28 de fevereiro de 2018

Three Billboards Outside Ebbing, Missouri and Phantom Thread.


   Fiz maratona, fiz, mas estou decidido a ver (quase) todos os filmes nomeados para o Oscar de Melhor Filme. Esta terça, decidi-me por estes dois. Como não gosto de piratear nada - e ainda que gostasse, não o saberia fazer - vou educadamente ao cinema e valorizo o trabalho dos realizadores, actores e por aí fora.

  Three Billboards Outside Ebbing, Missouri. Individualmente, adorei as interpretações de Sam Rockwell e de Frances McDormand, ele no papel daquele policial violento, antissocial e traumatizado e ela enquanto órfã de filha - pois é, a nossa língua continua a ser insuficiente para definir essa dor maior - mulher magoada e profundamente revoltada (a caracterização é sublime). Há crimes quase perfeitos. O filme é igualmente bom no retrato cru que faz dos estados mais a sul dos EUA, rurais, com todo o racismo (e machismo...) que sobreviveu ao esclavagismo e à guerra civil que quase provocou a secessão. Gostei da perseverança daquela mãe, pragmática e contundente, e da sua luta obstinada por justiça, nem que para tal se socorresse de actos marginais e perigosos, pondo-se e aos outros em risco. Os diálogos são marcantes. Curiosamente, e embora a tónica seja claramente dramática, há momentos de humor, curto e sem delongas. Frances e Sam merecem as nomeações para os Oscars.

  Phantom Thread. Mais de duas horas de planos lentos, estáticos. Embora requintado, torna-se cansativo acompanhar aquela relação estranhíssima, de mútua dependência, quase - ou seguramente - doentia. É uma história de amor, sim, indicada para quem gosta de amores pouco convencionais. O realizador explorou um lado interessante: o do sacrifício, o da abnegação, em prol da concretização profissional e do sucesso. Aquele costureiro elegante, Reynolds Woodcook, que trabalha para a alta sociedade, muitíssimo bem interpretado por Daniel Day-Lewis, é um homem azedo, insuportável, roçando a mesquinhez, que decididamente não sabe amar, e que encontra alguém que lhe é compatível nesse modo estranho de se dar a outro. Uma palavra para a actriz que faz de sua irmã, Lesley Manville, indicada que está para o Oscar de Melhor Actriz Secundária. Desempenhou com maestria o papel da irmã mais velha, protectora, autoritária, ciosa do seu lugar e do que representa na vida do irmão.

27 de fevereiro de 2018

Sunday time.


   Provavelmente estranharão o título do post. Não posso dizer que este domingo tenha sido dedicado às artes, a menos que entendamos a natureza como uma arte, e é-o, de facto. Ainda assim, não achei que se adequasse. Em abono da verdade, seria, a priori, um domingo dividido entre um museu e um parque, tal não sucedendo porque a Direcção-Geral do Património Cultural insiste em manter aberto um espaço que de museu não tem rigorosamente nada, exceptuando uma sala com um vídeo projectado.

   Antes de mais, fui brindado com um dia excelente, ao contrário de ontem, segunda-feira. O estado do tempo conheceu uma alteração radical, não inesperada, que seria o suficiente para estragar quaisquer planos. E qual o plano? Museu Nacional de Arte Popular, de manhã, e Jardim Tropical de Belém, pela tarde. O museu, o não-museu, é inexistente. Se lá forem, ouvirão o mesmo que eu: que o acervo foi todo deslocalizado para o Museu Nacional de Etnologia, que já conheço. Então, para quê manter o museu aberto, anunciando-o nos sites oficiais? Pela exposição do Escher, que nem fica ali? Não faz sentido.


