31 de janeiro de 2020

Dia 1 - Convento de Cristo, Castelo dos Templários e Museu do Fósforo (Tomar).


    Na sexta (17), comprámos a máquina fotográfica da Canon, preparando-nos para o desafio que aí viria: visitar todos aqueles monumentos no centro e Alentejo.

    Domingo (19) começou bem cedo. Pusemo-nos a caminho, e a viagem até Tomar ainda nos levou algumas horas. Chegados à cidade, soubemos que o Convento, o famoso convento dotado da igreja que Dom Manuel I mandou erigir, que exibe orgulhosamente a  janela manuelina, ainda se situava um pouco afastado do centro. Lá subimos a estreita encosta, até que nos deparámos com o monumento que é Património da Humanidade pela UNESCO desde 1983. E como é maravilhoso!


É linda, não é?

    Já lá dentro, pudemos apreciar claustros e mais claustros, e são tantos, bem como compartimentos usados pelos monges da ordem que ali se instalara, e cujos membros viviam na mais singela clausura. Toda a minúcia é digna de registo fotográfico. O convento é dos mais belos monumentos que visitei.


A porta manuelina deixou-me atónito. Atentem na riqueza do trabalho

A entrada principal deixa-nos logo sem fôlego


    A Janela do Capítulo mereceu-me uma atenção especial, evidentemente, ou não esperasse há anos por poder apreciá-la de perto. 
    Aviso-os de que é natural que nos percamos por entre a imensidão do Convento. Melhor dizendo, a páginas tantas damos voltas e mais voltas e julgamos ser impossível poder ver tudo.

Digam lá se este claustro não é de uma beleza extasiante?

Tão ricamente decorada, com uma ornamentação sacra, simbólica e heráldica que nos reporta à epopeia marítima portuguesa



   O convento e a sua maravilhosa igreja não era tudo o que Tomar tinha para nos oferecer naquela manhã e tarde convidativas, não; faltava-nos explorar a muralha do famoso Castelo dos Templários, ou Castelo de Tomar, que rodeia o convento e que nele se integra. As muralhas e os jardins circundantes estão acessíveis aos visitantes. Percorrer aqueles estreitos caminhos muralhados pode ser custoso, especialmente quando temos máquina e casacos em mãos. Tenham cuidado.


Calcorreei cada troço de muralha

   Visitar todo o complexo levou-nos a manhã e a tarde. Entretanto, tivemos tempo ainda de conhecer o Museu do Fósforo, uma colecção particular legada por um coleccionador já falecido, naquela que será talvez a maior colecção de caixas de fósforos do mundo. São milhares delas, de vários países, de várias épocas. Um espólio curioso, digno de se ver.

Uma visita-surpresa-relâmpago


    Antes de voltarmos, nada como jantar num espaço simpático. O bife na pedra e os secretos estavam divinais.


Deliciei-me

  Quando passeamos com gosto e num espírito aventureiro, de partir em busca do desconhecido e do conhecimento, nem o cansaço nos demove. Assim foi com a visita a Tomar. Houve pouco tempo para descansar, que na segunda-feira as Azenhas do Mar e o Palácio da Pena já esperavam por nós.


Todas as fotos foram captadas pelo meu iPhone ou pela minha câmara Canon. Uso sob permissão.

29 de janeiro de 2020

I'm back.


   E estou de volta a estas lides, após uma semana muito preenchida e intensa, mas extremamente enriquecedora. Pelos próximos dias, far-lhes-ei chegar os relatos das minhas visitas, acompanhados de fotos e de todo o tipo de informações históricas que considere relevantes. Segue a lista dos locais que visitei, nos dias correspondentes:


Sábado (18) - Mosteiro dos Jerónimos e Padrão dos Descobrimentos (revisita);

Domingo (19) - Convento de Cristo, Castelo dos Templários e Museu do Fósforo (Tomar);

Segunda (20) - Azenhas do Mar e Palácio da Pena;

Terça (21) - Cascais (praia e marina), Museu do Mar, Museu Paula Rego, Boca do Inferno e concerto de Madonna;

Quarta (22) - Jardim Zoológico de Lisboa;

Quinta (23) - Óbidos e Mosteiro de Alcobaça;

Sexta (24) - Mosteiro de Santa Maria da Vitória (Batalha);

Sábado (25) - Santuário de Fátima e Centro Histórico de Ourém;

Domingo (26) - Templo Romano, Sé de Évora e Igreja de São Francisco (Capela dos Ossos) (Évora);


   Fiquei hospedado num hotel do centro de Lisboa, tendo ido e voltado diariamente. Foram bastantes viagens. As mais afastadas da capital, envolvendo uma média de quatro horas (ida e volta). Por cá e por cada sítio, pude ainda desfrutar de novidades gastronómicas. Foi realmente uma semana muito especial.

