31 de dezembro de 2019

O ano em revista.


    Se pudesse dividir o presente ano em duas partes, no campo pessoal, diria que a linha que as separa assenta pelo meio. Junho é o meio do ano civil e foi o meio do meu ano. Os primeiros seis meses foram um seguimento de 2018, entre idas ao cinema, passeios culturais, aulas e exames; os últimos, com um abrandamento a todos os níveis, se exceptuarmos ali os festivais de cinema.

   Em Janeiro, Bolsonaro iniciou o seu mandato. Por cá, um líder da extrema-direita era convidado num programa de televisão, gerando-se uma enorme polémica. Quanto a mim, estive na Fragata Dom Fernando II e Glória, no Cristo-Rei e no estaleiro do Museu da Marinha. Tivemos um mês atribulado, com confrontos entre policiais e minorias étnicas. Entretanto, fiz umas remodelações no blogue, que ressurgiu de cara lavada. Pelo meio, fui ao elevador da Ponte 25 de Abril (Pilar 7), ao Castelo de São Jorge e à Sé de Lisboa. No fim-de-semana seguinte, ao Oceanário, pela primeira vez, que adorei, e no último passei pelo Palácio-Convento de Mafra. Houve ainda muitas idas ao cinema.

   Em Fevereiro, comecei por ir ao núcleo de arte antiga do Museu Gulbenkian. Mais tarde, fui à exposição de Sorolla, no MNAA, e ao Museu da Saúde, ali pelo Campo Mártires da Pátria. O último fim-de-semana do mês levou-me à Casa-Museu Amália Rodrigues. Vi também muitos filmes, sobretudo dos nomeados aos Óscares, mas não só; vi alguns clássicos na Cinemateca Portuguesa, entre eles O Último Tango em ParisGata em Telhado de Zinco Quente, com a inesquecível Elizabeth Taylor. Creio que não lhes disse, mas os meus vizinhos de cima são venezuelanos (um deles luso-descendente). E foi justamente sobre a Venezuela e a sua situação política a minha última crónica do mês, que findou com uma análise aos Óscares.

   Em Março, dos filmes comerciais queria destacar um sobre Snu Abecassis, a companheira de Sá Carneiro. Neto de Moura «lançava os foguetes e apanhava as canas», e a polémica com a naturalidade de Magalhães estava instalada entre portugueses e espanhóis. Na Europa, tínhamos conhecimento dos efeitos do ciclone em Moçambique e toda a onda de solidariedade que se gerou.

    Em Abril, assinalei aquilo que me pareceu ser, e ainda parece, uma revolução na mobilidade urbana de Lisboa, nomeadamente, com a introdução dos novos passes sociais. A propósito de uns comentários lidos nas redes sociais, discutia-se se o fascismo e nacional-socialismo alemão eram movimentos da esquerda política. Aos 62 anos, morria-nos Dina e, pelos mesmos dias, Madonna apresentava-nos Medellín, o primeiro single do apregoado álbum com inspirações lusitanas. No dia 25, mais uma crónica sobre a Revolução, que este ano trouxe consigo uma visita à Assembleia da República. As idas ao cinema, já sabem.

   Em Maio, fiz referência ao XI aniversário do blogue. Já se antecipava a histórica derrota da direita com um intento de crise política. Falou-se das europeias no encerrar do mês.

    Em Junho, participei de uma conferência da Nova Portugalidade, Salazar e a Restauração da Monarquia. Foi um mês de muito estudo para os exames; em todo o caso, ainda tive tempo para passar pela Feira do Livro para adquirir alguns bons volumes. Simultaneamente, comecei a acompanhar a Copa América.

   Em Julho, dava início ao ciclo de festivais de cinema que marcariam o Verão, com uma breve passagem pela mostra de cinema brasileiro em Lisboa. Após exames e uma oral, o ano lectivo, com "c", lá terminou e deixou-me desimpedido para outras actividades, como por exemplo visitar o veleiro Américo Vespúcio, que esteve uns dias atracado em Lisboa, ou assinalar os cinquenta anos da chegada do homem à Lua.

