30 de dezembro de 2020

O ano em revista.


   Já vem sendo um clássico. Desde 2015 que, no último dia do ano, faço um balanço do mesmo, particularmente naquilo que ao blogue implica. Dois mil e vinte (2020), venho-o dizendo, foi extremamente positivo. No blogue, inclusive. Deixou de ser um espaço que me escravizava, como por ainda por aí se vê. Há quem publique por publicar, só para dizer "estou sempre aqui", e isso nunca me fez sentido. Ainda assim, sentia a necessidade, que continuo a sentir, embora menos, de partilhar todos os meus momentos e o que pensava. Este ano que agora finda, ao ter sido o ano da minha emancipação pessoal, ajudou a que o blogue fosse exactamente aquilo que ele deve ser: uma plataforma de complemento, de publicações reflectidas, mais cuidadas e meticulosas. Teria de recuar doze anos, a 2008, para chegar ao ponto em que publiquei ainda menos do que em 2020. A título de curiosidade, 2019, em contrapartida, foi o ano em que mais publiquei desde 2012. O mês de Outubro desse ano (2019) foi aquele em que mais publiquei de sempre, desde que o blogue existe. Teria de voltar a Julho de 2010 para encontrar um mês (quase) tão concorrido. Fait-divers.


    Vamos então, para não perdermos mais tempo, dar início à sequência cronológica deste ano nos seus principais acontecimentos.


    Janeiro começou logo a dia 6 com uma crónica sobre o Presidente dos EUA, Donald Trump. Dois dias depois, achei por bem ir a Espanha e à solução governativa alcançada, em tudo semelhante à portuguesa de 2015. Portugal começa a assistir a uma criminalidade violenta atípica, e esse mesmo foi o tema da crónica de dia 15.

    No dia 17, iniciou-se um ciclo de visitas que me levou desde logo ao Convento de Cristo, ao Castelo dos Templários e ao Museu do Fósforo, em Tomar.


    Em Fevereiro, mas ainda relativo a Janeiro (dia 20), publiquei, no dia 1, a visita a Azenhas do Mar e respectiva revisita ao Palácio da Pena. No dia 2 de Fevereiro, publiquei sobre a visita de 21 de Janeiro a Cascais (praia, marina, Museu do Mar, Museu Paula Rego e Boca do Inferno), o mesmo dia do meu primeiro concerto para ver Madonna na Madame X Tour. No dia 4, sobre o dia 22 de Janeiro, dei conta da visita, adiada vezes sem conta, ao Jardim Zoológico de Lisboa e, no dia seguinte, a 5, publiquei sobre a visita de dia 23 de Janeiro a Óbidos e ao Mosteiro de Alcobaça. No dia 8, escrevi sobre a visita de dia 24 ao Mosteiro de Santa Maria da Vitória (Batalha). Pelo meio, surgiram-me os Óscares (a propósito, teremos filmes para premiar no ano que vem?). Quase a terminar, no dia 12 relembrei a visita de dia 25 de Janeiro ao Santuário de Fátima e ao Centro Histórico de Ourém e, para concluir o ciclo, no dia 14 publiquei acerca do último itinerário de dia 26 a Évora (centro histórico, Sé de Évora e Museu de Arte Sacra e Igreja de São Francisco, vulgo Capela dos Ossos). Ao longo dessa agitada semana, comprei vários livros, e falei deles aqui. Antes de sair de Portugal, discorri sobre a eutanásia, sucintamente, remetendo quase todas as considerações para uma anterior publicação de 2016.

    Março arruma-se facilmente. Publiquei apenas duas vezes, a 18 e a 24: a 18, justificando, por assim dizer, o silêncio de semanas (começávamos a sentir os efeitos da COVID e achei por bem deixar algumas palavras); a 24, dando início às minhas impressões sobre Espanha (Ourense, mais especificamente).

    Em Abril, seguiram-se essas impressões, desta feita a Santiago de Compostela. O Diesel entrou nas nossas vidas a meio do mês das chuvas (a propósito, está aqui ao meu lado, deitado no escritório, enquanto escrevo).

   Maio trouxe a efeméride da puberdade do blogue -12 anos-, com o XII Aniversário. No dia 5, assinalou-se o primeiro Dia Mundial da Língua Portuguesa instituído pela UNESCO. Para finalizar, mais um olhar sobre Portugal e os seus apregoados, mas mentirosos, brandos costumes.

