9 de outubro de 2024

Cambados.


   Outra das vilas que nos mereceram atenção durante as férias foi Cambados. Bem assim como Combarro, é um lugar pitoresco, agradável (muito perto de Sanxenxo), com sítios que se devem conhecer, designadamente o seu paço (Pazo de Fefiñáns) e principalmente as ruínas da Igreja de Santa Mariña de Dozo, que, como o nome indica, são ruínas de uma igreja dentro de um cemitério. Lembra-nos vagamente as ruínas do Convento do Carmo, em Lisboa. A diferença é que estas ruínas não se produziram por qualquer fenómeno natural, senão pelo abandono humano, no século XIX. Foram consideradas monumento nacional em Espanha em 1943 e hoje é considerado, o espaço, o cemitério “mais melancólico do mundo”, nas palavras do escritor Álvaro Cunqueiro. É o terceiro monumento funerário mais importante de Espanha e consta duma lista prestigiada da Associação de Cemitérios Significativos da Europa (ASCE).


Ruínas da Igreja de Santa Mariña de Dozo


Pazo de Fefiñáns


1 de outubro de 2024

Combarro.


   Combarro é uma vila lindíssima perto de Sanxenxo. O que mais destaca na sua paisagem são os espigueiros -elementos comuns no noroeste peninsular (norte de Portugal e Galiza)- perto do mar, ou seja, uma junção da tradição agrícola com a pesqueira.




   Cheia de turistas, é quase impossível caminhar no seu núcleo mais pitoresco. Às vezes dá-me pena pelos autóctones, os moradores, sujeitos ao assédio de tanta gente.

29 de setembro de 2024

Sanxenxo.


    De volta à península ibérica, as férias não haviam terminado. Nem pensar. Tínhamos mais uns quantos dias para desfrutar, e duas opções: descansar dos vôos e dos comboios em casa, na nossa piscina, ou aproveitar para passear mais um pouco e conhecer lugares novos. Escolhemos a segunda. Já com o nosso carro, decidimos ir até à costa galega, à maravilhosa localidade de Sanxenxo. Sanxenxo é uma vila do litoral da Galiza, muito procurada pelas pessoas da alta finança. Tem uma marina cheia de iates. Nas ruas não se vêem imigrantes. Apenas gente bem aposta, educada. Há tempos que o M. me disse que teríamos de ir lá, e eu simplesmente adorei. Senti-me em casa verdadeiramente. 


Foram dias muito bem aproveitados

   Não ficámos apenas em Sanxenxo. Fomos a duas vilas muito próximas, encantadoras também, mais tradicionais. Essas ficarão para uma publicação ulterior.

27 de setembro de 2024

Lanzarote IV (Casa José Saramago).


    “Uma casa feita de livros”. Foi desta forma que José Saramago definiu a sua residência dos últimos dezassete anos de vida. Foi, realmente, a visita mais interessante da estadia em Lanzarote e uma das mais interessantes que fiz na vida. Curioso, não? Podia eleger o British Museum ou outro qualquer, e tive muito mais prazer numa casa singela, sem luxos, decorada com gosto e com quadros bonitos, é certo, mas uma casa comum. Poderia ser a minha casa. 

   Tivemos a sorte de ser os únicos da visita (lembrei-me imediatamente da minha visita à casa de Amália Rodrigues, em que também fui o único). Passámos pela entrada, pelo escritório, o quarto (onde morreu, no Verão de 2010), a sala, a cozinha, o jardim -no qual contemplava o oceano-, e depois, noutro recinto em frente à casa, do outro lado da rua, a sua gigantesca biblioteca composta por milhares de exemplares.





     Aparentemente sem nada de especial, foi uma visita muito significativa para mim. À saída, na loja, adquiri várias obras de Saramago e mais umas quantas lembranças. O guia, espanhol, foi excepcional. Contou-nos algumas curiosidades sobre a casa e o próprio Saramago. Sendo os únicos, pudemos usufruir de uma atenção personalizada.

       Para terminar, um pouco da história da casa. Saramago e Pilar compraram aqueles terrenos, mandaram construir a casa, e Saramago estabeleceu lá a sua residência em 1993, em virtude de um dos seus livros, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, ter sido vetado pelo governo de Cavaco a um prémio literário europeu. Todas as obras a partir de então foram escritas em Lanzarote, muito embora Saramago tivesse um apartamento em Lisboa que, aliás, continuou a ser a sua residência oficial, e onde vinha com frequência. Recomendo.

25 de setembro de 2024

Lanzarote III (Jameos del Agua).


    Inicialmente, não queria ir aos Jameos del Agua. Comentei-o, aliás, com a recepcionista do hotel, a María, um encanto de senhora, sempre prestável, preocupada em fazer-nos sentir bem (se quiserem ir a Lanzarote, posso-lhes facilitar o nome do hotel por e-mail; basta para tal contactar-me). Pareceu-me um local turistificado à exaustão, muito comercial. Preferia fazer algo cultural sem cair no previsível. Fui aconselhado a dar-lhe uma oportunidade. Defraudou. Ah, eu sou assim. Quando gosto, gosto. Quando não gosto, não gosto.


Há quem possa achar isto idílico; eu não


   César Manrique, um pintor e escultor muito famoso em Lanzarote, idealizou os Jameos: num túnel vulcânico, criou um espaço natural, inaugurado em 1977. Tal como a Cueva de los Verdes, o espaço originou-se com a erupção do vulcão de La Corona. Ao passo que, lá, não moldaram aquelas grutas misteriosas, nos Jameos César Manrique deu asas à sua imaginação e idealizou um jardim, um lago, com palmeiras. Criou um belo entorno natural num túnel vulcânico. O problema, no meu entender, é que há demasiados turistas, o preço do bilhete é excessivamente elevado e, sejamos sinceros, não passa de um jardim exótico. No piso superior fizeram um museu do vulcão, que está ali como poderia estar em Madrid, em Lisboa, em Santa Comba Dão, quer dizer, nada de especial. Há um lago que alberga uma espécie protegida de caranguejo cego, mas são tantos turistas que não se consegue ver nada. A minha intuição estava certa. 


O auditório formado por pedra basáltica

    
       Talvez o mais interessante seja o auditório construído numa das secções do túnel.

23 de setembro de 2024

Lanzarote II (Cueva de los Verdes).


    Há pessoas que se esgotam em roteiros culturais. Nós, no Verão, não. Cada um estabelece as suas prioridades. O M. trabalha muito, demasiado, e quer sobretudo descansar. Meio contra a sua vontade, na segunda quinzena de férias, no Inverno, “obrigo-o” a andar de museu em museu, daqui para acolá, e de certa forma sinto-me culpado por não lhe permitir mais tempo de descanso, afinal, ele fá-lo por mim.

    Estas férias de Verão foram -sei-o- das mais relaxantes para o M., e isso agrada-me. Ele não gosta particularmente de praia e piscina. Vai por mim. Fica deitado, joga no telemóvel, lê um livro. E eu também aproveito a vê-lo descansar. Entretanto, achámos que podíamos fazer algumas coisas mais. Decidimo-nos a ir à Cueva de los Verdes.


O efeito espelho é um dos mais interessantes da cueva. Julgamos que estamos perante um enorme precipício. Nada mais falso. É água, tão límpida que faz um reflexo que nos leva a crer estar perante uma cratera


   A Cueva de los Verdes é uma gruta subterrânea originada por uma grande erupção vulcânica há cerca de 25.000 anos. As Canárias -aliás, à semelhança dos Açores, da Madeira, das Selvagens e de Cabo Verde- são um arquipélago de origem vulcânica, e configuram, todos, a Macaronésia.

   A gruta, a cueva, é interessante de se ver. Somos testemunhas de um passado remoto que moldou aquela paisagem. Podemos observar a lava solidificada, a forma como esculpiu aqueles caminhos debaixo do solo, que percorremos numa visita guiada que se faz muito bem. O norte da ilha de Lanzarote, no seu subsolo, é atravessado por um túnel totalmente inundado de água que se originou exactamente pela acção do vulcão de La Corona. A gruta formou-se precisamente no tecto do túnel. 

    Ir à Cueva de los Verdes é quase imprescindível numa passagem por Lanzarote.

21 de setembro de 2024

Lanzarote.


   É um destino sem grandes surpresas. A única reside na mudança de ilha. Após três anos seguidos na Gran Canaria, que junto a Tenerife é a maior ilha do arquipélago e uma das mais visitadas, decidimo-nos por Lanzarote. 


A ilha é assim: árida, vulcânica. Uma beleza singular 


   As Canárias são um arquipélago de que gosto muito. Sou intuitivo: ou me sinto bem num lugar, ou não, e quando me sinto bem, costumo ser fiel. Lanzarote pareceu-me bonita nas fotos: uma atmosfera que nos reporta um pouco a Marte, paisagens vulcânicas, praias selvagens, ventos permanentes que amenizam o calor pela proximidade ao Saara.


