28 de fevereiro de 2011

Da Democracia Aristocrática


Falar de democracia, hoje, é um exercício que merece uma profunda reflexão. A democracia, tal como hoje a conhecemos, pouco herdou da verdadeira concepção da real democracia, o poder verdadeiro e concreto do povo. Dir-me-ão - e com alguma razão - que a democracia representativa é a única solução possível atualmente. Seria inviável um sistema à luz do modelo ateniense de democracia direta. Com toda a certeza.
Mas viveremos em democracia?
Em Portugal assiste-se - à semelhança de outros países - a um predomínio do poder executivo sobre o legislativo. Aliás, tal facto é visível no momento das eleições legislativas, em que é escrutinado o titular ao cargo de Primeiro-Ministro no lugar de se escolherem os representantes da Nação (deputados). Este predomínio tem ancestrais na Primeira República (1910 - 1926) e, mais concretamente, no Estado Novo (1933 - 1974). Os decretos-lei, verdadeiras leis emanadas do Governo, herança salazarista, demonstram este apagamento da Assembleia da República e o esvaziamento progressivo das suas competências. Temos, portanto, um Governo forte, um Executivo omnipresente e quase omnipotente. Estaremos numa aristocracia - o governo de poucos, teoricamente os melhores, sobre muitos, o povo. O Governo tem legitimidade democrática? Claro que sim, pelo menos formalmente. Na prática vivemos numa Democracia Aristocrática e o conceito é formulado por mim próprio. Evidentemente que os requisitos desta aristocracia não serão os mesmos que foram formulados por Aristóteles no século IV a. C. Estamos perante uma aristocracia com contornos democráticos, nem poderia sê-lo de outra forma num país ocidental e europeu.
Várias teorias foram defendidas ao longo do tempo em relação ao melhor sistema de governo. Megabizo vaticinou, na obra de Heródoto, a oligarquia como o melhor sistema político. A oligarquia não será - na minha concepção - uma boa opção. A oligarquia surge como um modelo deturpado da aristocracia. Numa sociedade aristocrática - e é bom referir que aristocracia não tem hoje em dia o mesmo significado que tinha na Antiguidade Clássica - o Governo é entregue aos melhores, a quem sabe, de facto, governar. Parece injusto que um país fosse governado por uma elite, mesmo sendo uma boa elite que servisse os interesses da Nação. Então, será a democracia o caminho? A democracia é, sem dúvida, um bom regime, mas entregar os destinos de um país nas mãos de um povo bárbaro e inculto não significará uma atitude irracional? Megabizo apelidava o povo de «multidão inútil». Os resultados pós 25 de Abril, infelizmente, não demonstram o contrário...
Se a aristocracia não é uma solução justa e se a democracia, em determinadas condições, é manifestamente irracional, vivemos hoje num regime misto, em que o povo escolhe os melhores, mais uma vez teoricamente. O problema reside no facto do povo não saber escolher os melhores. Discuto até que ponto a democracia é saudável mesmo para quem a exerce.
A aristocracia pura é um mito. O poder corrompe e a oligarquia surgiria tarde ou cedo. Esta democracia falseada tem conduzido o país à ruína - e não só Portugal. Defendo a existência de um puro regime misto, com ou sem a existência de um voto capacitário. O sufrágio universal não me parece o caminho para um país em que a grande maioria da população não tem formação escolar / académica suficiente para escolher os seus governantes.
Por enquanto, que se viva na velha democracia, universal, de todos e para todos. Talvez ainda seja a melhor de todas, como dizia Winston Churchill.

26 de fevereiro de 2011

Gisberta


Há uns dias perfizeram cinco anos desde a morte violenta e brutal do ser humano Gisberta. E destaco a condição de ser humano por um motivo muito específico: não há transexuais, homossexuais, heterossexuais, bissexuais, etc; há seres humanos. As pessoas não são embalagens passíveis de serem rotuladas.
Gisberta morreu barbaramente assassinada por jovens delinquentes a quem foi perdoado o homicídio. Sofreram umas advertências por parte da Justiça e pouco mais. A vida de Gisberta nada significou para as autoridades judiciais portuguesas. Para além disso, depois de assassinada, vários órgãos da Comunicação Social referiram-se a Gisberta como sendo um homem, apesar de todos saberem que Gisberta era uma mulher e gostava de ser tratada como mulher. Nem nesse detalhe aparentemente insignificante Gisberta foi respeitada. Para Portugal e para a generalidade dos portugueses tratava-se de um brasileiro, paneleiro, seropositivo, drogado, prostituto e ignóbil. Mas Gisberta não era isso. Gisberta foi uma mulher linda, amiga do seu amigo, solidária, que infelizmente passou por duras provas durante a sua vida. A Justiça, aquando da sua morte, tratou-a como o povo a tinha em consideração: como lixo. Para alguma comunidade LGBT - ou que raio é isso - Gisberta foi alguém que não merecia consideração porque desprestigiava os gays. Gisberta não era gay, era uma transexual - e já referi que abomino rótulos.
A vida de Gisberta nada contou e da sua triste história nenhum ensinamento se retirou, afinal, pouco mais de um ano depois, outra "transexual" foi encontrado assassinado em Portugal (Luna).
Hoje poucos se lembram de Gisberta. Já não era a estrela de outrora, já não era jovem, já não era bonita. Vivia envelhecida pela precocidade da sua dependência das drogas, afetada pela SIDA e pela discriminação de que era alvo. Passava fome e frio. Vivia num prédio abandonado. Foi espancada e deitada para um poço - viva. Morreu afogada, segundo a autópsia. Os assassinos foram os autores da proeza.
Quem quis saber dela? Afinal, quem quer saber de um "paneleiro"?
Todos nós poderíamos ser uma Gisberta.
A Gisberta não era mais, nem era menos.
E tu, serás a próxima Gisberta?





Descansa em paz, amiga.

