30 de abril de 2018

Cultural Sunday... on Saturday [take 16].


   Este fim-de-semana, por dois motivos - porque o meu aniversário seria no domingo e porque os locais que queria visitar estão fechados aos domingos - decidi-me por programar o meu dia cultural para sábado. Um sábado extraordinário, com aguaceiros só da parte da tarde, quando já estava tudo visitado. E por onde andei? Aqueduto das Águas Livres, logo pela manhã, seguido do Museu da GNR (revisita) e do Museu Arqueológico do Carmo, ambos no Largo do Carmo. De salientar que revisitei o Museu da GNR apenas porque teria, inevitavelmente, de lhe passar à porta.

   A visita ao Aqueduto das Águas Livres encerra, por assim dizer, o meu ciclo dedicado a visitas a todo o património associado à EPAL, que este ano comemora os seus 150 anos. Fui ao Museu da Água, ao Reservatório da Mãe de Água das Amoreiras e ainda ao Reservatório da Patriarcal. O Aqueduto situa-se em Campolide. Não tem nada de especial, a par de percorrermos o troço de 1 km permitido, podendo desfrutar de uma vista privilegiada sobre Lisboa. Tem interesse. Mandado construir por Dom João V para resolver os problemas de abastecimento de água na capital, resistiu incólume ao terramoto de 1755, constituindo, portanto, um dos monumentos mais antigos de Lisboa.




   Tudo visto por aquelas bandas, fui ao célebre Largo do Carmo, onde ocorreram momentos decisivos no golpe de Estado de 25 de Abril de 1974, que assinalámos há poucos dias. Inicialmente, o meu plano era o de ir, de imediato, ao Museu Arqueológico do Carmo, que visitara pela primeira e última vez em 2001. Ao passar pelo Museu da GNR, que fica no Quartel do Carmo, pensei « Porque não? » E decidi bem. Da vez em que lá estive, algures no início de 2017, havia uma parte, que desconhecia, fechada ao público, parte essa de salutar importância no contexto histórico que se viveu na Revolução de Abril: a sala em que Marcello Caetano, após catorze horas de incerteza, se rendeu, e entregou o poder, ao General Spínola. Na sala, ainda há marcas da rajada disparada pelo MFA contra o quartel, por forma a pressionar o então Presidente do Conselho à demissão. No museu propriamente dito, disponibilizam-nos informações sobre a Guarda Nacional Republicana, dos seus primórdios à actualidade. Não tirei fotos ao acervo do museu uma vez que o fiz no ano passado.










Icónicos momentos, com o retirar da foto de Salazar da parede. Ao lado, a sala que viu expirar o regime.

   Rigorosamente ao lado, temos o Convento do Carmo, ou melhor, as suas ruínas. Se o Aqueduto resistiu ao terramoto, menos sorte teve o Convento do Carmo. Podemos, entretanto, apreciar o que resta dele. Pombal ainda teve planos de o reconstruir, adiados sucessivamente, até que julgámos pertinente preservar o que restava, tornando o núcleo num museu ao ar livre. Nem só de despojos do sismo vive o Museu Arqueológico do Carmo. No seu interior, e numa área coberta, encontramos o iconográfico e altamente histórico túmulo de Dom Fernando I, uma das principais atracções do museu. Numa sala paralela, há uma exposição bastante interessante sobre os primeiros complexos populacionais em território nacional, da Idade do Bronze, com vestígios arqueológicos recolhidos da zona da Azambuja, no Ribatejo.




   Deslumbrante. A entrada não é gratuita. Os turistas atrapalham um pouco, devo dizer, contudo é compreensível que uma cidade como Lisboa lhes exerça todo o fascínio.


   Começou a pingar à saída. Vi tudo com a calma que o museu exige. Sentimo-nos entre a História. Aquelas ruínas são um testemunho da catástrofe que arrasou uma Lisboa, permitindo, porém, que outra nascesse, mais moderna - efectivamente, a primeira cidade moderna da Europa, preparada para o mundo, para os novos tempos. No meu Instagram, terão mais fotos, que não as poupei.


    Neste próximo sábado - porque terá de ser no sábado - já sei por onde andarei. E sei que vocês estão aí, desse lado, expectantes. Até lá!

Todas as fotos foram captadas com o meu iPhone. Uso sob permissão.

29 de abril de 2018

April 29.


   Provavelmente, já o terei contado: em miúdo, adorava fazer anos. Não ia às aulas. Acabava sempre a almoçar com os pais num restaurante giríssimo, chiquíssimo, com todos os íssimos que possam imaginar. Recordo-me particularmente de um, o almoço dos meus dez anos. A mãe comprou-me um conjunto de roupa da marca Cenoura (pois é, estou a ficar velho), e depois fomos todos almoçar - isto é, a mãe, o pai e eu - à Adega da Tia Matilde, sempre muito bem frequentada. Não raras vezes víamos, por lá, personalidades ligadas ao mundo do futebol. Agora que penso nisso, lembro-me de que eu próprio tenho um familiar que é dirigente desportivo. Outros quinhentos.

