26 de outubro de 2021

Descolonizar a cabeça.


    A minha posição nesta matéria tem mudado ao cambiante da sensibilidade. Ultimamente, tenho-me afastado das visões românticas do colonialismo. Se julgamos que o nosso valor está nas conquistas dos séculos passados, muito pouco temos para dar. Sem floreados, em que é que consistiram os descobrimentos portugueses, espanhóis, franceses, holandeses, ingleses etc? Conquistas através da força, desrespeitando-se os povos autóctones, as suas culturas, tradições, usos, costumes e línguas. Impusemo-nos valendo-nos da nossa superioridade bélica. Chegámos a territórios que nos pareceram climaticamente convidativos, ricos em minérios, biodiversificados, com potencial agrícola para as grandes plantações e com populações que desconheciam o nosso deus, prontas para ser evangelizadas (isto sobretudo no caso dos ibéricos). Parece-nos razoável? A mim, não.

   A Europa é um continente disposto numa miríade de realidades políticas pequenas, se excluirmos a Rússia, cuja principal parcela de território se encontra na Ásia. É tudo uma questão de tamanho. É-o assim com os homens e os pénis (Freud explica-o), com as mulheres e as maminhas e com os Estados e os seus impérios. Quanto maiores, mais galvanizados se sentem. Entendo a motivação, mas cada vez mais a considero escusável, irrealista e inclusive deplorável. Sentir orgulho sobre uma história de horrores é próprio de gente sem um pingo de noção, e numa era em que as relações se fazem de igual para igual entre os estados, ou seja, sem esse respeito reverencial dos colonizados pelos colonizadores, eu imagino o constrangimento de uns e os risos cínicos de outros quando se sentam à mesa, para tratar de negócios, empresários mexicanos e espanhóis, por exemplo. É absurdo. Não vale a pena supor que o mundo, lacto sensu, vê a Europa como o berço da civilização porque não o vê; que vê no colonialismo todas essas glórias de uns velhos do restelo presos ao passado porque não o vê. Bem antes pelo contrário. Convinha que começássemos a tomar consciência da realidade e a perceber que somos herdeiros de um passado mais embaraçoso do que digno de alarde.

2 comentários:

  1. Não se pode apagar a história, mas pode-se educar as pessoas

    Digo eu que nada sei

    Abraço amigo

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    1. Eu ainda acrescento que se está sempre a tempo de mudar. Eu também me sentia “inchado” quando pensava na epopeia portuguesa. Cheguei à conclusão de que além de não ser motivo de orgulho nenhum pelos erros que se cometeram, não é nisso que se vê o valor de um povo.

      Um abraço.

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