24 de fevereiro de 2011

Gente Prática


Uma das inúmeras coisas boas que a faculdade proporciona é precisamente o convívio saudável entre colegas. Nas horas mortas, durante os intervalos ou até mesmo depois das aulas, conversamos sobre todo o tipo de assuntos, alguns relacionados com as aulas, outros relacionados com as nossas características individuais e a nossa vida pessoal.
Hoje, da parte da tarde, ficámos a conversar depois do almoço. Aquelas conversas saudáveis. À mesa estava eu e várias colegas raparigas. Um dos temas que surgiu dizia respeito à hora que acordamos, que saímos de casa, etc. Descobri que, de todas, sou o que acorda mais cedo e que, consequentemente, demora mais tempo a sair de casa. Elas, em média, demoram cerca de trinta minutos desde que saem da cama até saírem de casa, sendo que duas delas arranjam-se em vinte minutos. Eu demoro uma hora e meia todas as manhãs. Isto que eu disse caiu como uma bomba. Algumas ficaram perplexas, outras incrédulas. Portanto, eu acordo às sete da manhã para sair de casa às oito e meia. E não acho muito... Conversa puxa conversa e às tantas fiz outra descoberta: sou mais vaidoso do que todas elas. Não consigo compreender como é que uma mulher demora apenas trinta minutos para sair de casa! Fiz, então, um balanço onde perco o tempo. Vejamos:
Acordo às sete. Vou ao banheiro, faço as minhas necessidades fisiológicas, escovo os dentes e tomo banho (duche, que eu considerava rápido...). Depois do banho, faço a barba (tenho pouca, mas detesto ver um pelinho que seja na cara) e coloco o meu creme de dia e o hidratante para o rosto e para o corpo (por vezes, coloco à noite; dizem que é melhor). Saio do banheiro e vou ao quarto. Escolho a roupa e vou até ao quarto de vestir. Depois de estar arranjado, seco o cabelo e, conforme a disposição, aliso-o ou encaracolo-o (o meu cabelo é bom e denso, logo, dá para trabalhar). Demoro vinte minutos a alisar o cabelo / enrolar. Coloco o after-shave, o perfume e vou tomar o café da manhã (já sabem que detesto a expressão horrenda de pequeno-almoço!). Tomo o meu café da manhã e volto a escovar os dentes. Por último, visto o casaco e saio de casa. É a rotina matinal, com poucas alterações, das quais saliento algumas: às vezes, coloco um pouco de base para o rosto (masculina, que uso há imensos anos) e um pó compacto fantástico, incolor, mas que torna a pele mais aprazível. Mas nem sempre o faço. E é tudo. Aqui vai a minha hora e meia.
Elas, pelo que soube, levantam-se, vestem a primeira roupita que aparece, escovam o cabelo et voilá, estão prontas!... Nem todas, mas Deus me livre e salve!
Bom, a verdade é que não faço algumas tarefas; se as fizesse, tomaria ainda mais tempo. Exemplos: a cama, que é a Ana que faz, limpar o banheiro, recolher as toalhas, arrumar os meus artigos, etc. É ela que faz isso tudo.
Sou assim desde criança. Não me consigo ver como um qualquer, vestir uma coisinha banal, lavar a cara e já está! Não! Tenho de sair de forma impenetrável e ao meu gosto. E quando vou de metro, aquilo é um horror. Há todo o tipo de pessoas. Mal vestidos, os rostos sujos, os olhos remelados... Alguns chegam a ter mau cheiro corporal. Credo! O povo português, na sua grande maioria, é um povo sujo, que não se lava e não tem o mínimo cuidado consigo e com a sua imagem. Custa-me a chegar a esta conclusão, mas é verdade.
Tudo tem as suas contrapartidas: enquanto elas dormem mais uma hora, eu durmo menos.
É o preço da vaidade.

21 de fevereiro de 2011

Ventos de Mudança


Tal como os Scorpions preconizaram há mais de vinte anos em relação aos regimes socialistas do leste europeu, também agora o Médio Oriente dá sinais de mudança.
Depois da queda dos regimes socialistas e da própria União Soviética, foi chegada a altura do grito de revolta das populações dos países do norte de África depois de décadas de profunda e despótica tirania. A Tunísia ousou revoltar-se, sendo seguida de perto pelo Egito, Iémen e até mesmo a Líbia. Que conclusões tirar? Que o mundo está em constante mudança. Os regimes autoritários cada vez são menos tolerados pelas populações que, por sua vez, paulatinamente tornam-se mais instruídas e conhecedoras dos seus direitos. Contrariamente à ideia difundida no Ocidente, os países do norte de África e do Médio Oriente, em geral, têm uma população estudantil informada e dinâmica, apesar da grande maioria dos jovens não ter acesso à educação de nível superior. Todavia, os que a têm, possuem um forte espírito crítico em relação ao que os rodeia, aliado às novas tecnologias como a internet, nomeadamente as redes sociais. Aliás, a internet foi um elemento fulcral no êxito da revolta no Egito. Esta camada juvenil distingue-se das camadas juvenis da Europa: eles pegam em armas, lutam, reivindicam os seus direitos e morrem pelas causas em que acreditam. Tão diferente do cenário na Europa!... Fiquemos por Portugal e recuemos até 25 de Abril de 1974. Foi o MFA que fez a Revolução. Não foram os jovens, não foi o povo. O povo nunca se insurgiu de forma visível perante o Poder. Os militares, descontentes com a derrota inevitável da longa Guerra Colonial, revoltaram-se e provocaram o Golpe de Estado que levou à destituição de Marcello Caetano.
Nos países do Médio Oriente a situação é diferente. O povo - em massa - foi para as ruas e fez a revolução. E ganhou. São povos que têm conhecimento dos regimes laicos do Ocidente, onde há uma separação nítida entre as diferentes Igrejas e o Estado. E querem, naturalmente, transpor o mesmo para a sua realidade. Acreditam - e bem - que o Islamismo e a democracia podem caminhar lado a lado sem qualquer problema.
Francis Fukuyama - que tive o prazer de ler com dezassete anos - na sua obra O Fim da História e o Último Homem defendeu a tese de que a democracia será o destino final da Humanidade. Fukuyama (para quem não sabe, é um importante filósofo norte-americano de origem nipónica) defende que os diferentes povos do mundo têm direito à democracia. Efetivamente é assim.
Que a transição no Médio Oriente seja um exemplo para outros povos que vivem sufocados sob regimes tirânicos, autoritários e despóticos.