   Os anos foram passando e o ânimo foi cedendo. Fazer anos... É mais um dia. Não, não. Não é isso que estarão a pensar. Não me incomoda envelhecer. Pelo contrário. Envelhecer dá-nos experiência, maturidade (na maior parte dos casos). Dá-nos mais capacidade de saber lidar com as adversidades da vida, com os problemas que se nos deparam. E se eu preciso dessa maturidade. Quando leio e ouço a queixarem-se da idade, geralmente aludem mais à saúde, aos problemas que lhe são uma consequência. Saúde, nunca esbanjei. Embora seja bem constituído, uma constipação manda-me abaixo em três tempo. A minha estrutura nunca foi a de um rapaz saudável. Felizmente, até à data, e embora continue a achar que irei morrer jovem - que conversa num dia de aniversário, não é? - as maleitas que me afligem vêm tendo remédio.

   De igual modo, comemorar-se aniversários faz sentido quando temos uma família unida, coesa, e a minha há muito que soçobrou a desavenças, a mortes e a separações. Como em várias famílias, de resto. São rigorosamente poucas as pessoas que me são próximas, com tendência para que sejam menos e menos.

   Continua a fazer sentido cortar o bolo, responder às simpáticas mensagens que me chegam, atender alguns telefonemas. Escrever sobre o dia. Porque sim. Porque nasci, já há alguns aninhos.

27 de abril de 2018

A Noite do Jogo.


    Na quarta, fui de novo ao cinema. É bem provável, digo eu, que dê uma pausa nas sessões cinematográficas, uma vez que já esgotei quase todas as opções disponíveis em cartaz, de modo a que me engano a mim próprio. Este filme, de que vos falarei em seguida, foi aquilo a que vulgarmente chamamos um barrete. Enfiaram-mo, literalmente.

     Não sou muito dado a comédias. As peripécias da vida já me dão para rir (ou para chorar, como queiram). Para me divertir, a comédia tem de ser verdadeiramente interessante, divertida. É muito fácil uma comédia cair no lugar-comum. O argumento deste filme até consegue ser minimamente original: casais que se juntam para jogar um jogo. Vai-se a ver e o jogo não é tão jogo assim, sendo que depois o é e torna a não o ser. Confusos? Assim é o filme. Depois, é uma sucessão de disparates sem par. Nem as partes cómicas têm grande piada. Sacam-nos umas gargalhadas, mas nada de muito prazeroso. Quase que rimos para dar o filme por bem escolhido. Ou rimo-nos dos disparates. Eu adivinhei, por três ou quatro vezes, o que viria a acontecer na cena seguinte. Imprevisibilidade, zero. Se tivesse, em notas escolares, de lhe atribuir uma classificação, dar-lhe-ia um suficiente menos.


    Neste exacto momento, escrevo-vos do Marquês (de Pombal). Vim lanchar, deixar aqui o meu testemunho do filme a que assisti e ultimar os detalhes do dia de amanhã. Um bom fim-de-semana!


25 de abril de 2018

Dois em um (25 de Abril / Um Lugar Silencioso).


   Há muito que não faço um dois em um, e há muito que não fujo das críticas cinematográficas e dos dias culturais. Hoje, continuarei com uma crítica cinematográfica, lá mais à frente, mas vinha-vos falar um pouco do 25 de Abril, cujo 44º aniversário assinalamos.

   Ensinam-nos, na escola e em casa, frequentemente em casa, que o 25 de Abril foi um dia de assaz relevância para Portugal, e nós acreditamos. Já escrevi tanto sobre o 25 de Abril aqui no blogue. Centrando-me mais na história, outras vezes no futuro. Nem me dei ao trabalho de ler o que escrevi em anos anteriores. Está aí. Consulte quem quiser.

   Afortunadamente, no processo de crescimento, começamos a fazer o nosso próprio escrutínio dos factos. Aprendemos a pensar, a analisar a realidade cruamente, influenciados, como não poderia deixar de ser, por crenças e ideologias. Cada um terá as suas. Pergunta-se: o 25 de Abril de 1974 terá sido um dia decisivo para Portugal? Foi-o. Tudo mudou. Não a partir de dia 26, mas sobretudo após os dois anos seguintes de profunda instabilidade e bancarrota - quase guerra civil. Terá sido um dia bom? Aí é que a porca torce o rabo, como diz o povo. Passámos de um quase unânime sim para um talvez. O tempo tem destas. Ajuda-nos a ter uma visão mais imparcial. Eu não vivi o regime anterior. Estou a par, entretanto, do que ocorria. Sei da repressão, sei da censura, sei da violação dos direitos de personalidade. Sei da guerra. Sei de tudo.

