Em casa da avó sem nada para fazer, ontem, ao final da tarde, resolvi folhear uma das inúmeras revistas do social que existem. A avó não tem por hábito ler este tipo de publicações, contudo, foi induzida pela curiosidade mórbida que afecta a generalidade das pessoas. Interessou-lhe, em concreto, a recente polémica que dá conta da separação tumultuosa de Bárbara Guimarães e Manuel Maria Carrilho. Também eu li os desenvolvimentos...
Acima de tudo, entristeceu-me. Não concebo o final de anos de vida em comum deste modo tão grotesco e pouco dignificante. Li as mais diversas acusações, de violência doméstica a tentativas de invasão de domicílio; de alcoolismo a operações plásticas que tentam contrariar a passagem do tempo. Um rol de mexericos que aguçam a inveja alheia e a deleitam.
Bárbara Guimarães e o marido eram aquilo a que se poderia facilmente chamar de casal perfeito, ou perto disso. Ela como apresentadora de topo de uma estação televisiva; ele como político, qualquer coisa perto de filósofo e ex-governante. Sobre eles pairava um manto de glamour e discrição. Houve quem chamasse de conto de fadas, uma história exemplar que tudo tinha para se manter ad aeternum. Mas, como no melhor pano cai a nódoa, o corte abrupto levou a que viessem a público os escândalos e as intrigas. A Comunicação Social, no seu pior, como sempre, aproveita ao máximo cada palavra, cada pedaço de infelicidade para lucrar. E como lucra! O descontrolo emocional de ambos completa, alimentando revistas que nada fazem a mais que não seja subsistir à custa da vida privada de terceiros.
No meio, os filhos, sobretudo o menino com perto de dez anos. Não posso deixar de atentar nas repercussões óbvias que estes comportamentos têm numa criança que se apercebe de tudo em seu redor, não sendo indiferente ao que se passa. Em experiência própria, que vivi de perto um processo de divórcio, sei que por mais se tente manter um filho à parte, vulgarmente somos os primeiros a perceber que algo está errado. Tinha mais quatro anos. Faz toda a diferença. Catorze, perto de quinze, ou dez, implica na compreensão.
A separação dos pais foi pouco dolorosa para mim. O amor terminou. Não houve qualquer episódio de violência, como, aliás, nunca houve em quase duas décadas de casamento. Nem verbal. Jamais ouvi uma discussão.
Jantavam num clima de frieza tal que pareciam dois estranhos. Não tardou a que o pai me sentasse no sofá, ajoelhando-se aos meus pés, pegando-me na mão e explicando-me a sua decisão irreversível de sair de casa. E saiu.
De mútuo consentimento, o divórcio foi célere. Menor que era, em relação a mim tudo ficou esclarecido, decidindo-se, claro está, pela minha permanência em casa com a mãe. As visitas do pai não teriam hora ou dia marcados. Foram de uma sensatez irrepreensível. Hoje, anos volvidos, admiro-os por evitarem ao máximo que sofresse. Viria a sofrer, sim, mais tarde, com o envolvimento da mãe com outra pessoa, o seu actual esposo.
Posto isto, é pertinente dizer que acredito em separações quase perfeitas, se relacionamentos não os há. É possível minimizar os efeitos colaterais nos filhos e demais parentes envolvidos, assim haja calma e respeito. Porque o amor pode terminar, até mesmo a amizade, admito, mas nunca o respeito. E o respeito não necessita de se extinguir com o amor, a atracção. O respeito cimenta-se ao longo dos anos e, no caso dos pais, sempre existiu e esteve presente.
Actualmente não têm contacto algum, nem interesse recíproco. Não se vêem há uns anitos. Mas sei que, acaso estivessem um na presença do outro, cumprimentar-se-iam cordialmente.
Lastimo que figuras públicas, de responsabilidade acrescida, não se pautem pelos mesmos critérios.