Uma das mais solicitadas: la Playa del Papagayo


   Adorei. Tivemos dias excelentes de sol, de calor, apaziguados pela brisa constante, que raramente apenas se traduz num vento desagradável. Pelo contrário. Foi uma estância muito, muito agradável.


O pôr-do-sol na Playa Grande, muito perto do hotel


   Optámos quase exclusivamente pelo descanso. O M. precisava muito. Os meses de Julho e Agosto são totalmente extenuantes no que respeita ao trabalho dum médico. Assim sendo, fizemos piscina e praia. Alugámos um carro. Percorremos a ilha. Não repetimos praias. Pontualmente, para descansar a pele e inovar, fizemos alguns percursos culturais. Fomos, naturalmente, à casa de José Saramago, aos Jameos de Agua de César Manrique e à Cueva de los Verdes. Deixarei cada um destes destinos para uma publicação própria. Creio que me merecem a pena.


A dinâmica noite de Puerto del Carmen


    Ficámos alojados num hotel simpático, quatro estrelas, só para adultos (peço desculpa, mas detesto crianças). Pessoal muito prestável, tranquilidade absoluta, sem ruídos. Foram umas férias de sonho. Das melhores que tive.

19 de setembro de 2024

O país a arder.


   Todos os anos o cenário se repete. Ainda a memória de Pedrógão Grande está bem viva, já temos outro cenário com vítimas mortais a lamentar. Menos, é certo, mas as vidas não se contabilizam pelo número de perdas. Cada vida humana que se perde é uma vida. Como não há palavras que mitiguem o sofrimento causado por estes incêndios que devastam o país, eu só posso associar-me ao pesar manifestado pelas suas vítimas. Agora que vivo num meio rodeado de vegetação, consigo imaginar a angústia e o medo permanentes. Muita força.

18 de setembro de 2024

Olivença (uma vez mais).


   Voltámos de férias, e ainda me propunha a falar dos nossos dois destinos primeiro (sem contar com Chaves, que já me mereceu uma publicação), porém, Olivença e a sua questão são um tema que me apaixona. Sou patriota, defendo Portugal, e Olivença não me é -nunca me foi- indiferente. Provavelmente já terei falado da questão em momentos anteriores, mas, em termos gerais, houve uma guerra (uma de muitas com Espanha) em 1801, a Guerra das Laranjas, no contexto das invasões napoleónicas. Espanha era aliada de França e Portugal do Reino Unido. A guerra, ganhou-a a aliança franco-espanhola. Espanha anexou várias localidades fronteiriças, bem assim como Olivença. Devolveu-as a todas num acordo de paz, excepto Olivença, que manteve como “conquista de guerra”. Portugal, fragilizado, aceitou os termos do tratado (de Badajoz). No Congresso de Viena, em 1815, que se propôs a redefinir o mapa da Europa após a derrota de Bonaparte, os tratados prévios foram anulados e Espanha comprometeu-se a devolver Olivença a Portugal. Até hoje.

    Portugal manteve a reivindicação, que foi esmorecendo com o tempo. Entretanto, nos subsequentes tratados de reconhecimento de fronteiras entre os dois Estados, Portugal recusou-se a reconhecer a soberania espanhola. Desde então, de tempos em tempos, Portugal vai recordando o Estado espanhol dos seus direitos -legítimos direitos- sobre Olivença. Desta vez fê-lo por Nuno Melo.

  Naturalmente, muitos consideram um não-assunto, algo anacrónico e patético. Os oliventinos sentem-se espanhóis (pudera, duzentos anos depois e após um processo de extermínio da cultura e língua portuguesas!), Portugal prefere não comprometer as ditas “boas relações” com Espanha e o tempo tratou, dizem, de sanar o assunto. Eu não penso assim. Como diz o povo, numa frase tão simples, “uma coisa é uma coisa; outra coisa, é outra coisa”. Nem o tempo e nem o etnocidio do povo oliventino podem eliminar o direito português a uma parcela do seu território. Pretensões que o Direito Internacional acolhe. E se já que não levamos o assunto às instâncias internacionais -e deveríamos-, pelo menos temos o dever de, de tempos em tempos, ir recordando Espanha de que mantém, ilegal e ilegitimamente, território português. Admitam-no ou não. Eu só lamento que haja tantos portugueses a levar o assunto com tanta displicência.

1 de setembro de 2024

Chaves.


   Começaram as tão esperadas férias. As do Manel, porque eu, em rigor da verdade, estou por casa todo o ano. Bem, o trabalho de casa é trabalho, e é subvalorizado. Em casa trabalha-se, e trabalha-se bastante (falo por mim). Estaremos de férias pelos próximos 15 dias, mais qualquer coisa.


O castelo de Chaves



As termas romanas do século I d. C.


   Fomos até Chaves neste fim-de-semana. Chaves é uma cidade bonita, sossegada, que se percorre perfeitamente a pé. Viemos de carro, eu conduzi, que deixámos num parque muito perto do hotel onde ficámos hospedados.


Ponte Romana de Trajano


    Três anos depois, voltei a Portugal. Escolhemos Chaves pela proximidade, afinal, está muito perto da Galiza, sobretudo de Verín, cidade com a qual forma uma eurocidade.


Museu de Arte Moderna Nadir Afonso


    Aconselho que vão até ao castelo (que não é mais do que uma torre de menagem), ao museu Nadir Afonso, às termas romanas, ao forte (que actualmente alberga um hotel, mas a entrada no recinto é livre). Podem provar o tradicional pastel de Chaves (que é um salgado) e beber o famoso copo de água quente das termas. De igual forma, poderão entrar nas igrejas da cidade, e naturalmente calcorrear as ruas do centro histórico (devem).

      Já falarei dos próximos destinos destas férias grandes.

1 de agosto de 2024

A minha piscina.


    Foram 15 dias de trabalho. Não meu, é certo. Da empresa de piscinas. Eu não imaginava que uma piscina exigia tanta coisa: sala de máquinas (com quadro eléctrico, depuradora, filtro, eu sei lá), escavar para pôr os tubos, a electricidade para o motor e, eventualmente, se quisermos, um foco (nós quisemos, para a iluminar de noite). Além de toda a parte de isolamento. É muito trabalho. E seria mais se não estivesse já construída, isto é, quando comprámos a casa, em Abril, a parte de cimento da piscina já estava feita. Faltava o resto. E que resto.

     Hoje em dia, as piscinas deixaram de ser um símbolo de luxo. Há-as de todos os preços, de vários materiais, tamanhos, formas. Há-as clássicas -de cimento, no chão, como a minha-, mas também as há elevadas. Até de plástico. Qualquer um pode ter a sua poça para se banhar.

A minha piscina, e à direita um pedaço da minha casa


    A nossa ficou um pouco cara, é certo, mas compensa. Compensa porque eu não quis uma piscina para ostentar, mas para desfrutar. É algo de que gosto. Adoro piscinas, praia, mar, Verão. Agora há que cuidar do jardim à volta, que ficou em terra pelas obras. Deixo-lhes foto.

24 de julho de 2024

O fanatismo LGBT (e sei lá mais que letras).


   É um tema controverso entre a chamada dita “comunidade”. A bem dizer, nunca me senti parte de nenhuma comunidade. Quando era miúdo, era gozado, ridicularizado, humilhado, e estava isolado. Não havia mais ninguém. Se os havia, estavam escondidos no armário. Em Portugal, isso das comunidade LGBT surgiu mais tarde. O primeiro festival de cinema, ainda chamado “gay e lésbico”, é de 1997. Após o 25 de Abril, alguns tentaram a emancipação. Teve de vir um general à televisão dizer que a Revolução não se fizera para homossexuais e prostitutas.

    Éramos homossexuais e bissexuais. Gays e lésbicas. Homens que gostavam de homens, mulheres que gostavam de mulheres e aqueles que gostavam de tudo. O que vem à rede é peixe. E foi assim durante anos. Fomos conquistando, a duras penas, o respeito da sociedade; adquirimos direitos. Foi um período feliz. 

     Entretanto, perdeu-se o norte. Eu já não sei o que há. Vejo cada coisa, cada aberração, que meu Deus, eu não me identifico com aquilo. Creio que há problemas do foro psiquiátrico que estão a ser institucionalizados como algo normal. Passámos das orientações sexuais para as identidades de género, e hoje já há gente que diz não ter género, não se identificar com nada. Eu sei lá. Palavra de honra, perdi-me nas nomenclaturas.

     Fui um maricas. Passei a ser um gay. Sou um homem que gosta de homens. Nada mais do que isso. E não me revejo neste fanatismo LGBT+ (o + é importante…) que nos levará a retroceder em respeito e, quiçá, direitos. As pessoas estão fartas de tanto circo. Eu também.

18 de julho de 2024

Céline Dion.