   O 25 de Abril teve um lado infinitamente bom. Olhamos para o Portugal de Salazar e Caetano e sabemos o que havia. Escusar-me-ei a enumerar. Avançámos na maioria dos indicadores. Mas parámos. Estagnámos. Torna-se pertinente fazer outra pergunta: se houvéssemos feito uma transição mais gradual, sem a descolonização forçada - que se impunha naquele contexto, é certo - não estaríamos ainda melhor? Falemos nos erros do 25 de Abril, das centenas de pessoas que se viram despojadas dos seus pertences, das independências a todo o custo, que quase nos arrebataram até os Açores e a Madeira. Uma obstinação doentia por nos livrarmos de territórios como se fossem fardos, como se pudéssemos simplesmente eliminar quinhentos anos de um passado que teve capítulos e façanhas de que nos orgulhamos e outros de que nos envergonhamos. Não foi apenas a guerra colonial a deixar-nos traumas; o 25 de Abril também os deixou.

   Salazar falhou nas previsões - logo ele, exímio estratega! - Caetano pouco pôde fazer. Já sabemos. Ninguém de bom senso quereria um Portugal sem futuro, no ostracismo, sem a liberdade de agir para mudar. Todavia, não podemos esquecer a nossa vocação universal. Não soubemos cuidar da nossa história. Não soubemos cultivar o apreço e o respeito com os países que se formaram dos territórios que ocupámos. Não tivemos - e aqui quanto a São Tomé e Príncipe e a Cabo Verde - a sensibilidade de encarar aqueles arquipélagos como o fazíamos com as nossas ilhas adjacentes, integrando-os no novo regime com um estatuto igual ao que têm actualmente as regiões autónomas. Não! Quisemos quebrar, romper, desembaraçar-nos das ilhas, dos portugueses que nelas habitavam, entregando-os à sua sorte. Nas províncias continentais africanas, as independências não foram sujeitas a referendo. O 25 de Abril de 1974 não trouxe, àqueles povos, o fim da guerra e da pobreza; trouxe-lhes mais guerra, mais pobreza, instabilidade, caos social e político, destruição total de infraestruturas. Ainda não recuperaram, inclusive do abandono a que foram sujeitos - sem paternalismos; com realismo. O genocídio timorense, indo aos confins do mundo (sem ânimo de ser pejorativo!), está fresco. Abril fomentou-o. Desresponsabilizámo-nos dos timorenses.

   Em território continental europeu, tanto que está por fazer. Liberdades cívicas, todas. Liberdade que se consubstancia em mais tempo de descanso em família, em mais respeito pela dignidade do trabalho, da saúde, muito pouca. O país continua a ficar aquém dos seus parceiros europeus. Os portugueses trabalham mais, têm uma produtividade menor, auferem bem menos. O serviço nacional de saúde tem insuficiências, a educação idem. Estamos a poucos anos do quinquagésimo aniversário do 25 de Abril. O país mudou mais na aparência do que no âmago. O atraso estrutural mantém-se. A desigualdade também. A pobreza espreita, e continuará a espreitar. E nem irei à corrupção e ao descrédito total da classe política, numa permissiva, e até estimulada, cultura de desonestidade e de falta de transparência.


   Falemos no 25 de Abril com clareza, sem receios. Com cedências e reservas. Não foi um dia mágico. Não foi só feito de cravos e de canções de intervenção. Deu-nos e tirou-nos outro tanto. Escreveu páginas e deixou-nos na inquietude das que ficaram por escrever e das que podiam ter sido escritas.
   Despolitize-se o dia. Olhe-se para ele com um sentido crítico apurado, interessado na procura da verdade, daquela que agrada e da que pode doer. Tão-só.


    Para terminar, quero falar-vos um pouco do filme que vi. Um Lugar Silencioso, com as antestreias marcadas para o dia 24 e para o dia 1. Filme de terror. Adoro terror. Assusta, sim, mais pelos silêncios, abruptamente interrompidos por umas estranhas criaturas vindas sabe-se lá de onde. O argumento é curioso. Eu coloco expectativas muito baixas nos filmes de terror, e raramente as suplantam. Ou sou muito exigente, ou muito difícil de convencer. O filme surpreendeu-me - uma vez mais, não havia lido qualquer sinopse - pelo argumento. Inusitado. Apocalíptico. Não me chegou a amedrontar, mas o suspense gerado consegue deixar-nos apavorados, como se também nós não pudéssemos fazer o menor ruído. Sentimo-nos, pelo menos eu senti-me assim, na iminência de ser detectados por algumas daquelas criaturas horrendas de acuidade auditiva extraordinária. Cercados. Sem hipóteses de escapar. É extremamente claustrofóbico. Ali não há qualquer alternativa. Melhor, há uma: lutar. E é precisamente assim que termina.

22 de abril de 2018

Cultural Sunday... on Saturday [take 15].


   Chuva, muita, pela manhã, a ponto de, a determinado momento, me ter arrependido da façanha. Depressa deu lugar a um dia cultural que, para mim, não teve tanto interesse quanto outros, mas que, ainda assim, me deu a conhecer universos que fogem à minha curiosidade e ao meu interesse habituais. Museu do Dinheiro, de manhã, e Museu da Música, de tarde.

    O Museu do Dinheiro fica situado na baixa da cidade, em pleno coração de Lisboa. Não esperava tanta obsessão securitária à entrada, o que não seria totalmente inesperado, é facto, mas desanima sobremodo. Tive de deixar os pertences todos num cesto, o guarda-chuva, tirar o conteúdo dos bolsos... Dá vontade de virar costas e mandá-los bugiar.

