31 de janeiro de 2018

Call Me By Your Name.


   Vinha-vos falar do meu último domingo, mas entretanto impôs-se que priorizasse a crítica ao Call Me By Your Name, a que assisti hoje mesmo (ou ontem, se considerarmos a hora tardia).

    Sou naturalmente despistado, e um aselha com o cinema (os dias em que ia várias vezes por semana ficaram lá atrás). Posso adiantar, desde já, que gostei muito. Soube, posteriormente, que foi elencado entre os dez melhores do ano. Não vi os outros nove, mas Call Me By Your Name figurará, seguramente, entre os melhores que já alguma vez assisti na categoria dita LGBT. Pela candura da história, sobretudo. A descoberta e a iniciação sexual abordadas de uma maneira genuína. O realizador foi pretensioso, aí sim, com a atmosfera que deliberadamente quis recriar. Uma Itália rural, ainda com vestígios do fascismo, nos anos 80. O selo anos 80 convenceu-me de imediato. Como referi, salvo erro no La La Land, está na moda ambientar filmes nessa década, com as musiquinhas típicas («words, don't come easy...») e os excessos, até nos comportamentos, e temos vários exemplos durante os 130 minutos.

   O Elio não é mais nem menos do que qualquer jovem imberbe que experiencia sensações e sentimentos novos. Há, outrossim, uma tentativa de recriar a cor e a luz do cinema italiano, ou, pelo menos, daquele que conta com essas parcerias.
    As cenas familiares são nucleares. Judeus que falam uma profusão de idiomas; que se confundem, afinal, com a diáspora do povo judaico pelo mundo.

   A aventura sazonal que Elio e Oliver vivem, a bem dizer, não difere de muitas já anteriormente exploradas no cinema. Os avanços e recuos, as reticências, os medos, até a desilusão final - a cena do comboio é muuuito cliché. A bella italia, as paisagens, as cores e a fotografia é que dão ao filme o toque que o distingue e que o torna especial. Acrescente-se-lhe a interpretação de Timothée Chalamet e aquela química fabulosa com os pais - o diálogo final é surpreendente - e temos a fórmula do sucesso. O filme é bom, é, mas não o é pela história; é bom pelo argumento que dela se origina, pela envolvência que se gera em torno daquele proto-casal de verão. Para alguns, será até monótono - perdi a conta à quantidade de vezes que vi Elio às voltas na cama ou no sofá, como se a adolescência tivesse necessariamente de ser aborrecida.

  Realizado por Luca Guadagnino, inspirado num romance de André Aciman, Call Me By Your Name tem sido premiado em vários festivais internacionais, e recebeu, ao que sei, três nomeações aos Oscars, incluindo a de Melhor Actor para Timothée.

27 de janeiro de 2018

Era uma vez em... 2008.


« Matthew Shepard foi um jovem norte-americano nascido em Casper, no Wyoming, em 1 de Dezembro de 1976. Bom estudante, também pertencia ao coro da sua Igreja. Em 1995, depois de formado, continuou a exercer um cargo no Conselho Ambiental de Wyoming. Era tido pelos pais como uma pessoa liberal, acessível a todos e que se insurgia com as desigualdades da sociedade.
No dia 7 de Outubro de 1998, com 21 anos de idade, conheceu dois indivíduos num bar, que posteriormente lhe ofereceram boleia. Matthew foi, então, levado para um descampado numa zona rural, amarrado numa vedação e violentamente espancado...
Deixado a morrer, foi encontrado 18 horas depois por uma mulher polícia, que a princípio pensava tratar-se de um espantalho. Matthew ainda estava vivo, mas em coma.
Matthew foi levado para o hospital de Fort Collins, no Colorado, com várias lesões, nomeadamente na cabeça, orelha, tronco cerebral, que dificultaram o ritmo cardíaco, a temperatura corporal e outros sinais vitais. As lesões eram muito graves para serem operadas. Matthew morreu a 12 de Outubro de 1998. A polícia descobriu, pouco tempo depois, os dois assassinos. Alegado motivo do crime: preconceito sexual. Os dois assassinos estão presos perpetuamente, sem direito a liberdade condicional. As agressões a Matthew foram tão violentas que as únicas zonas de seu rosto que não ficaram cobertas de sangue, ficaram-no de lágrimas.
Esta história verídica emocionou milhões e levou a uma ampla divulgação sobre os crimes de ódio.
O filme de 2002, The Matthew Shepard Story, é um retrato real desta tragédia. Com a participação de Saw Waterson, Shockard Channing e a interpretação fantástica de Shane Meier no papel de Matthew Shepard. É um drama pesado, mas que aconselho a todos, afinal podemos fazer tudo para que tragédias iguais não voltem a suceder. »


Publicado originalmente no dia 22 de Novembro de 2008. A sua consulta pode ser feita através deste link.

