26 de abril de 2024

Não, não morri (ainda).


   Olá! Passou-se um mês desde a última vez que postei no blogue. Ando atarefado, daí a ausência. Tem sido um mês intenso. Começando pelo começo, como se costuma dizer, comecei a conduzir. Tirei umas aulas de condução, comprei um carrito (usado, para ir aprendendo) e já conduzo. Comprámos uma casa no campo, a 7 quilómetros da vila onde vivíamos, porém, pertence a outro concelho. Aqui não há nada -o que eu queria; sossego-. Não há comércio, nada. Agora tão-pouco preciso, ao ter o carro. Todos os dias vou à vila deixar o meu marido, e depois vou buscá-lo. Já moramos aqui. É uma casa bonita, de pedra, com imenso terreno, e até tem uma pequena piscina. Estava (quase) pronta a entrar a viver. Tivemos de arranjar a bomba da caldeira de gasóleo (para o aquecedor central), instalar um esquentador novo, mudar a placa de vitrocerâmica… Fora isso e mais algum detalhe de que me esqueça, estava pronta a viver. Inclusive tem móveis, bonitos e de boa qualidade. Não foi muito cara. O antigo proprietário queria desfazer-se dela, tal como eu, agora, me quero desfazer daquele maldito apartamento onde vivi no último ano e meio, quase, e onde não fui nada feliz, nada mesmo. Péssimos vizinhos, sem vistas, imenso barulho de fundo. Fui do céu ao inferno, e agora tenho a minha casinha. Posso fazer uma horta, um jardim (inclusive já tenho rosas). Estou contente, na fase das mudanças, e sabe Deus o quão eu odeio mudanças -já fiz tantas na vida, e esta, vo-lo garanto, é a última-. Daqui não saio, daqui ninguém me tira. Naturalmente, não quero mais sair daqui, mas a vida é imprevisível. Nunca sabemos o que nos espera. 

    É tudo, por enquanto. Manter-vos-ei a par.

24 de março de 2024

Conduzir, uma vez mais.


   Eu tirei a carta de condução em 2011. A história começou em 2007. Matriculei-me numa escola de condução em Alfornelos. Ia às aulas de código todos os dias. Cheguei ao exame de código, aprovei. Bestial. Na condução, chumbei duas vezes. O exame de código caducou. Mudei de escola de condução. Voltei a fazer o código e a aprovar. Bestial. Consegui passar no exame de condução (a muito custo, à terceira tentativa, contando com as duas primeiras na anterior escola). E voltamos a 2011. Nunca mais peguei num carro. Em Lisboa, não é necessário conduzir, e além disso não me sentia minimamente preparado para o fazer.

    Agora vivo no rural. Queremos comprar uma casa numa aldeia pequenita, mas o meu marido trabalha numa vila, ou seja, e sem transportes, terá de ir todos os dias da aldeia para a vila. São cerca de 7km de carro. O M. não tem a carta de condução. No seu caso, percebe-se facilmente. Esteve 11 anos em medicina. É um curso muito exigente. Por isso, uma vez que eu já tenho a carta, terei de ser eu a levá-lo. 

    Eu conduzo mal. Morro de medo de conduzir, de ter um acidente. Sou péssimo. Entretanto, já me inscrevi numa escola para tirar umas lições de condução e, por fim, comprar um carrito e começar a conduzir. Estou apavorado. Serei capaz algum dia de o fazer? É um dos meus maiores desgostos, não saber conduzir. Porém, agora terá mesmo de ser. É agora ou nunca.

18 de março de 2024

Ave do Paraíso (Tessa, Festival da Canção, 1983).