     Em Agosto, dei por encerrada a leitura que rivalizou com os livros de Direito durante meses, O Impiedoso País das Maravilhas e o Fim do Mundo, o meu primeiro de Haruki Murakami. Fui de férias para o Algarve, e bem precisava, mas continuei a acompanhar a série que ainda comecei a ver por cá, Chernobyl, que recomendo, aliás, no canal HBO. E tive cinema, claro, como em todos os meses. Não preciso estar sempre a lembrá-lo.

      Em Setembro, o mundo recordava o início da II Guerra Mundial, e eu procurava aproveitar alguns descontos na Feira do Livro de Belém. Os festivais começaram em força, com o MOTELX. Em Portugal, já só se falava dos debates das eleições legislativas; eu preparava-me para o segundo grande festival do mês, o Queer Lisboa 23.

     Em Outubro, escrevi tanto como não fazia há anos. Vinte e sete publicações. Creio que desde 2010 que não publicava tanto. O ciclo de mortes, infelizmente, haveria de marcar o último trimestre de 2019. O primeiro a deixar-nos foi o Prof. Freitas do Amaral, em cujo velório fiz questão de comparecer. Compareci também numa conferência da Nova Portugalidade subordinada ao tema da regionalização, à qual me oponho e que vinte anos depois volta a estar na ordem do dia. Tracei uma breve análise às eleições legislativas e ainda tive tempo para estar presente numa exposição e palestra evocativas das relações entre Portugal e o antigo Sião. O mês foi muitíssimo rico em cinema, quer em filmes actuais, quer em clássicos do cinema francês. Se quiserem e puderem, revejam toda essa actividade bastante profícua no separador respeitante a Outubro. Destacaria alguns apenas: Sans toit ni loi, Parasitas e aquele que para mim é um dos melhores filmes portugueses de sempre, A Herdade, entre muitos outros. Mas não só de cinema se fez o mês: a peça Antígona esteve nos palcos do Dona Maria II, e eu escolhi um dos últimos dias.
 
     O Miguel faleceu no dia 9.

     Em Novembro, Joacine Katar Moreira, pelos piores motivos, era notícia na imprensa. Cem anos antes, Sophia de Mello Breyner Andresen nascia. Fui à FCSH da Nova da Lisboa, a uma conferência sobre o galego e o português, e ao grande evento da Nova Portugalidade na Casa de Goa, O Império Contra-Ataca. Houve clássicos no cinema: Um Crime no Expresso do Oriente.

     Em Dezembro, abracei os concertos de Natal. Tive o Concerto de Fim de Ano, o AmeriChristmas, o Concerto de Homenagem ao maestro Michel Corboz, o Concerto da Orquestra Clássica Metropolitana, no São Luiz, e As Grandes Canções Natalícias Clássicas e do Cinema, no Convento dos Cardaes. A vocalista dos Roxette, Marie Fredriksson, deixava-nos precocemente, bem assim como o Prof. Silva Dias. Dias antes do Natal, aceitei o convite do caro Manel para um agradável jantar.


     O ano em que a blogosfera mais se ressentiu teve o mês em que, paradoxalmente, mais publiquei desde que o blogue surgiu: vinte e sete publicações em Outubro. É obra! Diria mais: foi o ano em que descobri que o blogue se valia por si só. Blogues houve que não resistiram ao tempo, à falta de reconhecimento ou ao tédio dos autores. Durante anos, julguei que as pessoas escreviam por gosto. Depois, vim a saber que também o faziam à procura de fama e de dinheiro. A frustração, num e noutro casos, levou-as a abrandar ou até a dar por encerrada esta grande aventura. Uma aventura que honra o nome que há quase doze anos escolhi para lhe dar início. Uma aventura cada vez mais minha e menos para quem me lê, porém, partilhada com os poucos que valem a pena. Uma aventura da qual me orgulho, indiscutivelmente.

