29 de setembro de 2009

Pessoa, Botto e Sá Carneiro - Características comuns

Analisar e estudar um pouco mais sobre a vida destes poetas torna-se verdadeiramente imperativo, sobretudo as relações conjuntas e pessoais existentes entre eles. A análise dos legados deixarei, como é evidente, para os críticos literários e especialistas.
Que existiram laços de amizade entre Fernando Pessoa, António Botto e Mário de Sá Carneiro é indiscutível, mas sempre me questionei sobre o teor e essência dessa amizade. A homossexualidade de Botto era manifestamente reconhecida pelo próprio, como demonstra o seu livro de poesia Canções. A admiração de Pessoa também, como o atestam vários artigos escritos por Pessoa em defesa do seu estimado amigo. O próprio Pessoa tinha um aparente problema de relacionamento com as mulheres, e não é difícil imaginar que terá encontrado em Botto um ombro amigo, ou mesmo um escape para algum líbido que estivesse a mais. Mário de Sá Carneiro era verdadeiramente neurótico e depressivo, apesar de lhe terem sido conhecidos casos com mulheres, no entanto, a hipótese de uma possível tendência homossexual sempre pairou no imaginário de várias pessoas.
Sabe-se hoje que o círculo intelectual pode ser bastante promíscuo e este exercício pretende demonstrar a profunda hipocrisia que reina até mesmo no elitista mundo literário. Não é conveniente que se associe Fernando Pessoa à sua eventual bissexualidade pois essa revelação poderia deteriorar a essência e imagem do poeta. É preferível ignorar os sinais por demais evidentes, como as relações com os outros dois poetas. Obviamente poderão dizer que para um poeta como Fernando Pessoa a preferência sexual não será mais do que um mero detalhe entre a sua vida e obra, mas mesmo que se resumam a episódios esporádicos e ocasionais, estas possíveis experiências homossexuais têm de ser estudadas e analisadas quando se pretender explorar a vida do poeta. Existem dados suficientes que permitem associar os factos à tese que pretendo demonstrar. Basta até, para o comum leitor, supor um elo de ligação e características comuns entre os três poetas que justifiquem as suas relações de amizade.
A História é inegável, para o bem e para o mal, e nunca Fernando Pessoa, e consequentemente Mário de Sá Carneiro serão verdadeiramente conhecidos enquanto existirem factos das suas vidas que permanecem ocultos.

28 de setembro de 2009

Panorama político português

Ontem foi dia de eleições e, como sempre, é o povo que decide e o povo decidiu manter José Sócrates no poder, embora sem a sua maioria absoluta. Era o cenário mais provável e que acabou efectivamente por concretizar-se. A maioria esvaiu-se, o principal partido da oposição (vazio de ideias) não ganhou e a oposição mais pequena acabou por sair vencedora, embora uns mais que outros. A grande surpresa para mim foi o crescimento do CDS-PP que julgava moribundo. Afinal, Paulo Portas tinha razão. Da sua inteligência política e perspicácia não duvidava, mas duvidava sim do crédito do seu partido. A vitória é, antes de mais, pessoal. Quanto ao Bloco de Esquerda, o crescimento em votos e número de mandatos era previsível. Ganhou com o descontentamento à Esquerda e com os votos de simpatizantes jovens. A CDU cresceu, irrisoriamente, mas aumentou em 1 o número de deputados. Gabo a sua sobrevivência desde a queda da URSS. Só por isso merece estar representada.
Com o parlamento mais dividido, o Partido Socialista terá de chegar a acordos governativos. O tempo da maioria acabou. Pela experiência que os portugueses já deveriam ter, governos minoritários significam instabilidade política...
Espero estar enganado.

25 de setembro de 2009

Cidadania

O conceito de cidadania é, de facto, muito vasto. Todos nos recordamos dele quando precisamos de invocar os nossos direitos, mas depressa nos esquecemos do dever de cumprir as regras da convivência em sociedade. Uma das regras é o voto. Só quem vota tem o direito de exigir algo do seu país e de seus governantes; quem não o faz, negligenciou o seu dever, logo, nada tem a reclamar. É evidente que o acto de votar não é aliciante em Portugal, na medida em que o sentimento de abandono em relação aos políticos é bastante, mas o voto é a única "arma" democrática que todos podemos usar de forma a manifestarmos a nossa discordância das políticas seguidas nos últimos anos. A abstenção não significa protestar contra o sistema actual, mas sim compactuar com o caos político e o vazio que já existe. Defendo até, neste sentido, a obrigatoriedade do voto. O cidadão tem deveres para com o seu país. Por isso, vote em quem votar, a decisão é inteiramente sua; mas vote!

11 de setembro de 2009

Rapaz que morreu jovem demais...

Estava eu a folhear o jornal O Mirante (um jornal regional mas de valor reconhecido) e ao passar pela página da necrologia dou com um quadradinho muito simples que relatava a missa do 4º ano decorrente da morte de um rapaz de nome Pedro. O que mais me suscitou a curiosidade foi a foto que estava presente. O olhar dele, a sua alegria e vivacidade provocaram-me um enorme arrepio na alma e alguma tristeza estranha e comovente. Por acaso, no anúncio, constava um endereço de blog que fui visitar. O blog está muito bem elaborado e é extremamente tocante ler todos os artigos que lá se encontram. Nunca tinha visto um blog criado de forma a homenagear alguém que tivesse partido. O Pedro morreu novo de mais, com 22 anos. Era mais velho quando partiu do que eu sou neste momento. Dificilmente me esquecerei do Pedro, apesar de nunca o ter conhecido.

