31 de dezembro de 2024

Até 2025.


    Dois mil e vinte e quatro não foi um mau ano. Vendi aquele apartamento horrível e comprei a minha casa, com jardim, piscina, três andares. Tudo o que poderia sonhar. Simultaneamente (porque foi na mesma altura), comecei a conduzir. Conduzir trouxe-me uma liberdade inimaginável. Foi um ano de mudanças, de algumas obras em casa. O carro mudou tudo. O carro foi o grande empurrão.

   Viajei, claro. Fui pela primeira vez a Lanzarote. Há umas semanas estive em Paris, também pela primeiríssima vez. Recuperei alguma alegria, depois de dois anos de grandes perdas a nível pessoal. As saudades dos meus pais continuam aqui, mas, enfim, tenho de olhar em frente. Tenho o meu marido e os meus animais. Eles precisam de mim. E também tenho uma vida para viver. Não pretendo desperdiçá-la (mais).

  Em relação ao blogue, foi um ano em que mantive a assiduidade. Continua a ser um espaço onde exponho, com calma e tempo, os temas que pretendo, que podem ser de natureza mais pública ou pessoal. O blogue já faz parte da minha vida. São tantos anos. 
  Cá nos veremos, espero, em 2025. Feliz saída e melhores entradas.

27 de dezembro de 2024

Paris II (Explorar a cidade e Bairro Latino).


  No nosso segundo dia em Paris, já devidamente dormidos, decidimos fazer um tour pelos locais mais emblemáticos, isto é, percorrer a cidade. Praça de l'Hôtel de VilleChâtelet, Notre-Dame, passeio pelas margens do Sena, Praça de São Miguel (Saint-Michel), aproveitando o único dia de sol que tivemos, e finalmente o Bairro Latino, que, contrariamente ao que se pense, não deve o nome a qualquer comunidade de imigrantes provenientes da América Latina, mas sim ao latim, ao idioma, que era extensamente ensinado como língua culta no século XVII. 


A Catedral de Notre-Dame iluminada, à noite. 


  Entrámos na livraria Shakespeare and Company, apinhada de gente, onde se podem adquirir livros com o respectivo selo da loja. Segundo me disseram, tal aumenta o valor numa futura e hipotética revenda (espero que não seja o caso). Explorámos ainda várias igrejas, designadamente a de Saint-Séverin, passámos pela Sorbonne (universidade), pela entrada do Panteão. Foi, em suma, um dia dedicado a conhecer mais da história da cidade e, sobretudo, do Bairro Latino. Terminámos o dia na Praça René-Viviani a tomar um vinho quente, que caiu de maravilha no nosso estômago frio.

24 de dezembro de 2024

Feliz Natal!


   Serei breve e sucinto: quero desejar, a todos os que me lêem e acompanham, um Feliz Natal. Independentemente de crenças e circunstâncias pessoais, o Natal é muito mais do que isso, e todos acabamos por nos vermos envolvidos na sua magia e atmosfera, seja lá o que isso for. Deixo-lhes uma foto do meu presépio. 


A Sagrada Família

21 de dezembro de 2024

Paris I (Montmartre).


   Chegámos a Paris a 3 de Dezembro. No dia 2, partimos desde Madrid (só vou a Madrid apanhar os aviões). Aterrámos cedo, ou seja, dava para aproveitar. Decidimos fazer um passeio por Montmartre nos nossos primeiros instantes na cidade.


Voulez-vous coucher avec moi, ce soir?


  É o bairro dos artistas, da vida boémia, do famoso Moulin Rouge. Um bairro de putas e lojas de artigos sexuais, que hoje é dos mais característicos da capital francesa, também porque ali viveram vários pintores e escritores (no Bateau Lavoir). Subimos até à Basílica do Sacré-Coeur, mas antes passámos pela antiga casa da cantora Dalida (que viveu no bairro e tem um busto em sua homenagem). 


Tocar nas tetas de Dalida é fundamental.


   Diz-se que é obrigatório tocar-lhe nas mamas para ter sorte na vida, e isso fizemos (aliás, é por essa razão que a parte de baixo do busto está desgastada). Da Basílica, entretanto, falar-vos-ei noutro momento, porque não entrámos no primeiro dia. Estávamos cansados do comboio e do avião, fora o percurso de carro desde casa até à estação que nos levou a Madrid. Ainda assim, conseguimos ver coisas, já que muitas vezes perdemos o dia 1 nas estações e nos aeroportos. Não foi o caso.

18 de dezembro de 2024

De regresso, e Paris.


   Há umas semanas que não digo nada. Estive em Paris, de férias, e entretanto voltei doente. Apanhei uma gripe horrível no penúltimo dia, mas mesmo assim consegui cumprir com o plano integral da visita. Tenho estado em casa, quase sempre deitado, a recuperar. O frio não ajuda.

   Foi a minha primeira vez na Cidade Luz. Gostei de Paris, é uma metrópole de cultura e arte, mas achei os parisinos detestáveis. Não falam inglês (por maioria de razão também não falam castelhano), e portanto a comunicação com eles foi um bocado custosa. São tremendamente chauvinistas.

   Oito dias de muitas visitas. Pouco a pouco irei contar-vos por onde andei (também não é assim tão difícil adivinhar o percurso). Posso-vos dizer que não, não fui à Disneyland. Não tenho paciência para parques de diversões infantis. Tentei fazer um plano equilibrado. Claro que ficou muito por ver (Paris é uma cidade que exige várias visitas), porém, o principal foi explorado. Nos próximos dias serei mais exacto.

28 de novembro de 2024

Já é Natal (de novo).


   Eu adoro o Natal. Ponto. Adoro, adoro. Desde sempre. É algo talvez meio infantil (dizem que com a idade e as mortes na família se vai perdendo o gosto), que mantenho. Nem a idade e nem as mortes na família (e tive muitas, e muito fortes) me tiraram o gosto desta época; de ouvir os velhos (e os novos) clássicos, de decorar a casa toda -literalmente toda-. Com gosto. Não há cá chinesices. Não irei partilhar todas as fotos porque considero excessivo. Cada pedacinho da minha casa tem um detalhe. Até a casa de banho. Comprei um dispensador natalício de sabonete que é um mimo. 





  Depois, claro, na sala principal está a tradicional árvore de Natal (com dois metros), ricamente decorada. Como agora vivemos num chalé, tenho outra sala para decorar, e uma vez que a fizemos de raiz (estava em cimento quando comprámos a casa), pus-lhe uma decoração mais moderna, isto é, uma daquelas "árvores" de Natal que não são mais do que uns ramos de plástico com umas luzes em bola nas pontas. O nosso terreno é muito grande e temos pinheiros. Cheguei a ponderar cortar um pinheirinho para fazer a árvore de Natal, mas a minha árvore (do Corte Inglés ) é tão bonita e foi tão cara que seria uma pena. Na cozinha há uma ratinha de Natal cozinheira, tenho gnomos espalhados pela casa. Está tudo muito giro sem ter ficado piroso. E este ano decorei mais cedo, porque estava realmente ansioso por fazê-lo e porque no dia 2 de Dezembro vamos de viagem, e portanto montar tudo no domingo 1 era muito em cima da hora (eu cumpro a tradição de montar tudo no primeiro domingo do Advento, ou seja, quatro domingos antes do Natal; há quem prefira o dia 8, no dia de Nossa Senhora da Conceição; também podia ser, mas para mim já se faz tarde; se tenho tanto gosto, há que aproveitar).


26 de novembro de 2024

O 25 de Novembro de 1975.


    As forças mais à esquerda fazem por não recordar o 25 de Novembro. Agora, com a primeira celebração oficial pelo parlamento português, quase 50 anos depois, creio que já podemos falar de O 25 de Novembro, como dizemos, com propriedade, O 25 de Abril, designação muito mais comum do que Revolução dos Cravos ou qualquer outra.