  Há dias vi o documentário sobre Céline Dion e a sua doença, recentemente admitida pela própria (um género de paralisia terrível). Fiquei com imensa pena dela. Nunca fui grande fã das suas músicas, nem do tom anasalado da sua voz, com excepção de algumas canções esporádicas. Acho que Céline se manteve sempre muito fiel a um estilo de música em particular, um pop dos anos 90. Ao passo que Mariah Carey, por exemplo, fez a transição para uma sonoridade mais moderna, Céline não. Aquele pop passou de moda. Esta é uma apreciação meramente pessoal.

   Independentemente de tudo, ver o estado de degradação de Céline deixou-me consternado. Está tão velha, e ela andará pela casa dos 50 e poucos anos. Foi corajoso da sua parte mostrar-se tão debilitada perante o mundo. Admiro-a por isso.

17 de julho de 2024

Cristiano Ronaldo.


   Não sei se algum dia escrevi uma publicação sobre este tipo. É provável que não. Não gosto dele. É uma antipatia antiga. Não é inveja (quer dizer, para invejar alguém, há-os igualmente ricos e com mais interesse). Há algo nele que me faz ficar de pé atrás. Acho-o um presunçoso, um azeiteiro do pior, e agora, para piorar, alguém que não larga o tremoço. Que esteja a fazer uma má gestão do final da sua carreira enquanto futebolista, é problema dele, porém, a selecção não é apenas um problema dele. É uma entidade que diz respeito a todos os portugueses, e o tipo já não joga nada. Verdade seja dita, pela selecção nunca fez muito, e de momento, com 39 anos, só atrapalha. Simultaneamente, não temos tido responsáveis na FPF (Federação Portuguesa de Futebol) que o afastem, porque, lá está, Ronaldo é intocável. Ele joga até quando quiser; ele, se bem se lembram, deu ordens à selecção no jogo em que fomos campeões europeus, sobrepondo-se a Fernando Santos, então seleccionador. Ele põe e dispõe. 

   Isto tem de ter um fim. É inevitável. Esse sujeito não pode disputar o Mundial de 2026. Temos outros jogadores com qualidade, muito mais novos, que podem dar o seu contributo para os nossos bons resultados. Há é que ter a coragem de dar um basta aos caprichos de alguém que crê que não envelhece, que o tempo não passa por si. Passa, passa. Passa por todos, e no seu caso não parece que tenha ajudado muito à maturidade.

12 de julho de 2024

Dias.


   Ora viva! Bem sei que há mais de um mês que não publico nada. Não sou muito de encher chouriços. Quando não tenho nada para dizer, calo-me. Mas não me esqueço do blogue, nem das poucas pessoas que me lêem e que, suponho, pensarão em mim e em como estarei. Estou igual. Na minha casa, a que dedico o meu tempo. Para a semana virão os técnicos arranjar-me a piscina (a casa tem uma, mas falta terminá-la, ou seja, impermeabilizar, colocar um motor, por aí fora). Piscina, piscina. De chão. Enterrada. Não é dessas “banheiras” de plástico que se compram. De resto, tenho acompanhado o Europeu de futebol, torneios de que gosto, e pouco mais. É ir desfrutando da casa, da horta (as alfaces já estão enormes!), do jardim, dos meus bichos, e do meu marido, claro. Não preciso de nada mais. 

5 de junho de 2024

A horta.


   Há muitos lados bons de ter uma casa no campo, e um deles é ter uma horta. Bom, depende do tamanho do terreno. No nosso caso, temos um terreno de mais de 1.700m2. É bastante. Dá para o jardim, as árvores de fruto (e temos macieira, cerejeira, pereira, ameixoeira, etc) e também para a horta. Nos últimos dias, então, dedicámo-nos a fazer a nossa horta, e uma vez que não temos nenhum tractor, não quedó otra que cavar a terra e depois semeá-la. Plantámos alfaces, beterrabas, cebolas, tomates (duas variedades), pimentos, alhos, pepinos, abóbora. Acho que mencionei tudo. Agora é regar, mimar e esperar.

     Deixo-lhes uma fotinha da horta. :)




1 de junho de 2024

Taylor Swift.


     Não sei se vocês têm estado atentos às notícias. Eu, regra geral, sim, e surpreendeu-me o destaque dos média portugueses a Taylor Swift e aos seus dois concertos de Lisboa. Aqui em Espanha também houve alguma cobertura mediática, menos, parece-me.

    Mas quem raio é a Taylor Swift, pergunto eu? Uma cantora nascida em 1989, que canta uma música que, enfim, há gostos para tudo, mas o que é que fez de relevante para merecer tanto destaque? Se fosse uma Madonna, uma Cher, eu compreendia. Há veteranas que de facto ousaram numa época onde era difícil ousar-se, abriram caminho e conquistaram um lugar que a idade e os anos de carreira impõem. Agora, esta tipa -e não tenho nada contra nem a favor da rapariga- fez o quê? É que foi um histerismo autêntico. Quando as massas se movem num sentido, eu fico algo assustado.

     Compreendo que haja uma geração que goste e se divirta. O fenómeno não é de agora; o que há agora que não havia antes são as redes sociais. De resto, os nossos pais veneravam os Beatles, o Elvis; nos anos 80, já as meninas desmaiavam -literalmente- pelo Michael Jackson. Isto não é de agora. Diz mais do mau jornalismo do que das tendências, que são o que sempre foram desde que surgiu a cultura pop. Parece que não há nada de mais importante a acontecer no mundo…

15 de maio de 2024

José Castelo Branco.


   Simpatize-se ou não, este senhor conseguiu pôr o país todo, mesmo todo -incluindo jornalistas de renome-, a falar dele durante dias a fio. Eu, por José Castelo Branco, não sinto nada. É verdade que algumas das suas bichices me dão vontade de rir, o que se verificava sobretudo há uns vinte anos, quando ele se tornou mediático. Portugal era mais cinzento, e Castelo Branco surgiu assim como uma personagem irreverente e profundamente diferente. Deu o corpo às balas, é certo, porque hoje já vai sendo comum ver homens maquilhados e vestidos com roupa feminina. Usar-se estes termos, como “roupa feminina”, é controverso. Eu acho que não há roupas femininas nem masculinas. Somos nós quem lhes colocamos rótulos. Refiro-o assim para me fazer entender.

   Entretanto, havia um aspecto que era quase consensual em Castelo Branco: a atenção que dedicava à sua esposa, a joalheira Betty Grafstein, inglesa radicada nos Estados Unidos que herdou um império do segundo marido. Independentemente dos motivos de Castelo Branco (com uns a dizer que se casara por interesse), a senhora aparecia sempre bem cuidada, estimada, ele parecia levantar-lhe a moral, e a mim parecia-me bem. Estas pessoas, a partir de uma certa idade, devem ser estimuladas, caso contrário acabam numa cama, prostradas, e parar é morrer. As acusações de violência doméstica vêm trocar-nos as voltas.

    Eu não sei se Castelo Branco é culpado ou inocente. Ninguém sabe, excepto ele e a alegada vítima ou quem terá presenciado as cenas de violência. Compete à justiça apurar a verdade. O que sei é que esta personagem granjeou muitos inimigos ao longo dos anos, pela sua personalidade e excentricidade. As opiniões sobre ele e a sua relação pública com Betty Grafstein são díspares. Há, evidentemente, um aproveitamento por parte de algumas pessoas que aparecem agora, vindas do nada. Há contradições, há aspectos que parecem não coincidir e há muita suspeição. Quanto a mim, até que se prove o contrário, prefiro manter uma postura cautelosa e acreditar na inocência de Castelo Branco.

6 de maio de 2024

Os 50 anos do 25 de Abril.


   Houve anos nos quais escrevi, aqui no blogue, sobre a Revolução. A determinado momento, não há nada mais para dizer. A história é conhecida, os intervenientes também. Todos os anos é a mesma ladainha. A Revolução de Abril de 1974 foi imprescindível para Portugal. Eu não o vivi, tal não me seria possível, mas conheço o retrato do Portugal da época: super atrasado, miserável, com uma taxa de analfabetismo a rondar os 30%, uma guerra colonial terrível. Demos um pulo, em liberdade e em modernidade. A Revolução foi um êxito. Ponto final. Os factos são factos. Entretanto, há muito a fazer, muitíssimo, que já deveria ter sido feito, e nem tudo o que fizemos, que foi muito, justifica o que não foi feito e deveria ter sido. Portugal continua na cauda da Europa Ocidental, e começa a ser ultrapassado pelos países de leste. Fomos num ascendente até finais dos anos 90, sempre a crescer, e depois estagnámos. É verdade que nem tudo depende da nossa vontade e competência -somos pequenos, periféricos, pobres em matérias-primas-, mas tem havido um autêntico descaso da classe política com o país. Eles são incompetentes e, como se não fosse suficiente, corruptos. 

    Eu, ao contrário de muitos, não acho que o 25 de Abril continue por cumprir. Acho que se cumpriu, e cumpriu bem o seu propósito: terminar com a guerra colonial, restituir as várias liberdades e desenvolver, este último no sentido de correr atrás do prejuízo. O resto é um imperativo lógico: adequar o país ao contexto em que se insere, uma Europa moderna, justa, solidária e desenvolvida, e aí continuamos a falhar. 