  O contratempo deixou-me inquieto por momentos - já vi tudo o que há para ver em Belém, até que me lembrei do Padrão dos Descobrimentos, e porque não revisitar a Torre de Belém?
  Adorei subir ao topo do Padrão. Nunca o tinha feito, e a vista sobre Belém, a Ajuda, o Restelo e Alcântara é deslumbrante. Ah, e sobre o Tejo também, evidentemente. O espaço, lá em cima, é exíguo, e os turistas são mais do que muitos. Um deles, sueco, nos seus trinta anos, no máximo, estava munido do tablet, fotografando tudo. A determinado momento, perguntou-me (isto ainda no topo do Padrão, e em inglês) se me importava de lhe tirar uma fotografia. Tirei-lha, e continuámos a falar. Então, sucintamente, veio viajar sozinho para Portugal. Esteve na Dinamarca, Alemanha, França, Espanha, e em outros de que não me recordo, sempre sozinho. Fica em hostels e anda quilómetros a pé à descoberta.
   Depois de apreciarmos a vista, perguntei-lhe se queria ir à Torre de Belém. Respondeu-me afirmativamente, e para lá nos dirigimos. Mas antes que continue, deixo-vos (algumas) das fotos que tirei.


   A vista, como poderão comprovar, é sublime. A melhor sobre Lisboa. Esqueçam os miradouros, esqueçam o topo do Arco da Rua Augusta.

   Na Torre, uma fila extensíssima. Embora estejamos no Inverno, o sol estava quente, e eu já sentia o calor pelo corpo, muito devido ao sobretudo que envergava. Roupa desportiva não é muito a minha onda. Naturalmente, supus que o rapaz quisesse ficar ali, à espera. Era o que eu faria no seu lugar, sendo estrangeiro. Entretanto, os meus planos eram outros, uma vez que não gosto de adiar excessivamente a hora de almoço. Desafiei-o para ir comigo ao Jardim Tropical, ali perto. Aceitou.

   Não dava muito pelo jardim, mesmo nada, e surpreendeu-me pela positiva. Não é gratuito. O preço é muito simbólico, e darão conta disso ao percorrerem-no. Tão bem cuidado, com os animais - pavões, patos, galinhas e sei-lá-eu-o-que-mais, flora de todo o mundo, espécies exóticas. São 7 hectares, divididos por vários jardins, e ainda têm o Palácio Calheta, fechado, com os seus jardins passíveis de ser explorados. A companhia do turista, do G., ajudou a tornar aquelas horas mais agradáveis. Contei-as: duas, duas horas para ver tudo. Não estava com o calçado mais confortável, mas fi-lo devagar, sem pressas, fotografando e fotografando. Aqui ficam algumas  - já sabem onde poderão ver mais.


   Despedi-me do G., adivinhando que lá terá ido para a Torre. Da minha parte, e porque se fazia tarde, fui almoçar por ali mesmo, num restaurante muito em conta.

   De dia que, à partida, teria corrido mal, foi um dos que mais gostei. O sol terá ajudado.

   No que a museus diz respeito, vi todos aqueles cujas entrada, aos domingos, é gratuita. As minhas visitas continuarão, desta vez a contribuir, claro está, para um património que deve ser protegido e mantido com a ajuda de todos - a propósito, o Mosteiro de São Vicente de Fora não tem entrada gratuita a dia algum.

   Espero pelo vosso encontro aqui.

Todas as fotos foram captadas com o meu iPhone. São minhas e de minha autoria. Uso sob permissão.

24 de fevereiro de 2018

The Florida Project.


   Um amigo disse-me que detestou. Eu fiquei na dúvida, mas decidi avançar. Se me pedissem para descrever o filme numa simples palavra, usaria "morno". Está longe de ser brilhante. O interesse da narrativa reside na perspectiva que temos desde a protagonista, uma criança pequena, e é através de si que somos conduzidos à história. The Florida Project é um retrato duro, na maior parte do tempo, da América, do país que não é vendido para fora.

   No meio de tanta precariedade, o realizador quase que nos quis mostrar que é possível uma criança ser feliz tendo muito pouco. E ao contrário de Tonya, de que vos falei ontem, Moonee tinha amigos e o amor da progenitora. Uma mãe pouco ortodoxa, também ela jovem mulher, carente, que de infância há-de ter tido muito pouco, mas que não largava a filha em circunstância alguma. O filme é todo ele ambientado naquele complexo habitacional de veraneio, palco de brincadeiras e de traquinices, onde se constroem laços entre vizinhos, e onde o gerente, interpretado por William Dafoe, tem um papel determinante, movendo-se na mais desinteressada compaixão, e até afeição, por Moonee e por Halley, esta última desdobrando-se em esquemas, alguns degradantes, para conseguir manter a filha.