    O edifício está muitíssimo bem preservado, no interior e no exterior. Por lá encontrarão, como é evidente, uma coleccção numismática relevante, bem como terão um percurso histórico, lá está, pelos primórdios da moeda de troca peninsular até ao advento da moeda única europeia. Há uma parte interactiva com interesse para quem gosta. Gostei da sala dedicada às notas de todo o mundo, bem como gostei da tal excursão histórica que atravessa a ocupação romana do território português até à actualidade. O ouro brasileiro, pelo século XVIII, proporcionou-nos uma folga relevante nas crises financeiras sistemáticas. Emitimos moedas de ouro. O ouro que extraímos do Brasil chegou a representar metade das reservas disponíveis no mundo. Como li em Boxer, há muitos anos, Dom João V era o monarca mais rico do seu tempo. Deixo-vos algumas fotos.




   Após abandonar a baixa, dirigi-me à estação de metropolitano do Alto dos Moinhos. Sim, leram bem. O Museu da Música situa-se no interior da estação. Basta subir-se às cancelas que logo o verão. É um espaço um tanto ou quanto limitado, no que respeita à dimensão, mas com um recheio rico. A entrada não é gratuita. Encontrarão instrumentos musicais com história, de todo o tipo, predominando os de corda.
   Creio, na minha modestíssima opinião, que um museu da música merecia um espaço melhor do que uma estação de metropolitano. A sua dignidade também exige um maior cuidado. O museu não está bem estimado. Fiquem com uma ideia.







Pela tarde, o sol despontaria, já perto do seu final. Estava cansado. Havia dormido mal. Não me aventurei numa terceira visita. Sabem que terão, no meu Instagram, todos os registos do dia de ontem.
    Espero, sinceramente, que este período de chuvas acabe o quanto antes. É extremamente incomodativo passear-se na iminência de uma tempestade se abater sobre a nossa cabeça, muito embora tenha apanhado fins de semana solarengos e agradáveis desde Janeiro. Nesse sentido, e aguardando por um sábado soalheiro, já delineei o plano da próxima visita. Veremos se o tempo colabora. Até lá.

Todas as fotos foram captadas com o meu iPhone. Uso sob permissão.

19 de abril de 2018

Soldado Milhões.


   Para compensar o mau filme de ontem, cinema português, e do bom cinema que por cá se faz. Baseado, porque mais do que inspirado, na história verídica do soldado raso Aníbal Milhais, que combateu na Flandres ao lado dos Aliados, com o restante Corpo Expedicionário Português, Soldado Milhões faz, em jeito de retrospectiva, uma viagem pelos conturbados tempos em que Milhais serviu o país nas mais duras condições, com os demais soldados, opondo-se a que o considerassem um herói por reconhecer que todos o foram, todos os que morreram por Portugal na I Guerra Mundial, sobretudo na Batalha de La Lys, a mais sangrenta, e que Galvão Teles procurou recriar com todo o esmero.

  As interpretações são bastante razoáveis. O cenário de guerra foi bem conseguido, e imagino que não tenha sido fácil. Conhecemos as carências e as insuficiências do cinema português. O realizador soube, por forma a contrabalançar os momentos tensos com a guerra, trazer a doçura de Milhais com a filha, mostrando-nos como é possível a um homem que tudo vivenciou, e que passou pelo stress pós-traumático mais avassalador, ser terno e doce, presente e preocupado. A guerra não dilacerou o carácter de Milhais; pelo contrário, realçou a sua heroicidade e rectidão.
  Milhais destacou-se no conflito pela parte portuguesa, tendo enfrentado os alemães sozinho, a determinado momento, permitindo que os colegas escapassem. Recebeu a mais alta condecoração portuguesa e quase todas as honras em vida. O nome da sua terra, Valongo, passou, em sua homenagem, a Valongo de Milhais. Nascido Milhais, morreu Milhões, em 1970, com 74 anos. O filme que agora estreia honra a sua memória.

18 de abril de 2018

A Maldição da Casa de Winchester.


   Adoro terror. O problema dos filmes de terror actuais são os efeitos especiais. Têm-nos em demasia, e isso faz com que se perca qualquer medo que pudesse advir. Este filme, houvesse sido realizado há uns trinta anos, teria tudo para ser interessante; agora, não obstante Helen Mirren ter-se saído bastante bem, apenas tem o dom de nos pregar uns sustos, sobretudo quando entidades misteriosas surgem através de espelhos ou em vãos de escadas. A narrativa seria, a priori, boa: uma casa, cujas divisões são construídas incessantemente; uma maldição; uma mulher dada como louca, porque é do interesse de executivos ligados à sua empresa darem-na como tal; um médico que vai, em trabalho, aferir do suposto delírio mental da senhor Winchester e entidades do além.
   Reparei na preocupação com o suspense, nos planos a meia luz, nas fórmulas exploradíssimas de possessão, mas o filme não funciona. A determinado momento, perguntamo-nos: o que é que uma actriz conceituada como Helen Mirren faz ali? Provavelmente, o roteiro ter-lhe-á interessado, porque a histórica é verídica, passada nos inícios do século passado. Facilmente cairá no esquecimento geral.

