Desde o início da actual conjuntura de pandemia que me recusei a ser tolhido pelo medo. Praticamente não fiz quarentena. Não incumpri com as recomendações (imposições) das autoridades, mas arranjei sempre uma forma de sair, nem que fosse ao supermercado da esquina para comprar pão. Pelo meio, adoptei o Diesel, passando a ter de o acompanhar nos passeios diários. Posso-lhes dizer que, se fiquei dois dias sem pôr o pé na rua, foi muito.
De momento, em meio de uma, dizem eles, segunda vaga, pondero viajar até ao norte da Europa, e só não o farei se não mo permitirem, que é o mesmo que dizer se suspenderem os vôos, se encerrarem os serviços, se fecharem as cidades ou se surgir outro impedimento alheio à crise sanitária. Para mim, sempre foi ponto assente. Protejo-me e protejo os outros, entretanto, não deixarei de viver, de sair, de me divertir, se for caso, para ceder a um medo que me parece em tudo irracional. Pandemias, sempre as tivemos; de doenças respiratórias, sempre morremos. Mais, eu tenho sido bastante atormentado com síndromes respiratórias, sendo asmático, desde que me conheço. Teria um motivo acrescido para ceder completamente e, ao invés, longe de desafiar o vírus ou me expor inconsequentemente a uma infecção, procuro fazer uma gestão equilibrada de uma situação insólita a que não estamos acostumados.
Temos ponderado as consequências que as nossas escolhas terão na vida das crianças e dos idosos, sobretudo? Enclausuramos pessoas que estão no ocaso das suas vidas dentro de suas casas, sob o pretexto de as proteger. É este o final de vida digno que lhes damos?
Assim como me parece leviano e quiçá mesmo criminoso negar-se o vírus, e tem havido quem o faça, insisto, e isso tenho defendido, na gestão equilibrada, repito, da conjuntura de pandemia. Continuemos a viver. Façamo-lo com responsabilidade, precaução, realismo. Todos estamos expostos ao vírus. Quando se proporcionou viajar a Portugal no mês passado, ponderámos todas as possibilidades, e decidi-me a ir ver a minha mãe, com quem não estava há meio ano. Viajei de transportes, fiz transbordos, sozinho, e felizmente nada de mau ocorreu. A outra hipótese seria a de não a ver. Deixar de estar com ela, de aproveitarmos alguns momentos. Não permitam que o medo lhes roube vivências, experiências, qualidade de vida, vida.