Quiçá me tenha antecipado ligeiramente, mas este ano perfazem duas décadas desde que morreu Cândida Branca-Flor, uma flor frágil que não resistiu ao abandono do público, a um conturbado processo de divórcio, à falta de amigos e más companhias e aos problemas financeiros. Quem a conheceu de perto fala de uma mulher triste na intimidade, melancólica.
Decidi escrever sobre a Cândida agora, e não a 11 de Julho, data então dos vinte anos sobre o seu desaparecimento, porque, de tempos a tempos, ela vem-me à memória, e detém-se por uns dias. Existências trágicas, precocemente interrompidas, exercem um fascínio sobre mim que ainda não sei explicar bem. Provavelmente porque morrer-se antes de tempo e inesperadamente é anti-natural. Cândida Branca-Flor, que se apresentava sempre com uma imagem bonita e cuidada, era um turbilhão de emoções. A quem tiver curiosidade, há vídeos da artista no Youtube, e, num deles, a ansiedade com que falava sobressai visivelmente. Ali estava um ser humano que sofria e que foi completamente abandonado pela classe artística, por todos, enfim, até sucumbir a uma dose fatal de medicamentos e álcool numa cave da periferia de Lisboa. Triste e indigno fim para uma intérprete que foi mais do que uma cantora de música popular -também a rotularam de pimba, e isso introduzir-me-ia noutro tema, no dos complexos que os portugueses têm consigo e com a sua cultura. Cândida tinha voz para ser cantora lírica. Iniciou-se na música com a Banda do Casaco, algures em meados dos anos 70, que era tudo menos um conjunto musical imediato. Mais tarde, afastou-se do projecto e enveredou pela música popular, cantando velhos clássicos como os da Beatriz Costa em A Aldeia da Roupa Branca.
Noutros países, como aqui em Espanha, onde a música nacional é valorizada sem rótulos preconceituosos e desnecessários, Cândida Branca-Flor teria sido um nome primeiro do espectáculo. Em Portugal, arrastou-se por programas televisivos de má qualidade até cair no esquecimento que, a acrescer, a conduziu à morte.
Um dos auges da sua carreira teve-o com Carlos Paião, também de trágico fim, a quem acompanhou no Festival da Canção de 1983 com Vinho do Porto, Vinho de Portugal, que não ganhou entretanto, conquistando um honroso 4º lugar e um carinho especial do público. É uma canção patriótica que põe em evidência todo o talento de Paião como autor e compositor.
Não a conhecia. Nunca tinha ouvido falar dela, se calhar porque morreu antes de eu nascer. É de lamentar que as pessoas morram assim sozinhas e desamparadas.
ResponderEliminarVou pesquisar no YouTube mais sobre a sua carreira.
As primeiras músicas do seu repertório eram de um estilo mais elitista. Depois, efectivamente, tornou-se mais popular. Há algumas entrevistas também.
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