Há já algum tempo que vos queria falar de um artista britânico falecido anos atrás, o Pete Burns, vocalista dos Dead or Alive. Burns surgiu no panorama musical inglês no final dos anos 70, fundando algumas bandas, até que se estabeleceu como vocalista dos Dead or Alive. O grupo obteve grande sucesso no seu país-natal e resto do continente europeu, e relativo nos EUA, na era do synth pop, com influências notórias do punk. O maior êxito do conjunto foi o clássico das pistas de dança You Spin Me Round (Like a Record), cujo vídeo me influenciou decisivamente. Embora já o fizesse antes, Burns foi o responsável, em larga medida, por ter recuperado o uso do eyeliner quando saio. Não o faço todos os dias; faço-o quando me sinto mais sensual, quando me apetece.
Nessa altura, começaram a surgir rumores de uma rivalidade com Boy George, que também ganhava popularidade à frente dos Culture Club. George arrojava com o seu visual fortemente marcado pelas cores, o uso de maquilhagem chamativa e vibrante e roupas andróginas. Tudo o que Burns fizera anteriormente, e segundo consta chegou a acusar George de o imitar.
Os anos 80 passaram, a influência de ambos também, e começaram a ser mais comentados pelos seus excessos pessoais. Centremo-nos em Burns. Plástica após plástica, a carreira foi ficando para trás. O dinheiro ganho nos anos de sucesso foi gastado a retocar aqui, corrigir erros dali. Burns ficou irreconhecível após tantas idas ao cirurgião. Fala-se em centenas de operações estéticas que o deixaram arruinado (em meados da década passada, admitiu-se na bancarrota). Para conseguir dinheiro, entrou em formatos televisivos como reality shows e vendeu a sua história a documentários de canais de televisão. Faleceu em 2016, de insuficiência cardíaca decorrente, muito provavelmente, das intervenções cirúrgicas que lhe arruinaram os órgãos vitais.
Especulou-se imenso sobre a sexualidade de Burns, que nos anos 80 mostrava toda a sua excentricidade. No vídeo de You Spin Me Round, e noutros, há vários elementos associados ao feminino, nos gestos, poses, atitudes, e tudo isso reportou-me à minha própria exuberância quando era mais pequeno e, em adolescente, me maquilhava e usava sandálias de plataforma, bem assim como o uso de cores mais quentes, num Portugal de início do século XIX ainda bastante imerso no cinzentismo social, que se reflectia na moda e nos costumes. À minha maneira, fui precursor, pagando o devido preço, claro, quando os iguais se juntam para nos julgar.