      Deixo-lhes os sinceros votos de uma excelente entrada em 2020. Ah, e por favor: não comemorem a mudança de década. Os loucos anos 20 deste século começam em 2021.
       Um Bom Ano Novo! Vemo-nos por aí.


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27 de dezembro de 2019

Professor Augusto Silva Dias (1954-2019).


   Uns dias antes do Natal, mais concretamente no dia 19, soube da morte de um ex-professor, o Prof. Augusto Silva Dias, um dos maiores penalistas deste país, insigne professor e jurista. Foi o meu docente da disciplina de Direito Penal III, no ano lectivo de 2014/15.

   Na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, encontram-se muitos alunos com más opiniões sobre os professores. A exigência muitas vezes é confundida com a má vontade, e às tantas gera-se a ideia de que os professores daquela casa são implacáveis. Haverá de tudo. Uma vez que são tão bons, que tanto deram de si, querem o retorno. É natural que nem sempre as notas reflictam o estudo feito, mas é aí que distinguimos entre o mau, o razoável e o bom. E o bom há-de sê-lo sempre na sua área. O que se passa é que temos gente que se julga boa, ou que quer ser boa, numa área que, por vocação, não é a sua. Aplica-se-me também.

   O Prof. Silva Dias, sendo regente, não lidava de perto com os alunos. Os professores assistentes têm outra proximidade, mediante que são eles os responsáveis pelas aulas práticas, aquelas que se ministram em salas pequenas. A Direito Penal III, tratando-se de uma disciplina optativa, não éramos muitos. O Senhor Professor conseguia, ao menos visualmente, ter uma ideia do rosto de cada um de nós, ou pelo menos daqueles que se sentavam nas filas da frente. Era o meu caso. Não raras vezes eu e o Professor trocávamos olhares de anuência. Recordo-me ainda de, anos depois, quando nos cruzávamos pelos corredores, me cumprimentar. Não me havia esquecido.

   Esta partida lembrou-me da do Prof. Eduardo dos Santos Júnior, em 2016, meu professor anos antes (entre 2013/2014), de que só vim a tomar conhecimento em 2018 por ter estado uns anos afastado da faculdade. Também aí fiquei abalado. Gostava deste Professor. Da mesma forma que houve contacto visual com o Prof. Silva Dias, houve-o com o Prof. Santos Júnior. Houve mais: uma oral de passagem a Direito das Obrigações II, e o Senhor Professor foi extraordinariamente compreensivo comigo, o que até destoa do procedimento da maioria dos professores da FDUL nas orais. É o que se consta. Eu não tenho essa experiência.

    Num e noutro caso, não os sabia doentes. Ambos faleceram precocemente. O Prof. Silva Dias, com 65 anos; o Prof. Santos Júnior, com 59. Provavelmente ainda com tanto para dar à academia e à ciência do direito.

   Há coincidências curiosas. O Prof. Silva Dias morreu no início de Outubro. Vim a saber da sua morte mais de dois meses depois. Nesse meio-tempo, a FDUL inaugurou uma exposição evocativa da bibliografia do Senhor Professor e do seu contributo intelectual para o Direito Penal, a sua área, exposição essa que esteve patente do dia 20 de Novembro ao dia 20 de Dezembro, ou seja, um dia depois de ter tido conhecimento do seu falecimento. Ignorei a passagem da depressão Elsa e, munido de coragem, pus-me a caminho para visitar a exposição, no piso inferior da biblioteca. Deixo-lhes aqui o link das fotografias do evento (registo fotográfico). 
    
   Ao Senhor Professor, deixo o meu até sempre, lamentando não o poder encontrar mais por lá, quer enquanto aluno seu, quer enquanto aluno da instituição.

24 de dezembro de 2019

Feliz Natal.