   Uma vez que estive no Mosteiro dos Jerónimos e no Padrão dos Descobrimentos em 2018, tendo relatado as experiências (Mosteiro dos Jerónimos e Padrão dos Descobrimentos), começarei amanhã com a visita de domingo a Tomar. Houve duas idas ao cinema que também merecerão as respectivas crónicas aos filmes.

   Elaborei o programa uns dias antes e cumpri-o escrupulosamente. Aguardem pelas publicações!

17 de janeiro de 2020

Até já!


   É uma breve despedida por uma semana, para que quem me segue com regularidade não estranhe o silêncio. Não irei para longe. Andarei pela zona centro do país e Alentejo a visitar espaços, lugares e monumentos que não conheço. Assim mesmo, dia 21 estarei de volta a Lisboa para o concerto da Madonna, ali nos Recreios, seguindo de novo até às minhas paragens.

    Vemo-nos daqui a sensivelmente uma semana e meia! Até já.

15 de janeiro de 2020

Da delinquência.


   Soubemos, na semana passada, de dois homicídios brutais, um em Lisboa e o outro a norte, em Bragança. Dois homicídios num espaço de tempo relativamente curto entre si, e ambos envolvendo jovens e etnias diferentes. Num caso, um português de vinte e quatro anos assassinado por três guineenses; no outro, um rapaz cabo-verdiano assassinado, aparentemente, por jovens caucasianos. Estes dois casos causaram um enorme alarde junto da opinião pública, tendo sido até, quanto a mim, e sobretudo no que diz respeito ao último, instrumentalizados. Houve manifestações ruidosas, declarações precipitadas, quando é às autoridades (OPC) que compete investigar.

  Creio que nos afastámos do essencial. Andámos a discutir qual o pior dos crimes, como se houvesse um homicídio mais censurável do que o outro, e sinto que é pecado comum, mudando apenas as motivações, os lados da barricada. Facto é que perdemos dois jovens, dois jovens que estudavam e que, findo o percurso escolar, académico, seriam uma mais-valia para a comunidade. Facto ainda que os perdemos barbaramente, por motivos torpes, o que nos deverá levar a uma reflexão sobre os brandos costumes, apregoados há décadas e muito fomentados por Oliveira Salazar, que talvez já não sejam tão brandos assim - quanto aos crimes passionais e à violência doméstica, nunca o foram.

   No crime do Campo Grande, ou Cidade Universitária, como queiram, que foi cometido ali entre a Faculdade de Ciências da UL e o Campo Grande, há muito que se pede mais policiamento no local. Por experiência pessoal, os jardins traseiros da Faculdade de Direito albergam actividades sexuais e movimentações de pessoas estranhas ao campus universitário. O sentimento de insegurança não é recente. No crime de Bragança, fundamental é que se deixe a investigação prosseguir sem quaisquer pressões. Ouvi que a polícia descartava a hipótese de um crime racial. Nem todos os crimes que envolvam negros e brancos são raciais. Um negro pode ser vítima de um crime praticado por brancos, e vice-versa, sem que lhe subjazam motivações de índole racial. Temos de o ter conta, como temos de ter em conta que o racismo não é unidireccional. Não podemos, não devemos, minorar os casos de racismo que atinjam caucasianos mascarando-os de classismo e de revanchismo. Todos os crimes motivados pela cor ou etnia da vítima, sejam elas quais foram, são crimes de ódio.

   André Ventura garante que temos um problema com algumas minorias. Temo-lo, sim. E sabemos onde. Os três guineenses são oriundos de uma freguesia dos arrabaldes de Lisboa conhecida pela marginalidade e exclusão social. Todo aquele concelho, de resto. Sabemos onde estão estes focos de violência e de criminalidade. Falta-nos agir sem medo da retórica instituída. E devemos, de seguida, ponderar a nossa política de imigração. Quando temos conhecimento de que a taxa de natalidade desce para mínimos históricos, de que o nosso país é o mais envelhecido da Europa Ocidental, de que temos (e teremos cada vez mais) uma das maiores esperanças de vida, que Portugal estamos a criar? Um Portugal mais instável, mais perigoso? Esperava-se que houvesse uma política clara de incentivo à natalidade, e não à imigração. Pelo contrário, perdemos jovens prometedores que não encontram oportunidades nas suas cidades e que levam todo o seu potencial lá para fora. Somos cada vez menos e mais velhos, e aos poucos jovens resta emigrar. Não me oponho, por tendência, à imigração, da mesma forma que tão-pouco a defendo e estimulo. O país é pequeno, tem debilidades, fragilidades várias, e cabe-nos dar primazia aos portugueses.