  Afinal, do que é que uma criança necessita para ser feliz? Não seria Moonee feliz, sem prejuízo de não ter uma vida considerada normal para os cânones da tradicional, e quantas vezes hipócrita, sociedade norte-americana? Respondendo, eu diria que sim, e que verdadeiramente se poderá falar em trauma quando a pretendem tirar da mãe e do seu espaço, levando-a, e à amiga, àquela fuga pelo parque da Disney, que coincide com o final surpreendente e inusitado.

   Não será, como apregoaram, o melhor filme do ano, mas também não é dos piores, pelo contrário. O filme é bastante despretensioso: a vida é assim, as pessoas agem como ali as vemos agir, com violência, com alegria, com atitudes irreflectidas, com más decisões. Aquela não é só a América. É a América e a sociedade ocidental, até nos estereótipos.

23 de fevereiro de 2018

I, Tonya.


   Contei, ou tentei, a quantidade de vezes em que me ri neste filme, sobretudo com aquela mãe, se é que lhe podemos chamar assim, e com o "amigo" gordo. Tonya Harding é um caso paradigmático de como crescer diante da disfuncionalidade nos torna pessoas mal estruturadas. Eu não conhecia a atleta, nem a actriz que a anima nesta longa-metragem, Margot Robbie.

  A fotografia não impressiona, mas a narrativa tem interesse. É uma comédia-dramática, uma comédia negra, como lhe queiram chamar, com uma sucessão de abusos físicos e emocionais. A violência é uma constante.
  Creio que, neste caso, estamos perante um filme que podia ter sido uma catástrofe, tornando-se num castigo trágico-pimba de 120 minutos. Felizmente, para mim, não se confirmou. Margot Robbie saiu-se excepcionalmente bem; todavia, a actriz que faz de sua mãe, a fria e pragmática LaVona, Allison Janney, arrebata todas as cenas que protagonizou.

   Gostei da direcção. Ao contrário do The Post, em que a primeira parte entedia e a segunda anima, neste senti o contrário: há uma quebra a meio - coincidente com a quebra do  joelho de Nancy - curiosamente. Em todo o caso, terão risadas garantidas, e até por isso vale a pena. Saber que estamos perante um filme baseado em factos verídicos, o tal toque de veracidade, ajuda.

22 de fevereiro de 2018

The Post.


   Estava curiosíssimo com o filme, essencialmente por três (bons) motivos: Mery Streep, jornalismo e presidência Nixon / início de Watergate. Streep é uma das minhas actrizes favoritas - creio que é uma das favoritas de todos. O primeiro contacto que tive com ela, parece-me, foi com o She-Devil. A partir daí, fui aos antigos e continuei a segui-la com atenção. O jornalismo porque tenho uma paixão imensa pela área - seria sempre um jurista fracassado - e ainda acalento o sonho de me especializar em Comunicação Social. Aquele ambiente de redacções fascina-me, muito embora prefira a vertente televisiva. A segunda metade do século XX, concluindo, com a Guerra do Vietname e a derrota norte-americana, com tudo o que acarretou, configura um dos períodos históricos que mais interesse me suscita, e o filme conjugou todas essas características.

  Tratou um assunto bastante actual, até na realidade política portuguesa: até que ponto o interesse público se sobrepõe à necessidade que o Estado tem de manter determinados segredos apenas na sua esfera de conhecimento? E o que ali estava em causa era mais do que morder os calcanhares do poder; milhares de jovens americanos eram enviados como carne para canhão, alimentando as fileiras de uma guerra que se sabia perdida. A coragem do Washington Post, que não foi pioneiro, e de outros que lhe seguiram, é admirável. Nixon não era um homem que lidava bem com o natural assédio da imprensa. Atacava ferozmente todos os que se lhe opunham, o que não deixa de ser caricato numa democracia que se diz sólida como a norte-americana, acostumada a escrutínios profundos por parte da opinião pública. Portugal, em 1971, estava ainda a viver a Primavera Marcelista.