20 de fevereiro de 2011

Tarde de Compras


Ontem resolvi tirar o dia para mim. Fui às compras, sozinho. Apeteceu-me estar apenas comigo. Às vezes necessitamos de um tempo só para nós, um bocadinho em que estejamos sossegados, fazendo o que nos apetece. Precisava de refletir sobre algumas coisas da minha vida e, se bem que muitas pessoas o façam isoladas, prefiro ir às compras. Reflito melhor quando estou num shopping cheio de pessoas.
Acordei, tomei banho, bebi uma chávena de café com leite e fui por essa Lisboa fora. Não fui apenas às grandes superfícies, mas também às lojas tradicionais, ao comércio de rua, principalmente na Baixa. Vi algumas coisas que me interessaram; outras nem tanto. Comprei presentes para as pessoas que me são queridas: comprei um perfume para a mãe, um casaco para a avó, uma blusa para a mana, uma camisola com capuz para o mano (ele é assim todo desportivo nos dias informais) e mais umas coisas para outros familiares. Não é Natal, mas apeteceu-me.
Desliguei os telemóveis. À hora do almoço passei num restaurante e almocei. Há imenso tempo que não almoçava fora, sozinho. É ótimo. Não ouvir ninguém na nossa mesa e não estar dependente das vontades de terceiros é do melhor que pode haver.
Da parte da tarde fui ao Centro Vasco da Gama. Passei na loja da Nike e comprei uns ténis / sapatilhas que achei o máximo. São um modelo, estilo bota, em cinzento, que adorei. Fui à Pull & Bear e comprei mais dois pares de calças skinny, pretas e ganga normal, modelo ultrajusto. Entretanto, tive fome e fui até ao Mac para comer uma daquelas saladas que eles têm. Não é que sejam fantásticas, do mais saudável que existe e nutritivas, mas não têm carne. Voltei.
Gostei deste programa comigo e irei repetir, com toda a certeza. Serviu para colocar as ideias em ordem e decidir o que pretendo fazer em relação a determinadas situações. Decidi - e bem - que não vou fazer nada. Vou apenas afastar-me e ignorá-lo. Afinal, eu sou mais eu e existem imensas pessoas interessantes por esse mundo fora, porventura até mais.
Continuarei a seguir o meu caminho como sempre o fiz. E não pensem que estou triste ou desapontado: não estou.
Sinto-me bem, aliás, muito bem. :)

17 de fevereiro de 2011

Eu Não Quero Voltar Sozinho



Eu adoro curtas-metragens. Recordo-me, aqui há uns anos, de estar acordado até de madrugada para ver umas fantásticas curtas-metragens que passavam na RTP2. Como são curtas, dão especial atenção a pequenos pormenores muitas vezes esquecidos nas grandes produções.
Esta curta retrata a história de dois rapazes e uma rapariga que se vêem envolvidos num triângulo amoroso. Um dos rapazes, invisual, apaixona-se pelo seu recente colega, o que desperta algum ciúme por parte da sua amiga de longa data. Quero salientar a beleza da descoberta do amor gay por parte dos dois rapazes.
É uma pequena história que contém uma importante mensagem de descoberta e de como o amor nas nossas idades - aqui falo enquanto jovem - pode ser mágico.
Espero que gostem como eu gostei.

15 de fevereiro de 2011

O Retomar de Uma Vida Estudantil


Foi difícil, é a palavra que me ocorre de momento. :) Digamos que todo o meu metabolismo estava a acomodar-se à situação de estar tanto tempo parado. Como sabem - ou deverão saber - o calendário de aulas do Ensino Superior é diferente do calendário do Ensino Secundário. Durante o mês de Janeiro estamos em exames e orais e só retomamos em Fevereiro. Janeiro é, por isso, um mês em que não se faz nada a não ser estudar, o que não implica que nos levantemos muito cedo (falo por mim). O meu corpo estava a começar a ganhar os vícios da ociosidade, nomeadamente a preguiça e o não querer acordar de manhã cedo. Nunca estivera tanto tempo parado desde que entrei no ensino pré-escolar, com três anos.
Hoje foi mais um dia em que fiquei a conhecer uma nova disciplina, vulgo cadeira. Terei duas novas neste semestre. São acessíveis, acho, sendo que uma foi optativa. Os livros é que recomeçam a pedir, desde as prateleiras, que eu os compre. :) São tantos que vocês não conseguem ter uma ideia. Para além de tudo, terei de ler um em alemão, visto que não existe tradução em língua portuguesa, de momento. A mãe conhece alguns alemães devido aos negócios, alguns dos quais radicados em Portugal, mas não me seduziu a ideia. Tenciono, portanto, frequentar uma escola de línguas. Aliás, é uma ideia que há muito sobrevoa o meu pensamento. Já sei até qual pretendo frequentar e vou amanhã mesmo oficializar a minha matrícula em inglês e alemão. O alemão - e agora vou fazer uma pequena referência - é uma língua que, a par do espanhol (castelhano), ganha cada vez mais importância na Europa, pese embora o facto de ter muito menos falantes do que o português. E soube, recentemente, que apanharei uma quantidade significativa de livros em alemão, logo, não convém vacilar. :)
Quanto aos pormenores universitários extracurriculares, ou seja, o R. (LOL), tudo continua na mesma. Hoje, depois das aulas, almoçámos na faculdade sozinhos. As conversas são sempre as mesmas e confesso que começo a perder o interesse e o entusiasmo. O rapazinho só sabe falar das aulas, do Sporting, da crise no Egito, etc. Não tem a mínima sensibilidade para ver que eu estou ali e que podia perfeitamente avançar qualquer coisa. Ao mesmo tempo, não se retrai. Não consigo perceber, mas, se querem que vos diga, já nem quero. Começo a duvidar seriamente da sua inteligência. Ele ainda não percebeu?!
Quanto ao vizinho da avó (LOL), cheguei à conclusão de que estava a ser ridículo. Não, tudo bem que vá a casa da avó e, se o vir, o cumprimente e até tente, mas ir lá de propósito para ver um rapaz que não conheço de lado algum é, no mínimo, absurdo.
Todavia, há factos que merecem alguma reflexão da minha parte. Daquilo de que me tenho apercebido, as taxas de reprovação / insucesso são elevadíssimas. Há ali meninos cujos paizinhos fazem tudo por eles e mesmo assim não se dedicam minimamente ao estudo, revelando uma falta de empenho gritante. Pelo menos o menino aqui, cujos paizinhos também fazem tudo, dedica-se ao estudo e tem, modéstia à parte, notas muito boas. Recompenso os meus pais de alguma forma. O seu a seu dono: há alunos que estão com bolsas de estudo, ainda trabalham e tiram boas notas. Nem só de preguiçosos vive o nosso espectro universitário.




Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico.

