Antigamente existiam homens, mulheres, sodomitas e lésbicas. Sodomita é um termo que vem referenciado ao longo da história, com origem na cidade bíblica de Sodoma onde, alegadamente, vários habitantes masculinos tinham relações pecaminosas (Génesis, 18: 20). Diz respeito mais especificamente aos homens que têm sexo com outros homens, nomeadamente sexo anal, pese embora o facto do sexo anal poder ser praticada entre um homem e uma mulher. Foi uma forma de criminalizar a prática e o amor entre dois homens. Lésbica é uma palavra que tem como raiz etimológica a palavra em latim lesbius e que, originalmente, designava os habitantes da ilha grega de Lesbos. Uma poetisa grega dessa ilha, a poetisa Safo (século VII a. C.), que gostava de outras mulheres, viria a dar a origem à palavra em português lésbica, que designa uma mulher que ama outra mulher.
De salientar que a expressão lésbica tem origem apenas no século XIX.
No mesmo século surgiria pela primeira vez a palavra homossexual, que mais tarde serviria para designar os doentes de homossexualismo. A palavra tem uma origem grega (homos) e também latina (sexius) e refere-se, portanto, a pessoas que têm sexo com outras do mesmo sexo. A palavra gay, que era utilizada como uma palavra normalíssima em inglês, designando uma pessoa feliz, alegre, de bem com a vida, ganhou esta conotação sexual e atualmente refere-se na literatura, nos meios de Comunicação Social e na própria sociedade, em geral, a homens homossexuais.
A bissexualidade surgiria por inerência, alargando o campo da sexualidade humana a mais uma orientação sexual e tudo levaria a crer que chegáramos ao fim. As orientações sexuais não são infinitas (deixemos de parte termos como a transexualidade, crossdressing ou travestismo, transgender e por aí adiante porque não estão diretamente relacionados com a orientação sexual e, no caso da transexualidade, trata-se de uma questão de identidade de género que é vezes demais confundida com orientação sexual).
Vulgo a gíria popular que é utilizada ofensivamente para designar homo e bissexuais (palavras que não irei referir, mas que, certamente, todos saberão quais são...), tudo parecia terminado no que diz respeito a designações referentes às orientações sexuais.
Atualmente vêm surgindo mais umas expressões a esta já longa lista... Refiro-me a: hetero curiosos e bi curiosos. Devo dizer que adoro estas designações. Não só pelo ridículo, mas também pela incoerência das mesmas. Ora eu, que sou uma pessoa intelectualmente irrequieta, não poderia passar ao lado destas palavras. Um hetero curioso será um gay-que-tem-vergonha-de-o-ser-e-sente-se-bem-mostrando-à-sociedade-que-é-hetero. Não há hetero curiosos, é bom que isto se diga! Há heterossexuais e há gays. Um heterossexual não terá relações com pessoas do mesmo sexo, salvo situações de embriaguez, drogas e semelhantes. A curiosidade, mínima que seja, é já indício de bissexualidade. No fundo, a visão heterossexista da sociedade leva a que surja a necessidade que as pessoas têm de se esconderem da sua própria sexualidade. O termo bi curiosos não deixa de ser ainda mais engraçado. Vejamos, se a pessoa se designa a si mesma como bissexual, de onde surge a curiosidade? Curiosidade em quê? Não deixa bem patente, ao afirmar-se bissexual, de que gosta dos dois géneros, o seu e o oposto? A incoerência aqui atinge proporções desmedidas.
Alguns amigos gays dizem-me, com o ego bem elevado (?), que saíram com «um rapaz que é hetero, sim, hetero». Quando confrontados com o facto de serem heterossexuais no mínimo estranhos (...), lá vem aquela pequena palavra que tudo resolve: «Ah, é curioso». Bom, ainda não apanhei um bi curioso, thank God!
Extrapolando estas considerações para a minha vida concreta, também me vejo na necessidade de encontrar, nesta miríade de orientações sexuais, a possível orientação sexual do R. Ele dirá para si que é hetero, mas, no fundo, deve ser um valente bissexual, com uma aparência totalmente heterossexual. É o que penso sobre ele e é o que penso sobre esta quantidade de orientações sexuais que andam por aí.
Queira Deus que eu esteja enganado e que existam muitos e bons hetero curiosos e que o R. seja um deles. É-me mais confortante sair com um hetero curioso do que com um gay ou um bissexual por motivos meramente pessoais.