    Independentemente de convicções políticas, a história é o que é. O Partido Comunista Português, que se continuar assim brevemente se extinguirá, apoiou o movimento revoltoso que pretendeu operar em Portugal um golpe de Estado que, caso se tivesse concretizado, provavelmente teria conduzido o país a mais uma ditadura. Teríamos saído de uma para outra. Como a história não se faz de "ses", tudo o que podemos é supor. Portugal foi membro fundador da NATO e pertencia à EFTA. Ter-nos-ia isso, em contexto de guerra fria, salvado de um regime pró-soviético? Teríamos sido invadidos por Espanha com o apoio dos EUA para evitar a sovietização? De algo, não me restam grandes dúvidas: teria sido péssimo para o país, que ainda convulsionava de uma revolução, com retornados a chegarem, uma economia exausta pelo esforço de uma terrível guerra colonial e com independências (mal feitas) recentemente. Portugal precisava de estabilidade, e foi o fracasso desse pretenso golpe de Estado que nos permitiu sair do PREC para o PCEC (Processo Constitucional em Curso), e avançar, ainda que timidamente, para uma democracia europeia com uma economia de mercado (e digo timidamente porque até 82 estivemos sob tutelar militar, com uma Constituição fortemente socialista, e só em 89, na segunda revisão, foi eliminada a irreversibilidade das nacionalizações).

    A história tratou de romantizar o ciclo, como se a democracia tivesse chegado de um dia para o outro; como se tivéssemos adormecido em ditadura e acordado em democracia. Não foi assim. Qualquer pessoa com mínimos conhecimentos históricos e sociais da época sabe que não foi assim, e a evocação do 25 de Novembro de 1975 é mais um passo nesse sentido, no sentido do reconhecimento de que houve outros momentos igualmente decisivos para que hoje tenhamos o Portugal democrático que temos.

21 de novembro de 2024

Iphone 16.


    Sete anos depois, mudei de telemóvel. A grande transição, eu diria, deu-se em 2017, quando passei dum Android para o iOS, mais especificamente dum Alcatel para um iPhone 8 Plus. Foi como se se abrisse diante de mim todo um outro mundo de tecnologia e potencialidades. É evidente que agora também se deu uma bela transformação, mas eu pensei que fosse maior. São sete anos de tecnologia que os separa.

   Estava reticente em trocar de telemóvel porque o meu velhinho 8 Plus ainda cumpria a sua função, muito embora a bateria já não durasse o que pretendo para as minhas necessidades. Levá-lo numas férias acarretava parar de vez em quando num Starbucks para carregá-lo (em Londres, no ano passado). Isso ou levar a minha máquina fotográfica Canon, que, convenhamos, as máquinas fotográficas estão praticamente ultrapassadas. Deixaram de ser necessárias. Temos telemóveis com excelente resolução de fotografia. A par disso, deixei, há dois anos, de receber as actualizações do iOS, ou seja, recebia apenas pequenas actualizações de segurança. Resumindo, embora o telemóvel estivesse bom e estimado, estava obsoleto.





   Como referi no primeiro parágrafo, pensei que a mudança fosse maior. O que notei até agora, assim de significativo (são 24h de utilização), é a mudança do Touch ID para o Face ID, que é mais prático. De resto, nem nas fotografias notei grandes melhorias (deve ser dos meus olhos, de certeza). Um iPhone, é um iPhone. São belas máquinas. Como dizia um rapaz a quem perdi o rasto, "Uma vez Apple, sempre Apple", e é verdade. Eu tenho a gama completa: iPhone, iPad, MacBook, HomePod, Apple Watch. Adoro tudo na marca.


20 de novembro de 2024

Inversão de valores.


   Esta publicação não é mesmo (até sublinhei) nenhum tipo de recado ou indirecta. As coisas fazem-se no seu tempo e não se mexem mais. Resulta apenas de observações minhas através do tempo, observações atentas, e algumas conclusões. Minhas também. 

    Quer-me parecer que assistimos a uma inversão de valores. Já não há amor. Já não há bem-querer. Na dita comunidade gay, é realmente uma piada. E eu nem falo por experiência, porque tive a sorte de conhecer alguém muito, mas mesmo muito especial. Não tem um corpo escultural, como eu não tenho, mas tem um grande coração, bem trabalhado; um músculo forte, que o torna num ser humano lindo, luminoso, e qualquer pessoa que com ele lida fica deslumbrado com o seu sorriso radiante. É mesmo uma excelente pessoa, e eu agradeço a Deus, diariamente, tê-lo encontrado. 

     Hoje em dia, o sexo manda e as pessoas são brinquedos. Traem-se, mudam de parceiro constantemente, têm sexo com o parceiro e outros ao mesmo tempo, “relações” abertas… São livres. Claro que são. Como eu sou livre de lamentar tudo isto. Como eu sou livre de dizer que jamais me identifiquei com essas condutas, que me parecem, digamos, um nojo. Que me suscitam sentimentos repulsivos, o que me faz querer manter-me o mais afastado possível de pessoas assim. Não as quero perto de mim. Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és. Talvez não seja bem assim, mas pelo sim, pelo não.

      Eu escrevia em diários, de adolescente. Destaca-se um pendor triste, sempre, e sobretudo a lástima pela falta de um amor. Não há uma única menção a sexo. Tudo o que almejei foi encontrar o amor, amar e ser amado, e isso foi-me concedido. Oxalá seja sempre assim. E se não for, jamais renunciarei aos meus princípios. São o que de mais valioso tenho. Sei muito bem o que quero. Quero amor, quero respeito. Consegui-os e tudo farei para os manter.

16 de novembro de 2024

Recados.


    Não me recordo exactamente de quem o disse, se foi o Namorado ou quem foi, que a blogosfera se transformara numa plataforma de indirectas. Talvez seja positivo, tendo em conta o estado actual em que se encontra. Ao menos ganha algum sentido, ainda que não seja aparentemente o melhor. Revitaliza-a.

    Vou começando a ter alguma idade. Aprendi que, quando as pessoas enfiam o barrete, é porque se sentem incomodadas, e que no fundo o fazem numa tentativa de refutar o que foi dito. Vou ser menos palavroso: assumem que é verdade o que sobre elas foi dito e tentam negá-lo. Naturalmente que isso se aplicará a mim também quando me enviam indirectas. Hombre, como diriam os espanhóis, há que fazer a defesa da honra, ou não?

     No meu caso, há pouca defesa da honra para fazer. Quando as pessoas expõem as suas vidas num blogue, têm de ter a capacidade para aceitar todo o tipo de observações, caso contrário, não se expõem. Custou-me, mas aprendi a fazê-lo. E às vezes até concordo com o que foi dito. Chamaram-me mau e amargurado. O mau, eu próprio o assumo (há quem o negue e diga que tenho um lado bom); o amargurado, sim, claro, mas não é por isso que vou deixar de ter opinião seja sobre o que for, e essa opinião não tem de ser positiva. Eu diria que a minha característica mais distintiva é a sinceridade. 

    Ultrapassei um luto doloroso de três grandes perdas em pouco mais de um ano, e não venho constantemente falar da minha mãe, do meu pai, da minha avó -há quem ande há décadas a fazer o luto do pai; a psicoterapia parece que não ajudou-. A propósito, os meus pais tiveram uma relação de muito amor enquanto durou, e foi com carinho, amor e cuidado que me criaram. Mas, enfim, de amores que duram o que duram há quem saiba mais do que eu por aqui.

     Não tenho paciência sim, e isso assumo, com gente convencida. Para divas da meia-idade que atrás de tudo quanto escrevem está, aí sim, um profundo complexo de inferioridade (o tal "aspecto"). Eu divirto-me ao lê-las, e às vezes, mea culpa, escapa uma farpa. Depois, claro, há o retorno, o fogo inimigo, mas tudo isto me diverte. A sério. Diverte-me imenso. Obrigado.

11 de novembro de 2024

A blogosfera fora da internet.


   Já fiz, anteriormente, balanços pessoais da minha experiência na blogosfera. Igualmente, falei do estado actual, medíocre, desta plataforma. Sucumbiu, como outras, ao Facebook, Twitter, e por aí fora (agora há umas que nem sei para que servem). Este post será diferente. Falarei da blogosfera fora da blogosfera.

    Para alguns, a blogosfera transformou-se em algo que extravasou o meio virtual. Conhecemo-nos. Recordo-me do meu primeiro dia -que foi o primeiro também para alguns, e não o foi para outros-. Algures em Maio de 2013. Num jantar promovido por determinado blogger, conheci vários. Desde aí, os encontros sucederam-se, até meados de 2017, quando percebi que foi tudo um erro. Houve pessoas que gostei de conhecer, efectivamente, mas a maioria não valeu a pena. Não direi “desilusão”, porque só um idiota espera algo melhor, nestes meios, do que aquilo a que está acostumado lá fora. O mais correcto será utilizar a expressão que usei acima: não valeu a pena. Temos de aturar tanto lixo no dia-a-dia, sem que tenhamos a possibilidade de escolha; para quê sujeitarmo-nos nós mesmos, sem necessidade, a lidar com mais porcaria? Foi o que eu eu fiz.