    Em Junho, as redes sociais, o quinto poder, popularizaram a onda das "vidas negras importam", o que me levou a fazer uma comparação entre o racismo estrutural norte-americano e o português. A amena Primavera trouxe também a vontade de desbravar a Galiza selvagem e a fluvial. Foi aqui, na Galiza, que me banhei tão cedo no ano (em Maio), numa barragem, e, mais tarde, numa praia fluvial.

    Julho trouxe-me mais vezes ao blogue. Logo no dia 2, fiz uma pequena análise ao histerismo social causado por André Ventura. Cinco dias depois, creio que tive a primeira reflexão sobre os tempos que vivemos de pandemia. Conheci Allariz, uma vila galega que aconselho. Assinalei o centenário do nascimento de Amália Rodrigues. Falei-lhes de Sylvester, um nome da disco que se perdeu precocemente, e ainda destaquei os cinquentas anos da morte de Oliveira Salazar.

    No pico do Verão, em Agosto, retornei a Portugal para visitar a minha mãe, que não via há meio ano, e passei uma semana no Algarve. No blogue, apenas fiz menção aos duzentos anos da Revolução Liberal de 1820.

    Em Setembro, dei o meu parecer, por assim dizer, à segunda obra de Haruki Murakami que li, Kafka à beira-mar, e tornei abordar a situação criada pelo vírus, desta vez no medo que levantou junto das populações. 

   Entretanto, em Outubro, dei por terminado outro livro, Memórias de Adriano, que há dez anos decorava uma das minhas estantes. A meio do mês, dei conta das vantagens e desvantagens, porventura, de se adoptar um animal. Estive em Bilbao. O Miguel morreu há um ano.

    Na falta de cinemas, que aqui não os temos, passei a acompanhar séries, e houve uma que me prendeu a atenção da 1ª à 7ª temporadas (e ainda não vi a 8ª e a 9ª porque não estão disponíveis na Amazon Prime). Falo-lhes de American Horror Story. Tivemos, pelo meio, as renhidas eleições nos EUA. Deixei um relato sobre a minha experiência com o transtorno obsessivo-compulsivo.

   A quadra natalícia deste ano trouxe neve pela primeira vez. Mostrei-lhes as fotos lhe tirei e à minha decoração de Natal. Fatidicamente, a violência de alguma polícia portuguesa continua a ser notícia.


   As considerações do final ficaram no começo. Resta-me agradecer a todos os que passam por aqui. Espero que, no próximo ano, possamos continuar a trocar impressões sobre este e aquele assunto. Tudo o que escrevesse agora só iria alongar a publicação, que não necessita de todo de palavras vãs. Está suficientemente preenchida. 

    Imagino que a maioria fique por casa à meia-noite. Eu sairei. Não de festas, mas sairei. Curioso. Muito curioso. Tal como o ano...

     Deixem lá. São pensamentos aleatórios, em voz alta. Vemo-nos por aí. Um excelente 2021!


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24 de dezembro de 2020

Merry Christmas.

 

   Uma breve passagem para desejar-lhes um feliz e santo Natal. Imagino que para muitos não seja uma quadra igual às anteriores, em virtude de estarmos ainda em meio de uma pandemia. Ainda assim, podemos sempre encontrar a força de que necessitamos no exemplo de Nosso Senhor: na sua companhia, nunca estamos sós. Ele é uma muralha forte e um porto seguro, sempre.

      Fiquem na sua paz. 




19 de dezembro de 2020

It will be the best Christmas night ever.

 

   Neste momento que lhes escrevo, do meu iPad e desde o sofá da minha sala, o cão restafela-se ao meu lado. Observo a árvore de Natal e toda a decoração do espaço, a que se junta a das restantes divisões. Caramba, este Natal esmerei-me. Gastámos imenso dinheiro em adornos e no serviço de Natal, um para a Consoada e outro para o Dia de Natal. Louças distintas para dias distintos. Será, tudo o indica, a melhor quadra de sempre. Já o está a ser, em rigor. Com brilho, requinte e um toque de doce meninice e fantasia.