4 de maio de 2024

XVI Aniversário.


   O aniversário do blogue foi ontem, no dia 3 de Maio, não obstante, com a azáfama em torno da nova casa, das mudanças, das obras pontuais, passou-se-me assinalá-lo. Todos os dias 3 de Maio, nos últimos dezasseis anos, tenho escrito sobre o aniversário do blogue. O que poderei acrescentar este ano que ainda não tenha sido dito? Dezasseis anos de um blogue. É obra! Surgiu quando a blogosfera estava no auge; sobreviveu ao advento do Facebook, do Twitter; às minhas desgraças pessoais (às mais terríveis), ao desgaste do tempo, ao esquecimento, a tudo. E aqui está ele e aqui estou eu, mais presente, mais omisso, conforme as exigências da vida, mas continuo. Continuo e continuarei, porque, como disse uma vez, adoro escrever. Necessito escrever. É um exercício de catarse. Alivia-me. E isso não se esfuma com o tempo. É uma característica minha, que me irá acompanhar sempre. Portanto, é mais do que provável que o blogue continue, enquanto eu conseguir escrever.

     Um bem-haja a todos e obrigado pelos 16 anos de companhia.

3 de maio de 2024

Venda do apartamento.


    Depois das mudanças, colocámos o apartamento à venda. Ali não fui feliz. Contei-no por aqui, e custa-me fazer propaganda a algo que não gosto. Mais, custa-me mentir. Como poderei escrever coisas nos anúncios como “vende-se fantástico apartamento, soalheiro, luminoso, sossegado” se seria tudo uma enorme mentira? É… isto tem um nome: escrúpulos. Os meus não me deixam fazer propaganda desonesta. Em todo o caso, tenho de vendê-lo. Nem tanto pelo dinheiro, que não necessito, senão porque, uma vez que não fui feliz ali, não é algo que queira manter como meu. Haveria a opção de arrendá-lo, contudo, sendo um tema que creio já ter abordado no blogue, em Espanha há um fenómeno social muito comum chamado okupas - que só agora começa a ter dimensão social em Portugal, timidamente-. Arrendar um apartamento é um risco: ao risco habitual de que nos estraguem tudo, ao não lhes pertencer, acresce o de deixarem de pagar a renda, e depois é um cabo dos trabalhos para os despejar. Se têm filhos pequenos então…

    Entretanto, hoje mostrei, pela primeira vez, o apartamento a um casal de hipotéticos compradores. Não lhes vi muito interesse. Eu tão-pouco consegui dissimular a minha falta de encanto com o apartamento, e tentei, tentei. Provavelmente sentiram o que eu senti desde o primeiro dia: que não seria feliz aqui, e não fui. O motivo que nos levou a ficar com ele é conhecido, e se não é, conto-o agora: o meu marido começava a trabalhar numa sexta-feira aqui, ninguém nos quis arrendar um apartamento devido ao facto de termos um cão, logo, não nos restou outro remédio que comprar um apartamento à pressa, sem poder escolher devidamente. Não foi a compra de uma vida, isto é, não foi excessivamente caro, mas convém, como dizem os espanhóis, quitármelo de encima.

26 de abril de 2024

Não, não morri (ainda).


   Olá! Passou-se um mês desde a última vez que postei no blogue. Ando atarefado, daí a ausência. Tem sido um mês intenso. Começando pelo começo, como se costuma dizer, comecei a conduzir. Tirei umas aulas de condução, comprei um carrito (usado, para ir aprendendo) e já conduzo. Comprámos uma casa no campo, a 7 quilómetros da vila onde vivíamos, porém, pertence a outro concelho. Aqui não há nada -o que eu queria; sossego-. Não há comércio, nada. Agora tão-pouco preciso, ao ter o carro. Todos os dias vou à vila deixar o meu marido, e depois vou buscá-lo. Já moramos aqui. É uma casa bonita, de pedra, com imenso terreno, e até tem uma pequena piscina. Estava (quase) pronta a entrar a viver. Tivemos de arranjar a bomba da caldeira de gasóleo (para o aquecedor central), instalar um esquentador novo, mudar a placa de vitrocerâmica… Fora isso e mais algum detalhe de que me esqueça, estava pronta a viver. Inclusive tem móveis, bonitos e de boa qualidade. Não foi muito cara. O antigo proprietário queria desfazer-se dela, tal como eu, agora, me quero desfazer daquele maldito apartamento onde vivi no último ano e meio, quase, e onde não fui nada feliz, nada mesmo. Péssimos vizinhos, sem vistas, imenso barulho de fundo. Fui do céu ao inferno, e agora tenho a minha casinha. Posso fazer uma horta, um jardim (inclusive já tenho rosas). Estou contente, na fase das mudanças, e sabe Deus o quão eu odeio mudanças -já fiz tantas na vida, e esta, vo-lo garanto, é a última-. Daqui não saio, daqui ninguém me tira. Naturalmente, não quero mais sair daqui, mas a vida é imprevisível. Nunca sabemos o que nos espera. 

    É tudo, por enquanto. Manter-vos-ei a par.

24 de março de 2024

Conduzir, uma vez mais.


   Eu tirei a carta de condução em 2011. A história começou em 2007. Matriculei-me numa escola de condução em Alfornelos. Ia às aulas de código todos os dias. Cheguei ao exame de código, aprovei. Bestial. Na condução, chumbei duas vezes. O exame de código caducou. Mudei de escola de condução. Voltei a fazer o código e a aprovar. Bestial. Consegui passar no exame de condução (a muito custo, à terceira tentativa, contando com as duas primeiras na anterior escola). E voltamos a 2011. Nunca mais peguei num carro. Em Lisboa, não é necessário conduzir, e além disso não me sentia minimamente preparado para o fazer.

    Agora vivo no rural. Queremos comprar uma casa numa aldeia pequenita, mas o meu marido trabalha numa vila, ou seja, e sem transportes, terá de ir todos os dias da aldeia para a vila. São cerca de 7km de carro. O M. não tem a carta de condução. No seu caso, percebe-se facilmente. Esteve 11 anos em medicina. É um curso muito exigente. Por isso, uma vez que eu já tenho a carta, terei de ser eu a levá-lo. 

    Eu conduzo mal. Morro de medo de conduzir, de ter um acidente. Sou péssimo. Entretanto, já me inscrevi numa escola para tirar umas lições de condução e, por fim, comprar um carrito e começar a conduzir. Estou apavorado. Serei capaz algum dia de o fazer? É um dos meus maiores desgostos, não saber conduzir. Porém, agora terá mesmo de ser. É agora ou nunca.

18 de março de 2024

Ave do Paraíso (Tessa, Festival da Canção, 1983).


   Nunca prestei atenção ao Festival da Canção. Quando nasci e cresci, já estava em franca decadência (anos 90), portanto, as minhas memórias do certame vão pouco mais além de cantarolar “peguei, trinquei e meti-te na cesta” da Dina, com as minhas coleguinhas da primária. Em 2017, assisti à final da Eurovisão -que Portugal ganhou- num bar de ursos, no Príncipe Real, e foi giro pela convivência. E é tudo. Não sou a tradicional bicha festivaleira e eurovisiva. Contudo, este ano, soube, comemoraram-se os 60 anos do Festival da Canção (1964-2024), e achei por bem escrever algumas linhas sobre o festival de 1983. E porquê de 83? Teve algumas especificidades: foi o primeiro que se realizou fora de Lisboa (Porto), o Herman José ficou em 2° com A Cor do Teu Baton, o Carlos Paião e a Cândida Branca-Flor (paz à alma de ambos) imortalizaram a patriótica Vinho do Porto, Vinho de Portugal e, para terminar, houve uma pequena grande pérola: uma miúda chamada Tessa levou um tema chamado Ave do Paraíso que foi… bom, é melhor que o vejam e oiçam, porque não há palavras. Apenas uma interrogação: como foi possível? Deixo-lhes o vídeo:



14 de março de 2024

As bichas são perversas.


     O meu marido é um homem muito educado e diplomático. Evita os confrontos, procura dar-se bem com todos. É um rapaz criado no rural, no meio das vacas, e que portanto desconhece o meio gay. Nunca o viveu. Não sabe como é. Não subestimo a sua inteligência. É um rapaz extremamente culto e inteligente, mas há coisas que ou as vivemos ou não as conhecemos. Podemos intuí-las, porém, há que vivê-las.

     Há aqui um tipo, médico também -que contudo não trabalha no mesmo sítio que o meu marido-, com quem, por motivos profissionais (derivação de doentes etc), o meu marido teve de começar a falar. Trocaram Whatsapp e tal. Tudo bem. Acontece que a bicha -e bicha não porque seja feminino; a bicha, pronto- começou a fazer-lhe perguntas mais pessoais: desde quando sabe que gosta de rapazes, há quanto tempo estamos juntos, a insinuar que o meu marido estuda muito e que isso lhe parece sexy (acompanhado de um emoji insinuante…). Esse tipo de situações.

