23 de fevereiro de 2013

Segundo semestre.


   As aulas recomeçaram na segunda-feira, embora tivesse faltado nos dois primeiros dias. Assumi que os merecia, depois da complicada e cansativa época de frequências e orais. Relativizei a matéria que poderia ser leccionada - e foi - e baldei-me, situação inédita, sem culpas nem remorsos. Aos poucos, a faculdade vai deixando o lugar de segunda casa para rivalizar com a primeira, ocupando cada segundo da vida de muitas almas por ali, sobretudo agora em que se antevê o fim, relativamente.

   Terei alguns professores-assistentes novos, no seguimento, também, de algumas disciplinas diferentes. A vontade e a garra presentes no primeiro ano deram lugar ao marasmo. Assistir a determinadas aulas plenárias chega a ser um castigo, culpa de professores que tornam aquelas horas demasiadamente enfadonhas e pouco estimulantes. Alguns limitam-se, como sucedeu no semestre passado, a ler em voz alta os parágrafos dos seus manuais académicos, retirando qualquer utilidade às aulas em si, que deveriam ser dinâmicas. Se compramos os livros e se, à partida, sabemos ler, é um convite explícito à quebra da assiduidade. Faltar torna-se a única solução.

   Uma colega convidou-me para uma festa que a faculdade irá organizar, provavelmente regada a álcool e devaneios. Pondero aceitar - e o insólito não deixa de me surpreender. Como sou abstémio e não me sinto bem naqueles ambientes, tenho evitado frequentar as inúmeras actividades estudantis que por lá se realizam, mas desta vez estou convicto em ir. A companhia até é agradável.

    Tenho aprendido que só há lugar a arrependimentos quando deixamos algo por fazer. Se o fizermos e não tiver sido do nosso agrado, resta-nos o lamento cru. A curiosidade fica preenchida e revelamos alguma astúcia. Em todo o caso, mantemos a nossa personalidade em qualquer ocasião ou lugar, assim a tenhamos.

      Urge viver.

19 de fevereiro de 2013

Almost Home


   Como deverão saber, em breve estreará o novo filme da Disney, Oz: The Great and Powerful, sendo que a Mariah foi convidada para interpretar o tema do filme, Almost Home, uma música que é lançada oficialmente hoje, embora, como sempre acontece, tenham vazado imensos snippets ao longo dos dois últimos dias. Ontem tivemos conhecimento da versão completa. O tema estará a partir de hoje no iTunes. Espero que façam como eu e o comprem. :p

    Depois do estrondoso sucesso mundial do álbum The Emancipation of Mimi, em 2005, que revigorou a sua carreira, a Mariah conseguiu sucessos muito relativos para alguém do seu gabarito. O seu último #1 na Billboard Hot 100 teve lugar em 2008. A Mariah acumula 18 #1's nos E.U.A, ultrapassando o Elvis Presley e só ficando atrás dos Beatles, portanto, a solo, é a cantora com mais números 1 da história dos Estados Unidos, fazendo jus à sua era dourada dos anos 90.



    
     Esta participação na Disney antecederá  o novo álbum com saída prevista ainda este ano. Até ao momento, as críticas têm sido bastante positivas, elogiando-se a música e a voz da Mariah no single. Com tamanha recepção, esperam-se bons resultados (o ideal seria o seu 19º #1!).

     Deixo-vos com a Almost Home. Espero que gostem. :D



God bless you, Mimi!

14 de fevereiro de 2013

Uma tarde.


    Os últimos dias têm passado depressa demais. Se há colegas que tiraram umas férias antecipadas, eu esmerei-me nas melhorias de notas. Não que me arrependa, contudo, o travo a insatisfação pessoal é inegável. Somos mais do que os estudos, os livros e os apontamentos. Existimos para além das licenciaturas e dos graus académicos. Nunca aceitei anular-me por completo, nem pela metade.

    Ontem saí com um amigo que conheci há relativamente pouco tempo. Pensei acerca da palavra amigo quando pretendi situá-lo na minha vida, concluindo que se o amor são bons momentos, a amizade são partilhas, interesses recíprocos. Sorrisos que se trocam ouvindo-se histórias e episódios do quotidiano, entre reflexões que merecem uma maior atenção.
    O ponto de encontro foi o Chiado e por ali andámos. Levou-me até uma espécie de café japonês na Rua da Alfândega, que devo dizer que não conhecia. Ele tem uma atracção pelo Japão, país e cultura que não me seduzem, de todo. Conhecedor da gastronomia, escolheu, para si e para mim, uma espécie de doce nipónico que me reportou muito aos nossos sconeskurimu-pan. Não sei até que ponto este "bolo" terá sido influenciado pela presença portuguesa no Oriente, nomeadamente no Japão nos inícios do século XVI: o sabor era praticamente lusitano. A casa situando-se em Portugal deve ajudar à semelhança no paladar.