24 de janeiro de 2018

Cultural Sunday [take 3].


   Este domingo, como se espera, também resolvi sair de casa, ainda que as nuvens ameaçassem acinzentar-me o dia. Deixemo-nos de rodeios: querem saber aonde fui. Pois bem, a escolha recaiu no Panteão Nacional, de manhã, e no Museu Nacional de Arqueologia, à tarde. Lados opostos da cidade. O primeiro, no Campo de Santa Clara; o segundo, em Belém.

   Não conhecia o panteão, ou melhor, a Igreja de Santa Engrácia, que partilha o estatuto de panteão com o Mosteiro da Batalha e o Mosteiro dos Jerónimos, com este último desde há pouco tempo. A Igreja de Santa Engrácia, pelos quinhentos anos que mediaram o início e o fim da sua construção, entrou para a cultura popular através da famosa expressão "as obras de Santa Engrácia", ou seja, quando se demora muito tempo a terminar o que se começou. A sua mentora, a infanta Dona Maria (1521 - 1577), filha de Dom Manuel I, não poderia imaginar que a igreja teria de esperar por Oliveira Salazar para ver concluídos os trabalhos.


   A igreja é imponente, e o interior não desilude de modo algum. Visitei os túmulos e os cenotáfios - o adro polémico que causou, e compreensivelmente, tanto burburinho pelos jantares. Subi as íngremes escadinhas até aos pisos superiores, que têm várias varandinhas. Ao cimo, como se sabe, temos a cúpula e o magnífico terraço, cuja vista é deliciosa. Pelo meio, encontramos ainda uma salinha com maquetes do monumento, pedras tumulares e fragmentos da igreja primitiva.

    Já perto da cúpula, temos acesso ao terraço. A vista sobre Lisboa é deslumbrante.




   Pela tarde, mas antes das 14h, fui ao museu de arqueologia, que estava em falta. É extraordinário. Embora tivesse conhecimento da riqueza do nosso solo no que respeita a registos arqueológicos, não julguei que o espólio fosse tão significativo.
    O museu está dividido em salas. Em duas delas, não nos permitem tirar fotos de todo, nem sem flash. A sala do Egipto é a minha favorita, e justamente uma dessas.




    Na primeira foto, temos a sala que fica imediatamente à nossa esquerda, no sentido da porta principal. É dedicada às idades do bronze e do ferro, com painéis interactivos, e também aos artefactos romanos e árabes, peninsulares. Na segunda foto, temos a ala romana. A escultura retrata Apolo, deus da beleza romano. Visitem-no, porque é interessantíssimo.

    Tive ainda tempo, concluindo, para passear pelos jardins de Belém, que são sempre agradáveis. Deparei-me com esta feirinha. Vendiam de tudo.



   E foi assim que se passou mais um domingo. O blogue não tem conhecido mais do que estes relatos, porque, a bem dizer, os passeios que tenho dado vêm ocupando os meus pensamentos, a par das leituras. Já tenho, nesse sentido, planos para o domingo que vem, que vocês saberão no devido momento.



Todas as fotos foram captadas com o meu iPhone. São minhas e de minha autoria. Uso sob permissão.







21 de janeiro de 2018

Os Jesuítas em Portugal: um projecto do tamanho do mundo.


   Ontem, a convite do meu caro RPB, da Nova Portugalidade, fui convidado a estar presente numa conferência, no Palácio da Independência, subordinada ao tema que consta no título da crónica. A Nova Portugalidade é um projecto de índole cultural, que já deu as caras pela imprensa portuguesa, e que conta com o apoio de várias entidades e individualidades do nosso meio público, nomeadamente de Dom Duarte Pio de Bragança, que era para ter estado presente na conferência de ontem, mas que não pôde por motivos de força maior.