   Natal, o que é o Natal? Um dia de gula, de consumismo, ou o dia em que verdadeiramente assinalamos o nascimento do Messias em comunhão? Parece-me bem que o Natal vem sendo mais o primeiro. Esta deturpação daquilo que é o Natal, observado desde os primeiros séculos da nossa era como o marco do nascimento de Jesus, é um caminho sem volta. 

   Foi o Papa São Júlio I que, em torno do século IV, definiu o 25 de Dezembro como o dia de Natal, o dia consagrado ao Senhor. Em rigor, a Igreja aproveitou as festividades pagãs que já eram celebradas naquela época para mais facilmente conseguir fazer chegar a palavra de Deus aos povos. Séculos depois, o Natal tornou-se feriado no Império Bizantino, nos tempos de Justiniano, caído que estava a ocidente o Império Romano, conquanto na Cristandade oriental seja comemorado a 6/7 de Janeiro.



    Não me alongo mais. Que todos nos possamos lembrar, ao menos por um momento, de Deus. Daquele que se fez carne para expiar os nossos pecados, para nos mostrar o caminho da vida eterna e para anunciar um reino «que não é deste mundo». Deus perdoou-nos os pecados, e a Sua misericórdia é infinita, o que, entretanto, não nos permite pecar continuamente. E pecamos. Pecamos quando temos desejos impuros, carnais. Pecamos quando cometemos actos contra a natureza humana. Pecamos quando blasfemamos. Pecamos quando mentimos. Pecamos quando somos egoístas e rancorosos. Pecamos quando fazemos somente o mal. Atentem nisto.

    A todos os meus leitores, aos que o são e aos que o foram, e àqueles que passarão casualmente por aqui, um Santo e Feliz Natal.

23 de dezembro de 2019

Concerto de Natal - Orquestra Clássica Metropolitana no São Luiz e As Grandes Canções Natalícias Clássicas e do Cinema.


    Esta quadra foi profícua em concertos de Natal. A juntar-se aos três a que havia ido, Concerto de Fim de Ano, AmeriChristmas e Concerto de Homenagem a Michel Corboz, no dia 18 estive no Teatro Municipal São Luiz para o Concerto de Natal - Orquestra Metropolitana e, mais recentemente, no dia 21, estive no Convento dos Cardaes para As Grandes Canções Natalícias Clássicas e do Cinema.

   Dois espectáculos diferentes, mas que se complementaram: o primeiro, de música clássica; o segundo, de música natalícia erudita e popular. Dos cinco, estes foram aqueles que se debruçaram mais sobre o Natal, que era exactamente o que queria. O AmeriChristmas causou-me alguma decepção.


    A Orquestra Metropolitana revisitou a música que o compositor russo Tchaikovski estreou no Teatro Bolshoi, em 1977, o inesquecível Lago dos Cisnes. Antes disso, desfrutámos da espiritualidade de Mozart, num primeiro momento com a abertura orquestral de ópera que o compositor de Salzburgo ofertou à cidade de Viena, em 1782. De seguida, a flautista Janete Santos teve solos que fizeram render qualquer um, evocando A Flauta Mágica, de Mozart também.



   Lá fora, a chuva prenunciava uma quinta-feira difícil, mas dentro do São Luiz respirava-se boa música. Por curiosidade, fiquei num camarote individual. Deixo-lhes algumas fotos e um registo em vídeo.




   No sábado, já refeitos da passagem da depressão Elsa, que provocou o caos em Portugal Continental, sobretudo, fui ali para os lados do Príncipe Real, no Convento dos Cardaes, ao As Grandes Canções Natalícias Clássicas e do Cinema, que contou com a participação do barítono Pedro Miguel Nunes e do tenor Diogo Tomás, acompanhados ao piano por Daniel Sanches. O pequeno concerto, intimista, teve lugar na igreja do convento, ricamente decorada. Um espaço lindíssimo que os convido a visitar e conhecer. De Adeste Fideles, cuja autoria até se atribuiu ao nosso Dom João IV, passando por O Holy Night, cantou-se ainda Judy Garland, Nat King Cole e Barbra Streisand. Uma saudável conjugação dos clássicos de sempre, seja do cinema, seja das velhas composições que nos acompanham há séculos.



