Ontem, dia 9, tivemos outros três debates para as legislativas de Março. Sem mais delongas, começando pelo primeiro, Iniciativa Liberal-PAN, foi um debate da ideologia, a IL, vs. um partido das causas, o PAN. Falou-se pela primeira vez de ambiente. A IL defende a energia nuclear, que é efectivamente uma energia limpa, porém, e bem, Inês Sousa Real lembrou que Portugal tem um problema crónico de seca, e os reactores nucleares necessitam de água para arrefecer. Ressalvo que, aparentemente, a IL já não nega a emergência climática.
Falou-se também de corrupção, com, uma vez mais, o PAN a acusar a IL de ter votado contra num caso de alegada corrupção protagonizado por Galamba. A IL, pela sua ideologia, é sempre acusada de querer dar as mãos à banca e ao grande capital. Nesse sentido, Sousa Real referiu mesmo que o que a IL promete é, e cito, “um bilhete para um parque de diversões”, aludindo, estou em crer, à impossibilidade de concretização do programa da IL. Por seu turno, Rui Rocha acusou o PAN de ter estado ao lado do PS na votação dos OE, procurando colar o partido ao Governo socialista e ao estado actual do país.
Foi um debate civilizado, com uma Inês Sousa Real mais agressiva, sendo que Rui Rocha soube-se defender. Destaco de novo o afastamento -provavelmente deliberado- do PAN da sua tradicional agenda muito focada nos animais. Imagino que seja estratégia para chegar às pessoas, o P de PAN, contudo, esse nicho animalista-ambientalista é do PAN, pode ser o que lhe garanta a sobrevivência (o partido passou de 4 deputados para 1, e arrisca-se a não eleger nenhum). Ao deixar passar em branco os animais, tem o LIVRE a disputar esse eleitorado.
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E foi precisamente entre o LIVRE e o PS que tivemos o segundo debate da noite. Um debate calmo. Vislumbra-se ali um hipotético casamento, passo a expressão, se o eleitorado o permitir, entre PS e LIVRE. Pedro Nuno Santos quis apelar ao voto útil no PS, ao que Rui Tavares respondeu com a necessidade de aumentar a representação do seu partido na Assembleia da República. Numa jogada bem dada, disse que útil é ajudar as pessoas nos seus problemas quotidianos, procurando desviar-se dessa vertente mais “pedincheira”, se me permitem, de um PS que não sabe se ganha, se perde. Naturalmente, o LIVRE está mais à vontade nas propostas que faz, não sendo um partido com aspirações governativas.
O secretário-geral do PS -numa atitude que, aliás, é muito comum nos políticos- respondeu às questões apresentadas pelo moderador como bem lhe pareceu. Não foi claro se viabilizará um governo minoritário da AD, tendo dito, não obstante, que seria um risco demasiado elevado deixar a oposição para o CHEGA, isto é, se o PS não ganhar e não conseguir governar, e também o frisou, faz oposição.
Falou-se dos professores e dos cortes na carreira, de habitação, do Serviço Nacional de Saúde, onde ambos, regra geral, convergiram.
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Eu estava muito expectante com o último debate do dia entre o CHEGA e o PCP. Imaginava um confronto difícil. Superou as expectativas. Foi um debate terrível para ambos. Ventura ganhou, sobretudo pela impreparação de Paulo Raimundo, que se apresenta pela segunda vez num debate de forma muito mal, sem dominar os temas, com uma atitude displicente. Trocaram-se inúmeras acusações. O CHEGA acusou o PCP de ter assassinado pessoas em 1974, durante o PREC (sim, foi-se tão longe quanto isso), houve ameaças… Enfim. Já sabíamos que existe um fosso insuperável entre comunistas e… cheganos?, exigindo-se, ainda assim, um mínimo de bom senso e cordialidade de ambas as partes. Como ouvi por aí, Raimundo chegou de foice e Ventura passou-lhe por cima com o seu já habitual tractor demagógico e populista, no entanto, convém dizer-se, Ventura também não esteve bem. Ganhou com recurso a ataques populistas.
Paulo Raimundo embrulhou-se ao ter comentado que a corrupção está nas privatizações. Uma afirmação leviana. A maior parte da corrupção em Portugal está no poder local, mas foi com a saída da União Europeia e do Euro, bandeiras do PCP, totalmente irrealistas nos nossos dias, que Ventura deu o golpe final. O secretário-geral do PCP simplesmente não respondeu. André Ventura também entalou Raimundo, passo novamente a expressão, com um caso de venda duma sede do PCP em Aveiro que se transformou num edifício com apartamentos à venda por valores que rondam os quinhentos mil euros. Num momento em que Portugal vive uma crise da habitação, como se explica esta atitude do PCP em vender uma sede que vai dar lugar a apartamentos de luxo? Não foi esclarecido.
Raimundo, nos debates que se seguem, terá de mudar de postura e vir melhor preparado, caso contrário antevejo tempos muito difíceis para o PCP, que como se sabe é um partido que tem vindo gradualmente a perder influência junto do eleitorado, e estes debates ajudam, sim, ajudam muito na decisão pelo voto num ou noutro partido. Refiro-me no geral, embora, pasme-se, o PCP e o CHEGA, por mais antagónicos que sejam, disputam um eleitorado mais rural, agrícola, menos escolarizado, e portanto mais susceptível ao discurso populista de Ventura.