     Eu comentei a situação com o M. - ele, aliás, foi o primeiro a mostrar-me as mensagens-. Ele leva aquilo na brincadeira. Ri-se daquilo que considera ser um ciuminho bobo da minha parte e pergunta-me se não confio nele. Eu nele confio; eu não confio é nestas bichas, que não são desinteressadas. Eu não venho do meio das vacas. Venho duma cidade, lidei com muita bicha. Sei como elas são, como pensam, e o que querem.

     Sou um senhor, mas há coisas que não admito. Se a bicha estica a corda, conhecerá o meu pior lado, e acreditem, é muito mau esse meu lado. Sou menino para lhe estragar a vida aqui, começando pelo seu local de trabalho. Ele que se cuide.

12 de março de 2024

André Ventura.


   André Ventura é, hoje, uma das figuras mais controversas do panorama político e social português. Há quem goste dele, há quem o odeie. A mim, não me é tão repulsivo. Não lhe faço o cordão sanitário que muitos na política e na comunicação social lhe fazem, e que ele tanto agradece, e concordo com algumas das suas bandeiras. A imigração, por exemplo. Estou do lado de Ventura quando diz que devemos limitar a imigração. Portugal tem, não sei se sabem, quase 1 milhão de imigrantes. Chocamo-nos com o 1 milhão de votos no CHEGA (e o meu não está lá, já agora), mas muito pouco com 1 milhão de estrangeiros a viver num país tão pequeno; também parece que não nos assusta a criminalidade violenta que está a aumentar. Por quanto tempo mais Portugal figurará entre os países mais seguros e pacíficos do mundo? 

    Ventura implica com os ciganos; eu, quiçá, com os brasileiros. Se viessem menos, não estaria mal. Entretanto, há outras bandeiras do líder do CHEGA que não partilho, designadamente a prisão perpétua e a castração química de pessoas. Limitar a imigração bastaria para reduzir grande parte da criminalidade violenta, estou em crer, embora a comunicação social nos tente fazer ver o contrário, quer negando as evidências, quer ocultando deliberadamente a origem dos criminosos.

    Como em tudo, André Ventura não é nenhum monstro; não é o bicho-papão da ditadura que vem aí. É um homem que diz aquilo em que acredita, e depois compete a cada um de nós concordar ou discordar - e parece que até há mais de 1 milhão que concorda. Eu discordo de muito, desde logo do estilo, e concordo com outro tanto. Creio que Ventura, em algumas matérias, diz o que muitos pensam e não dizem e quer fazer o que outros tantos não têm coragem de fazer, ainda que pudessem.

11 de março de 2024

A Noite Eleitoral.


   Acompanhei a par e passo a noite eleitoral através da SIC Notícias, que subscrevi especialmente para este efeito das Legislativas 2024. Sem mais demoras, resultados surpreendentes. A abstenção foi a mais baixa desde 1995, situando-se algures nos 33%. As pessoas mobilizaram-se, sentiram que o seu voto podia ser decisivo. Um excelente indicador. O meu marido disse-me que a baixa abstenção poderia ser um mau presságio (as pessoas saíam de casa para votar na extrema-direita); eu, ao contrário, acho que, independentemente dos resultados, é sempre excelente que a abstenção seja baixa. Vínhamos num crescente desde 1975, que agora, pela primeira vez, se reverteu. Eu devo isto a um factor: temos uma população mais instruída, que sabe que deve votar. Temos jovens com mais consciência política. O povo é soberano e o povo decidiu.

    Esperava-se que ganhasse a AD ou o PS, qualquer dos dois com pouca margem um do outro. Aguardamos ainda os quatro deputados do círculo da emigração (onde me incluo), porém, há um dado inegável: o governo que sair deste acto eleitoral será um governo minoritário. Abrem-se várias equações: para a AD governar, o PS e o CHEGA têm de deixar. O CHEGA obteve 48 deputados. Superou o resultado do PRD em 1985, que ficou, salvo erro, com 45. Instalou-se como grande terceira força política. E quer fazer parte do governo. São pretensões legítimas. Tão grande expressão eleitoral dá-lhe legitimidade nesse sentido, ao não conseguir a AD, nem com a Iniciativa Liberal, a maioria absoluta. Maioria absoluta que o PS também não conseguiria com toda a esquerda junta - a esquerda à esquerda do PS teve um resultado desastroso. A CDU esteve à beira de desaparecer.

   A Luís Montenegro, assumindo que o “não é não”, resta-lhe governar em maioria relativa, ou em minoria, que é a mesma coisa, repetindo o que Cavaco Silva fez em 1985. Esse governo de 85 caiu dois anos depois, em 1987, com uma moção de censura do PRD, que vingou na AR com os votos do PS, e que representou dois tiros nos pés e um na cabeça desse partido próximo a Ramalho Eanes, que passou de 45 deputados para 7, nas eleições de 87. É possível fazê-lo, contudo, não será um governo para uma legislatura. Entretanto teremos, ainda este ano, eleições europeias, e no início de 2026 as presidenciais, sendo que o Presidente fica impossibilitado de dissolver a AR nos seis meses finais do seu mandato e nos seis iniciais da eleição da Assembleia da República. Agora jogar-se-á nos bastidores. Para formar um governo minoritário, Montenegro necessitará de ter um bom ministro dos assuntos parlamentares. Necessitará de negociar com todos (e isso implica o CHEGA e o seu 1 milhão de votos). Será um jogo de equilíbrio. Eu entendo que, ainda assim, muito dificilmente um governo minoritário aguentará 4 anos. A ver vamos. Por agora, tudo são conjunturas e especulações. Voltarei seguramente a este assunto.

6 de março de 2024

Quatro anos em Espanha.


   Por estes dias cumprem-se quatro anos desde que vivo em Espanha. Quatro anos. O tempo passa a voar. O mais engraçado é que vim com bilhete de ida e volta. Não sei se já contei esta história. Eu e o meu marido conhecemo-nos nos finais de 2017, em Lisboa. Ele acabava o seu período como médico de formação (já estava licenciado, fazia os estágios necessários) e eu andava em Direito, a não fazer nada, por andar. Mantínhamos uma relação à distância fruto das nossas circunstâncias pessoais. Em 2020, numa das suas viagens para estar comigo, em Lisboa, combinou-se que eu iria muito em breve à Galiza para conhecer o território. Assim foi. Em finais de Fevereiro do mesmo ano, vim, com ideia de voltar em duas semanas, no máximo, até porque a minha mãe já estava doente.

    Depois tudo se precipitou. Fui ficando e ficando, e até hoje. A minha mãe foi a responsável em certa medida. As mães pensam mais nos filhos do que nelas próprias, e quando me dispus a voltar, disse-me para que não o fizesse, que aqui estaria melhor. E tinha razão. Eu vivia com ela e o seu companheiro, numa relação muito atribulada - dávamo-nos muito mal, eu e ele.

   Entretanto já mudei de casa, a minha mãe e o companheiro partiram, pelo meio foram-se o meu pai e a minha avó, perdi toda a família que me restava em Portugal e continuo aqui. A vida, o destino, Deus, o que lhe queiram chamar, leva-nos por caminhos imprevisíveis.

3 de março de 2024

Uma casa.


   Começarei por um pequeno resumo: quando vim viver para Espanha, fui para uma pequena aldeia de 2.000 habitantes. Arrendámos um apartamento, um lugar muito simpático, acolhedor, com umas vistas lindíssimas sobre os montes. Umas vistas de sonho. Vivemos ali cerca de 2 anos e alguns meses. A aldeia era realmente muito, muito pequena. A transição de Lisboa para aquele lugarejo não foi fácil. Rapidamente me fartei e comecei a pressionar o meu marido para sairmos. Decisão errada. Quem não as comete, não é? Erramos tanto ao longo da vida.

    Pressionado por mim e também porque ali não tinha posto fixo como médico, em 2022, finais, mudámo-nos para uma vila, a 40km daquela aldeia, com 15.000 habitantes, após o M. ter firmado o seu contrato como médico definitivo (na aldeia estava numa situação provisória, como médico interino). Desta vez, e porque não nos quiseram arrendar um apartamento pelo facto de termos um cão, tivemos de comprar um apartamento meio à pressa, sem poder escolher e reflectir em condições (a nossa ideia era arrendar primeiro e depois, com calma, comprar uma casinha). Também não queríamos gastar muito dinheiro num apartamento -o fito da casa sempre esteve presente-, pelo que “agarrámos” em dois e lá nos decidimos por um porque teve mesmo de ser.