   Foi uma honra para mim ser convidado para a palestra, em primeiro lugar porque sou seguidor, e admirador, da Nova Portugalidade. Aliás, e permitam-me a inconfidência, fui convidado a participar no projecto, que envolve pessoas creditadas e versadas em história, direito e ciência política, sobretudo. O meu medo de arriscar, talvez, e a minha aversão a compromissos terão pesado no adiamento da decisão, que não declinei o convite. Gostaria imenso de participar activamente, todavia, e embora saiba estar à altura do desafio, só aceitaria, sem hesitar, sabendo que poderia entregar-me de corpo e alma a um projecto que nos consome tempo e empenho a mil por cento.


   A conferência teve lugar no salão nobre do palácio, com a visualização de slides à medida em que a oradora nos convidava a conhecer a missão dos jesuítas portugueses, e não só, no Oriente. Falou-se nos sacrifícios, na apostasia, na dificuldade que o cristianismo teve para se impor na China e no Japão. E falou-se, também, em Martin Scorsese e no filme Silêncio, que presumo ter assistido há exactamente um ano por este dia, mas cuja review é apenas do dia 22. Podem consultá-la aqui.


   Demorou uma hora, razoavelmente, e foi esclarecedora. Claro que, a incautos, alguns anacronismos poderão passar despercebidos. A oradora falou em Espanha e em Itália no século XVI, quando nem uma, nem outra existiam. O Reino de Espanha remonta ao século XVIII, com os Borbón, e Itália foi reunificada só no século XIX. Entre outras imprecisões.

    Não posso dizer que tenha ficado a saber muito mais sobre a actividade missionária da Companhia de Jesus, fundada por Inácio de Loyola no século XVI, e extinta pelo crescente de poder e riqueza, já no século XVIII, até ter sido recuperada no início do século XIX. A Companhia de Jesus constituía um contrapoder ao poder, rivalizando, com a coroa, em prestígio e influência. Não se limitava a deter o monopólio do ensino; comercializava, avolumando-se os negócios. No zénite do absolutismo, do centralismo régio, não havia lugar a uma ordem que podia influenciar os vassalos contra a coroa. Pombal tratou de expulsar os religiosos, num gesto em que foi seguido por outras cortes europeias, pressionando a Santa Sé à sua extinção, o que se verificaria décadas depois.

   Após o término da conferência, explorei um pouco o Palácio da Independência, que merecia estar melhor preservado. A tinta está a lascar e os indícios de deterioração são visíveis. Ainda assim, não esconde a sua... portugalidade.



Todas as fotos foram captadas com o meu iPhone. São minhas e de minha autoria. Uso sob permissão.

19 de janeiro de 2018

Jantar da Amizade.


   Há um ano, um amigo comum fez uma fractura delicada e teve de ser intervencionado cirurgicamente. A amizade havia-se cimentado uns meses antes, quando, num determinado jantar, confraternizámos por longas horas. Uma leitora de blogues, conhecida por todos, resolveu marcar um jantar para levantar o astral ao dito amigo. Esse jantar ocorreu num restaurante vegan, muito simpático. Reunimos cinco pessoas.

   Este ano, e sem qualquer compromisso anterior, falou-se em repeti-lo no mesmo dia, 3 (com um dia de diferença, na verdade), para celebrar o início de uma história de encontros e peripécias. Assim foi. A reserva está feita. O jantar não está a ser organizado por mim, mas digamos que dei uma mãozinha. Fiquei de fazer a reserva. Foi feita duplamente.

   A que propósito vem o assunto: o jantar, as usual, está aberto a quem quiser participar. O amigo (pouco secreto) é o Francisco, do blogue do Olimpo, e está todo entusiasmado com o seu primeiro, e honroso, jantar. Somos, ao que tudo indica, umas nove pessoas, mas mais se poderão chegar. Podem confirmar a vossa presença através do e-mail do meu blogue, que encontrarão no vosso canto superior direito, ou através do e-mail do Francisquito, que encontrarão lá pelo seu espaço. Não tenham medo, porque ninguém morde. Se o problema é tornarem-se conhecidos, uma palavra: primeiro, só custa a primeira vez (e nem custa, a bem dizer); segundo, muitos já são conhecidos por todos e pensam que não, logo, só há benefícios. Claro que só vem quem quer, e pedinchar não faz o meu estilo - não o fiz para o meu jantar de Natal, menos o faria agora.