   Veremos se estes dois casos não irão comprometer o nosso lugar na lista do Índice Global da Paz deste ano.

14 de janeiro de 2020

O Caso de Richard Jewell.


   Baseado numa história verídica, estes filmes são-me sempre mais apelativos. Quando saí da sala de cinema, o meu primeiro pensamento perdeu-se no sistema judicial dos EUA e em como, comparativamente, me orgulho do nosso, do português. Quando nos queixamos de algumas injustiças do nosso poder judicial, esquecemo-nos de observar aquele, onde, em muitos casos, os direitos elementares dos suspeitos são violados. Richard Jewell tornou-se suspeito por preencher um qualquer estereótipo criado por uma jornalista inescrupulosa que se deitava com inspectores do FBI em troca de informações privilegiadas. Inspectores esses que pareciam pouco estar preocupados em apurar a verdade material, e sim em levar um culpado para a câmara de execução.




   Depois, impressionaram-me os métodos de investigação, o relacionamento tenso com a defesa, as tentativas dos inspectores de ludibriar o suspeito, as infracções que cometeram, verdadeiros crimes de abuso de poder e autoridade. Finalmente, todo o sofrimento gratuito causado em duas vítimas, num bonacheirão de trinta e poucos anos, de boa índole, honesto, de uma ingenuidade quase infantil, e na sua doce e frágil mãe.

  As interpretações são muito boas (Kathy Bates está, de resto, nomeada para Melhor Actriz Secundária na edição deste ano dos Óscares), regra geral, e o filme tem aquele travo a 90s que ajuda a apaziguar o coração dos mais saudosistas daqueles anos - quando ouvimos Macarena, a irritante e pegajosa canção dos Los del Río, quase que nos apetece imitar a coreografia ridícula que a acompanha. À distância de mais de vinte anos, tudo ganha outro encanto.

11 de janeiro de 2020

Dois Papas.


   Um filme Netflix que esteve nomeado nalgumas categorias dos Globos de Ouro, que de resto não vi. Disseram-me que era um filme aborrecido. Eu, por acaso, gostei, particularmente do confronto ideológico entre Ratzinger e Bergoglio. Claro que houve ali um toque brasileiro na narrativa, com a inclusão do futebol, do Mundial de 2014 - o filme passa-se sobretudo no momento em que Bento XVI decide deixar o Papado, tendo, todavia, todo um contexto em retrospectiva, recuando ao início da vida de Bergoglio, às suas crises de fé, ao momento em que se apercebera da sua verdadeira vocação etc.

   Reside, entretanto, no dito confronto ideológico o verdadeiro mote do filme: que Igreja Católica queremos, que Igreja Católica cada um daqueles homens nos apresenta? Homens que divergem nas vivências, nas realidades socioculturais em que se inseriram por décadas até terminarem no Vaticano. 

   E também eu mudei, mudança essa que foi perceptível pelos leitores mais atentos do blogue. Ao longo dos anos, à medida em que amadureço, venho-me tornando mais conservador. Não gostava nada do Cardeal Ratzinger. Considerava-o um homem obsoleto, e foi com alívio que na altura soube da sua resignação. Hoje em dia, sete anos depois, temo o futuro da Igreja. Subjazem muitos interesses em torno da tal reforma que muitos dizem ser necessária. Discute-se, por exemplo, o fim do celibato, que está longe de ser um dogma e que só foi adoptado pela Igreja no século XII ou XII. Pessoalmente, não me agrada nada a ideia de ter um pároco que à noite se entrega aos prazeres da carne. Como disse Ratzinger, «uma Igreja que case com o espírito da época, acabará viúva na época seguinte».