     De umas vistas maravilhosas sobre as montanhas, passei a ter umas sobre o prédio da frente. A par disso, mais ruído; contudo, o pior são os vizinhos. Por baixo de mim vivem uns tipos que fumam marijuana, de muitíssimo mal aspecto, com quem já me indispus várias vezes. São barulhentos, não respeitam o horário de descanso, enfim. Ficam com uma ideia do meu tormento. Admito que exagere um pouco, sou mesquinho, mas a verdade é que não era esta a ideia que tinha da vila; ou seja, quando saí da aldeia, pensei que viria para melhor, que seria mais feliz, e tal não sucedeu. Sim, aqui há mais comércio, tenho mais por onde me mover, mas vivo num apartamento que detesto, com uma decoração que detesto (comprámo-lo mobilado - teve de ser tudo à pressa), com uns vizinhos que abomino.

     Este apartamento nunca foi uma decisão definitiva. O fito da casa estava e está presente. O que se passa é que o meu marido é esquisito com todas as casas que vemos e vimos, nenhuma lhe agrada -sobretudo pelos preços, que até poderíamos pagar-, e entretanto a minha saúde mental, já de si frágil, vai-se deteriorando. Além de sempre ter querido ter um pequeno jardim -nada de extravagâncias, não quero um palácio nem lá perto-, vejo-me a viver numas condições que não suporto, entre uma gente que, e permitam-me, não está ao meu nível e nem sequer ao do M., um médico. Ele quer uma casa boa, bem localizada, com jardim, bem construída e barata. Quer o céu e mais alguma coisa. Isso não existe. Ou é cara e boa, ou é barata e há que fazê-la toda de novo. E, repito, até nos podíamos permitir comprar uma casa bem boa. Para ele, podemos esperar, ir vendo. Eu não sou tão paciente, e sofro muito mais (ele não sofre nada) com o facto de vivermos aqui. Todas as casas que visitamos não lhe servem, e vamos ficando, ficando…

      Estou muito infeliz aqui. Muito. Não sei quanto tempo vai durar esta situação. Sei que não posso e não devo exigir mais -é o meu marido quem cuida de mim-, mas ao mesmo tempo estou no limite das minhas forças. De todas elas. 

   Esta publicação foi um desabafo. Um desabafo. Só posso escrever. Não o quero aborrecer mais, e já não tenho mãe nem pai com quem possa falar.

29 de fevereiro de 2024

Close.


   Soube deste filme belga através de uma publicação no Instagram, e despertou-me a curiosidade, sobretudo pela cena que vi, dum miúdo a chorar, sendo que o fazia com tanta maestria e convicção que me levou a pesquisar acerca. Foi aí que tomei conhecimento de que abordava a relação de amizade entre dois rapazes que acabavam de entrar para o secundário. A relação de ambos era marcada por muito carinho, ternura, olhares e atitudes cúmplices, se bem que a nenhum momento nos é dado a entender que fossem namorados. Eram amigos. O realizador quis trocar-nos as voltas com as típicas relações de amizade entre rapazes, nas quais não há lugar a carinho, a fragilidade, a ternura. São relações muitas vezes de disputa de força, de afirmação de egos. Os homens ainda têm dificuldade em demonstrar fraqueza, em chorar, e neste filme eles choram, eles são meigos uns com os outros. Sabemos que na vida real não é assim. É normal vermos um miúdo a deitar a cabeça no colo de outro mesmo que não sejam namorados? 





     Em relação ao filme em si, a fotografia é lindíssima. Vemos as planícies coloridas pelos tons das flores. Um dos rapazes, o Léo, ajuda os pais, nos tempos livres, numa indústria que parece estar relacionada com o comércio de flores. 

     É uma estória triste, solitária, comovedora, que põe os homens em situações de fragilidade a que não estamos habituados. Desconstrói o machismo e a masculinidade. As interpretações são bastante boas. O filme esteve inclusive nomeado para, entre vários prémios, o Oscar de melhor filme estrangeiro.

23 de fevereiro de 2024

Da avó de Mortágua aos filhos de Tavares.


   A política é uma actividade suja, de confronto, de traições. Todos os actos eleitorais são marcados por episódios novelescos que nada têm que ver com política e pouco interessam aos cidadãos. Neste que agora se avizinha, já os há também. Não são novidade - quem não se lembra, algures por 2005, quando Santana Lopes disse que José Sócrates preferia “outros colos”, aludindo a uma suposta homossexualidade do socialista?

    Quando entrei em Direito, em 2010, no dia em que fiz a matrícula havia, no átrio da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, várias banquinhas, como as de feira, das diversas forças políticas, procurando seduzir-nos, ao caloiros, com a filiação neste ou naquele partido. Eu ignorei, rejeitando o conselho do meu pai que me dizia para me meter na política, que tinha o “futuro garantido”. Oportunismo, talvez; realidade, certamente. A política, muito mais do que a defesa do melhor para a colectividade, é um trampolim pessoal. Vale mais do que um curso superior.

    A desilusão não é de agora; acentuou-se agora. Não votarei em branco porque não confio, mas é a vontade que tenho. O boletim está ali, à espera que o ponha no correio e o envie para Portugal. A cruz lá irá, meio a contragosto. É um acto automático, sem nenhum valor, sem nenhuma crença, nem no futuro de Portugal e ainda menos, muito menos, nos políticos.

20 de fevereiro de 2024

Debate PS-AD.


    Ontem, finalmente, numa emissão tripartida entre RTP, SIC e TVI, deu-se o embate final entre o Partido Socialista, através do seu secretário-geral, Pedro Nuno Santos, e a coligação Aliança Democrática, na pessoa do presidente do Partido Social Democrata, Luís Montenegro. Embora o que esteja em causa seja a eleição dos nossos deputados (e, a propósito, recebi hoje, por correio, o meu voto - que voto, ainda que viva no estrangeiro), assistimos desde há muito àquilo a que um saudoso professor de Direito Constitucional que tive, o Prof. Paulo Otero, chamava de “eleições para se escolher um primeiro-ministro”. Por isso, ontem pudemos ver o debate entre um dos que será o nosso futuro líder do Governo.

     Luís Montenegro começou mal. Pedro Nuno Santos esteve mais combativo, mais “agressivo”, e conquanto estivesse, aparentemente, em posição de desvantagem, uma vez que não só se apresenta como líder de um partido desgastado por 9 anos de governação como ele próprio pertenceu a esse governo, conseguiu ganhar o debate. A determinado momento, Nuno Santos alertou para o facto de Montenegro não ter convidado Passos Coelho para o acompanhar, ao que Montenegro respondeu algo como: “Nem você chamou o Sócrates”. Interessante comparação. (risos) Passos Coelho deve ter ficado muito lisonjeado.

    Pedro Nuno Santos, segundo se dizia, vinha numa espiral de maus resultados nos debates, e, pelo contrário, Luís Montenegro vinha-se afirmando, mas ontem sucedeu o inverso. Logo ao início, Nuno Santos disse claramente que não aceitaria negociar sob coacção, porque tivemos a circunstância inédita e surrealista de ter uma manifestação de polícias à porta do local do debate. Eu não vejo assim tanto perigo para a democracia como se apregoou. Estou com os polícias nesta questão. Acho que são profissionais mal estimados, mal remunerados e profundamente cansados de tanta tareia dos sucessivos governos. Todavia, Nuno Santos aí teve uma posição de firmeza, e reiterou-a ao longo do debate. Montenegro esquivava-se às perguntas, atropelava o adversário, não respeitava os moderadores, foi nitidamente beneficiado com o tempo do cronómetro e tem, isso já numa apreciação pessoal minha, um sorriso arrogante que me deixa agoniado. Pedro Nuno Santos foi mais claro nas contas, mais assertivo, mais sereno e mais responsável no debate, defendendo-se quanto ao que fez e ao que pretende fazer. Falou-se dos temas já habituais nos debates (SNS, habitação, economia, saúde, emprego), com ambos a reafirmar o que vêm dizendo nestes debates. 

      Restam-nos dois debates: um hoje, dos partidos sem assento parlamentar, e outro, o último, no dia 23, onde estarão todos os partidos com assento parlamentar. Não sei se os analise, uma vez que o primeiro é manifestamente desinteressante e o segundo será uma repetição de tudo quanto tem sido dito nesta maratona de 30 debates que vi, vi todos. E também verei os que faltam. Outra coisa é que escreva sobre eles. Já verei.

19 de fevereiro de 2024

Debates AD-IL e BE-PAN.


    Estes dois debates foram os penúltimos do modelo 1 a 1. Hoje, mais logo, teremos o grande duelo entre PS e PSD, mas foquemo-nos por ora nos embates entre PSD (ou AD) e Iniciativa Liberal: bom, na verdade, foi um namoro ao postigo. O noivado foi assumido. Só não sabemos se dará em casamento. Montenegro reiterou que quis ir em coligação com a IL, que recusou, entretanto, os programas eleitorais da Aliança Democrática e da Iniciativa Liberal são totalmente compatíveis e negociáveis -como os próprios fizeram questão de assumir-, designadamente numa maior intervenção privada no sector da saúde; depois, quanto à baixa do IRC. Discordaram na privatização da Caixa Geral de Depósitos, que a IL defende e o PSD não. Ficámos a saber que, caso necessário, unirão forças no dia 11 de Março.