    Está o assunto tratado. É convosco. :)


15 de janeiro de 2018

Cultural Sunday [Take 2].


   O prometido é devido. Ontem, mantendo-me fiel ao que delimitei para este início de ano, fui ao encontro de mais um dos inúmeros monumentos que Lisboa tem para nos oferecer, o Palácio Nacional da Ajuda. Quanto ao percurso, nada há a enganar: o 28 até Belém, seguindo-se o 29, para quem não quer subir a calçada da Ajuda, até ao palácio. Quando chegamos ao alto da calçada, deparamo-nos com as traseiras do palácio, que como se sabe, está inacabado. Contornamo-lo pela direita e rapidamente chegamos à entrada principal, imponente. Poderão verificar.


Sumptuoso, é o adjectivo possível

   O Palácio Nacional da Ajuda é uma obra novecentista. Importa fazer certa contextualização histórica, mui sucinta. Nos terrenos em que se situa o palácio, erguia-se a Real Barraca da Ajuda, surgida com a fobia de Dom José a recintos fechados, na sequência do sismo. A Real Barraca ardeu em 1794, e Dom João VI, príncipe regente, ordenou que se lançasse a primeira pedra do futuro paço da Ajuda, construído ao longo de várias dezenas de anos - até à actualidade. A consolidação do liberalismo retirou peso político à coroa e transferiu-a para o governo constitucional, daí que o palácio mantenha fachadas por concluir até aos nossos dias. Por lá ocorreram alguns dos episódios mais significativos da nossa história, desde a comunicação aos portugueses dos motivos que levavam a corte para o Brasil, passando pela aclamação de Dom Miguel e pelo juramento de Dom Pedro IV à Carta Constitucional de 1826. Todavia, o casal régio Dom Luís e Dona Maria Pia, que o tomaram por residência, deram, ao palácio, a configuração, inclusive no seu rico recheio, que lhe conhecemos. Na Ajuda, nasceram os infantes Dom Afonso e o futuro Dom Carlos, penúltima cabeça a reinar em Portugal, de desditoso destino. Ainda hoje, para cerimónias solenes, o palácio é utilizado pela Presidência da República. Deixo-vos algumas fotos das setenta - sim, contabilizei-as - que tirei.




Na primeira foto, um óleo do século XIX, contemporâneo dos retratados. Surgem Dona Maria Pia de Saboia, os infantes Dom Carlos e Dom Afonso e Dom Luís. Na segunda, umas das salas mais bonitas do Palácio Nacional da Ajuda: a Sala Rosa.



Na primeira foto, a sala de jantar, onde a família real se deleitava com cozinhados que tão mal faziam à saúde, muito à base de carnes de porco e fumados. Assuntos políticos e coscuvilhices ficavam de fora. Na segunda, o grande salão de banquetes, ainda hoje usado pela Presidência da República em alguns eventos.


   Quem me segue através de outras plataformas, vai tendo acesso ao acervo. Não quero saturar a publicação com fotos, e o Blogger não tem um mecanismo muito fácil, do ponto de vista do utilizador, para publicar várias num único post com um efeito final agradável à vista. Ando a pensar em criar uma conta de Tumblr para o blogue, que na verdade já existe. Aí colocaria as fotos. Bom, ficam com uma ideia geral.
   O palácio é encantador. Tem a sala do trono, várias antecâmaras, os aposentos reais. Um mimo! No final da visita, pelo menos passou-se comigo, ficamos com a sensação de tudo visto. Subimos e descemos escadarias até perder a conta. Claro está que há divisões fechadas ao público, mas compensa, sim. Não poderei dizer o mesmo de Queluz e da Pena, maravilhosos, seguramente, e valem muito a pena, mas parece que nos reservam umas salinhas para dar a ligeira impressão de que ficamos a conhecer os palácios.


  Uma palavrinha para sábado. Estive na gala de entrega dos Prémios Arco-Íris, da ILGA Portugal. Tive de sair mais cedo, mas gostei do que vi, da organização, do espaço, que conhecia, e da atmosfera. A vibe era boa. Aqui fica o testemunho em imagem. :)



   E assim termina mais um relato de domingo. O palácio consumiu-me a manhã toda. Não vi mais nada. Passeei à beira-rio. Também convém, para ir tendo sempre o que ver. E por falar em ver, já sei o que farei no próximo domingo, e onde irei, mas vocês saberão no devido momento. :)


Todas as fotos foram captadas com o meu iPhone. São minhas e de minha autoria. Uso sob permissão.