    Um das leituras possíveis prende-se à hipótese de este filme vir limpar um pouco a imagem que Ratzinger deixou no mundo, e particularmente no católico, ao mostrá-lo como o homem que esteve por detrás da ascensão de Bergoglio à Cátedra de São Pedro, apercebendo-se da sua importância no futuro da Igreja, o que seria até algo contraditório. Percebemos que Ratzinger, embora aberto ao diálogo, não sentia apego às ideias reformistas de Bergoglio. O realizador, Fernando Meirelles, deixa-o em aberto e deixa-nos na dúvida sobre o que terá pretendido: exaltar o legado de Ratzinger ou, pelo contrário, mostrar-nos o homem que, antecipando-se aos escândalos que se abateram sobre a Igreja, passou "a bola" a Bergoglio? Um retrato algo injusto, uma vez que as investigações aos abusos sexuais no seio da Igreja começaram justamente quando o actual Papa Emérito era Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.

     Em todo o caso, o filme gira inteiramente em torno daqueles homens, sem a perturbação de personagens secundárias, e dos debates que travaram entre si. As interpretações vão além do fabuloso, e confesso que gostaria de saber a reacção de Ratzinger ao ver-se retratado a comer pizza com as mãos e a dançar o tango.

8 de janeiro de 2020

Habemus Governum.


   Espanha já tem a sua geringonça, com Pedro Sánchez a conseguir ser reconduzido ao governo com o apoio do Podemos e do ERC. Um governo com um futuro difícil pela frente, de grande instabilidade política, como se prevê. 

   Tenho amigos espanhóis que temem o pior. Dizia-me um, há pouco, «España vai á merda e non son dos que se alegran». É galego, e é particularmente sobre a Galiza que venho falar, porque os debates que culminaram nesta investidura tiveram uns fait-divers. O deputado Néstor Rego, do Bloco Nacionalista Galego, interveio na sua língua, o galaico-português, agradecendo no final do discurso com um obrigado, e Sánchez correspondeu também com um sonoro obrigado, levando a que centenas se indignassem nas redes sociais, rejeitando que o termo obrigado fosse correcto em galego. Acontece que o é, muito embora a Real Academia Galega não o inclua no seu prontuário. Olhando dicionários galegos antigos, ele consta lá. Enfim, mais um capítulo da infindável novela que é a castelhanização da língua galega, que é a nossa falada a norte do Rio Minho.

  Do acordo do PSOE com o BNG para a viabilização de um governo socialista resultou uma promessa: a concretização da Lei Paz-Andrade, de 2014, que prevê esforços concretos no sentido de que as emissões de rádio e televisão portuguesas possam chegar aos lares galegos em sinal aberto, naquela que é uma reivindicação antiga de grupos nacionalistas e reintegracionistas galegos. É um compromisso importante que ajudaria a reverter, tanto quanto possível, a assimilação do galego ao castelhano. Podendo ter acesso à sua língua sem interferências fonéticas e lexicais do castelhano, os galegos lidariam com a variante portuguesa, com expressões que também existem na Galiza, que sobrevivem nos seus falares e que são tão legítimas quanto quaisquer outras, além de, claro está, ajudar ao acercamento entre portugueses e galegos e, com isso, à aproximação entre Portugal e a Galiza, que têm vivido de costas voltadas por inúmeras razões que não convém aqui explorar. Estou curioso para saber qual será a reacção de Madrid, que nunca viu com bons olhos as relações entre Portugal e a Galiza. Espanha assemelha-se-me a um malabarista: procurar equilibrar aqui e ali, segurar lá e acolá. É uma realidade social e política com especificidades culturais e históricas que a tornam distinta da nossa.

    No governo ou no desgoverno, espero que se concretize o que foi agora acordado. De algo, todavia, estou seguro: os galegos preocupados com o futuro da sua língua e da sua nação não deixarão que esta bandeira morra. Podem estar certos.

6 de janeiro de 2020

A beast rules the world.


   Que Trump é uma besta quadrada, nunca suscitou dúvidas. Um homem com cara e modos de pedreiro - com todo o respeito pelos pedreiros - que tem dinheiro a mais e a quem foi confiado, pelos seus compatriotas não muito mais ajuizados, o destino da nação mais poderosa do planeta, e o nosso, indirectamente. Só a mediocridade intelectual poderá justificar que se ameace um país como Trump o fez, numa atitude que, salvo erro, não tem paralelo na diplomacia: arrasar com o património arquitectónico e cultural. A mediocridade intelectual a que se junta, quiçá, a falta de história e de memória.

