21 de agosto de 2021

Afeganistão.


     Quando soube o que ocorrera, julguei ter recuado a 2001. Julgámo-lo todos, e mais ainda os afegãos, que de pouca liberdade gozaram para, ainda assim, lha tirarem. Os talibãs tomaram a capital, que o país nunca o deixaram de todo, e agora? Vamos ter de novo mulheres proibidas de sair à rua, pessoas açoitadas por usarem uns jeans, homossexuais executados impiedosamente?

   Ouço dizer que "os talibãs talvez não venham a ser o que foram". Há quem esteja disposto a reconhecê-los. Parece mentira. Apoiados pelos EUA durante a guerra com a União Soviética, que também se posicionavam por detrás do governo fantoche que estava em Cabul, creio que o menos importante será discutir de que lado se está. Só pode haver um lado aqui: o dos direitos humanos. É esse que me move, é esse o de qualquer pessoa interessada em lutar pelo bem-estar e pelos direitos dos afegãos, das mulheres afegãs, das minorias afegãs.

    Se para a salvaguarda desses direitos for necessária uma intervenção no país, que seja decidida pelas Nações Unidas, a única que o pode fazer. O que não podemos é calar, ignorar, transigir, fazer deste caso mais uma moda de redes sociais. Pensemos que podia ser connosco, se tivéssemos tido a pouca sorte de nascer por ali. E pensemos também nas minorias doutros países da região que não desfrutam do alarme social que o governo talibã gerou no ocidente. É que as violações dos direitos humanos estendem-se àquela região do globo, são comuns a vários países, praticadas por vários governos internacionalmente reconhecidos. Evidentemente que derrubar os talibãs é imperioso. É salvar vidas. Não nos podemos é ficar por aí. Como venho dizendo, o respeito pelas religiões e pela soberania dos estados cede perante a defesa dos direitos humanos, da vida, da integridade física, do livre desenvolvimento da personalidade. Sempre.

19 de agosto de 2021

Férias (IV) - A Finisterra.


   Finisterra, em latim, finis terrae, ou seja, “o fim da terra”. Isso pensavam os romanos quando a baptizaram assim. Julgavam que tinham chegado ao ponto mais a oeste do mundo, mas afinal enganavam-se: esse estava no Cabo da Roca, em Portugal, o ponto mais ocidental da Europa continental.

    A Finisterra é um munícipio galego na província da Corunha, e foi ali que as nossas férias seguiram após termos regressado das Canárias. O avião aterrou em Santiago de Compostela, e no dia seguinte partimos em direcção ao nosso destino. Umas poucas horas de carro.


As águas, límpidas


    O clima daquela região espanhola não poderia distar mais do das Canárias, de forte influência oceânica, que se reflecte na aragem, fresca, e na temperatura da água, gélida. Pude constatá-lo na agreste e perigosa Praia do Mar de Fora, de mar revolto, extremamente impróprio para banhos. A Praia da Langosteira, todavia, é mais conhecida e convidativa.


A Finisterra está intimamente ligada à arte da pesca


    Ficámos hospedados numa casa rural, lindíssima, com piscina e um jardim extremamente agradável. Os seus proprietários eram um casal de dois senhores homossexuais de meia idade. À propriedade, imprimiram-lhe uma faceta antiga na decoração das divisões principais e dos quartos. Sentimo-nos em casa, é um facto. Além disso, tinham uma biblioteca recheada que nos fez as delícias enquanto desfrutávamos daquele sol não tão escaldante quanto o canário. São excelentes anfitriões, e um deles ocupa-se da parte culinária. Os pequenos-almoços, à discrição, eram requintadíssimos. 

    A vila é recomendável a quem quer descansar. Ainda assim, culminando ali o Caminho de Santiago, são de esperar muitos peregrinos.

Todas as fotos foram captadas por mim. Uso sob permissão.

10 de agosto de 2021

Férias (III) - As Canárias.


  Seguindo no nosso roteiro, outra das praias que nos ficou debaixo de olho foi a dos amadores, um pouco depois da praia de Puerto Rico. A Playa de los Amadores é parecida à de Puerto Rico: tranquila, numa baía, onde uma vez mais testei os meus limites. Fui, a nadar, até à zona que delimita a área reservada aos banhistas e a que fica para lá dessa linha marcada por pequenas bóias amarelas.