9 de janeiro de 2018

Cultural Sunday.


   Primeiro domingo do mês, primeiro domingo do ano. A decisão já estava tomada. Iria aproveitar o dia para visitar alguns museus grátis apenas ao primeiro domingo. A maioria dos museus está aberta, gratuitamente, a todos os domingos. Entretanto, alguns há que só admitem entradas gratuitas ao primeiro de cada mês. Passos Coelho, na altura, alterou a regra. Todos os museus só admitiriam, a partir de então, entradas gratuitas ao primeiro domingo. António Costa, e bem, repristinou a medida anterior, devolvendo os museus aos domingos.

   Sendo sincero, levantar cedo, ao fim-de-semana, não me custa. E nem o frio ou a chuva me desmotivam. No domingo, esteve um dia maravilhoso, com um sol cheio. Frio, sim, mas estamos em Janeiro. Nada que um bom casaco, quentinho, não resolva. Depressa me meti no 28 e cheguei ao meu destino: Belém.

    Belém é um bairro que adoro. Por razões familiares. Em pequeno, todos os sábados ia, com os pais, aos pastéis de Belém. Eu não me recordo, mas eles assim mo contam. É um bairro agradável, muito histórico. Estive lá, pela última vez, em Dezembro, com o M., quando andámos a passear pelos Jerónimos, pela Torre e pelo Museu dos Coches. Eu conheço grande parte dos museus da cidade. Repito alguns amiudadas vezes. Há outros que, todavia, não conheço. É, ou era, o caso do Museu da Marinha. Grande lacuna, que colmatei.

    O Museu da Marinha figura, até ver, como o meu favorito. É lindíssimo. Histórico, muito, como se adivinha, pelo nosso papel ligado ao mar e aos descobrimentos. Está bem coordenado, bem documentado, com toda a informação bem colocada. É extenso, com um piso superior apreciável. Começamos logo com as primeiras embarcações portuguesas para terminarmos com os paquetes do século XX. Tem centenas de maquetes de embarcações, das primeiras naus ao navios recentes. Encontramos, também, quadros e utensílios ligados à actividade piscatória, numa das salas do museu, bem como dados relativos às missões em que participa a marinha portuguesa, na actualidade. Temos acesso, ainda, a informação histórica sobre a nossa participação na I Guerra Mundial, sempre na óptica da marinha. Vale muito a pena visitar o museu. Fica situado no encantador conjunto arquitectónico dos Jerónimos. Deixo-vos algumas das (muitas) fotos que tirei.







   Na primeira foto, uma caravela portuguesa quatrocentista.
   Na segunda foto, uma das salas do museu, no piso intermédio, com maquetes.
   Na terceira foto, uma escultura indiana de D. Isabel de Aragão, também conhecida como Rainha Santa Isabel, do século XVII.
   Na quarta e última foto, um óleo retratando uma embarcação portuguesa enfrentando um mar alvoroçado.
  

   Demorei-me cerca de duas horas. Quis ver tudo com calma e atenção. À saída, e como não encontrei nenhum estabelecimento calmo para almoçar, fui ao MAAT, o mais recente museu da capital. Foi a minha segunda vez no MAAT. Fui à inauguração. Compreendo o conceito do museu, mas não é, de longe, o que me enche o olho. Aproveitei a gratuitidade do primeiro domingo também. Tem umas exposições curiosas. Destaco esta, de Bill Fontana: Shadow Soundings, na qual se reproduzem os sons do tráfego na ponte 25 de Abril.



    Antes que anoitecesse, e como estava com fome, apanhei o autocarro em direcção à Praça do Comércio. Almocei na Portugália, seguindo para casa.
    Foi um domingo diferente, que repetirei, na minha exclusiva companhia. Passeei pela avenida junto ao rio, em frente ao MAAT, tirando mais fotos para o meu acervo pessoal. Gosto imenso de sair sozinho, de ir para onde quero, como quero e à hora que quero. Sabe tão bem.

     No próximo domingo, e nos que virão, tenho outros museus e monumentos para visitar. Ficam comigo, com a certeza de que os partilharei, e aos meus passeios, convosco.