  Streep está nomeada, e justamente, para Melhor Actriz. Fenomenal, como nos vem habituando. A sua presença, até de boca fechada, muda um filme. Tom Hanks (o elenco era de luxo) aborrece. O filme é ele mesmo aborrecido na primeira parte, para uma segunda que nos prende a atenção até ao derradeiro momento. Spielberg teve uma boa ideia, adaptando o célebre escândalo do Pentagon Papers para o cinema, mas fico na dúvida se The Post tem arcaboiço, no seu conjunto, para levar a estatueta.

21 de fevereiro de 2018

Cultural Sunday [take 7].


   A Primavera antecipou-se neste domingo. Um dia esplêndido, embora tenha acordado desanimado e cheio de sono. Abrir a janela e depararmo-nos com um sol maravilhoso faz com que esqueçamos até uma noite mal passada... Locais escolhidos: Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado e, em jeito de revisita, Mosteiro dos Jerónimos.

  O Museu do Chiado, que já conhecia, tem uma exposição interessantíssima, que recomendo, dedicada ao Género na arte, isto é, às representações sociais que nos levam a adoptar comportamentos masculinos ou femininos. Desconfiei sempre destas bandeiras da extrema-esquerda. Nascemos com um sexo biológico, masculino ou feminino. É uma verdade científica. A masculinidade e a feminilidade, sim, são-nos impostas.



   Destacaria, ainda, as exposições A Sedução na Modernidade e A Mão-de-olhos-azuis de Candido Portinari, interessantíssimas. Na primeira, cada busto, óleo, escultura é acompanhado por uma estrofe, um excerto, de autores novecentistas.


  Pela tarde, inicialmente quis visitar um museu que ainda não conheço, que fecha das 13h às 14h. Como não quis esperar, resolvi ir aos Jerónimos. A última vez que lá estive, salvo erro, foi em 2009. É sempre um prazer percorrer os seus magníficos claustros, sobretudo numa tarde tão luminosa. Tenho a apontar o excesso de turistas, mas já se sabe: os Jerónimos são o maior, ex aequo com a Torre de Belém, ex libris lisboeta e, diria mais, português, Património da Humanidade pelo UNESCO desde 1983. Os claustros foram restaurados de 1996 a 2002. Estão lindíssimos. Se o propósito era o de proporcionar momentos de reflexão e recolhimento aos monges, foi atingido. Ainda que rodeado por centenas de pessoas de todas as nacionalidades, senti uma paz interior enormíssima, e sabe Deus que paz interior é o que menos tenho.



    Um domingo excelente, já com planos para o que se avizinha.

Todas as fotos foram captadas com o meu iPhone. São minhas e de minha autoria. Uso sob permissão.

17 de fevereiro de 2018

Evolucão/Involução.


   Há dias, numa publicação, abri a porta, passo a expressão, a que leitores me deixassem sugestões de espaços a visitar. Visava monumentos, museus, sobretudo. Entretanto, recebi um e-mail curioso de um leitor que me segue há três anos, mas que nunca comenta. Um leitor e seguidor fiel que me deixou uma ideia no ar. Juntei-a àquela que já tinha, de escrever sobre o blogue a propósito do ano comemorativo do 10º aniversário (mais uma vez, e outras se seguirão), e de fazer uma pequena reflexão sobre a linha que venho adoptando, um tanto ou quanto diferente.

   Comecemos pelos leitores que não "conhecemos". Há uns anos, era habitual (não rotineiro) receber e-mails de pessoas que me liam com atenção, sem todavia se darem a conhecer. Vulgarmente esquecemo-nos de que é possível, julgando que só nos lê quem nos comenta. Não corresponde, de todo, à verdade. Esse leitor, que não identificarei, deixou-me um desafio: enumerar os blogues que sigo e com os quais continua a haver interacção. Pensei em como responder a este desafio, e cheguei à conclusão de que não me sentiria à vontade a divulgar os blogues que leio. Não porque leia blogues de teor duvidoso ou que me possam envergonhar - até gostava, para animar - mas porque não me agrada fazer publicidade a ninguém. Também por outro motivo - o mais importante: não sigo verdadeiramente nenhum blogue. Sigo vários, se considerarmos seguir como tê-los na minha lista; em todo o caso, clico quando me apetece, esporadicamente. Às vezes, lembro-me de que há muito não visito determinado blogue, e lá decido aparecer. Serão em torno de uns cinco. Houve uns que deixei de seguir, e de acompanhar, quer porque já não existiam, quer porque deixaram de me interessar.