   Os doces, fá-los-emos nós. Já decidi os que iremos fazer (e comer). É bem provável que, depois, lhes passe fotos do resultado final. A priori, não inovaremos muito, excepto num doce tradicional galego, chamado bandullo. No demais, serão doces portugueses. Quanto às refeições, também decidi inovar. Nem tanto no Dia de Natal, com o tradicional anho, mas na véspera. Sim, comeremos bacalhau. Não o bacalhau com couves, não. Irei confeccionar um bacalhau mais elaborado, digamos assim, que mo merece o meu marido, a quadra e inclusive a envolvência. De que adianta decorar-se a casa a rigor, fazer os doces em vez de os comprar para depois apresentar-se um bacalhau deslavado com couves e batatas? 


  As luzes cintilam. O seu reflexo brilha nos papéis de embrulho dos vários presentes dispostos harmoniosamente ao pé da árvore. O cão olha para elas com indiferença, e eu orgulho-me de manter bem vivo o espírito de Natal em mim.


15 de dezembro de 2020

Da polícia portuguesa.


   “Quando um polícia passa na minha calçada, eu atravesso a estrada e passo para a outra”.


   A afirmação não é minha, senão do meu bisavô paterno, que não conheci, e que segundo me contaram o costumava dizer. As forças de segurança não são, regra geral, socialmente bem vistas. É uma actividade mal remunerada e estigmatizada. Excessivamente até. Não houvesse ordem e a sociedade deixaria de existir. Em todo o caso, os abusos cometidos por vários agentes, não só no presente como durante a vigência de regimes não-democráticos, levou a que a polícia esteja indelevelmente associada a violência e violação de direitos e garantias. Tudo o contrário do que deveria.

   Portugal, nesse domínio, tem sido particularmente infeliz, e há organismos internacionais atentos. Por lá, os casos são mais que muitos. Há uns anos, recordo-me de um espancamento absolutamente desproporcional de um cidadão diante de um idoso e uma criança. Uma maçã não faz o pomar, é certo, mas os casos vão-se repetindo e vão ajudando a criar a imagem que a opinião pública tem e que reproduzi acima.

  Tratando-se de um organismo que tem a tutela da segurança pública e da investigação criminal, o apuramento da verdade torna-se ainda mais difícil. O respeito rapidamente degenera em arbitrariedade.

   Esta publicação vem no seguimento do escandaloso caso do SEF e do cidadão ucraniano morto em circunstâncias misteriosas. Em caso algum, entrando ou não ilegal no país, se justifica privar a alguém dos direitos fundamentais que Portugal reconhece através das suas leis internas e dos convénios internacionais que assinou e ratificou. 

    Imagino que a fronteira entre a autoridade, a defesa e cumprimento da lei e o respeito dos direitos dos cidadãos seja um fio de navalha, daí que se espere o melhor daqueles que nos defendem. Sejam mais exigentes nos testes psicológicos, direi eu. Um/a agente policial tem de ser um indivíduo totalmente equilibrado, consciente da responsabilidade que acarreta qualquer uma daquelas fardas. Está em causa a credibilidade da instituição e a sua capacidade de proteger efectivamente os cidadãos, no cumprimento da lei e no respeito dos direitos. A ordem pública, no fundo.

11 de dezembro de 2020

Dear Jesus.


   Ourense, onze de dezembro de dois mil e vinte,


   A ti,


   O ano que se aproxima a passos largos do final foi bastante bom a título pessoal. De certo modo, quase que me sinto mal por o dizer assim, secamente, quando tantos sofreram horrores por esse mundo fora. Tivemos, e temos, a pandemia, que levou tantas vidas, deixou gente sem emprego, estragou negócios. Neste Natal, há quem nada tenha para pôr na mesa. Sempre o houve, se bem que este ano, pela conjuntura sanitária, são mais os que padecerão de carências, além de toda a incerteza sobre os meses que virão. 

   Eu sinto que finalmente me ouviste. Tudo o que te pedi por anos foi-me gentilmente concedido. Não mo deste pelo feito de ser uma pessoa do mais íntegro que há, senão, creio eu, para que o encare como um desafio e uma oportunidade. Há muitos anos que a minha vida não sofria uma mudança tão radical e abrupta, e seguramente que foi a primeira vez que o seu decurso se viu tão alterado. Saí de casa. Mudei de país. Construí uma família, que tenho de cuidar. Afastei-me da minha mãe. Deixei um passado de misérias morais e emocionais para trás. Que mais poderia eu pedir, quando tudo me foi dado assim, subtilmente, sem que me desse conta? E agora, olho para trás e nada o faria prever em Janeiro.

