Fidel morreu. O timoneiro, o revolucionário. A personagem apaixonante, que despertou, pelas décadas, a admiração e o respeito de muitos e o ódio de outros. Fidel, entretanto, consegue reunir algum consenso na hora da morte, e a evocação da sua figura tem-se sobreposto aos pecados do regime cubano. Fidel, contrariamente a Estaline ou a Mao, paira entre nós como o homem destemido, obstinado, que enfrentou a superpotência que mora ali ao lado, que discursava por horas, envergando a farda militar, que nos últimos anos deu lugar aos fatos de treino.
Fidel foi, em síntese, o símbolo do anti-imperialismo, da vontade de rumar em sentido inverso ao que seria esperado. Quanto tomou o poder, em 1959, Cuba era o que se poderia chamar um casino royal dos EUA, onde proliferava todo o tipo de negócios, servindo a administração cubana como mera cortina de fumo. Após a conquista do poder por Castro, acompanhado pelo lendário Che Guevara, Cuba tornar-se-ia o bastião socialista no Golfo do México. O pequeno estado insular esteve no epicentro da famosa crise dos mísseis, de 1962, que por pouco não despoletou o terceiro conflito armado de dimensões mundiais. Fidel já havia consolidado o seu poder, com a vitória face à tentativa estadunidense de reverter a Revolução, no célebre episódio da invasão da Baía dos Porcos, em 1961. Com a derrota frente ao exército estadunidense, em 1898, Espanha viu-se expropriada da sua ilha, e a influência dos EUA manifestar-se-ia por décadas, pelo que Fidel e a ascensão do socialismo representavam uma ameaça a escassos quilómetros da Florida, intolerável em contexto de Guerra Fria.
O apoio político e logístico da União Soviética permitiu contrabalançar o embargo económico imposto sobre a ilha pela administração Eisenhower. O bloqueio e o corte de relações diplomáticas, só restabelecidas em 2014, encaminharam o país para o isolamento, situação que agudizaria com a queda do bloco soviético, em 1991. Cuba ficou conhecida pelo surpreendente nível de bem-estar e de desenvolvimento, ainda que com todos os reveses. Nos domínios da saúde e da educação, Cuba posiciona-se em lugares cimeiros, havendo procura internacional pelos avanços na investigação a determinadas enfermidades do foro neurológico, designadamente.
O longo período em que Fidel esteve na liderança dos destinos da nação cubana não foi imune a erros. A repressão, a tirania e a intolerância foram uma constante pelos anos, e os exilados políticos nos EUA não hesitam em relatar as atrocidades cometidas pelo regime. Fidel foi perseverante nas suas convicções políticas; parafraseando Maquiavel, um líder deve ser temido, mais do que amado. Enquanto político, a minha vénia. Sobreviveu a tudo, inclusive ao ostracismo internacional, à dissolução da URSS, às investidas dos EUA, aos opositores e críticos, à crença no seu suicídio político despojado do suporte soviético. Só a morte o derrotou. Esta é a evidência incontornável. E em quem governou por tanto tempo em ditadura, é curioso assistir ao vazio que a sua partida nos deixa.
O longo período em que Fidel esteve na liderança dos destinos da nação cubana não foi imune a erros. A repressão, a tirania e a intolerância foram uma constante pelos anos, e os exilados políticos nos EUA não hesitam em relatar as atrocidades cometidas pelo regime. Fidel foi perseverante nas suas convicções políticas; parafraseando Maquiavel, um líder deve ser temido, mais do que amado. Enquanto político, a minha vénia. Sobreviveu a tudo, inclusive ao ostracismo internacional, à dissolução da URSS, às investidas dos EUA, aos opositores e críticos, à crença no seu suicídio político despojado do suporte soviético. Só a morte o derrotou. Esta é a evidência incontornável. E em quem governou por tanto tempo em ditadura, é curioso assistir ao vazio que a sua partida nos deixa.