     Um concerto maravilhoso. Terá sido, com o do São Luiz, aquele que mais me preencheu. Deixo-lhes algumas fotos.




  E vocês, estiveram nalgum concerto de Natal?

21 de dezembro de 2019

Dear Jesus.


   Lisboa, aos vinte e um de dezembro de dois mil e dezanove,




   A ti,




    Este ano, dei por mim a pensar no que te pedir. O que te dizer que ainda não o saibas, quando tu conheces o que vai no nosso coração? Coragem para enfrentar as adversidades? Talvez seja aquilo de que necessito, acima de tudo, para além de tudo.

  Há dias, como tão bem sabes, defendi acerrimamente a tua existência corpórea perante um tipo que te negava. Ver para crer, não é? «Homens de pouca fé», como disseste, e nada se alterou nestes dois mil anos. Pelo contrário. Continuam a zombar da tua palavra, das tuas representações. Utilizam os novos meios tecnológicos para te caluniar e blasfemar. 
   Imagino a tristeza que te invadirá e ao Pai. Perdoa-os. Perdoa-nos. Na tua infinita bondade e misericórdia, intercede por nós para que não nos condenemos para sempre na nossa ignorância e perfídia.

  Tenho um pedido especial. Partiram recentemente duas pessoas que conheci, e gostaria que as mantivesses junto ao teu peito. Falo-te do Miguel e do Prof. Silva Dias. Desconhecendo as suas crenças pessoais, sei que para ti nada é impossível.

   Não te incomodo mais. Continua a zelar por mim e pelas pessoas que me são próximas. Continua a tolerar as minhas fraquezas e os meus erros e a compreender as minhas frustrações e incapacidades. Eu sei que sabes de tudo. Sabes porventura mais do que eu. Sabes aquilo que não me é permitido lembrar. Sei que és justo, sei que não me virá mal que não o mereça, e é por confiar inteiramente na tua justiça que não temo o futuro. Não o temo mais. 



Aguardando que te manifestes em mim e esperando que jamais me abandones,
Mark

20 de dezembro de 2019

Concerto de Homenagem a Michel Corboz e Jantar de Natal.


     Na terça-feira, estive na Gulbenkian, no concerto de homenagem aos cinquenta anos da direcção de coro da fundação pelo maestro Michel Corboz. Foi precisamente a 17 de Dezembro de 1969 que o suiço se tornou Maestro-Titular do Coro Gulbenkian, com um programa de luxo: Monteverdi e Bach. Hoje, o maestro tem 85 anos, já está debilitado, mas ainda continua a fazer música. Claro está que esteve presente neste concerto em sua homenagem, tendo sido, inclusivamente, chamado ao palco para dirigir Jesu, meine Freude de Bach, o seu compositor favorito.




   Imediatamente antes do concerto propriamente dito e depois do pequeno discurso de quinze minutos da Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Isabel Mota, pudemos assistir a um pequeno documentário de quarenta e três minutos sobre o percurso de Michel Corboz na Gulbenkian, incluindo testemunhos de pessoas que com o ilustre maestro trabalharam ao longo destes cinquenta anos, particularmente os coralistas. Chamou-se "A música é bela, os aeroportos são tristes", em palavras do próprio Corboz, que considera a "a voz humana o instrumento mais natural e aquele que está directamente ligado às emoções".




   O Coro Gulbenkian, com antigos e actuais coralistas, interpretou Monteverdi, o Magnificat de Francisco António de Almeida, duas canções tradicionais portuguesas, Ó limão, verde limão e Vira do Minho, o O ma joie (Salmo 121) e, como referido acima, o motete de Bach dirigido por Michel Corboz. Gostei imenso das canções tradicionais portuguesas entoadas em coro. Se dúvidas houve acerca da beleza do folclore português, elas dissiparam-se nas vozes de coralistas de música clássica.