     E fi-lo porque nunca me escondi atrás dum pseudónimo. Havia muitos blogues de pessoas que usavam o anonimato para se libertarem de medos, frustrações, armários. Não era o meu caso, isto é, dar-me a conhecer não iria restringir de forma alguma a minha liberdade de continuar a dizer o que penso e faço. Havia, e é compreensível, pessoas que criavam nestes meios um mundo de ilusão, que depois podia cair por terra se os seus leitores/seguidores os conhecessem pessoalmente, ou poderiam sentir que perdiam a liberdade de poder falar abertamente sobre si mesmos. Isto, claro, voltando atrás. Hoje em dia é um meio -a blogosfera- sem nenhuma relevância. Alguém ainda se encontra através disto?

    Naturalmente que tenho o meu feitio. Não me apresento aqui como um anjo de candura, maravilhoso, que foi massacrado pela maldade de terríveis bloggers que conheceu. Não. Eles são o que são, cada um deles, e eu o que sou. Mas sim, espero sempre, pela vida fora, encontrar pessoas melhores do que eu. Infelizmente encontrei ainda piores. E acreditem, pior é difícil. 

    Quando comecei a escrever este post, vim determinado a escrever os seus nomes, ou os seus pseudónimos, sem medo, um pouco imbuído na fórmula “que se lixe”. Não o farei. Não lhes darei esse prazer. Simplesmente digo, ou melhor, repito, o que disse: conheci-os, dei-me a conhecer, foi um erro, hoje não o faria, salvo pouquíssimas, mas mesmo muito poucas, tão poucas, excepções (conto 2 pessoas). Agora é continuar, como tenho continuado, como se nunca os tivesse conhecido.

9 de novembro de 2024

Pensamentos aleatórios.


   Hoje serei curto. Em poucos anos, evoluí. Saí do país, moro no estrangeiro, conduzo, tenho um marido fantástico -médico- que me ama; uma casa linda, com jardim, piscina; um cão e uma gata maravilhosos; farto-me de viajar; compro o que quero, seja roupa, livros, móveis, artigos de decoração etc etc etc. E há quem não saia da cepa torta, e não vão sair jamais. Jamais. Porque quem nasce para ser lixo, uma coisinha insignificante, nunca chegará a lugar algum. Tenho Deus comigo, sempre. Disse.

28 de outubro de 2024

Um dia decisivo.


   Nos últimos dias, um certo nervosismo apoderou-se de mim. Eu sei o motivo. Aproxima-se -ainda que faltem mais de dois meses- a data da audiência de julgamento de uma situação familiar muito importante para mim. Por uma questão de privacidade, intimidade, não direi exactamente do que se trata, porém, posso afiançar-lhes de que é algo que me atormenta há muitos anos. Uma situação que a minha mãe deveria ter tratado atempadamente, e não o fez, por indiferença, displicência, apatia, desconhecimento. Um pouco de tudo. Afecta-me apenas de forma indirecta. Afectava directamente a minha mãe, que nunca se importou com aquilo. Cheguei-lhe a comentar o assunto, e ela reagia com total indiferença. O que ela queria era sossego e saúde. Suponho que a situação a tenha traumatizado -é impossível que não-, entretanto, sendo algo com tantos anos, estava enterrado no seu passado.

    Sem querer desvendar nada, porque é uma situação que ainda vai a julgamento e que além disso é muito íntima, digamos que tive de processar a minha avó materna, mãe da minha mãe, que ainda vive, e a minha tia. Arrolei umas poucas testemunhas (o que pude), e lá vou eu, a Estremoz, no dia 6 de Janeiro de 2025, à audiência de julgamento, com esperança de ganhar a causa; reticente, sendo um assunto tão antigo, doloroso, que mexe com sentimentos e envolve pessoas já falecidas (designadamente a minha mãe e o seu pai, meu avô).

   Aquilo que eu quero é que a justiça prevaleça, e a verdade está do meu lado. Não o digo como autor do pleito, senão porque é realmente o certo: eu tenho a verdade do meu lado, o direito que quero ver reconhecido não atenta contra ninguém, não envolve interesses de natureza patrimonial, portanto, o que faço, faço para obter alguma paz de espírito; é uma situação que me indigna. Ainda que não ganhe, pelo menos fico com a certeza de ter tentado, de tudo ter feito, e só essa ideia já me traz algum conforto. O que não suportaria era ser cúmplice de algo tão injusto -tão próprio do seu tempo, é certo, mas não menos injusto por isso-.


25 de outubro de 2024

Marco Paulo (1945-2024).


    Há momentos li um artigo de Herman José sobre o amigo Marco Paulo, por ocasião da morte do cantor. O artigo está disponível no Público (não sei se aberto ou não; eu tenho assinatura paga). Um texto que resume tudo o que eu poderia dizer de Marco Paulo. Em Portugal, somos preconceituosos e mesquinhos, e somo-lo também com a música. Em Espanha, valoriza-se o nacional; tem-se orgulho nos seus cantores e cantautores. Em Portugal, não. Colocamo-los em prateleiras, com o devido rótulo, colado: “boa música”, “música pimba”. O que é a música pimba? Uma música descontraída, sem complexos nem grandes intenções, que todos ouvimos, todos conhecemos e todos trauteamos em algum momento? É isso? E por que motivo envergonhamo-nos dela? O problema não é o estilo; o problema somos nós. Marco Paulo passou por esse estigma, e possuía uma grande voz. Potente. Firme. Além disso, quer a nível profissional quer pessoal, sempre se apresentou como um senhor, discreto. Desconhecem-se-lhe polémicas.

     Foi um ícone da moda nos 80, fazia as mulheres suspirar por ele. O meu pai inspirou-se nele, nos caracóis, que também usou durante anos, a ponto de o confundirem com o artista. Marco Paulo, figura incontornável do panorama artístico nacional, deixa-nos, e com ele morre um pouco da nossa identidade. Mais uma daquelas pessoas que parece existir desde sempre e que -é verdade, sabíamo-lo doente- partiu.

23 de outubro de 2024

Distúrbios em Lisboa.


   Distúrbio é um eufemismo. O que temos assistido em Lisboa é um ataque seríssimo ao Estado de Direito. Indivíduos de raça negra têm provocado o caos perante a apatia de todos.

  Quem me conhece sabe que não sou minimamente tolerante com estas comunidades de imigrantes, com estas raças, e que defendo uma postura totalmente oposta à que vem sendo adoptada pelos sucessivos partidos do arco da governação. Sou contra a imigração. Sou contra a atribuição desenfreada da nacionalidade portuguesa. Sou a favor da ordem. Portugal, apesar de todos os problemas, era um país pacato, ordeiro, tranquilo. Deixou de o ser. Eu lembro-me de, saído dum bar, pelas 4 da manhã, andar pela baixa de Lisboa sem medo. Hoje em dia jamais me atreveria. Aliás, saí de Lisboa e de Portugal no momento certo. Não me imagino ali, entre o caos, a desordem, a violência. Tudo promovido pela classe política que temos, que aliada à grande família do wokismo internacional, está a destruir a civilização ocidental e o seus valores. É o fim da Europa tal qual a conhecemos. Tornar-se-á num continente sem lei nem ordem, e escuso-me a aventar possíveis -certos- cenários de como se tornará.

20 de outubro de 2024

Noite de Fados.


  Há dias fomos a uma noite de fados no Castelo de Maceda. Noite de fados com um jantar luxuoso. A artista chama-se María do Ceo. Trata-se de uma portuguesa radicada na Galiza há muitos anos. Além dos velhos êxitos de Amália, canta também poemas do seu repertório. A María deveria ser mais conhecida em Portugal. Canta muitíssimo bem. 


Bebemos um branco delicioso


A casa rural
A cruz -chamada de Cruzeiro- é muito comum na Galiza rural. Serve para afugentar os maus espíritos 


   Ficámos alojados numa casa rural simpática, por uma noite, já que no dia seguinte (domingo) teríamos de regressar por motivos laborais. Antes de partir, demos uma volta pelas redondezas. Naturalmente, fomos e viemos de carro próprio.