Esta foto foi tirada por casualidade, e é uma das que mais gosto das férias



   Na sexta-feira, julgámos por bem passar o dia na capital das Canárias, Las Palmas (de Gran Canaria). Las Palmas tem perto de 340 mil habitantes, o que, em Portugal, a tornaria na segunda cidade mais populosa. A sua área metropolitana ascende aos 600.000. Para variar, literalmente, não fizemos praia. Conhecemos a zona histórica, fomos à sua catedral -a Santa Iglesia Catedral-Basílica de Canarias-, que é lindíssima. Conseguimos, a dois minutos de encerrar o elevador que nos leva à torre, subir e apreciar as vistas sobre a cidade. No Patio de los Naranjos, que fica situado ao lado da catedral, visitámos o Museu Diocesano de Arte Sacra. Por último, o Museu Canário, que, honestamente, foi o que me deixou mais na expectativa (ainda na fase anterior à viagem, de pesquisa), pela colecção assombrosa de fósseis humanos, de aborígenes, ou seja, de povos autóctones da ilha que a habitavam aquando da chegada dos exploradores espanhóis e portugueses.


La Plaza Mayor de Santa Ana

  As férias nas Canárias estavam prestes a terminar, mas seguiriam no dia seguinte, após uma breve passagem por Santiago de Compostela, noutro local igualmente encantador. 

Todas as fotos foram captadas por mim. Uso sob permissão.

4 de agosto de 2021

Férias (II) - As Canárias.


   A viagem durou duas horas e meia. Quando chegámos, dirigimo-nos imediatamente ao hotel. Depressa constatámos que se tratava de uma estância predominantemente homossexual pela quantidade de casais compostos por membros do mesmo sexo e bandeiras arco-íris que decoravam janelas e varandas. Demos um pequeno passeio pelas imediações, e desde logo um homem ofereceu-nos uma massagem aos dois. Foi a primeira vez que tal nos sucedeu, e a nossa reacção, em uníssono e imprevista, foi um “no, gracias”. Foi o meu primeiro confronto directo e inequívoco com uma sociedade muito mais aberta do que a portuguesa. Há inclusive, na zona, um centro comercial dedicado exclusivamente ao público homossexual e inúmeras lojas gay; dentro delas, lojas para bears, por exemplo. Vi um pénis em formato de vela, com as cores arco-íris, que tentei adquirir mais tarde, sem sucesso porque a loja estava fechada.


As vistas desde a varanda do nosso quarto


   No primeiro dia, ficámo-nos pela praia do inglês, ou seja, a praia que corresponde à zona do hotel. É uma praia imensamente frequentada, de areia escura. A ilha tem origens vulcânicas. De manhã, deixámo-nos ficar na piscina a relaxar. O hotel dispunha de piscinas de hidromassagem, além de solário, sauna e ginásio. Apenas experimentámos a hidromassagem. À noite, estávamos tão cansados que não saímos.


Uma pomba no areal


    No segundo dia, e uma vez que não estávamos distantes, fomos conhecer as dunas de maspalomas, e o nome já indica que são dunas, mas umas dunas totalmente distintas daquelas que conhecemos na península. São dunas que mais se assemelham a um deserto. Um microssistema com interesse, que termina numa praia. Se visitarem a ilha e eventualmente as dunas, não aconselho a que o façam à hora de maior calor. A temperatura da areia é verdadeiramente escaldante.


As Dunas de Maspalomas


   No terceiro dia, invertemos “o esquema”: começámos pela praia, desta feita na praia de Puerto Rico, uma praia formada por uma baía. As águas eram muito mais calmas que as da praia do inglês. Alugámos o chapéu e as espreguiçadeiras, como de resto fizemos sempre que as praias os tinham, e passámos uma tarde agradabilíssima.


A Praia de Puerto Rico


     No quarto dia, dirigimo-nos bem cedo ao norte da ilha, uma viagem que nos levou três horas, mas que considerámos essencial, até porque nunca havíamos visitado piscinas naturais. Fomos às piscinas naturais de Agaete, um paraíso natural formado pela erosão das rochas de origem vulcânica. O oceano foi esculpindo fossas e transformando-as gradualmente em piscinas. A única acção do homem foi dotar as piscinas de escadas para que os banhistas possam subir e descer.


