Passou um ano. Em criança, o dia do meu aniversário era sempre motivo de alegria, de presentes, nem tanto do bolo. Era o melhor dia. O mais aguardado. Mal adormecia. Acordava primeiro do que todos, ficava à espera que os pais me dessem os parabéns, dissessem o que faríamos, onde almoçaríamos, a que horas me levariam à loja de brinquedos mais perto. Volta e meia, uma sessão fotográfica, telefonemas dos avós, tios, demais familiares. Sorrisos estampados no rosto.
Presentemente, é uma data que chega quase como uma sombra. "Lá vens tu." "Estás tão próximo, a sério?" Meio um velho amigo que nos acompanha. Um amigo que perde o seu encanto, malfadada vida. E dizem que sou tão novo para ser indiferente ao aniversário... Não há festa, não há alarido.
Constato isso em mim, a desilusão. Parece que está tudo conhecido, quando sei que há ainda tanto por desvendar. Não consigo, por mais que queira, encontrar um estímulo adicional. Chamem-lhe genes, conformismo, inadaptação. Sou assim e agora dificilmente mudo. Em todo o caso, lamento que a pessoa que fui se tenha dissipado ao longo dos anos. Ainda não a esqueci. Todavia, o maior receio prende-se em quem ainda sou, que mal ou bem se sustém. Temo, a décadas, lastimar ter-me perdido.
O pai ligou-me. Reaproximámo-nos com o falecimento do avô. É o contraste. A pequena dádiva que atenua. Fica assinalado.
Uma palavra para os CIGNO Awards. No domingo, na gala interactiva, fui galardoado com dois CIGNOs: Melhor Blogue LGBT Pessoal ou Diário e Melhor Produção de Texto em Blogue LGBT. Na primeira categoria, fiquei bastante surpreso. Não tinha noção alguma de que os meus escritos mais pessoais suscitassem tanto reconhecimento, conquanto seja uma parcela relativamente irrisória do que escrevo. Muito obrigado a quem votou em mim. Agradeço o reconhecimento e o carinho. Verdadeiramente estimo as pessoas que me acompanham. Embora saiba distinguir o real do virtual, não sou indiferente, de forma alguma, aos laços que se estabelecem entre nós. Negá-los seria, a par de os diminuir, injusto.