9 de outubro de 2024

Cambados.


   Outra das vilas que nos mereceram atenção durante as férias foi Cambados. Bem assim como Combarro, é um lugar pitoresco, agradável (muito perto de Sanxenxo), com sítios que se devem conhecer, designadamente o seu paço (Pazo de Fefiñáns) e principalmente as ruínas da Igreja de Santa Mariña de Dozo, que, como o nome indica, são ruínas de uma igreja dentro de um cemitério. Lembra-nos vagamente as ruínas do Convento do Carmo, em Lisboa. A diferença é que estas ruínas não se produziram por qualquer fenómeno natural, senão pelo abandono humano, no século XIX. Foram consideradas monumento nacional em Espanha em 1943 e hoje é considerado, o espaço, o cemitério “mais melancólico do mundo”, nas palavras do escritor Álvaro Cunqueiro. É o terceiro monumento funerário mais importante de Espanha e consta duma lista prestigiada da Associação de Cemitérios Significativos da Europa (ASCE).


Ruínas da Igreja de Santa Mariña de Dozo


Pazo de Fefiñáns


1 de outubro de 2024

Combarro.


   Combarro é uma vila lindíssima perto de Sanxenxo. O que mais destaca na sua paisagem são os espigueiros -elementos comuns no noroeste peninsular (norte de Portugal e Galiza)- perto do mar, ou seja, uma junção da tradição agrícola com a pesqueira.




   Cheia de turistas, é quase impossível caminhar no seu núcleo mais pitoresco. Às vezes dá-me pena pelos autóctones, os moradores, sujeitos ao assédio de tanta gente.

29 de setembro de 2024

Sanxenxo.


    De volta à península ibérica, as férias não haviam terminado. Nem pensar. Tínhamos mais uns quantos dias para desfrutar, e duas opções: descansar dos vôos e dos comboios em casa, na nossa piscina, ou aproveitar para passear mais um pouco e conhecer lugares novos. Escolhemos a segunda. Já com o nosso carro, decidimos ir até à costa galega, à maravilhosa localidade de Sanxenxo. Sanxenxo é uma vila do litoral da Galiza, muito procurada pelas pessoas da alta finança. Tem uma marina cheia de iates. Nas ruas não se vêem imigrantes. Apenas gente bem aposta, educada. Há tempos que o M. me disse que teríamos de ir lá, e eu simplesmente adorei. Senti-me em casa verdadeiramente. 


Foram dias muito bem aproveitados

   Não ficámos apenas em Sanxenxo. Fomos a duas vilas muito próximas, encantadoras também, mais tradicionais. Essas ficarão para uma publicação ulterior.

27 de setembro de 2024

Lanzarote IV (Casa José Saramago).


    “Uma casa feita de livros”. Foi desta forma que José Saramago definiu a sua residência dos últimos dezassete anos de vida. Foi, realmente, a visita mais interessante da estadia em Lanzarote e uma das mais interessantes que fiz na vida. Curioso, não? Podia eleger o British Museum ou outro qualquer, e tive muito mais prazer numa casa singela, sem luxos, decorada com gosto e com quadros bonitos, é certo, mas uma casa comum. Poderia ser a minha casa. 

   Tivemos a sorte de ser os únicos da visita (lembrei-me imediatamente da minha visita à casa de Amália Rodrigues, em que também fui o único). Passámos pela entrada, pelo escritório, o quarto (onde morreu, no Verão de 2010), a sala, a cozinha, o jardim -no qual contemplava o oceano-, e depois, noutro recinto em frente à casa, do outro lado da rua, a sua gigantesca biblioteca composta por milhares de exemplares.





     Aparentemente sem nada de especial, foi uma visita muito significativa para mim. À saída, na loja, adquiri várias obras de Saramago e mais umas quantas lembranças. O guia, espanhol, foi excepcional. Contou-nos algumas curiosidades sobre a casa e o próprio Saramago. Sendo os únicos, pudemos usufruir de uma atenção personalizada.

       Para terminar, um pouco da história da casa. Saramago e Pilar compraram aqueles terrenos, mandaram construir a casa, e Saramago estabeleceu lá a sua residência em 1993, em virtude de um dos seus livros, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, ter sido vetado pelo governo de Cavaco a um prémio literário europeu. Todas as obras a partir de então foram escritas em Lanzarote, muito embora Saramago tivesse um apartamento em Lisboa que, aliás, continuou a ser a sua residência oficial, e onde vinha com frequência. Recomendo.

25 de setembro de 2024

Lanzarote III (Jameos del Agua).


    Inicialmente, não queria ir aos Jameos del Agua. Comentei-o, aliás, com a recepcionista do hotel, a María, um encanto de senhora, sempre prestável, preocupada em fazer-nos sentir bem (se quiserem ir a Lanzarote, posso-lhes facilitar o nome do hotel por e-mail; basta para tal contactar-me). Pareceu-me um local turistificado à exaustão, muito comercial. Preferia fazer algo cultural sem cair no previsível. Fui aconselhado a dar-lhe uma oportunidade. Defraudou. Ah, eu sou assim. Quando gosto, gosto. Quando não gosto, não gosto.


Há quem possa achar isto idílico; eu não


   César Manrique, um pintor e escultor muito famoso em Lanzarote, idealizou os Jameos: num túnel vulcânico, criou um espaço natural, inaugurado em 1977. Tal como a Cueva de los Verdes, o espaço originou-se com a erupção do vulcão de La Corona. Ao passo que, lá, não moldaram aquelas grutas misteriosas, nos Jameos César Manrique deu asas à sua imaginação e idealizou um jardim, um lago, com palmeiras. Criou um belo entorno natural num túnel vulcânico. O problema, no meu entender, é que há demasiados turistas, o preço do bilhete é excessivamente elevado e, sejamos sinceros, não passa de um jardim exótico. No piso superior fizeram um museu do vulcão, que está ali como poderia estar em Madrid, em Lisboa, em Santa Comba Dão, quer dizer, nada de especial. Há um lago que alberga uma espécie protegida de caranguejo cego, mas são tantos turistas que não se consegue ver nada. A minha intuição estava certa. 


O auditório formado por pedra basáltica

    
       Talvez o mais interessante seja o auditório construído numa das secções do túnel.

23 de setembro de 2024

Lanzarote II (Cueva de los Verdes).


    Há pessoas que se esgotam em roteiros culturais. Nós, no Verão, não. Cada um estabelece as suas prioridades. O M. trabalha muito, demasiado, e quer sobretudo descansar. Meio contra a sua vontade, na segunda quinzena de férias, no Inverno, “obrigo-o” a andar de museu em museu, daqui para acolá, e de certa forma sinto-me culpado por não lhe permitir mais tempo de descanso, afinal, ele fá-lo por mim.

    Estas férias de Verão foram -sei-o- das mais relaxantes para o M., e isso agrada-me. Ele não gosta particularmente de praia e piscina. Vai por mim. Fica deitado, joga no telemóvel, lê um livro. E eu também aproveito a vê-lo descansar. Entretanto, achámos que podíamos fazer algumas coisas mais. Decidimo-nos a ir à Cueva de los Verdes.


O efeito espelho é um dos mais interessantes da cueva. Julgamos que estamos perante um enorme precipício. Nada mais falso. É água, tão límpida que faz um reflexo que nos leva a crer estar perante uma cratera


   A Cueva de los Verdes é uma gruta subterrânea originada por uma grande erupção vulcânica há cerca de 25.000 anos. As Canárias -aliás, à semelhança dos Açores, da Madeira, das Selvagens e de Cabo Verde- são um arquipélago de origem vulcânica, e configuram, todos, a Macaronésia.

   A gruta, a cueva, é interessante de se ver. Somos testemunhas de um passado remoto que moldou aquela paisagem. Podemos observar a lava solidificada, a forma como esculpiu aqueles caminhos debaixo do solo, que percorremos numa visita guiada que se faz muito bem. O norte da ilha de Lanzarote, no seu subsolo, é atravessado por um túnel totalmente inundado de água que se originou exactamente pela acção do vulcão de La Corona. A gruta formou-se precisamente no tecto do túnel. 

    Ir à Cueva de los Verdes é quase imprescindível numa passagem por Lanzarote.

21 de setembro de 2024

Lanzarote.