   O confronto entre Mariana Mortágua (BE) e Inês Sousa Real (PAN) foi mais aguerrido. Mortágua, mais uma vez, confrontou o PAN com a indefinição ideológica; mais, acusou o partido de se ter coligado nas ilhas com uma formação que integra o PPM de Gonçalo da Câmara Pereira, isto é, quis Mortágua passar a mensagem de que o PAN se coliga com qualquer um. Depois, na Madeira, acusou o PAN de se aliar ao governo regional que em nada respeita o ambiente devido às suas políticas ambíguas na área da construção. Inês Sousa Real, por sua vez, é um género de metralhadora: repete uma e outra vez as mesmas ideias -já perdi a conta à quantidade de vezes que disse que o PAN é o único partido de deputada única que mais conquistas conseguiu em termos de projectos de lei aprovados. Sousa Real, nestes debates, como creio que referi noutra ocasião, perdeu o norte. Pouco fala de animais, e sabemos que o seu eleitorado é composto sobretudo por animalistas urbanos. De vez em quando lá se lembra de dizer a palavra animais, só naquela… Querem acudir a todas as frentes, e assim não se destacam entre o seu eleitorado-base. O BE foi para o debate com uma intenção de poder roubar votos ao PAN, e creio que o propósito foi conseguido, pelo menos em teoria.

   Gostaria apenas de destacar um pormenor que me parece interessante: acho curioso que uma líder de um partido animalista se apresente num debate com uns sapatos padrão-tigre.

18 de fevereiro de 2024

Debates AD-LIVRE e PS-PCP.


    Irei ser muito conciso sobre estes debates. Aquele que pôs à conversa Luís Montenegro e Rui Tavares foi bastante civilizado. Trocaram-se ideias, muitas repetiram-se. Houve divergências, naturalmente, nomeadamente quanto ao crédito à habitação. Registo que Luís Montenegro referiu, expondo um exemplo, a compra de um apartamento a 100.000€. Não sei em que país vive. Só se for entre as vacas. Tavares ainda lançou umas farpas ao CHEGA, depois daquela luta na lama. Não irei explorar o conteúdo do debate uma vez que me estaria repetindo. Estes debates são telegráficos. Os candidatos levam umas frases feitas que, em 15 minutos para cada um, debitam, e depois exploram superficialmente cada um.

    No debate entre Luís Montenegro e Rui Tavares, bem assim como no debate entre Pedro Nuno Santos e Paulo Raimundo falou-se de justiça. Depois do “escândalo” da detenção de 21 dias, que se sucedeu a outros erros do Ministério Público, os partidos têm clamado por uma reforma da justiça que envolva um consenso alargado entre todas as forças políticas. Depois, como é expectável, cada qual faz a defesa dos ideais do seu partido e apela de forma mais ou menos reiterada ao voto útil, ou necessário, como lhe chamou Raimundo, no seu partido. É a caça ao voto. Os problemas estão diagnosticados (ontem mesmo Nuno Santos admitiu que mais do que baixar o IRC é preciso estimular a economia - a economia portuguesa, pouco competitiva, é o maior entrave ao desenvolvimento do país). E foi mais longe: nem todas as promessas são possíveis, porque nos esquecemos muitas vezes de que o dinheiro não é ilimitado. Há que fazer opções, e portanto também aí Nuno Santos vai assumindo uma postura de estadista. Uma última palavra para o PCP e a sua política externa: parece que vivem num mundo irreal, quando, questionado sobre a questão da NATO, Raimundo disse que os comunistas defendem a paz. Creio que todos defendemos. Mas a paz nem sempre é possível. Assumam de uma vez o apoio à Rússia. A política também deve ser feita de honestidade intelectual.

17 de fevereiro de 2024

Debates PS-BE e CHEGA-LIVRE.


   O debate entre o Partido Socialista e o Bloco de Esquerda antevia uma enorme expectativa. Pedro Nuno Santos negociou os acordos da chamada geringonça, e Mariana Mortágua já dissera anteriormente que queria fazer um acordo pré-eleitoral com o PS - o que só lhe fica bem. 

     As pessoas são naturalmente anti-poder. É comum dizer mal do governo, mas um governo que deixa boa memória aos portugueses é justamente o de 2015, que derrotou a direita de Passos Coelho e Paulo Portas e repôs todos os cortes financeiros ideológicos que foram inclusive além do memorando de entendimento com a troika. A memória colectiva é curta, mas essa gente chegou-nos a tirar os feriados. 

      O tema da Madeira foi invocado. Nuno Santos procurou corrigir o que dissera dias antes, quando, perante Ventura, afirmou que a justiça estava a funcionar bem. Bom, se entendemos que é normal alguém estar detido 21 dias sem ser presente a um juiz de instrução criminal…
     Na banca, Mariana Mortágua quer que a Caixa Geral de Depósitos possa fixar limites ao spread do crédito à habitação, ou seja, um intervencionismo estatal bastante presente no banco público, o que vai contra a linha programática de Nuno Santos. Mortágua, todavia, estava mais interessada em falar sobre a saúde. Quer um regime de exclusividade dos médicos no SNS, a que Nuno Santos contrapôs com o actual regime de dedicação plena. O programa do BE está bastante mais à esquerda, ao passo que o do PS, em todas as matérias, é mais moderado.

    Pedro Nuno Santos, ontem, assumiu uma postura de primeiro-ministro. Não fez aquele discurso típico do BE que, por exemplo, defende as nacionalizações a torto e a direito. Foi contido. Propôs medidas que se adequam a um futuro líder. Ambos estiveram bem, contudo, as ambições de Nuno Santos são outras, daí a postura bastante mais responsável.


    Bastante distinto foi o debate de André Ventura com Rui Tavares. Aliás, aquilo não foi um debate. Não sei definir o que foi. Perderam-se quinze minutos a discutir em que colégio estudam os filhos de Tavares, se no público ou no privado. Contextualizando, surgiram umas fotos nas redes sociais de Tavares com um dos filhos ao colo, num colégio caríssimo de Lisboa. Alegadamente, essas fotos foram divulgadas por membros ou simpatizantes do CHEGA para demonstrar a hipocrisia do líder do LIVRE, que defende o ensino público e na volta educa os filhos no privado. Isso foi trazido para a televisão. Tavares exaltou-se -tocaram-lhe na família-, e naturalmente que Ventura, no terreno onde se sente bem, o confrontou com esses dados. Tavares explicou que a mulher é diplomata, daí que os seus filhos estudem numa escola internacional privada, não conseguindo, entretanto, desviar sobre si a nuvem dessa “hipocrisia”. Os minutos que sobraram de esse grande nada foram usados para se falar da Rússia de Putin, do Brasil de Lula, da Hungria de Orbán, com acusações populistas de ambos. Tavares quis chafurdar, passo a expressão, no lamaçal de Ventura, e perdeu. Ventura foi eficiente, a tal ponto que até sobre mim fez pairar a suspeição sobre Tavares. Eu diria que o estado de graça de Tavares -aquela figura simpática para o eleitorado, que diz coisas bonitas e leves- acabou, e acabou às mãos de Ventura.

16 de fevereiro de 2024

Debate IL-BE.


     Ontem, tivemos apenas um debate entre a Iniciativa Liberal e o Bloco de Esquerda. Uma vez que nos aproximamos da recta final dos debates, as propostas começam a ser repetidas uma e outra vez. Este debate foi dos mais interessantes porque temos dois partidos que estão nos antípodas das ideias políticas: estatização e nacionalizações vs. liberalismo e privatizações. Portanto, desde logo poderão imaginar como se desenrolou. 

   Não acho que tenha havia um vencedor. Ambos o foram defendendo os seus programas e falando sobretudo para os seus eleitorados. Um bloquista não vai votar IL; um liberal não vai votar Bloco. Indecisos entre ideias tão opostas não me parece que abundem (ou talvez me equivoque).

    Há ideias que me parecem boas e más num e noutro lado. Mortágua espalhou-se um pouco na habitação. Casas a 60.000 euros? Quem é que compra um apartamento por esse preço? Só se for um casebre. Já Rui Rocha, que quer privatizar a banca, bom, ainda nos lembramos dos bancos privados que faliram e que tiveram de receber dinheiro nosso para assegurar as poupanças dos clientes, e em alguns casos (como no BES) há lesados que o serão indefinidamente. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Ambos estão nos extremos, e os extremos não são bons locais. Quando estamos no extremo, arriscamo-nos a tombar. Eu diria sim à iniciativa privada como complemento do Estado em determinados sectores. Não quero que o Estado controle todo, como também me parece temerário pôr tudo em mãos privadas. 

15 de fevereiro de 2024

Debates LIVRE-PAN, PS-CHEGA e IL-PCP.