O As Aventuras de Mark passará a aplicar, a partir de hoje, as regras vigentes relativamente à ortografia oficial da Língua Portuguesa. Contudo - e porque estas mudanças são graduais - podem ocorrer ocasionalmente erros da parte do autor, nomeadamente no que concerne a palavras escritas ainda com a ortografia antiga. Pede-se, por esse facto, a vossa compreensão.


13 de fevereiro de 2011

Casa da Avó


Hoje fui almoçar a casa da avó. Aqueles típicos almoços de domingo (o que vale é que são apenas de quinze em quinze dias). Eu vou a casa da avó durante a semana, mas os almoços são enfadonhos.
Depois do almoço, da parte da tarde, fui um pouco até ao jardim da avó. É um jardim extenso. Devido ao frio, fui para uma parte coberta do jardim. A avó adora flores, logo, teve a ideia (peregrina...) de mandar construir uma pequena estufa. Ela diverte-se a fazer aquelas coisas quando não está na sua vida social, ou seja, almoços com os amigos, lá as festas deles, viagens, etc. Ora, há uma parte do jardim, perto de um gradeamento, que dá para visualizar a casa do seu vizinho. Digamos que tem uma boa vista. O vizinho da avó é um homem de meia-idade, casado e com dois filhos. Um deles deve (digo deve porque não tenho qualquer intimidade ou relação próxima com ele) ter sensivelmente a minha idade e tem o hábito de jogar à bola com uns amigos faça chuva ou sol. Claro, quando chove pouco. Hoje observei-o mais. Ele é muito engraçado. É assim para o atlético. É alto e tem aquelas pernas de jogador.
Quando cheguei ao jardim, vi que estava a dar uns toques na bola. Vestia aquele equipamento desportivo dos jogadores. Tentei não olhar fixamente para ele, mas a um dado momento, ele apercebeu-se de que eu estava a observá-lo. Já é um hábito aos domingos. Ele já reparou nisso, certamente. Aliás, sempre que vou a casa da avó, passo pelo jardim para ver se o vejo. Pela primeira vez, acenou-me com a mão e deu-me as «boas tardes». Correspondi, claro e, embora não seja de meter conversa, perguntei-lhe se não tinha frio para estar a jogar futebol e, ainda por cima, num tempo chuvoso. Lá se desenvolveu a conversa e só a partir de certa altura me apercebi que estava a beber um ice tea pela palhinha.
"O que é que o rapaz estará a pensar de mim?"
Ficámos assim na conversa até que chegaram uns amigos dele (os do costume) para jogarem futebol. Como constatou que eu continuava a vê-los, perguntou-me se queria jogar com eles.
"Wtf?, eu, jogar à bola?"
Agradeci e respondi que não. Senti-me meio ridículo e voltei para dentro de casa. A avó estava a falar com a mãe e os tios. Quando a apanhei sozinha, resolvi questioná-la sobre o vizinho. Disse-me coisas que eu já sabia, nomeadamente que ele comprou a casa há dois ou três anos (a avó é demais; então e eu não me recordava dos vizinhos antigos?) e que trabalhava ali e blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá... Quando a avó viu a minha cara de tédio, perguntou-me:
-"Queres saber do filho, não é verdade?"
Eu creio que o disse aqui no blogue, no ano passado, num dos meus posts. A avó é uma mulher de uma enorme sensibilidade, compreensão e amizade. É uma senhora em todas as acepções da palavra. Somos mais do que avó e neto: somos amigos. E tenho uma relação com esta avó que não tenho com a outra. Por todos estes motivos, a avó sabe coisas sobre mim que eu próprio não sabia quando ainda não tinha idade para as compreender. Perceberam? Sei que sim. ;)
À frente. Disse-me que, afinal, é mais velho do que eu dois anos, estuda Engenharia, não tem namorada (que ela saiba), conduz e é extremamente simpático. Resumindo: disse-me tudo o que sabia. E disse-me mais uma coisa: que o vê várias vezes a dar toques na bola sozinho. E depois perguntou-me o óbvio: porque é que não falo com ele?
Vou tentar. Ele diz-me qualquer coisa e aquilo com o R. não desenvolve. Vou ver se amanhã, depois da porcaria da faculdade, passo por casa da avó e o vejo. E agora tenho a avó como aliada. :)
Bem sei, bem sei, isto é algo obtuso e nem sei se o rapaz namora com uma rapariga. Ele é um estranho para mim, completamente. Chega a parecer ridículo, mas nada tenho a perder. Sei lá, gostava de falar com ele. É legítimo, não é?
Afinal, tudo começa de alguma forma. :)

12 de fevereiro de 2011

Uma Senhora Velhinha


As mãos, cuja pela encarquilhada revela a bravura de uma vida, apertam-se mutuamente. A cabeça pesa, o corpo não responde aos movimentos de outrora. Da janela da cozinha, vislumbra o mundo que lhe parece tão distante. Não, aquele não é o seu mundo. Os pés arrastam-se casa fora, sinais de um tempo passado. O tempo, esse, tudo leva à sua passagem. E os dias são a dor, e as noites são tão longas...
Ouve-se o tic-tac do relógio. As paredes amareladas reflectem a situação que encobrem no seu manto pesado.
Na cozinha, um caldo quentinho aguarda pelo jantar. Pode esperar. Ela come por comer. As molduras da sala estão quase todas vazias, salvo uma ou outra que já não espelha a realidade. Sentada no sofá, ouve os ruídos do exterior.
"Quando era pequena brincava e sorria. Quando era pequena corria e saltava. Quando era pequena o mundo e eu éramos um só."
O cãozinho rodeia a dona. O seu arfar demonstra a incompreensão que o alheia da realidade. Os passarinhos cantam do lado de cá de um vidro sujo, um submundo dentro do mundo. 
E as horas passam tão devagar. Ouvem-se passos tímidos lá fora. Virá alguém?
E as horas passam tão devagar.
Uma dor súbita surge no peito. Perde o equilíbrio e cai no chão.
"Quem vem apaziguar a minha dor?"
O cãozinho lambe a dona tentando acordá-la do seu sono profundo. Os passarinhos silenciaram o seu canto. O silêncio invadiu o espaço que cheira a solidão.
Jaz um corpo no chão. Jaz uma vida que pereceu no meio do desprezo.
Jaz a sociedade moribunda e fétida.

