Seria tão bom se passássemos pela fase de crisálida, mas não a fase tradicional da puberdade. Uma fase em que pudéssemos deixar para trás tudo de errado que encontramos e fizéssemos uma renovação total. Insondáveis desígnios da Criação e temos de viver com o que vamos construindo. Oscilo entre o que está bem e o que está mal, uma tendência voluptuosa e irresistível para o inconformismo. Dizem que é bom ser assim. Aperfeiçoa-nos progressivamente. Errado. Há coisas imutáveis em nós. Somos imperfectíveis, todavia, uns aceitam melhor essa inevitabilidade.
Se tivesse o poder de fazê-lo, construiria o que não vivi. Tornaria o sonho em realidade. Como Florbela Espanca, materializaria
"Lembranças de fantásticos outroras,
De sonhos que não tenho e eram meus!"
Se o fim da linha se afigura como um precipício, o passado não reboca as dores que anseiam terminar. Os sonhos, jogados no vil negro, desaparecem como uma centelha minúscula que diminui à medida que trespassa o ponto de não retorno. Os sonhos são densos, a substância que os envolve não existe. Porventura em nós, existe em quem se tem como real. O tempo passa e cada vez mais me observo de fora, como uma pupa ansiosa por viver.