    Já não há terror como antigamente.

16 de abril de 2018

Cultural Sunday [take 14].


   Visita molhada, visita abençoada. Não, que nem choveu. Chuviscou. Lisboa consegue ser encantadora nos dias cinzentos, como o de ontem. Fundação Ricardo Espírito Santo - Palácio Azurara pela manhã, com a tarde dedicada ao Museu Nacional de História Natural e da Ciência (e Jardim Botânico de Lisboa) e ao Reservatório da Patriarcal

   O Palácio Azurara situa-se em Santa Maria Maior, nas Portas do Sol. É um edifício do século XVII, que Ricardo Espírito Santo comprou para aí depositar a sua colecção particular. A entrada não é gratuita. Apreciadores de História, sobretudo daquele período, não o levarão, ao preço, em consideração. Gostei particularmente dos óleos de personagens da nossa história, como os de Dom João V, Isabel Farnésio ou Catarina de Bragança. De igual modo, adorei os exemplares da mais bela faiança que temos, assim como da prataria. O mobiliário, que decora o interior, é também ele riquíssimo. Um dos tesouros, por assim dizer, mais curiosos diz respeito ao estudo de um quadro maior, oferecido a Dom João VI, que se terá perdido no Brasil na sequência da saída da corte. Deixo-vos algumas fotos.




   Quando saí, chuviscava. Entretanto, não podia perder a oportunidade de ir ao miradouro das Portas do Sol e ao miradouro de Santa Luzia, a uns metros abaixo. A chuva afugenta alguns turistas. Alguns. Outros, por sua vez, passeiam-se literalmente sob ela, sem guarda-chuva.



   O tempo melhorou no decorrer do dia. Dirigi-me, de seguida, ao Príncipe Real. O Museu Nacional de História Natural e da Ciência encontra-se na Rua da Escola Politécnica. O edifício, antigo, albergou a faculdade de ciências até 1985. Antes disso, funcionou até como Real Colégio dos Nobres, até à sua extinção pelos liberais, no século XIX.
   O museu está dividido em várias salas, por dois pisos, cada uma delas com uma exposição. Não as contei, se bem que fiquei com a ideia de que são realmente muitas, a ponto de - julgo que terão a mesma sensação - se sentirem perdidos entre os corredores. Gostei muito da exposição sobre o surgimento do planeta e da vida, desde os seres unicelulares aos hominídeos, no contexto do sistema solar e do universo. Gostei de praticamente todas, em suma. Dos fósseis, dos minerais. Áreas completamente distintas da minha, ou das minhas. Eis algumas fotos.

               


   O Jardim Botânico de Lisboa, nas traseiras do museu, reabriu os seus portões ao público. Não iria, à partida, revisitá-lo, no entanto, uma vez que ainda tinha tempo, decidi fazê-lo. É lindíssimo, e encerra espécies únicas. É conhecida a minha predilecção por jardins. Recentemente, estive no Jardim Tropical de Belém, como sabem.


   
   O dia não terminaria sem uma passagem pelo Reservatório da Patriarcal. O reservatório, inutilizado nos anos 40 do século passado, foi projectado para resolver os problemas de abastecimento de água nas zonas mais baixas da cidade. Contempla passagens subterrâneas, algumas das quais com percursos que podem ser efectuados mediante inscrição prévia. O reservatório fica a meio do jardim do Príncipe Real, no subsolo.


   Um dia em cheio, com três visitas. Tenho imensos registos fotográficos, que irei partilhando convosco, sobretudo através do Instagram (isto para quem me segue - sabem que, aqui, apenas vos abro o apetite). Como é expectável, já tenho ideias para o próximo domingo. Ou sábado. Até lá!

Todas as fotos foram captadas com o meu iPhone. Uso sob permissão.






12 de abril de 2018

Madame.


   Houve alguém que me disse que o filme valia a pena, e lá fui eu. É uma comédia, de narrativa superficial. Pretende-se que gargalhemos sem neuroses. Como é usual, há sempre um tema subjacente, no caso o da estratificação social. Determinada senhora da alta sociedade tem uma ideia aparentemente estapafúrdia, com consequências que a deixariam coberta de cólera e de inveja até ao limite. Estaremos destinados, por assim dizer, a servir ou a ser servidos? Os mais liberais dirão que sim, que as diferenças que encontramos na nossa sociedade são até saudáveis e devem ser estimuladas - a meritocracia levada ao limite, quando nem sempre há recompensa pelo esforço, como bem sabemos.

   Não me afasto mais do essencial. Gostei do final em aberto, sem certezas. Ficamos na dúvida em se Maria consegue ser feliz ao lado daquele homem ou se, pelo contrário, o preconceito dele pesou mais na hora de se afastar. O realizador envia-nos sinais dúbios. Por um lado, parece-nos que Maria, após abandonar a casa, recomeça uma nova vida; pelo outro, David, seguindo-se ao breve diálogo com Toby, poderá ter ido ao encontro da ex-empregada.

    As boas interpretações ajudaram ao resultado final.