    Este gesto, inaudito, reportou-me aos talibãs e há uns anos idos, quando ameaçaram - e cumpriram! - destruir dois budas milenares esculpidos em rocha no Afeganistão, deixando-nos a todos mais pobres. Naquele caso, património da humanidade desapareceu. Hoje, não resta mais do que as inscrições em pedra, os contornos de dois símbolos que resistiram ao tempo, à acção da Natureza, mas não à crueldade e insensatez dos homens. Nem os nazis chegaram a tanto, quando ocuparam Paris e se falou na destruição da Torre Eiffel, designadamente.

   Não há da minha parte qualquer simpatia pelo regime teocrático iraniano. Não compactuo com tiranias que submetam as pessoas e as suas liberdades. Vejo, entretanto, a desproporção de forças e de meios. E vejo a ingerência desmedida dos EUA nos assuntos internos de outros países. Julgam-se os justiceiros. Propõem-se a dar soluções, porém, quando agem, tornam o mundo num local bastante mais inseguro. Foi assim com o Afeganistão, com o Iraque, com a maioria dos palcos de guerra que criam e alimentam.

   A cristandade vive a paredes meias com o islão. Estas guerras não são religiosas, são políticas, e transformam-se em religiosas porque lhes subjaz um antagonismo milenar. Há dois blocos claros: o dos EUA (e aliados) e o dos países islâmicos. É quase uma repristinação da cena política que tínhamos antes de 1991, mudando apenas um dos actores.

    A reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, infinitamente adiada, ajudaria, talvez, ao equilíbrio - não faz sentido que a cúpula da ONU seja o reflexo da conjuntura vitoriosa emergida da II Guerra Mundial. Nós não queremos mais viver naquele clima de insegurança, de suspeição e de permanente tensão. Eu não o conheço, não vivi a Guerra Fria, e desde 2001 que temos a espada de Dâmocles sobre a cabeça, sempre com um novo atentado terrorista à espreita.

   Quando se fala tanto em sustentabilidade ambiental para as próximas décadas, que ideia de futuro temos com tamanha hostilidade entre as nações? Não estaremos a descurar outras prioridades? De que adianta procurar reverter os malefícios que durante décadas causámos ao planeta se tão-pouco conseguimos coabitar cordialmente, no respeito pelas culturas, patrimónios, idiossincrasias, soberanias?

3 de janeiro de 2020

Era uma vez em... Hollywood.


    Na altura, não fui ver este filme ao cinema. Esperei que estivesse disponível no videoclube da minha operadora de tv a cabo.

      Não vejo motivo algum para tamanho acolhimento junto da crítica. Mais, não vejo qualquer obra-prima de Tarantino aqui. Vejo, isso sim, uma procura por ser original, ao querer mostrar-nos os bastidores de uma Hollywood nem sempre cor-de-rosa que ficou lá pelos anos 60, com a interpretação multifacetada de Leonardo DiCaprio, sobretudo, que Brad Pitt foi quase duas vezes duplo: de 'Rick', a personagem de Leo, e do próprio. DiCaprio que vem mais uma vez mostrar tudo aquilo de que é capaz. A afirmação da sua personagem, o orgulho quando as cenas lhe correm bem (que o filme assenta numa narrativa dentro de outra), concorre com o próprio ego do actor, que esteve como peixe na água. Deu-se ao luxo de exibir a sua arte, com confiança e até com uma pontinha de arrogância. I'm the ***king best.




      Houve quem lhe chamasse um filme fetichista. É-o, efectivamente, na atenção que dá à mulher, aos seus pé, à pilosidade da hippie; à amizade masculina, aos carros, à masculinidade. Acima de tudo, este Era uma vez em… Hollywood é uma ode à sétima arte, e Tarantino preocupou-se mais em explorar várias vertentes do cinema, nos planos, na fotografia, no desempenho dos actores, no contexto histórico (o assassinato de Sharon Tate pelos Manson), do que em contar-nos uma história bonitinha e linear. Procurou, talvez no meio do marasmo, agradar àquele público menos óbvio e mais contundente nas críticas. Acontece que o filme, que é um experimentalismo, torna-se profundamente entediante. É um filme de massas sem pretensões de o ser. Tarantino quis surpreender.

    É um filme que se ama ou odeia. Eu odiei-o, claro está, no entanto, neste caso, apercebo-me de engenho e genialidade. Talvez eu não esteja à altura da arte de Tarantino. É mais confortável supô-lo do que ter como certo de que os grandes também erram, mesmo quando pensam que têm uma masterpiece em mãos.