Vários historiadores conceituados a nível internacional são unânimes ao afirmar que Portugal conseguiu proezas admiráveis para um país pequeno, pobre e mal organizado. Uma dessas proezas foi, sem dúvida alguma, a construção de um vastíssimo Império Colonial.
Absorvido pela impossibilidade de uma expansão terrestre, devido ao facto de estar rodeado de poderosos reinos ibéricos, a posição geográfica de Portugal e as suas tradições marítimas foram factores decisivos na grande epopeia marítima da qual Portugal foi o país precursor.
A expansão marítima portuguesa teve início com a conquista de Ceuta, em 1415, importante praça militar no norte de África, no reinado do célebre "O de Boa Memória", D. João I. Ceuta possibilitou um controlo, ainda débil, de algumas rotas de especiarias que chegavam da longínqua Índia. Para além desse motivo, a expansão da fé cristã em terras árabes era de uma elevada importância, numa altura da História em que as questões religiosas faziam todo o sentido.
Seguiram-se, nos reinados seguintes, a descoberta e a conquista de vários entrepostos comerciais na costa africana, incluindo a praça de Mina, no golfo da Guiné, em 1482. A descoberta do caminho marítimo para a Índia (1498, por Vasco da Gama) abriu as portas ao comércio marítimo com o Oriente, possibilitando aos portugueses o controlo da rota marítima das especiarias, acabando, dessa forma, com a rota terrestre que os árabes empreendiam desde a Índia até ao norte de África. O estabelecimento dos portugueses no Oriente foi um sucesso, com a construção de um Império a Oriente, que manteve o brilho até à União Ibérica (1580 - 1640), que permitiu os ataques dos holandeses e dos ingleses às possessões portuguesas no Índico.
Em 1500, Pedro Álvares Cabral descobre ou "acha" o Brasil. Este descobrimento, que muitos não consideram acidental, devido ao facto de D. João II ter exigido que o meridiano estabelecido no Tratado de Tordesilhas passasse a 370 léguas a oeste de Cabo Verde (o que já englobava a costa marítima brasileira) e não às 100 léguas iniciais, permitiu a consolidação do Império a Ocidente, no "Novo Mundo", cuja acção dos bandeirantes, durante o século XVI, foi decisiva para a afirmação da colónia do Brasil.
Em 1822, com a independência deste território, Portugal focou a sua atenção nas suas colónias africanas. A África Portuguesa dos inícios do século XIX, consistia em pequenos aglomerados populacionais na costa africana, nos territórios que hoje se conhecem por Guiné, Angola e Moçambique, para além das ilhas de Cabo Verde e São Tomé e Princípe. Com a Conferência de Berlim e a Questão do Mapa "Cor-de-Rosa" (1884 - 1885, que Portugal não conseguiu impor), Portugal assegurou a permanência nos seus antigos territórios, porque prevaleceu o direito de ocupação efectiva ao contrário do direito histórico sobre aquelas regiões. Nesse sentido, Portugal apenas manteve os seus territórios tradicionais.
Em 1961, o recente estado da União Indiana, por ordem do presidente Nehru, invade e anexa os territórios portugueses na Índia: Goa, Damão e Diu, acabando com um domínio português de quase 500 anos.
Com a Revolução de 25 de Abril, em 1974, as colónias portuguesas em África (oficialmente províncias ultramarinas) conseguiram a tão desejada independência, que se veio a verificar no ano seguinte, 1975 (com a excepção da antiga Guiné Portuguesa, cuja independência foi declarada em 1974). Tudo parecia indicar o fim do Império Colonial Português. No entanto, restavam Timor e Macau. O território de Timor, ocupado ilegalmente pela Indonésia, em 1975, manteve-se uma província indonésia até 1999, ano do referendo realizado à população timorense, no qual a maioria optou pela independência do país, nascendo a República Democrática de Timor-Leste, em 2002.
Várias datas são apontadas como a data do fim do Império Colonial Português. Alguns afirmam que o Império acabou em 1975, com a independência das colónias africanas; outros, defendem que acabou em 1999, com a entrega de Macau à China; e alguns defendem que foi em 2002, com a independência de Timor-Leste, visto que o território mantinha o estatuto de território não descolonizado de Portugal, pelas Nações Unidas.
A data mais correcta será, em todo o caso, 1999. Macau era, de facto, o último território colonial português.
O Império Marítimo Português foi o primeiro e o mais longo império colonial da Humanidade, existindo entre 1415 e 1999.
Como afirmou o historiador britânico Charles Ralph Boxer (no seu livro, O Império Marítimo Português 1415 - 1825, que comprei com quinze anos e adoro), "um feito extraordinário para um país tão pequeno e tão pobre".