     Já sabem que lhes deixo algumas fotos e um pequeno registo em vídeo.



  Dias antes, um leitor assíduo do meu blogue, e agora amigo, o Manel, e é assim que se identifica nos comentários que tão gentilmente aqui deixa, propusera-me um jantar por Lisboa. Em anos anteriores, tenho convidado o Manel para os jantares de Natal que organizo, e o Manel, por não se sentir à vontade entre muitos, sempre declinou os meus convites. Este ano, antecipou-se, e sabendo de antemão que me negara a organizar um jantar, pelos motivos que expus numa publicação recente, achou por bem que eu merecia ter o meu jantar de Natal, discreto, sem algazarras.




     O Manel fez-me prometer que não o diria, mas vocês já sabem que a hipocrisia não faz muito o meu estilo: foi o melhor jantar de Natal de todos. Com duas pessoas, é certo, e mais não fizeram falta. Houve tempo para conversar, para degustar, para sorrir e até para se falar dos aspectos menos positivos da vida e da experiência bloguística. E houve um presente que o Manel me deu. Um livro de Isabel Allende, de quem nunca li nem comprei nada. O Manel teve uma certeira intuição, que há muito ando com vontade de ler a autora chilena. Pela primeira vez neste tipo de encontros senti verdadeira honestidade, amabilidade e franqueza.

   Resta-me agradecer ao Manel, desta vez publicamente, aquelas horas tão bem passadas, o convite, a companhia e o presente, que adorei.

17 de dezembro de 2019

AmeriChristmas.


  No sábado, estive então presente no concerto de Natal organizado pela Universidade de Lisboa, na Aula Magna. Antes disso, pude passear um pouco por Lisboa, uma vez mais, observando as decorações natalícias. Andei novamente pela Avenida da Liberdade e Chiado. Nunca me canso.

  O concerto contou com a actuação da Orquestra Académica da Universidade de Lisboa, e tanto talento têm. Se repararem, o nome do evento tem um caricato trocadilho: AmeriChristmas, ou seja, a junção de America mais o vocábulo Christmas, que em inglês significa Natal. Tudo unido, soa-nos à felicitação Merry Christmas, ou Feliz Natal, no nosso idioma.




   Neste concerto, privilegiaram-se obras de grandes compositores do continente americano, todo ele, incluindo o Brasil. Um pouco diferente da oferta dos anos anteriores. Não se ouviu qualquer música natalícia. Interpretaram e tocaram A. Copland, L. Bernstein, S. Barber, A Márquez, H. Villa-Lobos, Tom Jobim e G. Gershwin. Um programa ambicioso que começou pelas 22h e se prolongou até perto da meia-noite. Houve coreografias em algumas obras, que estiveram a cargo da Faculdade de Motricidade Humana da UL. Gostei particularmente do célebre Adagio de Barber e de Chega de Saudade, de Tom Jobim. Registos diferentes.

  Devo dizer que estranhei. Gosto muito das composições de Natal. Estranhei e depois entranhei, como costumamos dizer.

    Deixo-lhes algumas fotos e um registo audiovisual que captei já a pensar nesta publicação.



     

13 de dezembro de 2019

Compras de Natal e "One From the Heart" (1982).


   Ontem, fui às compras de Natal. Comprar uns pequenos mimos para mim e para as pessoas que me são mais próximas. Como creio que lhes tenha dito, não tenho por hábito oferecer (a não ser à minha mãe), como não é costume na minha família trocar-se presentes. Os meus pais nunca me compraram nada sem que eu não os acompanhasse. Pelo Natal, levavam-me às lojas e eu comprava o que queria. Não tem tanta graça, é verdade, e é uma deturpação da essência de se comprar algo para oferecer: o factor surpresa e a demonstração de gentileza / carinho de quem oferece. Acontece que assim evitavam uma frustração caso não gostasse, e é difícil apurar-se ao certo aquilo que uma criança quer. Já havia muita tecnologia nos anos 90.