10 de fevereiro de 2011

Conta-me Como Foi


Conta-me como foi o teu passado. Conta-me pormenores da tua infância, dos momentos que mais gostas, dos teus pratos favoritos, da música que aprecias. Conta-me coisas e coisinhas de ti, detalhes de um nada que é tudo e de um mundo por descobrir.
Conta-me, também, como me abraçarias com os teus braços lânguidos e esguios enquanto eu adormecia no sabor do teu colo. Conta-me como me protegerias do mundo e mantinhas inalcançáveis os nossos sentimentos mais profundos.
Não me mantenhas nesse estado iniludível. Disfarça o que queres e diz-me o que quero e não temo ouvir. Conta-me as carícias imperfeitas que te fizeram, os pedidos insensatos ao ouvido, as súplicas de uma paixão efémera. Conta-me essas aventuras que viveste antes de mim, os beijos dados num pedaço fugaz de coisa nenhuma, mero subterfúgio de uma vida inútil. Mantém-me preso às tuas palavras, ao som desse desejo que teima em não se revelar.
Conta-me as horas vividas em que não estava. Faz-me pertencer a esse passado que quero, ao desejo de pertencer-te mais e mais até atingirmos o presente. Insere-me nessas recordações, transformando-me  num pouco de ti associado à tua vida.
Conta-me, por fim, o segredo das tuas palavras inoperantes, a nobreza desse discurso escorrido e desse olhar que é Ares e ternura, filho da maresia forte e do vento calmo. Conta-me os meandros desse poder do teu abraço seguro, das tuas mãos frias e do teu olhar que faz florescer o ânimo, deixando a dolência para trás em caminhos esquecidos.
Conta-me como foste. Dir-te-ei quem serás.
Conta-me como não fomos. Mostrar-te-ei quem seremos.

9 de fevereiro de 2011

Receio (In)fundado


Como referi recentemente num post, eu tenho imenso medo de tirar sangue... Amanhã, vou fazer análises ao sangue, o que exige que retirem das minhas frágeis veias uma boa quantidade daquele líquido vermelho que só de olhar para ele provoca-me arrepios na pele. Bem sei que uma criança de uns meros quatro anos é mais corajosa do que eu, aliás, não é a primeira - e não será certamente a última vez - que vejo uma criança perfeitamente calma e descontraída a tirar sangue, enquanto eu sofro, faço caretas, birras e tudo o mais. Vou com uma prima, o que não ajuda propriamente... Tirar sangue não é um programa interessante, logo, não tive cara para convidar fosse quem fosse.
"Olha, vou fazer análises amanhã, queres vir?"
Pelo amor de Deus!
Só espero que seja um/a enfermeiro/a experiente e que o faça de forma rápida e totalmente indolor. É que a minha pele é sensível e eu não pretendo ficar com uma negra no braço durante dias.
Às vezes tenho a sensação de que preciso crescer um pouco. Estou muito verde. Não é normal que um rapaz da minha idade fique com medo de tirar sangue. É que é sempre o mesmo problema! E depois começo a suar e a testa fica molhada, o que eu odeio porque faz com que as pontas do cabelo enrolem. Fico possesso quando, logo pela manhã, vejo o cabelo todo...  estranho.
No outro dia, disseram-me um truque fantástico: pensar em algo de bom. Ora, quando sinto a agulha a penetrar os tecidos do meu corpo, só consigo pensar que todo aquele sangue está a ser sugado para dentro da seringa. Tenho de agarrar na mão de alguém, ou melhor, têm de agarrar na minha, o que é constrangedor porque faz com que as pessoas fiquem a pensar mil e uma coisas, normalmente as piores...
Depois de fazer as análises, vou comprar os cadernos novos para o segundo semestre. Não sei se opto por cadernos ou por um dossier. Estou inclinado para o dossier. Dá outro charme e é bem mais prático. Porém, detesto cores discretas e os dossiers minimamente aceitáveis para um rapaz universitário são de cor azul ou verde horroroso. Além destes, há de rapariga e de criança. Podiam fazer qualquer coisa intermédia entre o masculino e o feminino... Fica a sugestão.
Para terminar o rol, estive a rever o Titanic que passou num canal do cabo. Apesar do filme deixar-me um pouco apático, das duas ou três vezes que já o vi, hoje fiquei mais, hum, sensível. 
Vejamos: a Rose era uma menina bem e o Jack era um rapaz humilde.
Não sei, sinto o filme como algo... próximo.
Não sei de onde tirei estas ideias.