   Nunca prestei atenção ao Festival da Canção. Quando nasci e cresci, já estava em franca decadência (anos 90), portanto, as minhas memórias do certame vão pouco mais além de cantarolar “peguei, trinquei e meti-te na cesta” da Dina, com as minhas coleguinhas da primária. Em 2017, assisti à final da Eurovisão -que Portugal ganhou- num bar de ursos, no Príncipe Real, e foi giro pela convivência. E é tudo. Não sou a tradicional bicha festivaleira e eurovisiva. Contudo, este ano, soube, comemoraram-se os 60 anos do Festival da Canção (1964-2024), e achei por bem escrever algumas linhas sobre o festival de 1983. E porquê de 83? Teve algumas especificidades: foi o primeiro que se realizou fora de Lisboa (Porto), o Herman José ficou em 2° com A Cor do Teu Baton, o Carlos Paião e a Cândida Branca-Flor (paz à alma de ambos) imortalizaram a patriótica Vinho do Porto, Vinho de Portugal e, para terminar, houve uma pequena grande pérola: uma miúda chamada Tessa levou um tema chamado Ave do Paraíso que foi… bom, é melhor que o vejam e oiçam, porque não há palavras. Apenas uma interrogação: como foi possível? Deixo-lhes o vídeo:



14 de março de 2024

As bichas são perversas.


     O meu marido é um homem muito educado e diplomático. Evita os confrontos, procura dar-se bem com todos. É um rapaz criado no rural, no meio das vacas, e que portanto desconhece o meio gay. Nunca o viveu. Não sabe como é. Não subestimo a sua inteligência. É um rapaz extremamente culto e inteligente, mas há coisas que ou as vivemos ou não as conhecemos. Podemos intuí-las, porém, há que vivê-las.

     Há aqui um tipo, médico também -que contudo não trabalha no mesmo sítio que o meu marido-, com quem, por motivos profissionais (derivação de doentes etc), o meu marido teve de começar a falar. Trocaram Whatsapp e tal. Tudo bem. Acontece que a bicha -e bicha não porque seja feminino; a bicha, pronto- começou a fazer-lhe perguntas mais pessoais: desde quando sabe que gosta de rapazes, há quanto tempo estamos juntos, a insinuar que o meu marido estuda muito e que isso lhe parece sexy (acompanhado de um emoji insinuante…). Esse tipo de situações.

     Eu comentei a situação com o M. - ele, aliás, foi o primeiro a mostrar-me as mensagens-. Ele leva aquilo na brincadeira. Ri-se daquilo que considera ser um ciuminho bobo da minha parte e pergunta-me se não confio nele. Eu nele confio; eu não confio é nestas bichas, que não são desinteressadas. Eu não venho do meio das vacas. Venho duma cidade, lidei com muita bicha. Sei como elas são, como pensam, e o que querem.

     Sou um senhor, mas há coisas que não admito. Se a bicha estica a corda, conhecerá o meu pior lado, e acreditem, é muito mau esse meu lado. Sou menino para lhe estragar a vida aqui, começando pelo seu local de trabalho. Ele que se cuide.

12 de março de 2024

André Ventura.


   André Ventura é, hoje, uma das figuras mais controversas do panorama político e social português. Há quem goste dele, há quem o odeie. A mim, não me é tão repulsivo. Não lhe faço o cordão sanitário que muitos na política e na comunicação social lhe fazem, e que ele tanto agradece, e concordo com algumas das suas bandeiras. A imigração, por exemplo. Estou do lado de Ventura quando diz que devemos limitar a imigração. Portugal tem, não sei se sabem, quase 1 milhão de imigrantes. Chocamo-nos com o 1 milhão de votos no CHEGA (e o meu não está lá, já agora), mas muito pouco com 1 milhão de estrangeiros a viver num país tão pequeno; também parece que não nos assusta a criminalidade violenta que está a aumentar. Por quanto tempo mais Portugal figurará entre os países mais seguros e pacíficos do mundo? 

    Ventura implica com os ciganos; eu, quiçá, com os brasileiros. Se viessem menos, não estaria mal. Entretanto, há outras bandeiras do líder do CHEGA que não partilho, designadamente a prisão perpétua e a castração química de pessoas. Limitar a imigração bastaria para reduzir grande parte da criminalidade violenta, estou em crer, embora a comunicação social nos tente fazer ver o contrário, quer negando as evidências, quer ocultando deliberadamente a origem dos criminosos.

    Como em tudo, André Ventura não é nenhum monstro; não é o bicho-papão da ditadura que vem aí. É um homem que diz aquilo em que acredita, e depois compete a cada um de nós concordar ou discordar - e parece que até há mais de 1 milhão que concorda. Eu discordo de muito, desde logo do estilo, e concordo com outro tanto. Creio que Ventura, em algumas matérias, diz o que muitos pensam e não dizem e quer fazer o que outros tantos não têm coragem de fazer, ainda que pudessem.