11 de abril de 2018

Manifesto.


   Terça-feira de cinema, as usual. Não tenho muito a dizer deste Manifesto de Julien Rosefeldt, com a incrível Cate Blanchett. Chamar-lhe filme já é, per se, complicado; documentário anti-arte, ou anti-concepção tradicional de arte, assenta-lhe melhor. Compreendo a motivação: manifestos sociológicos, contributivos, críticos, artísticos, tendo Blanchett, aqui, vestido a pele, e os sotaques, de um sem-números de personagens, do sem-abrigo à sofisticada executiva. É um aborrecimento latente. Pela primeira vez desde que me conheço, vi alguém, no caso um casal (parece até que rima), a abandonar a sala. Alguns dirão que não eram dotados de sensibilidade suficiente para entender o que ali estava em causa; eu diria que o propósito de um filme não é o de entediar os espectadores a ponto de estes se decidirem por sair, jogando ao alto o dinheiro que gastaram e as horas que perderam. É um mau sinal, é um mau filme, que nem Blanchett e o interesse que os manifestos retratados poderiam suscitar salvaram.

9 de abril de 2018

Cultural Sunday [take 13].


   Hesitei entre escolher o sábado ou o domingo para sair. Em boa verdade, já explorei quase tudo o que há para ver aos domingos no que respeita a museus e a exposições. Ainda assim, o Museu da Farmácia, que há muito queria conhecer, e o Reservatório da Mãe d'Água das Amoreiras foram as escolhas.



   O Museu da Farmácia fica situado nas traseiras do miradouro de Santa Catarina. Já há uns anos que não ia para aqueles lados. Não é dos melhores miradouros, quanto a mim, que Lisboa tem. E também tem certa afluência bastante duvidosa.
   Gosto de ser surpreendido pela positiva, e o Museu da Farmácia superou todas as expectativas. Ia eu à espera de ver potes e mais potes sobre farmácia, medicamentos e tudo mais e fui convidado a conhecer a história da farmacologia desde os seus primórdios, com os egípcios, passando pelos gregos, árabes, civilizações americanas, japoneses, chineses, enfim. O museu tem um núcleo arqueológico impressionante. Quando chegamos ao piso 1, não julgamos que podemos encontrar o que eu encontrei. Visitem-no. Constará entre os meus favoritos de todos os que venho conhecendo desde Janeiro. Deixo-vos algumas fotos.



   Na segunda foto, a cabeça do demónio Pazuzu, uma entidade suméria, causador de tempestades e outros infortúnios. Pazuzu tornou-se popular com a saga O Exorcista. Creio que constará por lá porque (e a informação não está disponibilizada no museu) as mulheres sumérias utilizavam amuletos com o Pazuzu acreditando que o demónio, sendo inimigo de Lamashtu, que afligia as grávidas, as protegia durante a gestação. Não é algo que esperemos encontrar num museu de farmácia, não é? Pois bem, encontrarão até sarcófagos, vasos greco-romanos, almofarizes árabes, tudo enquadrado na perspectiva da evolução dos tratamentos medicinais. Um luxo de museu, que não é gratuito, e que temos na nossa bela Lisboa. Para minha sorte, estive sozinho no piso superior, podendo ver tudo com calma e em silêncio - o preço da entrada demove as pessoas. Quem me segue noutras redes sociais terá acesso às fotos que, periodicamente, irei publicando.

    Saindo do museu, aproveitei e fui um pouco até ao miradouro, que, repito, não é dos melhores. Pouco me demorei.

    Na primeira foto, as traseiras do Museu da Farmácia.
   Decidi passar à segunda visita do dia, o Reservatório da Mãe d'Água das Amoreiras. Se bem estão recordados, estive nas Amoreiras pela semana passada. A passagem não foi meramente incidental; aproveitei que vinha da Estrela, sim, mas quis ir ao reservatório porque julguei que o encontraria aberto. Erro meu. Era Sábado de Aleluia, e o país é extremamente católico...

    O Reservatório é um encanto. Ora vejam.


    Maravilhoso. Tem uma exposição de fotos, afixadas às paredes, que vale a pena ver. No terraço, a magnífica vista sobre uma parcela da cidade.



   Vi tudo aquilo a que me propus sem chuva, que decidiu aparecer já no meu regresso, após o merecido almoço no Chiado. Para a semana que vem, já decidi por onde andarei.
   Por curiosidade, tenho um leque de pessoas que me acompanha nestas visitas. Há dias, numa rede social, um espanhol enviou-me uma mensagem, inbox, informando-me de que me segue todos os domingos, de que está sempre expectante com as minhas visitas (isto porque disponibilizo toda a informação in loco). É a sociedade big brother, que estimulo, evidentemente. Sujeito-me a isso, e até gosto. É um roteiro que determino e que deixo em aberto a quem queira estar comigo. Já são algumas pessoas.

Todas as fotos foram captadas com o meu iPhone. Uso sob permissão.

6 de abril de 2018

Cinema Paradiso (1988).