   É um destino sem grandes surpresas. A única reside na mudança de ilha. Após três anos seguidos na Gran Canaria, que junto a Tenerife é a maior ilha do arquipélago e uma das mais visitadas, decidimo-nos por Lanzarote. 


A ilha é assim: árida, vulcânica. Uma beleza singular 


   As Canárias são um arquipélago de que gosto muito. Sou intuitivo: ou me sinto bem num lugar, ou não, e quando me sinto bem, costumo ser fiel. Lanzarote pareceu-me bonita nas fotos: uma atmosfera que nos reporta um pouco a Marte, paisagens vulcânicas, praias selvagens, ventos permanentes que amenizam o calor pela proximidade ao Saara.


Uma das mais solicitadas: la Playa del Papagayo


   Adorei. Tivemos dias excelentes de sol, de calor, apaziguados pela brisa constante, que raramente apenas se traduz num vento desagradável. Pelo contrário. Foi uma estância muito, muito agradável.


O pôr-do-sol na Playa Grande, muito perto do hotel


   Optámos quase exclusivamente pelo descanso. O M. precisava muito. Os meses de Julho e Agosto são totalmente extenuantes no que respeita ao trabalho dum médico. Assim sendo, fizemos piscina e praia. Alugámos um carro. Percorremos a ilha. Não repetimos praias. Pontualmente, para descansar a pele e inovar, fizemos alguns percursos culturais. Fomos, naturalmente, à casa de José Saramago, aos Jameos de Agua de César Manrique e à Cueva de los Verdes. Deixarei cada um destes destinos para uma publicação própria. Creio que me merecem a pena.


A dinâmica noite de Puerto del Carmen


    Ficámos alojados num hotel simpático, quatro estrelas, só para adultos (peço desculpa, mas detesto crianças). Pessoal muito prestável, tranquilidade absoluta, sem ruídos. Foram umas férias de sonho. Das melhores que tive.

19 de setembro de 2024

O país a arder.


   Todos os anos o cenário se repete. Ainda a memória de Pedrógão Grande está bem viva, já temos outro cenário com vítimas mortais a lamentar. Menos, é certo, mas as vidas não se contabilizam pelo número de perdas. Cada vida humana que se perde é uma vida. Como não há palavras que mitiguem o sofrimento causado por estes incêndios que devastam o país, eu só posso associar-me ao pesar manifestado pelas suas vítimas. Agora que vivo num meio rodeado de vegetação, consigo imaginar a angústia e o medo permanentes. Muita força.

18 de setembro de 2024

Olivença (uma vez mais).


   Voltámos de férias, e ainda me propunha a falar dos nossos dois destinos primeiro (sem contar com Chaves, que já me mereceu uma publicação), porém, Olivença e a sua questão são um tema que me apaixona. Sou patriota, defendo Portugal, e Olivença não me é -nunca me foi- indiferente. Provavelmente já terei falado da questão em momentos anteriores, mas, em termos gerais, houve uma guerra (uma de muitas com Espanha) em 1801, a Guerra das Laranjas, no contexto das invasões napoleónicas. Espanha era aliada de França e Portugal do Reino Unido. A guerra, ganhou-a a aliança franco-espanhola. Espanha anexou várias localidades fronteiriças, bem assim como Olivença. Devolveu-as a todas num acordo de paz, excepto Olivença, que manteve como “conquista de guerra”. Portugal, fragilizado, aceitou os termos do tratado (de Badajoz). No Congresso de Viena, em 1815, que se propôs a redefinir o mapa da Europa após a derrota de Bonaparte, os tratados prévios foram anulados e Espanha comprometeu-se a devolver Olivença a Portugal. Até hoje.

    Portugal manteve a reivindicação, que foi esmorecendo com o tempo. Entretanto, nos subsequentes tratados de reconhecimento de fronteiras entre os dois Estados, Portugal recusou-se a reconhecer a soberania espanhola. Desde então, de tempos em tempos, Portugal vai recordando o Estado espanhol dos seus direitos -legítimos direitos- sobre Olivença. Desta vez fê-lo por Nuno Melo.

  Naturalmente, muitos consideram um não-assunto, algo anacrónico e patético. Os oliventinos sentem-se espanhóis (pudera, duzentos anos depois e após um processo de extermínio da cultura e língua portuguesas!), Portugal prefere não comprometer as ditas “boas relações” com Espanha e o tempo tratou, dizem, de sanar o assunto. Eu não penso assim. Como diz o povo, numa frase tão simples, “uma coisa é uma coisa; outra coisa, é outra coisa”. Nem o tempo e nem o etnocidio do povo oliventino podem eliminar o direito português a uma parcela do seu território. Pretensões que o Direito Internacional acolhe. E se já que não levamos o assunto às instâncias internacionais -e deveríamos-, pelo menos temos o dever de, de tempos em tempos, ir recordando Espanha de que mantém, ilegal e ilegitimamente, território português. Admitam-no ou não. Eu só lamento que haja tantos portugueses a levar o assunto com tanta displicência.

1 de setembro de 2024

Chaves.


   Começaram as tão esperadas férias. As do Manel, porque eu, em rigor da verdade, estou por casa todo o ano. Bem, o trabalho de casa é trabalho, e é subvalorizado. Em casa trabalha-se, e trabalha-se bastante (falo por mim). Estaremos de férias pelos próximos 15 dias, mais qualquer coisa.


O castelo de Chaves



As termas romanas do século I d. C.


   Fomos até Chaves neste fim-de-semana. Chaves é uma cidade bonita, sossegada, que se percorre perfeitamente a pé. Viemos de carro, eu conduzi, que deixámos num parque muito perto do hotel onde ficámos hospedados.


Ponte Romana de Trajano


    Três anos depois, voltei a Portugal. Escolhemos Chaves pela proximidade, afinal, está muito perto da Galiza, sobretudo de Verín, cidade com a qual forma uma eurocidade.


Museu de Arte Moderna Nadir Afonso


    Aconselho que vão até ao castelo (que não é mais do que uma torre de menagem), ao museu Nadir Afonso, às termas romanas, ao forte (que actualmente alberga um hotel, mas a entrada no recinto é livre). Podem provar o tradicional pastel de Chaves (que é um salgado) e beber o famoso copo de água quente das termas. De igual forma, poderão entrar nas igrejas da cidade, e naturalmente calcorrear as ruas do centro histórico (devem).

      Já falarei dos próximos destinos destas férias grandes.

1 de agosto de 2024

A minha piscina.


    Foram 15 dias de trabalho. Não meu, é certo. Da empresa de piscinas. Eu não imaginava que uma piscina exigia tanta coisa: sala de máquinas (com quadro eléctrico, depuradora, filtro, eu sei lá), escavar para pôr os tubos, a electricidade para o motor e, eventualmente, se quisermos, um foco (nós quisemos, para a iluminar de noite). Além de toda a parte de isolamento. É muito trabalho. E seria mais se não estivesse já construída, isto é, quando comprámos a casa, em Abril, a parte de cimento da piscina já estava feita. Faltava o resto. E que resto.

     Hoje em dia, as piscinas deixaram de ser um símbolo de luxo. Há-as de todos os preços, de vários materiais, tamanhos, formas. Há-as clássicas -de cimento, no chão, como a minha-, mas também as há elevadas. Até de plástico. Qualquer um pode ter a sua poça para se banhar.

A minha piscina, e à direita um pedaço da minha casa


    A nossa ficou um pouco cara, é certo, mas compensa. Compensa porque eu não quis uma piscina para ostentar, mas para desfrutar. É algo de que gosto. Adoro piscinas, praia, mar, Verão. Agora há que cuidar do jardim à volta, que ficou em terra pelas obras. Deixo-lhes foto.

24 de julho de 2024

O fanatismo LGBT (e sei lá mais que letras).


   É um tema controverso entre a chamada dita “comunidade”. A bem dizer, nunca me senti parte de nenhuma comunidade. Quando era miúdo, era gozado, ridicularizado, humilhado, e estava isolado. Não havia mais ninguém. Se os havia, estavam escondidos no armário. Em Portugal, isso das comunidade LGBT surgiu mais tarde. O primeiro festival de cinema, ainda chamado “gay e lésbico”, é de 1997. Após o 25 de Abril, alguns tentaram a emancipação. Teve de vir um general à televisão dizer que a Revolução não se fizera para homossexuais e prostitutas.