As encantadoras Piscinas Naturais de Agaete



     Os restantes dias ficam para publicação ulterior.

Todas as fotos foram captadas por mim., Uso sob permissão.

2 de agosto de 2021

Férias (I) - As Canárias.


   Decidi-me a dedicar algumas publicações espaçadas às nossas férias. O M. queria uma viagem não tão distante, mas, por insistência da minha parte, lá aceitou; comprámos as passagens, reservámos os hotéis (dividimos as férias em dois locais, para variar) e esperámos um mês. As férias de um médico são marcadas com antecedência, e de certa forma também me quis assegurar de que tudo corria bem. Para tal, faz-se mister que tratemos dos assuntos atempadamente.

  Fomos ao arquipélago das Canárias, um conjunto de sete ilhas principais e mais alguns ilhéus que pertencem à Espanha. Ficam geograficamente situadas no norte de África, ao largo da costa do Saara Ocidental, um território a sul de Marrocos que até 1975 esteve sob a soberania espanhola. Com tantas ilhas à nossa disposição, por assim dizer, Tenerife talvez fosse a escolha mais evidente, entretanto, a preferência recaiu sobre a Gran Canaria, justamente onde se localiza a capital, Las Palmas de Gran Canaria. Não ficámos na capital, senão no sul da ilha, numa zona turística conhecida como Playa del Inglés.

   Por curiosidade, quando reservámos o hotel, um dos factores que tomei em consideração foi escolher um que não aceitasse crianças, por uma questão de maior tranquilidade. As crianças podem ser um tormento nos espaços de uso comum (e eu sei do que falo). Não sabíamos nós que nos encaminhávamos para uma das principais estâncias gay da Europa, a praia do inglês. Relativamente ao hotel, imaginei que os hóspedes fossem sobretudo gays e lésbicas, que os casais heterossexuais têm filhos, regra geral.


Costa marítima de Agaete


   Como calculam, o clima do arquipélago é subtropical, seco, o que se reflecte na paisagem, árida. As águas são cálidas e agradáveis. As temperaturas oscilam todo o ano entre os 20ºC e os 25ºC, nesse sentido, as Canárias são um excelente destino para quem gosta de fazer praia e não pode tirar férias no Verão. 

    Durante a nossa estadia, tivemos o cuidado de jamais repetir uma praia. Todos os dias fizemos piscina no hotel e reservámos as restantes horas para conhecer um local distinto, uma praia diferente. A ilha está longe de ser uniforme no que respeita às suas características. Se o litoral é seco, com dunas escaldantes, o interior é mais húmido, com bosques e serras que se elevam em altitude. Por uma questão de gestão do tempo, afastámos a ideia de conhecer o interior, cujas paisagens nos remeteram muitíssimo à Galiza. O nosso principal objectivo foi por um lado fazer praia e piscina, que adoro, e pelo outro, considerando esse objectivo, variar o mais possível. Sendo uma ilha, a Gran Canaria tem uma extensão territorial apreciável, 1.560 km2, o que a torna na terceira maior do arquipélago, suficientemente grande para ter autoestradas com três faixas de rodagem e inúmeras carreiras de autocarro. Em termos de comparação, a área metropolitana de Lisboa, conhecida por Grande Lisboa, tem uma área de 1.381 km2, um pouco menos que a Gran Canaria. Conseguem, então, ter uma ideia aproximada da extensão, que é significativa. Geralmente, nós, continentais, ou peninsulares, como lhes chamam os espanhóis aos seus nacionais que vivem em território continental, temos um conceito errado de ilha. Há ilhas maiores do que Portugal: Cuba, a Islândia, a Grã-Bretanha, Madagáscar, e outras muitíssimo maiores, como a Gronelândia, por isso, nada mais errado do que aquele dito jocoso de que numa ilha corremos o risco de cair da cama e acabar no mar.

    Na próxima publicação, começarei então a relatar mais pormenorizadamente a nossa passagem pela Gran Canaria.


Todas as fotos foram captadas por mim. Uso sob permissão.