   No que respeita à reflexão, o blogue, desde o começo do ano (embora venha passando por transformações pouco perceptíveis e contínuas há muito), mudou um pouco, e não mudou deliberadamente. Mudou sobretudo, e o leitor também identificou esse aspecto, porque a blogosfera mudou. Gerir um blogue é quase como gerir um negócio. Temos de nos adaptar, senão a coisa morre sem glória, cedendo ao cansaço e ao desânimo (paradoxalmente, Janeiro de 2018 foi o mês em que mais publiquei desde Janeiro de 2012). Fez todo o sentido escrever sobre os reis de Portugal há uns anos, ou enquadrar o suicídio no ordenamento jurídico português; hoje, não o faria. As pessoas não se interessam, não lêem - não há público de blogues para isso, não na blogosfera em que me insiro. Também escrevia sobre pormenores da minha vida privada; actualmente, seria quase como dar o ouro ao bandido, quando os anos passam e ganhamos anticorpos, ou seja, pessoas que se divertiriam tendo conhecimento de cada desaire nosso. Há particularidades que ficam melhor guardadas connosco, e também aprendi isso - aliás, havia-o aprendido há muito, que há anos que deixei de escrever sobre o meu lado mais pessoal. Passei a dedicar-me a crónicas e, pontualmente, a um artigo histórico (inovei no ano passado, ao introduzir, com frequência, críticas cinematográficas). E as crónicas, essas, diminuíram drasticamente; ainda só abordei temas políticos uma vez.

   Continuo a escrever sobre História, adaptando-a aos meus roteiros. É um outro modo de fazer o mesmo. Se tiver interesse, torno a escrever sobre Direito, mas não exaustivamente numa publicação. Quem escreve um blogue, e ainda que o negue, não escreve apenas para si. Dar sem receber cansa e é injusto. Importante, sim, é que as pessoas continuem sempre a rever-me em cada linha que publico, escreva lá eu sobre o que escrever, que tudo o que faço, faço por gosto. Jamais tornaria o blogue numa plataforma alheia à minha personalidade e à minha postura pública e pessoal apenas pelo reconhecimento. Posso, dentro daquilo que sou, adaptar-me às circunstâncias, e é isso que venho fazendo.

15 de fevereiro de 2018

Forma da Água.


   Como havia dito, anteontem fui ver o Forma da Água. O pouco que sabia a respeito, pouquinho, contara-me um brasileiro. Vá lá que teve o bom senso de não desvendar muito.

   O filme é bom, não inovador na fórmula. Com pequenas nuances. A bem dizer, histórias em que meninas bonitas se envolvem sentimentalmente com meninos feios (que é como que diz, monstros) há muitas. O que torna esta narrativa bonita de se ver é a singularidade da relação que se estabelece entre uma mulher não particularmente esbelta, empregada de limpeza, portadora de deficiência, comum, todavia de bom carácter, com um animal estranhíssimo, que é mais humano do que seríamos levados a supor, embora mantenha traços selvagens. Junte-se-lhe a magia, um toque de humor, a Guerra Fria e o antagonismo EUA/URSS e os terríveis vilões. A Disney ficaria orgulhosa.

   Guillermo del Toro excedeu-se. Criou um enredo giro, bom para a data - ontem até assinalámos o Dia de São Valentim, não foi? Um drama quase familiar, não fossem as cenas de masturbação iniciais. A actriz principal, Sally Hawkins, tem uma interpretação fantástica, bem assim como Octavia Spencer, na pele da colega trágico-cómica. O filme, em suma, conjuga efeitos especiais primorosos e uma história de amor, que enternecem e caem (quase) sempre bem, quando bem dirigidas. Eu gostei e recomendo.

13 de fevereiro de 2018

Cultural Sunday [take 6].