6 de fevereiro de 2011

Um Dia Amarelo Em Tons Lilás


Sábado de manhã. Acordar cedo para encontrar os livros adequados para levar a Setúbal. Livros de Direito para um estudante que anda para o torto. Encontrei-os, afinal, o tempo de tédio não é assim tanto que me permita esquecer de algo com o qual terei de lidar já para a semana a seguir à que se aproxima.
De tarde. A mãe levou-me à estação dos comboios (trem, para os meus leitores brasileiros), após muita inquietação e tentativas de me demover da ida a Setúbal. Depois de muitas explicações, incluindo, claro está, a de que ia para a casa de um colega que já esteve em nossa casa e com o qual fui às compras no Natal, lá tive a permissão de viajar. Apanhei o comboio (trem) e, ao chegar à estação, já o R. estava lá. Dissera-lhe previamente o horário e a que horas chegaria.
Não sei se já estivera antes em Setúbal. Não me recordo da cidade, mas é interessante. O R. cumprimentou-me e andámos bastante até chegarmos à sua casa. Ele vive num prédio normal, humilde, tal como suspeitava. Não tem elevador. Subimos as escadas, ele colocou a chave na fechadura e cedeu-me a passagem. Após um «com licença» humilde, entrei. A casa cheirava a comida, um aroma suave e acolhedor. Cheirava a «casa». A mãe estava na cozinha que fica de frente à sala. Surgiu e veio cumprimentar-me com dois beijinhos depois de limpar as mãos molhadas a um pano de cozinha. É simpática e nova, apesar do trabalho (digo eu) tê-la estragado um pouco, o que é visível na pele do seu rosto. Deverá ter a idade da mãe. Elogiou o meu cabelo, ao que eu correspondi com um «obrigado» e um sorriso discreto. O R. olhou para o chão e sorriu discretamente. Passado um pouco, apareceu uma criança, uma menina, a sua irmã. Tem nove anos. Deu-me um beijinho e foi a correr para o quarto. A casa dele é humilde, mas na qual nada falta. Fomos para o seu quarto.
O quarto dele é o típico quarto de um rapaz, tão diferente do meu exuberante e excêntrico quarto. Tem uma cama, um móvel para o pc, uma mesa-de-cabeceira e um roupeiro. O móvel para o pc tinha uns carros grandes de colecção numa prateleira, um boneco do Sporting, alguns livros e pouco mais. Na parede, um quadro com uma grande caravela pintada preenchia as paredes despidas. Senti-me tão bem no seu quarto. Pareceu-me tudo tão perfeito, tão real. Imaginei que ele era o meu namorado e que íamos estudar numa tarde  de sábado. Ambos nos sentámos na sua cama e assim ficámos. Apetecia-me tudo menos estudar, apesar de ele estar interessadíssimo no estudo e não tanto em mim. Pensei para mim mesmo: "Mark, ele tem oral para a semana, sê compreensivo. Se não gostasse de ti não te teria convidado, não achas?" A verdade é que até ele notou algum desconforto da minha parte, perguntando-me mais do que uma vez se estava bem e se queria alguma coisa. Eu mantinha os meus pensamentos... "Beija-me, estás à espera do quê?", "Pega-me na mão!", "Diz qualquer coisa sem ser da porcaria do estudo!!!", mas em vão. Foram duas horas de estudo intensivas. De namorada de sonhos passei a camarada de estudo, 'tás a ver?.
O pai dele chegou. Senti uma voz masculina em casa. Ouvia também os passos da irmã pelo corredor do apartamento, não obstante os avisos da mãe de que o irmão precisava de estudar.
Pouco passava das 20 horas, a mãe bateu à porta, abriu-a e disse para irmos jantar. O R. deu-me uma palmadinha nas costas e cedeu-me passagem, encaminhando-me para a minúscula cozinha. Sim, eles comem na cozinha, só colocam um garfo e uma faca na mesa, usam guardanapos de papel, copos diferentes, toalha de plástico com desenhos de maçãs e cerejas e com as garrafas de água, vinho e Coca-Cola espalhadas. O R. apresentou-me o pai. É um homem vulgar, humilde, mas afável. Notei que estavam meio constrangidos com a minha presença. Depois de nos sentarmos à mesa, demonstraram uma enorme preocupação comigo, perguntando-me se o jantar era do meu agrado e se me sentia bem. Do pai era «menino» para aqui, «menino» para ali. São pessoas educadas e humildes. O jantar foi peixe no forno.
Surpreendeu-me e encantou-me, todavia, a forma simples como se comportam. Comem descomplexadamente, de forma natural. Senti-me um forasteiro por ali. São pessoas tão, tão normais. É uma família estruturada, onde há amor, carinho e compreensão de todas as partes. Não há riquezas, nem luxos, mas há o essencial: amor. Falam meio alto, enchem os copos, debruçam-se sobre a mesa para agarrar em qualquer coisa, enfim, como milhões de lares portugueses. Tão diferente do que sempre vivi...
Nessa noite pude constatar a beleza do R. Como referi anteriormente, ele não é um deus grego e para muitos de vós até pode parecer um rapazito qualquer, mas tem qualquer coisa que mexe comigo. Uma pureza, uma ingenuidade gritante. Gostava de lhe poder perguntar o que ele sente por mim, gostava de indagá-lo sobre a natureza da nossa relação, afinal, para me convidar para ir à sua casa é porque existe algo. Não é comum que um rapaz trate outro como ele me trata a mim se não existir qualquer coisa. Apesar de ele não avançar, ele não me trata como um rapaz heterossexual trata outro. Eu tenho a certeza de que ele sabe o que sinto. Ninguém é tão parvo a esse ponto, porém, quais serão os seus sentimentos?
Depois do jantar, decidi que era melhor ir embora. O pai dele prontificou-se para me trazer a Lisboa e até ficou meio ofendido (pareceu-me) por eu não aceitar. A mãe despediu-se de mim, agradecendo-me a amizade para com o R. e dizendo que «ele fala muito em ti e diz que és dos melhores alunos da turma». No entanto, não pude recusar o convite de me levar até à estação. 
Saí do carro e o R. foi comigo para tirar o bilhete. Quis pagá-lo e dar-me o dinheiro do outro, mas eu recusei. Disse que não era justo que eu gastasse dinheiro com ele. Justifiquei como um acto de amizade e relembrei-o do presente de Natal. Há atitudes que não têm preço algum.
Deu-me um abraço à homem. Faltavam dez minutos para o comboio. Saiu.
Telefonei à mãe e ela foi buscar-me à estação em Lisboa.
Foi um dia banal, com mais expectativas da minha parte.
Um dia amarelo que pintei em tons lilás.
Um dia que pintei de mil cores e que terminou com uma.

4 de fevereiro de 2011

Emancipação




Todos temos a nossa. Eu estou prestes a começar a minha.

E Passou...