    Éramos homossexuais e bissexuais. Gays e lésbicas. Homens que gostavam de homens, mulheres que gostavam de mulheres e aqueles que gostavam de tudo. O que vem à rede é peixe. E foi assim durante anos. Fomos conquistando, a duras penas, o respeito da sociedade; adquirimos direitos. Foi um período feliz. 

     Entretanto, perdeu-se o norte. Eu já não sei o que há. Vejo cada coisa, cada aberração, que meu Deus, eu não me identifico com aquilo. Creio que há problemas do foro psiquiátrico que estão a ser institucionalizados como algo normal. Passámos das orientações sexuais para as identidades de género, e hoje já há gente que diz não ter género, não se identificar com nada. Eu sei lá. Palavra de honra, perdi-me nas nomenclaturas.

     Fui um maricas. Passei a ser um gay. Sou um homem que gosta de homens. Nada mais do que isso. E não me revejo neste fanatismo LGBT+ (o + é importante…) que nos levará a retroceder em respeito e, quiçá, direitos. As pessoas estão fartas de tanto circo. Eu também.

18 de julho de 2024

Céline Dion.


  Há dias vi o documentário sobre Céline Dion e a sua doença, recentemente admitida pela própria (um género de paralisia terrível). Fiquei com imensa pena dela. Nunca fui grande fã das suas músicas, nem do tom anasalado da sua voz, com excepção de algumas canções esporádicas. Acho que Céline se manteve sempre muito fiel a um estilo de música em particular, um pop dos anos 90. Ao passo que Mariah Carey, por exemplo, fez a transição para uma sonoridade mais moderna, Céline não. Aquele pop passou de moda. Esta é uma apreciação meramente pessoal.

   Independentemente de tudo, ver o estado de degradação de Céline deixou-me consternado. Está tão velha, e ela andará pela casa dos 50 e poucos anos. Foi corajoso da sua parte mostrar-se tão debilitada perante o mundo. Admiro-a por isso.

17 de julho de 2024

Cristiano Ronaldo.


   Não sei se algum dia escrevi uma publicação sobre este tipo. É provável que não. Não gosto dele. É uma antipatia antiga. Não é inveja (quer dizer, para invejar alguém, há-os igualmente ricos e com mais interesse). Há algo nele que me faz ficar de pé atrás. Acho-o um presunçoso, um azeiteiro do pior, e agora, para piorar, alguém que não larga o tremoço. Que esteja a fazer uma má gestão do final da sua carreira enquanto futebolista, é problema dele, porém, a selecção não é apenas um problema dele. É uma entidade que diz respeito a todos os portugueses, e o tipo já não joga nada. Verdade seja dita, pela selecção nunca fez muito, e de momento, com 39 anos, só atrapalha. Simultaneamente, não temos tido responsáveis na FPF (Federação Portuguesa de Futebol) que o afastem, porque, lá está, Ronaldo é intocável. Ele joga até quando quiser; ele, se bem se lembram, deu ordens à selecção no jogo em que fomos campeões europeus, sobrepondo-se a Fernando Santos, então seleccionador. Ele põe e dispõe. 

   Isto tem de ter um fim. É inevitável. Esse sujeito não pode disputar o Mundial de 2026. Temos outros jogadores com qualidade, muito mais novos, que podem dar o seu contributo para os nossos bons resultados. Há é que ter a coragem de dar um basta aos caprichos de alguém que crê que não envelhece, que o tempo não passa por si. Passa, passa. Passa por todos, e no seu caso não parece que tenha ajudado muito à maturidade.

12 de julho de 2024

Dias.


   Ora viva! Bem sei que há mais de um mês que não publico nada. Não sou muito de encher chouriços. Quando não tenho nada para dizer, calo-me. Mas não me esqueço do blogue, nem das poucas pessoas que me lêem e que, suponho, pensarão em mim e em como estarei. Estou igual. Na minha casa, a que dedico o meu tempo. Para a semana virão os técnicos arranjar-me a piscina (a casa tem uma, mas falta terminá-la, ou seja, impermeabilizar, colocar um motor, por aí fora). Piscina, piscina. De chão. Enterrada. Não é dessas “banheiras” de plástico que se compram. De resto, tenho acompanhado o Europeu de futebol, torneios de que gosto, e pouco mais. É ir desfrutando da casa, da horta (as alfaces já estão enormes!), do jardim, dos meus bichos, e do meu marido, claro. Não preciso de nada mais. 

5 de junho de 2024

A horta.


   Há muitos lados bons de ter uma casa no campo, e um deles é ter uma horta. Bom, depende do tamanho do terreno. No nosso caso, temos um terreno de mais de 1.700m2. É bastante. Dá para o jardim, as árvores de fruto (e temos macieira, cerejeira, pereira, ameixoeira, etc) e também para a horta. Nos últimos dias, então, dedicámo-nos a fazer a nossa horta, e uma vez que não temos nenhum tractor, não quedó otra que cavar a terra e depois semeá-la. Plantámos alfaces, beterrabas, cebolas, tomates (duas variedades), pimentos, alhos, pepinos, abóbora. Acho que mencionei tudo. Agora é regar, mimar e esperar.

     Deixo-lhes uma fotinha da horta. :)




1 de junho de 2024

Taylor Swift.


     Não sei se vocês têm estado atentos às notícias. Eu, regra geral, sim, e surpreendeu-me o destaque dos média portugueses a Taylor Swift e aos seus dois concertos de Lisboa. Aqui em Espanha também houve alguma cobertura mediática, menos, parece-me.

    Mas quem raio é a Taylor Swift, pergunto eu? Uma cantora nascida em 1989, que canta uma música que, enfim, há gostos para tudo, mas o que é que fez de relevante para merecer tanto destaque? Se fosse uma Madonna, uma Cher, eu compreendia. Há veteranas que de facto ousaram numa época onde era difícil ousar-se, abriram caminho e conquistaram um lugar que a idade e os anos de carreira impõem. Agora, esta tipa -e não tenho nada contra nem a favor da rapariga- fez o quê? É que foi um histerismo autêntico. Quando as massas se movem num sentido, eu fico algo assustado.

     Compreendo que haja uma geração que goste e se divirta. O fenómeno não é de agora; o que há agora que não havia antes são as redes sociais. De resto, os nossos pais veneravam os Beatles, o Elvis; nos anos 80, já as meninas desmaiavam -literalmente- pelo Michael Jackson. Isto não é de agora. Diz mais do mau jornalismo do que das tendências, que são o que sempre foram desde que surgiu a cultura pop. Parece que não há nada de mais importante a acontecer no mundo…

15 de maio de 2024

José Castelo Branco.


   Simpatize-se ou não, este senhor conseguiu pôr o país todo, mesmo todo -incluindo jornalistas de renome-, a falar dele durante dias a fio. Eu, por José Castelo Branco, não sinto nada. É verdade que algumas das suas bichices me dão vontade de rir, o que se verificava sobretudo há uns vinte anos, quando ele se tornou mediático. Portugal era mais cinzento, e Castelo Branco surgiu assim como uma personagem irreverente e profundamente diferente. Deu o corpo às balas, é certo, porque hoje já vai sendo comum ver homens maquilhados e vestidos com roupa feminina. Usar-se estes termos, como “roupa feminina”, é controverso. Eu acho que não há roupas femininas nem masculinas. Somos nós quem lhes colocamos rótulos. Refiro-o assim para me fazer entender.

   Entretanto, havia um aspecto que era quase consensual em Castelo Branco: a atenção que dedicava à sua esposa, a joalheira Betty Grafstein, inglesa radicada nos Estados Unidos que herdou um império do segundo marido. Independentemente dos motivos de Castelo Branco (com uns a dizer que se casara por interesse), a senhora aparecia sempre bem cuidada, estimada, ele parecia levantar-lhe a moral, e a mim parecia-me bem. Estas pessoas, a partir de uma certa idade, devem ser estimuladas, caso contrário acabam numa cama, prostradas, e parar é morrer. As acusações de violência doméstica vêm trocar-nos as voltas.