  Compras feitas por aí, num dos centros comerciais da cidade, decidi ir almoçar à Avenida da Liberdade enquanto esperava pela sessão das 15h na Cinemateca. Mais um clássico, desta feita um de 1982, de Francis Ford Coppola, One From the Heart. E o que se me apraz dizer sobre este musical do início dos anos 80? Desde logo, creio que agora sei onde Damien Chazelle foi buscar inspiração para o La La Land. Notei tantas semelhanças, sobretudo nos números musicais. Tal como este último, One From the Heart pode deixar um gosto amargo em quem vai à espera de algo verdadeiramente arrebatador; não o é. É uma reinvenção do género musical, com uma falha aqui, uma imprecisão ali. Na busca pelo sonho, notei um certo descuido até nos cenários, mesmo considerando o ano em que o filme foi rodado. Este filme não honra as produções hollywoodescas, inclusive nos gastos exorbitantes que as rodeiam sempre.




   Inteiramente passado na noctívaga Las Vegas, os sentimentos e as angústias daquelas personagens perdem-se  no meio de tanta luz, tanta festa e tanto brilho. A cidade é como que um parque de diversões enorme, onde não há lugar para os infelizes. Aquele optimismo e a animação chegam a ser sufocantes.

   Coppola e o director de fotografia procuraram criar duplos planos no plano, num jogo de sombras e espelhos que nos cria a ilusão de coexistirem espaços diferentes dentro do mesmo plano. Tal é observável em algumas cenas. Um virtuosismo ambicioso naquela época, pretendendo-se fazer escola com isso. Acontece que a receptividade não foi condizente com a ambição de Coppola, que quis resgatar o musical e manter o trilho de produções bem-sucedidas dos anos 70 que o tornariam num dos maiores nomes da indústria da sétima arte norte-americana.

    Particularmente, gostei do filme pelo tanto que me fez imergir numa realidade diferente da minha. Julgamos estar num sonho, um sonho apaixonante. Não foi uma má experiência, não foi. Dificilmente tenho más experiências com os anos 80.

11 de dezembro de 2019

Marie Fredriksson (1958-2019).


   Os Roxette eram aquele duo - durante muito tempo julguei tratar-se de uma banda - que gerou em mim a ideia de que qualquer música que lançasse automaticamente se poderia converter em single de estrondoso sucesso. A sonoridade não variava muito, verdade se diga, mas as suas power ballads fizeram-nos suspirar por muito tempo. Evidentemente, também eu tenho duas ou três na minha playlist da Apple Music, daquelas mais emblemáticas. Foram igualmente, diria eu, um dos meninos bonitos da rádio. As canções são orelhudas, apelam ao sentimento. Não havia noite naquele programa da RFM, Oceano Pacífico, sem baladona dos Roxette. A minha adolescência foi vivida com a Milk and Toast and Honey (2001).

  Sabia vagamente que a vocalista lutava contra um tumor cerebral. Devo de o ter lido algures pela net. Dezassete anos a lutar contra um cancro é obra! Com os novos tratamentos, o cancro vai-se tornando naquela doença crónica. Tem-se um cancro. Vive-se com um cancro. Só que se vive mal, de forma incapacitante. Mais uma vez aqui, não consigo deixar de pensar no Miguel, que lutou contra um durante umas duas décadas, ou mais. Para morrer, não deveria ser preciso sofrer-se tanto.

  Pronto, os Roxette terminam assim, deixando-nos um legado interessante no pop rock romântico. Foram os suecos que mais conquistaram o mundo depois dos ABBA. Atingiram várias vezes o topo das tabelas musicais dos EUA, o que não é para todos.



10 de dezembro de 2019

Concerto de Fim de Ano.