Voltei hoje, de tarde, de viagem. Soube a pouco, é verdade. Todavia, eu sabia que era um dia apenas e mal deu para matar saudades do pai. No fundo, no fundo, sinto a sua falta. O pai sempre foi bastante compreensivo. Leio, por vezes, em alguns blogues, que certos progenitores masculinos têm dificuldade em entender determinadas situações. O pai, não. É do mais open mind que se possa imaginar. Aliás, a mãe também o é, os avós, os manos, enfim, bendita família.
Como ninguém me contactou, lá fui para o Porto sozinho. Maus. :( LOL A viagem faz-se muito bem de Alfa, de facto. À chegada, lá estava o pai. Fomos almoçar e conversámos bastante. As pessoas do Norte são mais humildes do que as do Sul. Devo dizê-lo. E depois, sinto que existe uma relação de amor / ódio em relação ao Sul. Como disse anteriormente e noutro post, sempre fui bem recebido no Norte e, digamos, sempre tive mais sucesso. Desta vez não foi excepção. Não sei o que tenho, mas vários rapazes portuenses olharam para mim com aquele olhar malicioso, numa proporção de 10 para 4 em relação a Lisboa. Ahah :) Deve ser do jeito mais determinado e sulista, com certeza. Eu não gosto particularmente do assédio, mas enfim... 
Hora do jogo. O pai estava impaciente e eu acabei por aceitar o inevitável. Não vou perder tempo algum a descrever algo que passou na televisão e que, sinceramente, não me despertou interesse. Posso acrescentar, porém, que nunca ouvi tantas asneiras na minha vida. Eu sei que é um hábito no Norte, seja nos restaurantes, na rua, etc, mas num jogo de futebol é o caos! Interessou-me um rapaz que estava na entrada do estádio, sim, que eu não me sentei logo no camarote e obriguei o pai a mostrar-me aquilo tudo quando ainda estava, digamos, suficientemente vazio para eu estar à vontade. É que o pai, como conhece elementos da direcção do clube, entrou mais cedo comigo. O dito rapazinho estava à entrada e não tirava os olhos de mim. Ora eu, como nada devo seja a quem for e como também me interessou, mostrei que aceitava dois dedos de conversa e assim foi. Falámos, pediu-me o número e eu, que NUNCA dou o meu número a estranhos, acabei por lho dar. O pai, tal era o nervosismo, não se apercebeu de nada. Começou o jogo e já o rapaz me estava a enviar sms...
Depois do jogo, fomos para o apartamento de um amigo do pai, na Boavista, uma das zonas mais nobres da cidade. Entrámos no edifício e quando chegámos à porta, o amigo do pai abriu-a mostrando alguma apreensão. Pensei instantaneamente que seria por minha causa, contudo, o pai dissera-me que até foi o amigo que se ofereceu para nos acolher. Bom, lá entrei, o senhor encaminhou-me para a sala de estar e eu sentei-me discretamente. Entretanto, o amigo do pai chamou-o para dentro e durante mais de quinze minutos não vi absolutamente ninguém, nem ouvi qualquer barulho, fosse de vozes ou dos ruídos próprios de uma casa. Já estava a ficar bem preocupado e a preparar-me para ir à procura do pai, quando passa uma mulher duvidosa, estrangeira (pelo aspecto), de saia bem curta a mostrar o pernão, maquilhagem forçada e o cabelo pintado de um louro vulgar... É isso mesmo que estão a pensar: o amigo do pai estava com uma garota de programa em casa e, por esse motivo, mostrou-se apreensivo à nossa chegada! Que situação tão constrangedora!... Se vissem a minha cara a olhar para a mulher... Fiquei estático e ela ainda lambeu os lábios a tentar seduzir-me! Ai, querida, tens uma sorte...
Dia seguinte. Fui extremamente bem tratado no apartamento do amigo do pai. Senti-me com toda a comodidade que tenho em casa. Ele tem empregada, felizmente, porque três homens numa casa sem saberem fazer seja o que for é mau... Almoçámos na sua casa e a empregada dele cozinha bastante bem. Da parte da tarde, fomos passear pela cidade, revisitando lugares que conheço desde criança, mas nos quais não estou todos os dias, logo, é de revisitar e fotografar. Depois do lanche, fiquei mais um pouco com o pai até ao momento de ele me levar à estação para regressar a Lisboa. Vim novamente sozinho, desta vez não tão sozinho, uma vez que um rapaz, evidentemente gay, sentou-se perto de mim e depois de tanto olhar teve a lata de meter conversa. Eu, como sou educado, respondi, mas sempre de pé atrás. Tinha assim um aspecto de promíscua, o cabelo com um corte todo horroroso e no ar, que ele pensa que é muito fashion, mas é muito foleiro! E aquele arzinho de coisa banal... :S
Quando cheguei a Lisboa, já a mãe estava à minha espera. Levei todo o percurso até casa a contar-lhe o que se tinha passado, omitindo, como é óbvio, alguns pormenores desnecessários. LOL :)
O balanço é francamente positivo. Gostei da viagem, do passeio e até dos metidos, eheh. Não sei, o sotaque é sensual, bem como aquele ar mais masculino. Não são tão... frescos.
Espero repetir. :)









P.S.: Fotografia tirada por mim. :)

1 de fevereiro de 2011

Actualidades


E é amanhã que vou para o Porto, a minha cidade do coração. Bom, um lisboeta a falar assim até parece que não gosta nem um pouco de Lisboa. Gosto, claro, mas o meu Porto é o meu Porto. :)
De manhã, bem cedinho, vou apanhar o Alfa Pendular que me levará até ao Porto. Vou sozinho, se bem que à chegada terei o pai à minha espera. Não me importo de ir sozinho, mas torna-se cansativo. Por isso, se alguém vai para o Porto, amanhã de manhã, no Alfa Pendular e em 1ª classe, diga qualquer coisa. Ahahahahahah :P Sou alto, tenho o cabelo preto, que actualmente uso à estilo emo, sou simpático e menos peneirento do que pareço. LOL
Brincadeira à parte. Bom, à chegada vou almoçar e, da parte da tarde, vou passear pela cidade. Lá terei de ir ver a porcaria do jogo... Detesto ambientes maioritariamente masculinos! Não sei, não me sinto à vontade. Detesto futebol e tudo o que esteja relacionado. Vou mesmo para arejar antes do início do 2º. semestre.
Hoje, o R. voltou a telefonar-me para combinarmos a minha ida à casa dele. Marcámos para sábado. Mas que insistência. Ele faz mais questão do que eu. Porém, coitadinho, disse-me que pediu à mãe para que não confeccionasse qualquer prato de carne, uma vez que sabe que eu não como. Que delicado, não é? Adorei esta atitude. Lá vou eu conhecer aqueles que poderão ser os meus futuros sogros! LOL
Recentemente, dei por mim a chegar à conclusão de que o R. é o ideal, se bem que aquilo não anda nem para a frente, nem para trás. Nem ele, nem eu avançamos mais, sendo que os poucos avanços são da sua parte. Ele deveria era ser menos, como hei-de dizer isto, simplório. É simples demais, meu Deus! A falar, a vestir... É daquele género que vive bem num T3, ou que raio é isso, com um Fiat à porta, dois cães, um gato, um emprego num restaurante a servir à mesa e muito amor... É limitado. Contei a uma amiga o que se passava e ela disse-me que jamais irá dar certo. Foi sincera. Adoro sinceridade. Foi o que ela disse: "Tu, com alguém assim? Ele era bom era para ser teu empregado." Não sei se ria, se chore. O defeito é meu ou dele? Mas porque é que não se pode ter tudo? Porque é que ele não é um pouco mais, hum, perfeito?
Vamos ver.
Agora quero concentrar-me na minha viagem de amanhã. Vou a ouvir a minha diva fantástica durante a viagem, pelo menos dá para passar o tempo. Estou em dívida para com a Mariah. Só tenho ouvido cerca de dez músicas dela por dia, o que é manifestamente pouco. LOL :D