  Estando eu "arrumado", se mo permites, as minhas preces vão ao encontro da minha mãe, a quem quero que fortaleças para que continue a suportar a minha sentida ausência, e da humanidade, no geral. Foi um ano bom para mim, mas não o foi para a maioria. Atende, se possível, os seus pedidos de bonança e tranquilidade. Sei que tudo o que fazes tem um propósito que desconhecemos e ignoramos.

  Da minha parte, rogo para que me continues a guiar nos teus insondáveis caminhos. Agradeço o que me deste, a estabilidade que me proporcionaste. Está, finalmente, nas minhas mãos. A partir deste momento, é comigo, e há que honrar aquilo que Tu me fizeste chegar e me julgaste merecedor.




Obrigado por olhares por mim,
Mark

9 de dezembro de 2020

Snow and Christmas time.



    Na sexta-feira, pela primeira vez, vi neve. Imagino que para grande parte de vocês seja algo natural, contudo, para mim, não o era. Natural de Lisboa, não se proporcionara visitar a Serra da Estrela ou qualquer outra localidade portuguesa com altitude e frio suficientes para nevar. Até há dois dias, e foi mágico. Simultaneamente, creio que jamais havia sentido temperaturas inferiores a 0º C. Como vivo na montanha, a neve aqui é comum na estação fria.

  Caminhar sobre a neve, senti-la debaixo dos pés. Tocar-lhe. Não a necessitamos para ter uma boa quadra festiva, mas é inegável que torna tudo ainda mais especial.

   No dia 29, dei início às festas. Montei a árvore, a mais alta de sempre, e decorei a casa. Este ano, gastámos, eu e o meu marido, uma soma considerável em iluminação e adornos. Adquirimos cada artigo através das lojas oficiais da ZARA HOME e do El Corte Inglés. Dispõem de produtos originais, que realmente enchem a vista. Deixo-lhes algumas fotos, da minha moradia e da sala de estar.













3 de dezembro de 2020

Pra Cima de Puta.

 

   O título do livro de Cristina Ferreira é chamativo, e é-o mais ainda a problemática que a autora nele aborda. Devo dizer que nada me move a favor ou contra Cristina Ferreira. Não a conheço, não tenho por hábito seguir programas generalistas. Tão-pouco me suscita interesse o que faz na sua vida privada ou pública. Sei quem é, como todos, uma vez que se trata de uma figura mediática.

   Em contrapartida, o livro que lançou, sim, despertou-me o interesse, não o suficiente para o pedir desde Portugal, mas quanto baste para reflectir sobre estes meios virtuais que, efectivamente, estando numa área nebulosa de regulação, permitem que todos emitam as suas opiniões sem qualquer consideração pelo outro. Da mesma forma que temos de humanizar estes meios de comunicação, encarando a cada utilizador como uma pessoa, temos de pôr cobro ao clima de impunidade que atravessa as redes sociais.

  Cristina Ferreira disse, e com razão, que tudo o que vá além da crítica profissional não é lícito. Todos nós que por aqui andamos, e nem necessitamos de ser figuras públicas, já nos vimos confrontados com opiniões a nosso respeito que beiram a ofensa de cunho pessoal. Bom, não o poderei afirmar nos vossos casos; a mim, garantidamente que passou, e são anos de redes sociais. O que faço é bloquear a pessoa em questão. Agora, imagine-se o que será ler diariamente milhares de ofensas à nossa honra numa rede social, vindas de quem não nos conhece além da imagem que projectamos, construída, num canal de televisão?

   Há gente a morrer disto, das perseguições pelas redes. Nem todos terão a estrutura mental de Cristina Ferreira e menos ainda a possibilidade de activar meios legais acompanhados de bons defensores. 

   Não podemos afirmar que estamos perante um fenómeno recente. O que se passa é que há uma relativa desconsideração da ofensa virtual, como se o facto de não o ser cara a cara diminuísse o seu ânimo de diminuir, rebaixar, humilhar. Pelo contrário. A ofensa por detrás de um computador ou de um telefone inteligente é mais cobarde. Pode-se perpetuar ad infinitum. Pode ser copiada e divulgada impunemente.

  Foge ao âmbito desta crónica as motivações sexistas. Percebemos que a reacção ao sucesso de uma mulher não é igual tratando-se de um homem. É outra discussão e é um problema que já não compete somente ao legislador, que não muda estigmas como num passe de mágica. O mesmo se diga de características típicas de um determinado povo, como o português, que tem na inveja o seu mal nacional. São palavras minhas.