   Sendo sincero, já não sei que introdução atribuir aos meus domingos culturais. Sabem que eu vou, pelo que posso perfeitamente contornar as partes introdutórias. Querem saber mesmo aonde fui (talvez nem vos importe...), não é? Sem rodeios, pois bem, a minha escolha incidiu sobre o Museu Nacional do Azulejo e, atendendo à sugestão de uma leitora, o Museu da Água.

   Comecemos pelo Museu Nacional do Azulejo, que não conhecia e que adorei. Fica em Xabregas, a uns dois quilómetros adiante da estação de comboios de Santa Apolónia. Em todo o caso, e fi-lo pelas ameaças de chuva, apanhei o autocarro (794). Aconselho-vos. Também se não quiserem andar muito. Ainda se anda um bom bocado.

   É um museu lindíssimo, situado no Mosteiro da Madre de Deus, uma jóia que sobreviveu ao terramoto de 1755. Tem dois pisos (ou três?), munidos das melhores colecções de azulejos, desde a Idade Moderna até ao Cargaleiro. Enfim, visitem que vale a pena. Eu, no meu preconceito, julguei: "Meh, azulejos...". Sim, azulejos, azulejaria que faz parte de nós, da portugalidade, do que fomos. Herdámos a tradição dos árabes e mantivemo-la, aperfeiçoando-a e tornando-a num traço distintivo da nossa cultura. Tirei várias fotos, deixando-vos algumas delas.



Na primeira foto, Pã, deus grego. Azulejaria do século XVII, bem como na segunda foto, também do mesmo século.

   O Mosteiro, como vos disse, é uma maravilha. Não pude deixar de captar uma foto dos seus claustros.


    A igreja do mosteiro é extraordinária também. Estou certo de que a adorarão. Repito-me, mas não dava nada pelo museu e saí de coração, olhos e telemóvel cheios. Quem me segue nas demais redes sociais - Facebook  e Instagram - e é uma parte substancial dos meus leitores, vai acompanhando as fotos que, gradualmente, publico.


   A meio caminho entre Santa Apolónia e o Museu Nacional do Azulejo fica o Museu da Água, subindo-se a Calçada dos Barbadinhos. Geralmente, procuro coordenar bem as visitas, de modo a que, num mesmo domingo, não tenha de me movimentar por pontos opostos da cidade. Nem sempre é possível. Desta vez, contudo, foi.

   O Museu da Água não tem muito para ver. Dispõe de uma sala didáctica, onde nos informam sobre o que é a água, os seus componentes químicos, os seus estados, o uso que lhe damos, a distribuição doméstica, a distribuição na cidade de Lisboa e o seu processo histórico, etc. Tudo bem explicado e de modo muito atractivo, e até interactivo.


   Do lado esquerdo, há um pequeno corredor com um painel no chão. Pisando-o, julgamos estar a caminhar sobre a água. Inquietou-me! Como podem ver na foto, parece que estamos rodeados de água. Pretendem que fiquemos com essa impressão.
   O museu estava vazio. Tive-o para mim. Vi tudo com calma e com toda a atenção Detesto confusões - o Museu do Azulejo estava cheio. Este, provavelmente por se situar ao fundo de um beco, bem escondido, não tinha vivalma.

    Prosseguindo na visita, resta-nos a sala das máquinas. Tem uma no piso inferior e outra, a mais bonita, no piso superior, e nisto fez-me lembrar o Museu da Electricidade, que conheci em 2015, e que também lá tem as suas máquinas.


   Finda a visita, tempo de almoçar, que se fazia tarde.
  Foi um domingo giríssimo, melhor do que o anterior, quando fui ao MNAA. Nem cheguei a publicar fotos da exposição acerca do arquipélago da Madeira, verdadeiro motivo que me levou lá. Uma vez mais, quem me acompanha noutras plataformas vai tendo acesso aos registos.