Um Rumo Para Portugal


Podia ser um slogan promocional de uma qualquer campanha política populista, nomeadamente de José Sócrates, Paulo Portas ou Pedro Passos Coelho, no entanto, é mesmo o título de uma prioridade, a meu ver.
Portugal encontra-se numa situação bem mais difícil do que aquela que encontrou nos inícios do século XV. Viviam-se, então, tempos de escassez alimentar, fomes, pestes e guerras pela Europa. Portugal tinha à sua frente um sem número de desafios, muitos dos quais bem ousados para um pequeno reino do ocidente europeu, escassamente povoado e pobre. O maior desses desafios era manter a sua independência e a integridade territorial. Castela afirmava a sua hegemonia e prometia para breve a reconquista do sul da Península, o que se veio a verificar com a Queda de Granada, em 1492. Portugal iniciou a sua diáspora algumas décadas atrás, em 1415, com a tomada de Ceuta. Era a única hipótese que dispunha perante a força de Castela, uma Europa fragmentada e em guerras e uma aliança débil com a Inglaterra. O mar surgiu como a saída possível.
Nos territórios descobertos e tomados em nome da Coroa, Portugal subsistiu ao tempo e ao avançar dos séculos. Estabeleceu o seu Império Colonial e expandiu as fronteiras do reino a todos os continentes do planeta.
Assim o foi até ao século XX, quinhentos anos depois. Com o advento da descolonização, o território reduziu-se à parcela territorial na Europa e essa passou a ser o alvo de todas as atenções dos portugueses. Estávamos na era da integração europeia. Com a entrada nesse mercado comum, Portugal entregou parte da sua soberania às instituições europeias, abriu as fronteiras aos seus recentes parceiros europeus, recebeu fundos estruturais e iniciou o processo de desenvolvimento há tanto ansiado. Mas que Europa é esta?
Esta Europa unida por interesses económicos é um continente composto por variados mosaicos culturais. Jean Monnet sonhou, lançou o rastilho e os seus sucessores tentaram federalizar países que não têm absolutamente nada em comum. Países com culturas, línguas, tradições e mesmo religiões distintas. Não é possível uma Federação, um Estado Federal, à boa maneira norte-americana. O processo ocorrido nos E.U.A trata-se de uma união de soberanias de forma a constituir um estado unido e forte, capaz de enfrentar a metrópole descontente e a renitência dos países europeus em aceitar a Declaração de Independência. Foi - e é - um caso de federalismo perfeito. Mas esses estados federados, sem prejuízo do multiculturalismo americano, têm uma história, língua e tradições em comum.
Na Europa pretende-se fazer o mesmo, apesar de todos saberem que se trata de uma mera utopia. Nenhum país abdicará da sua soberania em nome de ambições de uma União Europeia que ninguém sabe bem o que será. Os mais conceituados economistas mundiais garantem que o euro irá acabar. Não é viável a longo prazo. A nosso velho aliado, o Reino Unido, olha com desconfiança para a integração europeia - e legitimamente - diga-se. Em que lugar está Portugal no meio desta Europa moribunda?
Portugal, agora como dantes, e devido a más opções estratégicas dos governantes pós-25 de Abril, está refém da velha e caquética Europa. Vive de esmolas e de ordens vindas de Bruxelas como se fosse um mero protectorado da União Europeia. Todavia, há soluções. E a única solução é aquela que Portugal encontrou em 1415: a sua vocação atlântica. Portugal dispõe de condições de que não dispõem a Grécia e a Irlanda. Portugal tem os seus irmãos onde pode investir e criar boas e sólidas alianças. O irmão mais velho, o Brasil, o quinto maior país do mundo, a sétima maior economia mundial e que, sem dúvida, verificada a reforma no Conselho de Segurança da O.N.U, ocupará o lugar devido de membro permanente. O Brasil, sim, pode ajudar Portugal. É para o Brasil que Portugal deve olhar. Não é tudo. Angola, um país em franco desenvolvimento, uma futura potência regional e com um subsolo rico em minerais. Portugal pode e deve olhar para o seu irmão mais novo. Também Moçambique e, por inerência, todas as restantes ex-províncias ultramarinas podem ajudar Portugal. A maior prova dessa solidariedade real veio de Timor-Leste, o irmão mais novo, que quis comprar parte da dívida portuguesa. Portugal, orgulhoso como dantes, qual orgulhosamente só, refutou discretamente essa intenção timorense. E porquê? Porque sente-se diminuído. O mesmo que sente em relação ao Brasil e a Angola. Ajudas familiares? Não, obrigado. Europa, Europa, Europa!
Contudo, a Europa nada nos dará. A Europa não gosta de cada país em concreto. A Europa usa os países de forma a aumentar essa farsa que é a União Europeia, esse sonho federalista carregado de anti-americanismo francês e alemão. Napoleão ensinou-os bem, é certo. A Europa não fala uma língua, nem duas ou três. Fala dezenas. Qual é a relação de Portugal com, por exemplo, a Finlândia? Nenhuma. O mesmo em relação aos restantes países europeus, com a honrosa excepção de Espanha, com a qual, de facto, dividimos um passado comum.
Cidadania Europeia? De que se trata? 
Porque motivo Portugal e os sete países lusófonos não criam um Espaço Comum Lusófono, sem fronteiras, à semelhança da porcaria, permitam-me a expressão, do Espaço Schengen? Porque não oficializam uma Cidadania Lusófona, da qual já se vai falando, mas que ninguém ousa avançar efectivamente? Já que gostamos tanto do Reino Unido, porque razão não aprendemos com eles, que após o processo de descolonização criaram a Commonwealth? Hoje, mais de uma dezena de países estão unidos numa união pessoal, na pessoa do monarca inglês, e sob a égide desta organização que mantém a tradição britânica e os laços de amizade entre o mundo anglófono.
Sou totalmente eurocéptico e assumo-o confortavelmente. Sonho com o dia em que a União Europeia não passará de uma piada de mau-gosto. Concordo inteiramente com um quadro de cooperação institucional entre os países europeus, mas não posso aceitar um controlo total da Europa sobre a vida do país.
Concluindo, o rumo para Portugal está à frente de todos.
Haja a ousadia de fazer o certo, tal como outrora se fez.