   Começou, em várias salas do país, a décima primeira edição do festival de cinema italiano. No El Corte Inglés, com Cinema Paradiso, uma das obras-primas do cinema italiano mais contemporâneo, considerando, e daí a sua reexibição, que o filme perfaz trinta anos desde que estreou.

   Uma vez mais, ainda não havia visto o filme. Conhecia, vagamente, a fenomenal banda sonora de Ennio Morricone, sobretudo o tema Love Theme for Nata, que, se ainda não viram, acompanha o protagonista nos instantes finais, quando assiste à bobina que herdou, por assim dizer, com todas as cenas de beijos que Alfredo se via obrigado a cortar quando projectava os filmes no Cinema Paradiso, única distracção da pequena vila siciliana de Giancaldo; verdadeiro - e único - polo cultural da cidade, onde ricos e menos ricos se juntavam para rir, chorar, gritar com os sucessos cinematográficos da época, a maioria deles oriundos da longínqua América, de uma realidade tão distante das suas próprias. Como ouvi na pequena introdução ao filme, depois do pequeno cocktail no piso superior do cinema, « o cinema dá-nos o que a vida nos tira ». Eu arriscar-me-ia a ir mais longe: dá-nos o que a vida não nos permite.

   Os dias, em Giancaldo, são passados em torno do Paradiso. É por lá que cresce o protagonista, entre brincadeiras e algumas responsabilidades, as desilusões de um primeiro amor nunca esquecido, tomando o gosto pelo cinema. O filme é tão antigo - 30 anos é tempo - que seria despropositado, para usar um eufemismo, deter-me demasiado na estória, que a maioria estará cansada de conhecer. O que mais ressalta, do filme, é a magia. Cinema Paradiso fez-me sonhar durante as suas duas horas, que passaram tão depressa. Sonhar não sei bem com o quê. Teve uma capacidade impressionante de me comover, porque a narrativa é nostálgica, triste, polvilhada com momentos de humor que não nos afastam do essencial.

   Por mais que Totó fugisse de Giancaldo, acabaria por se aperceber de que a vida pouco sentido faz - e ele vagueava, entre casos fortuitos com várias mulheres - sem a força de uma amizade sincera, justamente a que teve, na infância, com Alfredo, o velho projeccionista de cinema, quase um pai de substituição, que o seu morrera na Grande Guerra - o filme é ambientado nos anos 50, no sul da Itália rural, pós-Mussolini. Totó viveu sempre entre as memórias da quase fatalidade que se abatia sobre os moradores da vila, as suas raízes, e a vida que construiu para si, em Roma. Um dualismo visível no final. A parte que há de si em Giancaldo morre com o Paradiso. Resta apenas a vaga impressão dos seus conterrâneos.

   Há incríveis paralelismos com a sociedade portuguesa. Ao observarmos aquelas personagens e o  seu habitat, o modo de agir (os espancamentos na escola, pelos professores...), as indumentárias, conseguimos ver as semelhanças com o Portugal de Oliveira Salazar, carente de modernidade, órfão de liberdade, refém do moralismo religioso. É, a páginas tantas, uma realidade tão próxima da que vivemos há décadas, e da qual os mais antigos ainda terão memórias. Os anos 70 e 80, com a evolução tecnológica, ditaram a morte do Cinema Paradiso, que acabaria por ser demolido.

   Giuseppe Tornatore conta-nos, aqui, uma estória claramente autobiográfica. Sem o prever, criou um clássico do cinema, intemporal. A sala de cinema - as duas salas, aliás - estavam completamente abarrotadas, com avós, pais e filhos. É um filme intergeracional. Um fracasso aquando da sua exibição primeira nos cinemas italianos, foi com Cannes que atingiu a glória. Actualmente, e cada vez mais, é um filme de culto. Figura entre os meus preferidos de sempre.

4 de abril de 2018

7 Days in Entebbe.


   O facto de ser realizado por um brasileiro deixou-me bem impressionado. Não conhecia José Padilha e nem o episódio histórico do sequestro ao avião da Air France, em 1976, como forma de retaliação ao apoio implícito da França às manobras militares de Israel. O vôo transportava judeus, maioritariamente, e os sequestradores, vulgo terroristas, eram alemães, o que levantava, desde logo, problemas éticos, ainda que não houvesse, pelo contrário, qualquer anti-semitismo em jogo. O assalto ao avião visava apenas o governo israelita, considerado, ele sim, como nazi, e exigia-se, em troca dos reféns, a libertação de presos políticos, ligados à Frente de Libertação da Palestina, que Israel mantinha em seu poder.

   Temos de entender o contexto histórico. Desde a constituição do Estado de Israel, em 1947, que os judeus se viram em mãos com a hostilidade dos vizinhos árabes, que em muito recrudesceu após a rotunda vitória dos israelitas na Guerra dos Seis Dias. Ainda não se haviam passado dez anos. Israel impôs o seu poderio, conquistou territórios que não lhe pertenciam e aumentou ainda mais o milenar ódio dos árabes.

   Passando ao filme. Seria difícil falhar. É um filme de acção, com poucos momentos mortos. Gostei, globalmente, do desempenho dos actores principais. A participação de Idi Amin, o célebre tirano do Uganda, deu um toque de excentricidade e de maldade, eu diria, a ponto de os sequestradores alemães temerem pela própria vida dos reféns.