6 de setembro de 2009

Debates (Legislativas)

O panorama televisivo português tem sido preenchido pelos debates televisivos entre os líderes partidários que têm assento parlamentar. Bom, os debates não foram nada de especial até agora, exceptuando o debate Sócrates - Portas e o debate Louçã - Ferreira Leite.
A verdade é que tanto Paulo Portas como José Sócrates são homens inteligentíssimos e que sabem bem a estratégia a utilizar nestas eleições. Ganha quem for mais eloquente e convencer o povo. Ganha, como é evidente, o debate. Paulo Portas sabe que não poderá ser primeiro-ministro. O debate foi bastante equilibrado, um autêntico jogo de forças em que nenhum ganhou vantagem sobre o outro. Pessoalmente, simpatizo com José Sócrates, podendo mesmo afirmar que gosto dele. Parece-me coerente, frontal e determinado. Com Paulo Portas poderia simpatizar, não fossem as suas ideias demasiadamente à direita para mim.
Francisco Louçã é um homem que sabe cativar e é um excelente orador, no entanto, para mim, perde para José Sócrates. Gosto dele, mas prefiro o Sócrates. Soube debater com Ferreira Leite, que considero ser uma pessoa de ideias abomináveis, para não adjectivar de pior modo. Provoca-me naúseas quando a vejo, até ao ouvir a sua voz. Tenho ataques de pânico quando leio o que diz.
Jerónimo de Sousa é um homem que visivelmente perde perante todos, não tem a mesma atitude ao discursar e tem visíveis dificuldades de resposta. Não tem a formação académica de que dispõem os seus adversários políticos, mas talvez por isso mesmo saiba encantar as pessoas. A sua simplicidade é encantadora, até para mim, que abomino o comunismo. Considero-o mais forte do que o próprio PCP. É um líder a ser estimado pelos militantes comunistas.
No fundo, todos sabemos que o que está em questão é a manutenção do PS no poder ou a sua substituição pelo PSD. Nesse sentido, estou atento aos discursos dos líderes de ambos os partidos, mas considero essencial que haja um crescimento das restantes forças políticas, sobretudo BE, de forma a neutralizar os efeitos de uma dominação política bi-partidária.

3 de setembro de 2009

Farinelli

Carlo Maria Broschi (17o5 - 1782) mais conhecido pelo seu pseudónimo Farinelli, foi uma personagem histórica que me encantou desde sempre. Famoso cantor lírico italiano do século XVIII, talvez uma das suas características mais conhecidas seja o facto de ter sido um castrato, ou seja, para quem não conhece a palavra, um rapaz que na sua infância foi castrado de forma a manter a voz de soprano que com a puberdade e o aparecimento das características sexuais secundárias iria desaparecer. Na época era costume castrar os rapazes pobres ou da baixa nobreza que demonstravam apetência para o canto lírico. A Igreja Católica não permitia a entrada de mulheres nos coros, logo esta era a única maneira de substituir as vozes de soprano. Triste destino o destes rapazes, que apesar de terem o mundo a seus pés, estavam privados de viver a sua sexualidade de forma normal. Farinelli foi o expoente máximo dos castrati na Europa do século XVIII e seguramente foi o castrato mais conhecido de sempre pois a sua voz era verdadeiramente impressionante, de tal forma que encantou a corte de Fernando V e seu filho, Fernando VI de Espanha. Encantou as cortes europeias, provocou o delírio de muitas mulheres (e de seguramente muitos homens...), mas não consigo deixar de imaginar todo o sofrimento inerente à amputação dos órgãos sexuais. Era a mutilação genital dos séculos XVI, XVII e XVIII, tal como hoje é praticada a muitas mulheres de tribos primitivas em África. Um verdadeiro horror, justificável apenas pela beleza das famosas árias e pelo período cronológico, como é natural. Os castrati só desapareceram no século XIX, tal era a sua importância. Pois bem, também é importante que o mundo saiba quem foi um dos maiores cantores líricos de sempre.
Menos homem fisicamente, mas com a voz que o elevou ao patamar dos deuses.

2 de setembro de 2009

De regresso!

A todos os meus leitores devo, evidentemente, um pedido de desculpas por esta tão prolongada ausência, mas de facto foi-me completamente impossível evitá-la. De forma imprevista tive de fazer uma mudança de residência em uma semana, o que é completamente desgastante. Em dois dias eu, a mãe e a nossa empregada tivemos de empacotar tudo de forma a que os homens das mudanças pudessem carregar tudo no próprio dia. Foi totalmente exaustivo! No dia seguinte tiveram de descarregar tudo na casa nova sempre com a nossa supervisão, claro está.
Como podem verificar tenho motivos para não pensar muito no blog. Espero que com a tão aguardada rentrée possa recuperar o tempo necessário às minhas crónicas. Este Agosto foi terrível, verdadeiramente terrível. Nem tive paciência para me actualizar relativamente às notícias do nosso mundo. Há semanas que não via televisão, até ontem, que vi o debate de José Sócrates na RTP1. Pelo menos gostei.