Todas as fotos foram captadas com o meu iPhone. São minhas e de minha autoria. Uso sob permissão.

6 de janeiro de 2018

Debate Santana Lopes vs. Rui Rio / Directas no PSD.


   Não pude assistir ao debate entre os candidatos à liderança do PSD no próprio dia, quinta-feira, mas recorri à box - evolução tecnológica ímpar. Já em Outubro havia traçado o perfil político de Santana Lopes e de Rui Rio (poderão consultá-lo aqui). Estes debates, pertinentes, têm como objectivo esclarecer o eleitorado, no caso os militantes do partido, acerca da pertinência de se optar por um por outro candidato. Conhecemos as linhas-mestras da orientação de cada um, o que os divide e distingue. Contornarei, portanto, o que havia a dizer sobre ambos. Fi-lo na crónica de 9 de Outubro passado.

    Naturalmente, partilhando a mesma cor partidária, no que respeita a traços gerais da política interna e externa, Santana e Rio não se distanciam muito. A principal diferença reside na personalidade de cada um. Aí, sim, encontramos pessoas com posturas divergentes na vida pública e política. Santana é um animal político, e isso viu-se no debate, procurando confrontar Rio com opções do passado que o podem comprometer diante dos sociais-democratas. Rio foi um crítico da governação de Passos Coelho. Por outro lado, da parte de Rio não senti tanta hostilidade. Aludiu, e muito bem, ao passado governativo de Santana Lopes, quando, sendo número dois de Barroso, o substituiu como líder do governo, no ido ano de 2004, o que viria a provocar a dissolução da Assembleia da República. Rio tem o que Santana não tem: o factor novidade. Os portugueses conhecem bem Santana. A Rio, conhecem os portuenses, e quiçá os nortenhos, alargando o espectro. Rio é contido nas exteriorizações, é mais diplomata e racional. Santana é emotivo. Não teme o confronto e empenha-se em cada luta.

    Os meses em que esteve à frente da governação do país não correram bem a Santana Lopes. Nós somos também o que fomos. Creio que, aí, Santana sabe defender-se. Está confortável com esse passado, e faz pender, sobre Jorge Sampaio, presidente à época, a decisão, a seu ver errada, de ter dissolvido a Assembleia e convocado, consequentemente, novas eleições. Não houve trapalhadas, como Rio garante. Para Santana, havia uma maioria sólida que, por oportunismo de Sampaio, não pôde ir até ao término da legislatura.

    Senti, de igual modo, Santana mais determinado em construir um Portugal sólido para o futuro. Santana é herdeiro, enquanto discípulo de Sá Carneiro, de uma social-democracia próxima às escandinavas, afastada completamente do socialismo tradicional - linha de Godesberg. A competitividade e o crescimento são a grande aposta para o dia de amanhã, que temos de construir desde hoje. O controlo obstinado do défice e os estímulos ao consumo interno não chegam. Rio falou das exportações e expôs as medidas que adoptaria, mas Santana foi mais seguro, contundente, objectivo.

    São homens idóneos, íntegros. Sociais-democratas, moderados. Não haverá, estou em crer, clivagens inesperadas. O controlo das contas públicas estará sempre presente, e é necessário que assim seja. Portugal tem certa tendência para procurar viver acima das suas possibilidades. A esquerda é pródiga com os dinheiros públicos. Os sucessos do actual governo minoritário do PS, minorados pela estabilidade internacional, têm de ser refreados. Vivemos tempos de alguma pacatez, de um ciclo económico favorável. Os impostos indirectos subiram. Desde dia 1 de Janeiro, é mais caro viver-se em Portugal. O custo de vida aumentou. As mudanças nos escalões do IRS não podem justificar que atolemos as pessoas em impostos que não têm parado de subir. A solução não está no aumento. Portugal tem de se qualificar. Santana, aqui, parece saber mais o que quer para o país. Gostei de lhe ouvir uma menção à nossa comunidade científica, qualificada e que dá trunfos lá fora.

   O Estado, que em ambos não deve ser excessivamente pesado para os cidadãos, mereceu duras críticas. O Estado demitiu-se da segurança dos cidadãos: Pedrógão, Tancos, violência na noite lisboeta, e por aí fora. Há um descompromisso inaceitável. Os portugueses contribuem, e bem, para um Estado que se tem revelado ser tudo menos presente: o Estado português é omisso, negligente. O pecado do actual governo que ainda embaraça Costa. O Estado falhou, e falhou rotundamente. Esperamos consequências políticas práticas.