    No sábado, estive presente no Concerto de Fim de Ano - 19º Gala de Ópera da Universidade de Lisboa, na Aula Magna, que contou com a presença não só do Exmo. Sr. Reitor da Universidade de Lisboa como também da Ministra da Cultura. Um serão memorável, principalmente para quem, como eu, gosta de ópera, coros e orquestras. As árias estiveram a cargo de Alexandra Bernardo, soprano, Larissa Savchenko, contralto, e de Armando Possante, barítono. O maestro foi Christopher Bochmann. Nos coros e na orquestra participaram a Orquestra Sinfónica Juvenil, fundada em 1973, o Coro da Universidade de Lisboa, fundado em 1961, o Coro de Câmara do Instituto Gregoriano de Lisboa e o Incognitus Ensemble, fundado ainda este ano.


Lotação esgotadíssima


   Tamanho profissionalismo e entrega só honrou os músicos que ali estiveram. Ouviu-se Borodin e Tschaikovsky, dois dos grandes nomes da ópera russa, e Verdi, o maior nome da ópera italiana. Duas horas de pura magia, posso-lhes garantir. É ainda de certa modo inspirador ver miúdos, que o são, com tanto talento numa arte minuciosa como o é a da música mais erudita. Manusear aqueles instrumentos envolve tanto afinco e delicadeza só ao alcance de quem nasce com o dom e se esforça para o aprimorar.



    Deixo-lhes algumas fotos e um pequeno registo em vídeo já a pensar nesta publicação. Entretanto, antes que me vá, deixem-me que lhes diga que este sábado estarei no concerto de Natal da Universidade de Lisboa, também na Aula Magna.

3 de dezembro de 2019

Lisboa abraça o Natal.


   Ontem ao final da tarde, fui até ao centro da cidade ver a iluminação de Natal. Sabem que gosto imenso da quadra, pelo brilho, pelo espírito, pela doçaria. É algo meio infantil da minha parte, eu sei, e há dias comentava já-não-sei-com-quem: os reveses ainda não me tiraram o gosto pelo Natal.

  Desci a Avenida Almirante Reis em direcção à Praça da Figueira. Segui caminho pela Rua do Carmo, Almeida Garret e cheguei à Praça de Luís de Camões. Na sexta, fiz outro percurso, começando no Marquês, Avenida da Liberdade, Rossio e Terreiro do Paço.


Martim Moniz


  A minha primeira impressão, na sexta, não foi das melhores. Exceptuando a árvore gigante do Terreiro do Paço que tem sempre graça, embora seja muito igual às de anos anteriores, a Avenida da Liberdade está menos brilhante. No ano passado, se bem se recordam, foi decorada com um género de luzes que pendiam dos ramos. Luzes brancas. Este ano, tem umas bolas douradas e prateadas. Está escura. O Rossio está exactamente igual, com o Teatro Dona Maria II imaculadamente decorado, mas a árvore é igual à de 2018. 

Praça de Luís de Camões


   O passeio de ontem salvou um pouco a imagem que já tinha formado sobre os esforços do executivo de Medina na iluminação de Natal (ele que promete mais um sem-número de obras públicas para a requalificação da zona ribeirinha, quiçá tendo em vista esconder os verdadeiros problemas da cidade: gentrificação, especulação imobiliária ao nível das principais metrópoles do planeta, um custo de vida insuportável, caos nos transportes públicos e uma malha urbana devoluta e, em muitos casos, em risco de colapso). 
  A Almirante Reis está melhor do que a Avenida da Liberdade. A Praça do Chile tem uns ornamentos engraçados nas árvores. Não subindo a Morais Soares, deu para ver que está interessante, para compensar a penumbra na Praça da Figueira. Contudo, do que gostei mais foi da bola gigante na Praça de Luís de Camões. De enormes proporções, tem duas entradas para que possamos aceder ao seu interior, no mesmo esquema aplicado à árvore.


Terreiro do Paço


    Calcorrear Lisboa para apreciar as suas luzes de Natal, ao som de clássicos musicais natalícios, vem sendo um costume meu. Deixo-lhes algumas fotos por mim captadas.