   Entre negociar com os terroristas ou tomar o aeroporto de surpresa, Israel decidiu-se pela segunda. Isaac Rabin, primeiro-ministro à época, foi louvado pela bem sucedida operação militar relâmpago de Israel, que dezanove anos depois lhe custaria a vida. Morreu apenas um militar israelita. Todos os terroristas foram assassinados no decurso da investida e alguns reféns foram apanhados entre o fogo cruzado, perecendo também eles. A operação militar, a tantos e tantos quilómetros de Israel, no Uganda, ajudou a consolidar a nação judaica como potência militar.

    Vale a pena.

2 de abril de 2018

Cultural Sunday... on Saturday [take 12].



   Bem assim como vos havia dito, em virtude de se celebrar a Páscoa neste domingo, escolhi sábado para passear um pouco pela cidade e por alguns dos seus museus. Visitei, a saber, a Casa Fernando Pessoa, na Estrela e pela manhã, e em jeito de revisita, pela tarde, o Museu Colecção Berardo, em Belém, aproveitando a gratuitidade dos sábados neste espaço.

   A Casa Fernando Pessoa está localizada um pouco acima do Jardim da Estrela. É a moradia em que viveu o maior, ex aequo com Camões, poeta do nosso idioma. Está dividida em três pisos. No piso 0, temos algumas telas do poeta, incluindo a sua mais famosa, de Almada Negreiros. Escolhi, entretanto, para a foto, a de Júlio Pomar, que é exactamente a que vos deixo. No piso 1, a recriação, mui fidedigna, do quarto de Pessoa, com a sua mobília: a cómoda em que terá criado, num assomo, Alberto Caeiro e alguns dos seus maiores poemas e a sua última máquina de escrever. No piso 2, há apenas um auditório, chegando, por fim, ao piso 3, por onde vos será aconselhado começar, com dados sobre a vida do poeta, alguns jogos interactivos para que testem os vossos conhecimento e ainda, em vitrine, os seus pertences pessoais: óculos, bilhete de identidade, cigarreira, etc. A entrada não é gratuita, contudo, o preço é simbólico. Esperava mais, confesso, e saí desapontado.




   Vista a Casa Fernando Pessoa, desci até ao Jardim da Estrela e passei pela Basílica. Entrei. Alguns turistas e umas duas a três pessoas a orar, pouco até, considerando que estávamos num Sábado de Aleluia. Detive-me por ali. Fazia-se silêncio. A basílica é linda por dentro. Quis subir ao terraço e à abóboda, mas pedem um valor absurdo, que só engana tolos. Aproveitei e, uma vez mais, estive diante do túmulo da minha monarca favorita, a quem a Basílica da Estrela deve a sua edificação: Dona Maria, a primeira de seu nome a reinar em Portugal e nos vastos domínios ultramarinos. Passei, ainda, pelas Amoreiras, e estive perto da Mãe d'Água.





   Fui almoçar ao Chiado, aos Armazéns, não me demorando, que Belém esperava por mim. Um sábado quente, tanto que me vi obrigado a despir o casaco de pêlo, carregando-o entre os braços. O Museu Berardo, que o Centro Cultural de Belém acolhe desde 2007, não foi uma novidade para mim. Perdi a conta às vezes em que já lá estive. A última, precisamente no ano passado. Não pude perder a visita guiada, totalmente gratuita, que ofereceram, e para a qual me havia inscrito previamente. Como referi noutra publicação, arte moderna não é o que mais me seduz. A primeira foto é da exposição permanente; a segunda, é da exposição temporária, subordinada ao tema das photo-metragens, por João Miguel de Barros. Se passarem por lá, aproveitem ainda as outras duas exposições temporárias: Linha, Forma e Cor e, a mais interessante e criativa, No Place Like Home, como verão.



   Para não perder o hábito, e porque estava um dia excelente, passeei um pouco por ali mesmo, pelos jardins circundantes à Torre de Belém e pelo passadiço de Alcântara, que termina na ponte 25 de Abril.


   Um dia em cheio. Lisboa tem turistas a mais. A juntar-se ao fenómeno preocupante de gentrificação, temos transportes públicos apinhados de turistas, que enchem qualquer zona da cidade. Começamos - e há algum tempo que alerto para isto - a sentir-nos como se fôssemos estrangeiros no nosso próprio país, na nossa própria cidade. Já vejo os turistas como uma praga urbana, tipo ratos ou pombos. Chega. A cidade transformou-se num enorme parque temático, cheio de tuk-tuks. Lisboa perde o espírito de pequena metrópole tradicional do sul europeu. É triste, mas é assim.

    Para o fim-de-semana que vem, provavelmente sairei no sábado também. Isto porque os sítios que quero visitar estão, pelo menos um deles está, encerrados ao domingo. Não me preocupa, que acerto todos os detalhes sempre com antecedência, muita antecedência.

Todas as fotos foram captadas com o meu iPhone. Uso sob permissão.