   A decisão final caberá aos militantes do partido. Eu não sou um deles. Não obstante, e pela primeira vez, gostei do desempenho de Santana Lopes. Procuro evitar estabelecer penas de carácter perpétuo. Santana governou, sim, mas pouco ou nada pudemos inferir dos meses em que foi Primeiro-Ministro de Portugal. Sampaio, a conjuntura que se vivia, não importa, não lhe permitiram dar-se a conhecer devidamente com as vestes de governante. Rio é mais previsível, próximo ao centro. Nesse sentido, dir-me-ia mais. Mas Santana tem aquela característica, tão sedutora, de não temer, de arriscar, de reformar para aproximar Portugal dos modelos que lhe servem de referência. E eu gosto disso. Seria interessante, no mínimo, ver um Santana Lopes combativo, líder da oposição. Costa terá a sua preferência por Rio. Conhecem-se desde os tempos de autarcas, e acreditará que Rio lhe será uma dor de cabeça menor, porque de Santana não esperará tréguas. A oposição será para doer. Disso, de certo modo, também se tem valido este governo minoritário suportado pela extrema-esquerda: da falta de uma oposição forte e lúcida. A saída de cena de Passos Coelho e a eleição do futuro líder do PSD, já no dia 13, agitarão o panorama político nacional. Marcelo quer que o governo cumpra o tempo-limite da legislatura. Ninguém parece duvidar. Este ano e o que virá, se não ocorrer uma hecatombe, serão animados.

3 de janeiro de 2018

Decénio (2008 / 2018).


   Considero leviano fazer resoluções de ano novo. A vida é tão imprevisível que não podemos determinar um percurso a 365 dias, a menos que saibamos mais do que o comum mortal. Creio que a única resolução possível, e equilibrada, é a de procurar sobreviver ante tantas adversidades e contratempos.

    O blogue comemora dez anos em 2018 - calma, não me dêem os parabéns ainda, só em Maio. Pensei em fazer algo diferente. Dez anos é realmente pouco numa vida humana; no limite, será pouco pela internet, se nos cingirmos a uma conta de facebook, de twitter, de instagram. Dez anos, para um blogue, é relativamente bastante, sobretudo num blogue de escrita de um jovem, e isso marca a diferença. Num blogue transformado em twitter ou em facebook, de publicações rápidas e imediatas, pouco será o mérito, reconhecendo que há mérito. Um blogue de crónicas que sobrevive ao tempo, à vontade, à disponibilidade e ao empenho, sim, merece ser comemorado. Do meu tempo, noventa e oito por cento dos blogues não existem mais. Muitas dessas pessoas mudaram-se para o facebook, que foi, e continua a ser, o grande carrasco destas plataformas mais antigas. O blogger remonta a 1999.

    Qual é a minha ideia: uma vez por mês, inserido na rubrica Era uma vez em... (ano), republicarei um texto meu antigo, que considere interessante reler, tal e qual como foi escrito, até para que eu e os leitores façamos a análise entre quem fui, e como escrevi, e quem sou. Entre outras ideias que pontualmente me venham surgindo. É um ano comemorativo, mas não vos maçarei com uma comemoração que é minha. Entretanto, quero fazer mais do que uma simples publicação de décimo aniversário em Maio. O blogue, que continua a ser a minha plataforma por excelência - tenho outras - merece-me mais. Em rumo contrário à blogosfera, o blogue está de saúde e recomenda-se, porque continua a fazer-me sentido. Não é um fardo, como o é para muitos. É um espaço que cultivo com interesse, e até carinho.

   Não acredito minimamente que a blogosfera recupere o esplendor que teve em anos. As pessoas, algumas, continuam a ler, embora comentem pouco, ou nada, o que também não me preocupa. Ser uma pipoca nunca me pairou como objectivo, ainda menos comercializar o blogue, que por dois anos passou ao lado dos olhares curiosos (justamente na sua fase embrionária, de 2008 a 2009). Escrevo não em busca de estrelato ou de popularidade. Escrevo porque gosto, quero e me sinto bem.

   Iniciemos, então, este ano comemorativo.