   Ontem houve outros três debates para as legislativas de 10 de Março. O primeiro pôs frente a frente Rui Tavares do LIVRE e Inês Sousa Real do PAN. São dois partidos que disputam o mesmo eleitorado, um eleitorado ambientalista e animalista. Sousa Real, como vem sendo habitual, apresenta-se bem preparada, com um discurso fluente e ideias claras. Eu diria que saiu por cima de Tavares, conquanto tenha sido um debate educado. Falou-se de ambiente, da revisão extraordinária da Constituição (que, segundo Sousa Real, o LIVRE não acompanhou o PAN), e foi, em síntese, um debate sem atritos.

     O oposto foi o debate seguinte entre Pedro Nuno Santos do PS e André Ventura do CHEGA. Ventura assumira que o PS era o seu principal adversário, e eu devo dizer que este debate, entre todos aqueles em que participou Ventura, foi o menos demagógico. Naturalmente houve acusações de ambas as partes, alguns insultos (Ventura chamou Nuno Santos de “frouxo”), porém, trocaram-se ideias, repetiram-se outras. A estratégia de Nuno Santos foi a de descredibilizar Ventura e o programa do CHEGA, aludindo à sua inexequibilidade. Nuno Santos, importa dizer, foi partícipe de um governo que agora está em gestão, e portanto traz esse ónus de, por um lado, apresentar as suas ideias e, pelo outro, procurar escudar-se relativamente àquilo que fez.

    Populista ou não, Ventura tem razão quando diz, por exemplo, que a justiça em Portugal é o que é; José Sócrates esteve preso preventivamente há 10 anos e ainda andamos com recursos e mais recursos, a adiar-se o julgamento. Há crimes que podem prescrever. Ventura não diz só o que as pessoas querem ouvir; ele diz a verdade. São formas distintas de se olhar para a mesma realidade. Uns metem debaixo do tapete; outros confrontam. Outra coisa é se ele mudaria algo ou deixaria tudo como está. Contudo, começar por se dizer as verdades na cara é importante. A justiça em Portugal é podre - e a frase é minha.

    Os comentadores aos debates parecem-me bem pouco imparciais. Também neles há uma espécie de cordão sanitário a Ventura. Nunca lhe dão a vitória nos debates. Vale o que vale. Não é essa, contudo, a percepção do eleitorado. Naquele debate em concreto, de ontem, Ventura esteve por cima. Nuno Santos, um pouco mais desenvolto, ganhou um certo fôlego quando procurou desconstruir o programa do CHEGA, mas mesmo assim não creio que tenha sido mais eficiente do que Ventura.


     O último debate foi sobretudo ideológico, entre Rui Rocha da Iniciativa Liberal e Paulo Raimundo pela CDU. Raimundo vem ganhando confiança nos debates e saindo-se melhor. Queria destacar um ponto do debate, que me ressaltou e que envolve um centro hospitalar que conheci relativamente bem: Rocha pôs em causa o fim das PPP (parcerias público-privadas), o que na sua opinião deteriorou a gestão dos hospitais públicos. Eu conheci, infelizmente, o Hospital de Vila Franca de Xira enquanto era uma PPP. Parecia um hospital privado. Funcionava bem. Quando se acabou com as PPP, o declínio foi evidente. Posto isto, não é verdade que o Estado seja melhor gestor. Eu sou favorável às PPP, acho que foi um erro ter acabado com elas. Por outro lado, o que as pessoas querem, além de um SNS que responda à procura, é que os seus problemas de saúde sejam resolvidos, no privado ou no público, portanto, faz-se mister apostar nessa colaboração sobretudo quando o SNS não responde, e muitas vezes não responde. Vemo-lo com as listas de espera para se marcar uma consulta ou conseguir uma cirurgia ou com grávidas que não têm onde dar à luz. A obstinação ideológica do PCP pode servir os interesses do partido, mas não serve o das pessoas comuns que recorrem aos centros de saúde e aos hospitais.

14 de fevereiro de 2024

Debates AD-CHEGA, PCP-LIVRE e CHEGA-BE.


   Anteontem assistimos ao confronto -foi um confronto- entre Luís Montenegro da AD e André Ventura do CHEGA. Dizem os comentadores que foi uma estrondosa vitória para Montenegro. Eu, que vi o debate, não vi nenhuma vitória tão significativa. Aliás, não vi vitória nenhuma, de nenhum. Vi um debate acalorado, com troca de acusações, com muitas interrupções e poucas ideias. Montenegro quer fazer convergir o complemento solidário para idosos com o salário mínimo nacional e Ventura pretende convergir todas as pensões. Tal proposta do líder do CHEGA levou a que Montenegro o acusasse de irrealista quanto à execução do seu programa. Depois, houve ofensas. Ventura disse que Montenegro era o “idiota útil do PS”; por sua vez, Montenegro disse que o CHEGA era uma formação racista e xenófoba. Mais do mesmo. Após a instrumentalização dos idosos -táctica antiga, que o diga Paulo Portas- perdeu-se demasiado tempo com as forças de segurança, PSP e GNR, que sem dúvida alguma, no meu entender, devem ver a sua profissão e o risco que ela acarreta devidamente reconhecidos, porém, não posso concordar com Ventura na defesa da greve para os polícias. Quem assegura o Estado de Direito e a ordem pública? “Ai, houve ali um homicídio. Não há polícias. Estão de greve”. No populismo realmente vale tudo. A questão dos serviços mínimos em caso de a lei vir a reconhecer a greve das forças policiais teria de ser muito bem estudada. Não me parece que possamos propor essa revisão com tanta ligeireza. Por algum motivo o legislador preferiu excluir essas classes profissionais do direito à greve.

 
  Montenegro pediu uma maioria absoluta. Despudoradamente. Creio que tudo o que os portugueses não querem é uma maioria absoluta. Preferem um entendimento entre várias forças políticas, como aquele que resultou das legislativas de 2015. Veremos no dia 10 de Março se eu tenho razão. 

      Honestamente, eu acho que quem quer votar CHEGA vai votar CHEGA, independentemente do desempenho dos debate ou do balanço que os comentadores façam. E fá-lo-á por simpatia a Ventura e às suas ideias. Não vejo como meia hora de debate poderá demover alguém de votar Ventura para votar Montenegro. O eleitorado de Ventura é o dos descontentes, e os descontentes estão-no com o sistema. O PSD representa o sistema.



     No dia de ontem, houve dois debates, o primeiro entre PCP e LIVRE e o segundo entre o CHEGA e o BE. Começando pelo primeiro, foi um debate ameno, educado, onde se discutiram ideias. Eu diria que, no plano internacional, à semelhança do que víramos com o BE, a principal diferença entre o PCP e o LIVRE é o eurocepticismo dos primeiros frente ao europeísmo dos segundos. Paulo Raimundo parece ficar embaraçado em assumir que o PCP está, como sempre esteve, ao lado da Rússia, embora o tenha procurado disfarçar colocando os Estados Unidos e a NATO como interventores na guerra da Ucrânia. Rui Tavares, nesse ponto, foi muito mais claro ao reconhecer que a Ucrânia nunca mais teve paz desde que Putin chegou ao poder. Ambos concordaram, e eu também, já na política interna, que o voto útil é um voto que impeça a direita mais retrógrada de governar, e que promova um entendimento entre as forças de esquerda. Os portugueses estão cansados de maiorias absolutas. Pareceu-me, sobre as forças de segurança, ouvir por parte de Raimundo uma defesa do PCP quanto à fusão da PSP e da GNR num único órgão. Gostaria de ver essa ideia adensada.

    O segundo debate opôs Mariana Mortágua do BE e André Ventura do CHEGA. Bem, não sei se lhe chame debate ou batalha. Ganhou a demagogia, como em todos os debates em que participe Ventura. Ele transforma-os a todos em conversas de taberna. Falou-se de corrupção, de imigração, de habitação, contudo, o que se retém são os ataques dum lado e doutro, com uma nítida supremacia de Mortágua. Ventura parece cansado, ou então -o mais provável- o discurso populista que apregoa esgota-se em si mesmo. Tenho a dizer, em abono da verdade e da coerência, que concordo com Ventura quando diz que não podemos aceitar imigrantes sem controlo, que a questão dos vistos da CPLP foi um disparate. E também considero que estamos a esticar demasiado a corda com a ideologia LGBT. Ensinar ao respeito é necessário - eu fui uma vítima de bullying homofóbico na escola; conheço as terríveis consequências que pode ter numa criança e num jovem. Ainda assim, não é com conteúdos imorais e impróprios que se promove o respeito. Cai-se facilmente na ridicularização. Quanto à habitação, o BE tem telhados de vidro. Lembramo-nos do caso Robles, também nos lembramos dos familiares de Catarina Martins que têm alojamento local. O BE tem um mau historial no tema da habitação. No restante, foi-se demasiado longe, com acusações de terrorismo e até assassinatos por parte de membros das listas de ambos os partidos. Creio que esse estilo não dignifica o debate.