   Esta semana, curiosamente, decidi logo no domingo à noite onde iria. Todavia, como da praxe, só o saberão no momento oportuno. Aliás, acrescento mais: sei onde irei nos domingos seguintes, pelo menos nos próximos três. Assim sendo, sintam-se à vontade para, através do e-mail, me fazerem chegar sugestões. Não se acanhem. Não sou daqueles que julgam que não precisam de ninguém - como os há por aí - e que em tudo são auto-suficientes  - quando nem corresponde à verdade. Sugestões, venham elas! Aceito-as e até as agradeço. Pode ser que já tenha pensado nelas, pode ser que não.

Todas as fotos foram captadas com o meu iPhone. São minhas e de minha autoria. Uso sob permissão.

10 de fevereiro de 2018

Timothée Chalamet, filmes e Oscars.


   Decidi ver o filme pela segunda vez (Call Me By Your Name). Por mais que discutamos a banalidade do argumento - não há novidades em amores na adolescência - há ali qualquer coisa que o torna especial. Discuti isso na minha crítica, numas publicações abaixo. Muito se deverá, estou seguro, à fantástica interpretação de Timothée Chalamet, um nome que me era, e ao público em geral, absolutamente desconhecido.

   No meio, if you know what I mean, Armie Hammer tem suscitado todo o tipo de reacções de agrado. Também ele, de certa forma, foi catapultado para a fama. Falemos de homens: Hammer é-o mais do que Chalamet, um miúdo com vinte e três anos. No limite, agradar-me-ia mais. Mas não foi assim. O jeito de Chalamet conquistou-me desde o primeiro momento, e tenho visto muitas entrevistas suas, as que estão disponíveis no Youtube. O seu sentido estético e a sua aparente inocência no modo como vem lidando com a exposição e o assédio, que se somam às suas características físicas, tornam-no no meu mais recente crush

   Estou muito curioso para o ver em Lady Bird, que vai estrear em breve. Sei ainda que vai participar no novo filme de Woody Allen e num filme da Netflix. É a estrela do momento. Segundo li, a ganhar o Oscar de Melhor Actor, será o primeiro a conquistá-lo não tendo atingido um quarto de século. Na categoria de Melhor Filme, e em virtude de Moonlight ter arrecadado a estatueta no ano passado, não acredito que a Academia se repita. Falamos de histórias diferentes que, contudo, se tocam na abordagem à homossexualidade.

   E por falar em filmes, esta terça vou assistir ao Forma da Água, nomeado para um sem-número de categorias. Vou de cabeça arejada e sem spoilers, como gosto, para ser surpreendido.

6 de fevereiro de 2018

Weekend.


   Já me cansa falar sobre mim e sobre o que faço. Não foi isso que quis para o blogue, mas é isso que tenho feito ultimamente. Blogues "versão diário" e outros com o ego inflamado andam por aí aos montes: eles falam sobre cada passinho que dão, cada livrinho que lêem, cada tragédia que lhes sucede, levando-me a crer que as suas vidas, tais como a minha, são do mais desinteressante possível, e são-no, efectivamente, ou não andasse a fazer o mesmo desde há semanas.

   Começo pelo jantar de sábado. Foi giro, não tão giro quanto outros. Tive de sair mais cedo, as usual, sujaram-me as calças e as botas no buffet e deprimi a meio da confraternização. Entretanto, conheci um blogger que sigo, e que me segue, aos anos, e essa parte foi gira. Como a minha mãe disse, tendo-a desmentido para não parecer mal, « chamam-lhe jantar da amizade, mas são uma cambada de cínicos que dizem mal nas costas uns dos outros ». Tem certa razão, com a autoridade das suas seis décadas de vida, a completar já nesta sexta, sendo que uma boa parte dos cínicos ficou pelo caminho, graças a Deus, que estava a perder a paciência para os aturar. Eu não sou cínico. Quando não gosto, volta e meia vêm a sabê-lo, daí gerar anticorpos em torno. Querem que seja sincero? É para o lado que durmo melhor e, frequentemente, até me diverte.