    Ficámos nesse café por um bom tempo. Esqueci-me, por momentos, de que a rotina voltará na próxima segunda-feira... Quando saímos, decidimos caminhar ao largo do rio, até que chegámos às Docas e por lá nos sentámos a conversar. Ele estuda Artes e tirou um caderno para desenhar, mas a falta de inspiração e a brisa fresca não propiciaram a sua criatividade.

    Foi uma tarde simpática, agradável. Regressámos quando os raios solares começaram a fraquejar. Apesar de ter gostado, fico sempre com a terrível sensação de que os bons momentos duram pouco, enquanto os fastidiosos parecem eternos. Também diferem muito em quantidade. 

     Talvez por isso os bons momentos sejam especiais.

9 de fevereiro de 2013

Harry.


   



   Recordo-me de em pequeno folhear as revistas do social e deparar-me com o Harry. Apesar de na altura sentir que o irmão fazia mais sucesso, havia algo de matreiro no olhar e na sua postura que me intrigava. É rebelde, provavelmente devido à morte precoce da mãe, e tenta escapar um pouco à rigidez do protocolo real, além de ser militar e ter aquele pragmatismo britânico maravilhoso.

   É solteiro... Tenho em mim uma vocação qualquer para príncipe! :P




E pronto, hoje deu-me para isto! xD

5 de fevereiro de 2013

Os homens não choram.


    A prima pediu-me para ir com o menino a uma pastelaria comprar-lhe um bolo. O Martim tem cinco anos, mas é muito apegado à mãe, sobretudo. Na educação que lhe dão, revejo a minha infância, em parte. Começa, claustrofobicamente, a ser mantido na redoma de cristal, desconhecendo, a sua mãe, por incúria ou distracção, que o mundo lá fora não permite uma alienação tão grande da realidade.

    Há dias caiu ao chão. Fez um arranhão - ou um dói-dói - como ele diz, no bracinho e no nariz. Chorão, segundo me contaram, berrou durante imenso tempo, não acostumado que está a nenhum revés. Aliás, se quer um brinquedo e não lho dão, fica uma fera que em nada se coaduna com a sua idade!...

    A senhora da pastelaria veio ao nosso encontro e atendeu-nos. O Martim tem uns olhos enormes e é muito esperto, atraindo as atenções. Não tardou em querer uma série de artigos expostos perto da caixa...
   Ao vê-lo, a senhora interpelou-o, achando graça à birra. Perguntou-lhe como é que tinha feito aqueles arranhões. Eu contei sucintamente, enfim, conversas de circunstância. Contudo, quando menos esperava, e num tom audível, disse-lhe que "os homens não choram", provocando manifestações de anuência em outras pessoas, homens, na sua maioria, e algumas mulheres. Discorreu as suas ideias pré-concebidas, não se limitando a essa frase emblemática. Por educação, controlei o que no momento quis dizer, mas não pude deixar em branco. 

    Claramente, os homens choram. Choram como sempre choraram. Choram porque têm sentimentos, porque se sentem tristes, felizes, desesperados, apaixonados. São livres de exprimir as suas emoções, não estando vinculados à lágrima apenas permitida no nascimento de um filho, num funeral ou numa partida de futebol. 

    Em frases, à primeira vista inocentes, esconde-se um preconceito enraizado, cujas raízes, profundas, custam a extrair.

1 de fevereiro de 2013

Papá.


    O pai seguia em frente, envergando umas calças de bombazine de cor azul e uma camisa em padrões xadrez. Atrás, a mãe, de tez branca e loura, cabelos que me reportaram para a minha própria mãe, embora fossem mais curtos. Na mão, segurava a cadeirinha do seu bebé. Este, apoiado no braço solto, observava o mundo atentamente, descobrindo tudo em seu redor. Murmurava palavras imperceptíveis, os sons típicos numa criança de tão tenra idade.

   Sentaram-se numa mesa dos fundos e escolheram o menu. Cuidadosamente, a mãe desfez pequenos pedaços de batata cozida e carne, dando-os de seguida ao bebé. O pai, guardião  da sua família, mantinha a postura erecta de líder, preocupado e consciente do seu papel, zelando pelos seus. A empregada aproximou-se timidamente. Interagiu com o menino, brincando, tentando enganá-lo ao simular que comia um pouco de cenoura. Inteligente, o pequeno não tirou o olhar da mão da moça, intuindo que ela não a comera. A mãe, divertida, beliscava suavemente o rosto do filho enquanto contemplava a cena. Assim ficaram. O pequeno revolvia o prato da mãe que terminara de comer, lançando bagos de arroz e ervilhas pela mesa. De frente, o pai recolhia-os com a mão, repreendendo-o num tom suave, pouco convincente. Arriscaria tudo ao afirmar que são uma família feliz. O que as palavras fingem, os olhares não conseguem dissimular.

   O bebé disse "papá!", de repente. Pela alegria visível no rosto do senhor, poderia ser a primeira vez que o pronunciava. Trocou breves ilações com a esposa, as quais não pude perceber. O entusiasmo reinava.

  Saíram pouco tempo depois, ostentando o orgulho pela família que construíram, acenando aos donos do restaurante e à moça que os servira tão atenciosamente.

    Preencheram-me o dia. Sorri.