    Eu não sei se Castelo Branco é culpado ou inocente. Ninguém sabe, excepto ele e a alegada vítima ou quem terá presenciado as cenas de violência. Compete à justiça apurar a verdade. O que sei é que esta personagem granjeou muitos inimigos ao longo dos anos, pela sua personalidade e excentricidade. As opiniões sobre ele e a sua relação pública com Betty Grafstein são díspares. Há, evidentemente, um aproveitamento por parte de algumas pessoas que aparecem agora, vindas do nada. Há contradições, há aspectos que parecem não coincidir e há muita suspeição. Quanto a mim, até que se prove o contrário, prefiro manter uma postura cautelosa e acreditar na inocência de Castelo Branco.

6 de maio de 2024

Os 50 anos do 25 de Abril.


   Houve anos nos quais escrevi, aqui no blogue, sobre a Revolução. A determinado momento, não há nada mais para dizer. A história é conhecida, os intervenientes também. Todos os anos é a mesma ladainha. A Revolução de Abril de 1974 foi imprescindível para Portugal. Eu não o vivi, tal não me seria possível, mas conheço o retrato do Portugal da época: super atrasado, miserável, com uma taxa de analfabetismo a rondar os 30%, uma guerra colonial terrível. Demos um pulo, em liberdade e em modernidade. A Revolução foi um êxito. Ponto final. Os factos são factos. Entretanto, há muito a fazer, muitíssimo, que já deveria ter sido feito, e nem tudo o que fizemos, que foi muito, justifica o que não foi feito e deveria ter sido. Portugal continua na cauda da Europa Ocidental, e começa a ser ultrapassado pelos países de leste. Fomos num ascendente até finais dos anos 90, sempre a crescer, e depois estagnámos. É verdade que nem tudo depende da nossa vontade e competência -somos pequenos, periféricos, pobres em matérias-primas-, mas tem havido um autêntico descaso da classe política com o país. Eles são incompetentes e, como se não fosse suficiente, corruptos. 

    Eu, ao contrário de muitos, não acho que o 25 de Abril continue por cumprir. Acho que se cumpriu, e cumpriu bem o seu propósito: terminar com a guerra colonial, restituir as várias liberdades e desenvolver, este último no sentido de correr atrás do prejuízo. O resto é um imperativo lógico: adequar o país ao contexto em que se insere, uma Europa moderna, justa, solidária e desenvolvida, e aí continuamos a falhar. 

4 de maio de 2024

XVI Aniversário.


   O aniversário do blogue foi ontem, no dia 3 de Maio, não obstante, com a azáfama em torno da nova casa, das mudanças, das obras pontuais, passou-se-me assinalá-lo. Todos os dias 3 de Maio, nos últimos dezasseis anos, tenho escrito sobre o aniversário do blogue. O que poderei acrescentar este ano que ainda não tenha sido dito? Dezasseis anos de um blogue. É obra! Surgiu quando a blogosfera estava no auge; sobreviveu ao advento do Facebook, do Twitter; às minhas desgraças pessoais (às mais terríveis), ao desgaste do tempo, ao esquecimento, a tudo. E aqui está ele e aqui estou eu, mais presente, mais omisso, conforme as exigências da vida, mas continuo. Continuo e continuarei, porque, como disse uma vez, adoro escrever. Necessito escrever. É um exercício de catarse. Alivia-me. E isso não se esfuma com o tempo. É uma característica minha, que me irá acompanhar sempre. Portanto, é mais do que provável que o blogue continue, enquanto eu conseguir escrever.

     Um bem-haja a todos e obrigado pelos 16 anos de companhia.

3 de maio de 2024

Venda do apartamento.


    Depois das mudanças, colocámos o apartamento à venda. Ali não fui feliz. Contei-no por aqui, e custa-me fazer propaganda a algo que não gosto. Mais, custa-me mentir. Como poderei escrever coisas nos anúncios como “vende-se fantástico apartamento, soalheiro, luminoso, sossegado” se seria tudo uma enorme mentira? É… isto tem um nome: escrúpulos. Os meus não me deixam fazer propaganda desonesta. Em todo o caso, tenho de vendê-lo. Nem tanto pelo dinheiro, que não necessito, senão porque, uma vez que não fui feliz ali, não é algo que queira manter como meu. Haveria a opção de arrendá-lo, contudo, sendo um tema que creio já ter abordado no blogue, em Espanha há um fenómeno social muito comum chamado okupas - que só agora começa a ter dimensão social em Portugal, timidamente-. Arrendar um apartamento é um risco: ao risco habitual de que nos estraguem tudo, ao não lhes pertencer, acresce o de deixarem de pagar a renda, e depois é um cabo dos trabalhos para os despejar. Se têm filhos pequenos então…

    Entretanto, hoje mostrei, pela primeira vez, o apartamento a um casal de hipotéticos compradores. Não lhes vi muito interesse. Eu tão-pouco consegui dissimular a minha falta de encanto com o apartamento, e tentei, tentei. Provavelmente sentiram o que eu senti desde o primeiro dia: que não seria feliz aqui, e não fui. O motivo que nos levou a ficar com ele é conhecido, e se não é, conto-o agora: o meu marido começava a trabalhar numa sexta-feira aqui, ninguém nos quis arrendar um apartamento devido ao facto de termos um cão, logo, não nos restou outro remédio que comprar um apartamento à pressa, sem poder escolher devidamente. Não foi a compra de uma vida, isto é, não foi excessivamente caro, mas convém, como dizem os espanhóis, quitármelo de encima.

26 de abril de 2024

Não, não morri (ainda).


   Olá! Passou-se um mês desde a última vez que postei no blogue. Ando atarefado, daí a ausência. Tem sido um mês intenso. Começando pelo começo, como se costuma dizer, comecei a conduzir. Tirei umas aulas de condução, comprei um carrito (usado, para ir aprendendo) e já conduzo. Comprámos uma casa no campo, a 7 quilómetros da vila onde vivíamos, porém, pertence a outro concelho. Aqui não há nada -o que eu queria; sossego-. Não há comércio, nada. Agora tão-pouco preciso, ao ter o carro. Todos os dias vou à vila deixar o meu marido, e depois vou buscá-lo. Já moramos aqui. É uma casa bonita, de pedra, com imenso terreno, e até tem uma pequena piscina. Estava (quase) pronta a entrar a viver. Tivemos de arranjar a bomba da caldeira de gasóleo (para o aquecedor central), instalar um esquentador novo, mudar a placa de vitrocerâmica… Fora isso e mais algum detalhe de que me esqueça, estava pronta a viver. Inclusive tem móveis, bonitos e de boa qualidade. Não foi muito cara. O antigo proprietário queria desfazer-se dela, tal como eu, agora, me quero desfazer daquele maldito apartamento onde vivi no último ano e meio, quase, e onde não fui nada feliz, nada mesmo. Péssimos vizinhos, sem vistas, imenso barulho de fundo. Fui do céu ao inferno, e agora tenho a minha casinha. Posso fazer uma horta, um jardim (inclusive já tenho rosas). Estou contente, na fase das mudanças, e sabe Deus o quão eu odeio mudanças -já fiz tantas na vida, e esta, vo-lo garanto, é a última-. Daqui não saio, daqui ninguém me tira. Naturalmente, não quero mais sair daqui, mas a vida é imprevisível. Nunca sabemos o que nos espera. 

    É tudo, por enquanto. Manter-vos-ei a par.

24 de março de 2024

Conduzir, uma vez mais.


   Eu tirei a carta de condução em 2011. A história começou em 2007. Matriculei-me numa escola de condução em Alfornelos. Ia às aulas de código todos os dias. Cheguei ao exame de código, aprovei. Bestial. Na condução, chumbei duas vezes. O exame de código caducou. Mudei de escola de condução. Voltei a fazer o código e a aprovar. Bestial. Consegui passar no exame de condução (a muito custo, à terceira tentativa, contando com as duas primeiras na anterior escola). E voltamos a 2011. Nunca mais peguei num carro. Em Lisboa, não é necessário conduzir, e além disso não me sentia minimamente preparado para o fazer.

    Agora vivo no rural. Queremos comprar uma casa numa aldeia pequenita, mas o meu marido trabalha numa vila, ou seja, e sem transportes, terá de ir todos os dias da aldeia para a vila. São cerca de 7km de carro. O M. não tem a carta de condução. No seu caso, percebe-se facilmente. Esteve 11 anos em medicina. É um curso muito exigente. Por isso, uma vez que eu já tenho a carta, terei de ser eu a levá-lo. 

