não despoletou, tendo vindo ajudar a concretizar.  

16 de fevereiro de 2023

Crime e Castigo.


   Escandalosamente, só agora terminei de ler este clássico da literatura universal. E comecei-o há meses. Entretanto, entre as mudanças para a nova casa e as minhas crises de saúde mental, fui deixando a leitura de lado.

    O que se poderá dizer de Crime e Castigo que ainda não tenha sido dito? É uma obra sobre os dilemas morais e filosóficos das condutas humanas, das más condutas humanas; os tormentos psicológicos entre o que é e o que devia ser. A narrativa está repleta de acontecimentos comuns do quotidiano, porém, todos revestidos de uma enorme tensão. Não se vislumbra um único momento de paz de espírito nas personagens. Há, além do medo, uma ansiedade, como se estivesse algo de pior por acontecer. Será esse, enfim, o castigo que cada um carrega quando a consciência nos condena permanente e perpetuamente. No final, contudo, Dostoievski é cínico o suficiente para nos abrir a porta a um cenário de esperança que, a cada palavra que escreve, desmente, por tudo aquilo que vocês também terão lido e saberão, suponho.