   No domingo, acabei por sair. Fui, pela enésima vez, ao MNAA, ao museu de arte antiga. Não vou publicar fotos, como calculam, que o museu é conhecidíssimo. Revisitei a colecção permanente, já que por lá andava. Destacaria a exposição temporária sobre a Madeira (sim, o arquipélago), no piso zero, gratuita para os clientes da CGD - e foi precisamente o que me levou a optar pelo MNAA. Gostei muito. Soube que Portugal empreendeu na Madeira o que viria a fazer no Brasil. O arquipélago foi meio que um experimento para aventuras de outra envergadura. Também não julguei que a Madeira tivesse um acervo tão rico, seja na pintura, na escultura. Foi, realmente, uma surpresa boa, que me consumiu três excelentes horas.

   Para terminar, uma leiturazinha. Terminei um livro muito interessante do Prof. Freitas do Amaral, História das Ideias Políticas, que se lê bem, passando já para o Call Me By Your Name, ainda só disponível em Inglês, e último exemplar que havia na FNAC. É um livrito que se lê numa tarde, pouco denso, suponho, que mal lhe peguei. Sinto-me outro por falar naquilo que leio.

   Peço desculpa pelo tom acutilante. Foi um desabafo, como tenho muitos, com a diferença de que os outros, geralmente, apago depois de os escrever e antes de clicar em Publicar. Desta vez, e fi-lo deliberadamente, não fui tão sensato.

3 de fevereiro de 2018

Cultural Sunday [take 4].


   Um dia soalheiro, convidativo a sair de casa. O roteiro estava traçado: Mosteiro de São Vicente de Fora e, havendo tempo, Museu Nacional de Etnologia. Por estranho que pareça, não conhecia o mosteiro, sendo fanático por História e apaixonado pela Casa de Bragança. O Panteão da última família real portuguesa encontra-se precisamente numa das alas do mosteiro. Mas São Vicente de Fora tem bem mais para nos oferecer.



   Levantei-me cedo, bem cedo. O mosteiro não tem domingos gratuitos, e já o sabia. Paguei com agrado.
   Desde logo, deparamo-nos com as ruínas do convento primitivo, ainda visíveis, antes de entrarmos num átrio decorado com azulejos lindíssimos. Somos encaminhados para o museu do mosteiro. Fiquei impressionado pelas peças raríssimas que encontrei, sem, no entanto, estar permitido fotografar ou filmar.


    Saindo do museu, chegamos aos claustros do mosteiro, ladeados por várias portas. Uma delas dá directamente acesso ao pequeno depositário das ossadas dos Meninos de Palhavã, os filhos ilegítimos, mas legitimados, de Dom João V. Também por aí encontramos uma porta, imponente, que nos leva ao Panteão dos Bragança, e outra, mais discreta, ao Panteão dos Patriarcas.



    A luz ajudou a tornar a visita mais especial. Reflectida na cal das paredes, fez com o espaço ficasse mais agradável, pese embora tenha o carácter de recinto mortuário, impessoal.
  Houve uma salinha que despertou a minha atenção: continha conchas recolhidas da costa portuguesa. Foram doadas por uma senhora e pelo marido, ambos falecidos, entretanto.


    No piso intermédio há uma colecção, com painéis em azulejo, das fábulas de La Fontaine. Não achei relevante fotografar.
   Aproximava-me do acesso ao terraço, que me proporcionaria uma vista assombrosa sobre Lisboa. Na foto, como verão, a Igreja de Santa Engrácia, que visitei na outra semana, revela-se-nos, bem como o Tejo. No lado contrário, temos o Castelo de São Jorge.



   Mais havia para falar e para ver. Em todo o caso, e para não tornar a publicação demasiado extensa, passo já à segunda visita do dia, ao museu, que fica no Restelo.
   Não que me tenha desagradado, mas esperava mais, de facto. Gostei particularmente das máscaras do Mali. Se andarem por Belém, não deixem de visitar; aconselhar-vos-ia a não elevarem muito as expectativas.



   Não fiz todo o trajecto sozinho. Um amigo juntou-se à segunda parte, ao museu apenas.
   São domingos muitíssimo bem aproveitados. Neste que vem, contudo, não sei se irei a algum lado (com pena minha porque é o primeiro do mês), na medida em que terei um jantar já hoje, sábado. Ainda assim, é bem  provável que me aventure.


Todas as fotos foram captadas com o meu iPhone. São minhas e de minha autoria. Uso sob permissão.