    Eu conduzo mal. Morro de medo de conduzir, de ter um acidente. Sou péssimo. Entretanto, já me inscrevi numa escola para tirar umas lições de condução e, por fim, comprar um carrito e começar a conduzir. Estou apavorado. Serei capaz algum dia de o fazer? É um dos meus maiores desgostos, não saber conduzir. Porém, agora terá mesmo de ser. É agora ou nunca.

18 de março de 2024

Ave do Paraíso (Tessa, Festival da Canção, 1983).


   Nunca prestei atenção ao Festival da Canção. Quando nasci e cresci, já estava em franca decadência (anos 90), portanto, as minhas memórias do certame vão pouco mais além de cantarolar “peguei, trinquei e meti-te na cesta” da Dina, com as minhas coleguinhas da primária. Em 2017, assisti à final da Eurovisão -que Portugal ganhou- num bar de ursos, no Príncipe Real, e foi giro pela convivência. E é tudo. Não sou a tradicional bicha festivaleira e eurovisiva. Contudo, este ano, soube, comemoraram-se os 60 anos do Festival da Canção (1964-2024), e achei por bem escrever algumas linhas sobre o festival de 1983. E porquê de 83? Teve algumas especificidades: foi o primeiro que se realizou fora de Lisboa (Porto), o Herman José ficou em 2° com A Cor do Teu Baton, o Carlos Paião e a Cândida Branca-Flor (paz à alma de ambos) imortalizaram a patriótica Vinho do Porto, Vinho de Portugal e, para terminar, houve uma pequena grande pérola: uma miúda chamada Tessa levou um tema chamado Ave do Paraíso que foi… bom, é melhor que o vejam e oiçam, porque não há palavras. Apenas uma interrogação: como foi possível? Deixo-lhes o vídeo:



14 de março de 2024

As bichas são perversas.


     O meu marido é um homem muito educado e diplomático. Evita os confrontos, procura dar-se bem com todos. É um rapaz criado no rural, no meio das vacas, e que portanto desconhece o meio gay. Nunca o viveu. Não sabe como é. Não subestimo a sua inteligência. É um rapaz extremamente culto e inteligente, mas há coisas que ou as vivemos ou não as conhecemos. Podemos intuí-las, porém, há que vivê-las.

     Há aqui um tipo, médico também -que contudo não trabalha no mesmo sítio que o meu marido-, com quem, por motivos profissionais (derivação de doentes etc), o meu marido teve de começar a falar. Trocaram Whatsapp e tal. Tudo bem. Acontece que a bicha -e bicha não porque seja feminino; a bicha, pronto- começou a fazer-lhe perguntas mais pessoais: desde quando sabe que gosta de rapazes, há quanto tempo estamos juntos, a insinuar que o meu marido estuda muito e que isso lhe parece sexy (acompanhado de um emoji insinuante…). Esse tipo de situações.

     Eu comentei a situação com o M. - ele, aliás, foi o primeiro a mostrar-me as mensagens-. Ele leva aquilo na brincadeira. Ri-se daquilo que considera ser um ciuminho bobo da minha parte e pergunta-me se não confio nele. Eu nele confio; eu não confio é nestas bichas, que não são desinteressadas. Eu não venho do meio das vacas. Venho duma cidade, lidei com muita bicha. Sei como elas são, como pensam, e o que querem.

     Sou um senhor, mas há coisas que não admito. Se a bicha estica a corda, conhecerá o meu pior lado, e acreditem, é muito mau esse meu lado. Sou menino para lhe estragar a vida aqui, começando pelo seu local de trabalho. Ele que se cuide.

12 de março de 2024

André Ventura.


   André Ventura é, hoje, uma das figuras mais controversas do panorama político e social português. Há quem goste dele, há quem o odeie. A mim, não me é tão repulsivo. Não lhe faço o cordão sanitário que muitos na política e na comunicação social lhe fazem, e que ele tanto agradece, e concordo com algumas das suas bandeiras. A imigração, por exemplo. Estou do lado de Ventura quando diz que devemos limitar a imigração. Portugal tem, não sei se sabem, quase 1 milhão de imigrantes. Chocamo-nos com o 1 milhão de votos no CHEGA (e o meu não está lá, já agora), mas muito pouco com 1 milhão de estrangeiros a viver num país tão pequeno; também parece que não nos assusta a criminalidade violenta que está a aumentar. Por quanto tempo mais Portugal figurará entre os países mais seguros e pacíficos do mundo? 

    Ventura implica com os ciganos; eu, quiçá, com os brasileiros. Se viessem menos, não estaria mal. Entretanto, há outras bandeiras do líder do CHEGA que não partilho, designadamente a prisão perpétua e a castração química de pessoas. Limitar a imigração bastaria para reduzir grande parte da criminalidade violenta, estou em crer, embora a comunicação social nos tente fazer ver o contrário, quer negando as evidências, quer ocultando deliberadamente a origem dos criminosos.

    Como em tudo, André Ventura não é nenhum monstro; não é o bicho-papão da ditadura que vem aí. É um homem que diz aquilo em que acredita, e depois compete a cada um de nós concordar ou discordar - e parece que até há mais de 1 milhão que concorda. Eu discordo de muito, desde logo do estilo, e concordo com outro tanto. Creio que Ventura, em algumas matérias, diz o que muitos pensam e não dizem e quer fazer o que outros tantos não têm coragem de fazer, ainda que pudessem.

11 de março de 2024

A Noite Eleitoral.


   Acompanhei a par e passo a noite eleitoral através da SIC Notícias, que subscrevi especialmente para este efeito das Legislativas 2024. Sem mais demoras, resultados surpreendentes. A abstenção foi a mais baixa desde 1995, situando-se algures nos 33%. As pessoas mobilizaram-se, sentiram que o seu voto podia ser decisivo. Um excelente indicador. O meu marido disse-me que a baixa abstenção poderia ser um mau presságio (as pessoas saíam de casa para votar na extrema-direita); eu, ao contrário, acho que, independentemente dos resultados, é sempre excelente que a abstenção seja baixa. Vínhamos num crescente desde 1975, que agora, pela primeira vez, se reverteu. Eu devo isto a um factor: temos uma população mais instruída, que sabe que deve votar. Temos jovens com mais consciência política. O povo é soberano e o povo decidiu.

    Esperava-se que ganhasse a AD ou o PS, qualquer dos dois com pouca margem um do outro. Aguardamos ainda os quatro deputados do círculo da emigração (onde me incluo), porém, há um dado inegável: o governo que sair deste acto eleitoral será um governo minoritário. Abrem-se várias equações: para a AD governar, o PS e o CHEGA têm de deixar. O CHEGA obteve 48 deputados. Superou o resultado do PRD em 1985, que ficou, salvo erro, com 45. Instalou-se como grande terceira força política. E quer fazer parte do governo. São pretensões legítimas. Tão grande expressão eleitoral dá-lhe legitimidade nesse sentido, ao não conseguir a AD, nem com a Iniciativa Liberal, a maioria absoluta. Maioria absoluta que o PS também não conseguiria com toda a esquerda junta - a esquerda à esquerda do PS teve um resultado desastroso. A CDU esteve à beira de desaparecer.

   A Luís Montenegro, assumindo que o “não é não”, resta-lhe governar em maioria relativa, ou em minoria, que é a mesma coisa, repetindo o que Cavaco Silva fez em 1985. Esse governo de 85 caiu dois anos depois, em 1987, com uma moção de censura do PRD, que vingou na AR com os votos do PS, e que representou dois tiros nos pés e um na cabeça desse partido próximo a Ramalho Eanes, que passou de 45 deputados para 7, nas eleições de 87. É possível fazê-lo, contudo, não será um governo para uma legislatura. Entretanto teremos, ainda este ano, eleições europeias, e no início de 2026 as presidenciais, sendo que o Presidente fica impossibilitado de dissolver a AR nos seis meses finais do seu mandato e nos seis iniciais da eleição da Assembleia da República. Agora jogar-se-á nos bastidores. Para formar um governo minoritário, Montenegro necessitará de ter um bom ministro dos assuntos parlamentares. Necessitará de negociar com todos (e isso implica o CHEGA e o seu 1 milhão de votos). Será um jogo de equilíbrio. Eu entendo que, ainda assim, muito dificilmente um governo minoritário aguentará 4 anos. A ver vamos. Por agora, tudo são conjunturas e especulações. Voltarei seguramente a este assunto.