Imagino que este tenha sido o acto eleitoral português que menos me disse. Não acompanhei a campanha, nem a noite de ontem. Soube, aliás, do favoritismo do PS à maioria das autarquias portuguesas através de um jornal espanhol. Pois bem, apenas hoje de manhã me inteirei, e parcamente, dos resultados, e achei por bem dizer algo.
O PS perdeu Lisboa. Num país centralista e centralizado como Portugal, perder ou ganhar a capital tem um enorme simbolismo, e ainda que os socialistas, ao que parece, tenham logrado a governação da maioria das autarquias, perderam Lisboa para o seu principal rival, perderam Coimbra e no Alentejo não conseguiram consolidar a sua posição. Há desde logo três ilações que se retiram deste resultado: a somar ao revés de deixar cair Lisboa, Costa vê partir a cidade em que foi autarca por vários anos e não consegue convencer o país da vitória socialista. O sentimento instalado na população é outro. Para o PSD, inicia-se outro ciclo, provavelmente, galvanizam-se os militantes e simpatizantes, dá-se uma bomba de oxigénio a Rui Rio e antecipa-se o que poderá ser o dia seguinte às legislativas. Sem Rio, acredito eu. O Bloco de Esquerda tem um resultado global mau. O CHEGA perde o desafio de se colocar como terceira força política a nível local, mas consegue mais vereadores do que a extrema-esquerda. É um partido feito à imagem do seu fundador. Bem demonstrativo disso foi a necessidade de se colocar uma foto de Ventura a acompanhar as dos respectivos candidatos em cada povoação. No dia em que Ventura sair, prevejo um desaire completo. Sobre o PCP, devo dizer que nada sei de substancial. Perdeu algumas autarquias, manteve outras, os seus tradicionais redutos comunistas. O PAN e o Iniciativa Liberal tiveram resultados igualmente pouco animadores. O PAN não consegue convencer o eleitorado com o seu programa além da defesa dos animais e ao Iniciativa Liberal, suponho, há um longo caminho a percorrer para ganhar vantagem face aos tradicionais partidos. No poder local, como é mais próximo das populações, o partido ainda se ressente dessa falta de peso histórico, de trabalho feito. Nas eleições autárquicas, não é incomum que candidatos independentes, porque têm a simpatia das pessoas, consigam levar vantagem aos candidatos dos partidos.
A abstenção foi elevadíssima. Já o sabemos e já o esperávamos. Se há vencedores, e alguns dizem que todos perderam, ela foi a vencedora, como o é sempre.