11 de março de 2024

A Noite Eleitoral.


   Acompanhei a par e passo a noite eleitoral através da SIC Notícias, que subscrevi especialmente para este efeito das Legislativas 2024. Sem mais demoras, resultados surpreendentes. A abstenção foi a mais baixa desde 1995, situando-se algures nos 33%. As pessoas mobilizaram-se, sentiram que o seu voto podia ser decisivo. Um excelente indicador. O meu marido disse-me que a baixa abstenção poderia ser um mau presságio (as pessoas saíam de casa para votar na extrema-direita); eu, ao contrário, acho que, independentemente dos resultados, é sempre excelente que a abstenção seja baixa. Vínhamos num crescente desde 1975, que agora, pela primeira vez, se reverteu. Eu devo isto a um factor: temos uma população mais instruída, que sabe que deve votar. Temos jovens com mais consciência política. O povo é soberano e o povo decidiu.

    Esperava-se que ganhasse a AD ou o PS, qualquer dos dois com pouca margem um do outro. Aguardamos ainda os quatro deputados do círculo da emigração (onde me incluo), porém, há um dado inegável: o governo que sair deste acto eleitoral será um governo minoritário. Abrem-se várias equações: para a AD governar, o PS e o CHEGA têm de deixar. O CHEGA obteve 48 deputados. Superou o resultado do PRD em 1985, que ficou, salvo erro, com 45. Instalou-se como grande terceira força política. E quer fazer parte do governo. São pretensões legítimas. Tão grande expressão eleitoral dá-lhe legitimidade nesse sentido, ao não conseguir a AD, nem com a Iniciativa Liberal, a maioria absoluta. Maioria absoluta que o PS também não conseguiria com toda a esquerda junta - a esquerda à esquerda do PS teve um resultado desastroso. A CDU esteve à beira de desaparecer.

   A Luís Montenegro, assumindo que o “não é não”, resta-lhe governar em maioria relativa, ou em minoria, que é a mesma coisa, repetindo o que Cavaco Silva fez em 1985. Esse governo de 85 caiu dois anos depois, em 1987, com uma moção de censura do PRD, que vingou na AR com os votos do PS, e que representou dois tiros nos pés e um na cabeça desse partido próximo a Ramalho Eanes, que passou de 45 deputados para 7, nas eleições de 87. É possível fazê-lo, contudo, não será um governo para uma legislatura. Entretanto teremos, ainda este ano, eleições europeias, e no início de 2026 as presidenciais, sendo que o Presidente fica impossibilitado de dissolver a AR nos seis meses finais do seu mandato e nos seis iniciais da eleição da Assembleia da República. Agora jogar-se-á nos bastidores. Para formar um governo minoritário, Montenegro necessitará de ter um bom ministro dos assuntos parlamentares. Necessitará de negociar com todos (e isso implica o CHEGA e o seu 1 milhão de votos). Será um jogo de equilíbrio. Eu entendo que, ainda assim, muito dificilmente um governo minoritário aguentará 4 anos. A ver vamos. Por agora, tudo são conjunturas e especulações. Voltarei seguramente a este assunto.

6 de março de 2024

Quatro anos em Espanha.


   Por estes dias cumprem-se quatro anos desde que vivo em Espanha. Quatro anos. O tempo passa a voar. O mais engraçado é que vim com bilhete de ida e volta. Não sei se já contei esta história. Eu e o meu marido conhecemo-nos nos finais de 2017, em Lisboa. Ele acabava o seu período como médico de formação (já estava licenciado, fazia os estágios necessários) e eu andava em Direito, a não fazer nada, por andar. Mantínhamos uma relação à distância fruto das nossas circunstâncias pessoais. Em 2020, numa das suas viagens para estar comigo, em Lisboa, combinou-se que eu iria muito em breve à Galiza para conhecer o território. Assim foi. Em finais de Fevereiro do mesmo ano, vim, com ideia de voltar em duas semanas, no máximo, até porque a minha mãe já estava doente.

    Depois tudo se precipitou. Fui ficando e ficando, e até hoje. A minha mãe foi a responsável em certa medida. As mães pensam mais nos filhos do que nelas próprias, e quando me dispus a voltar, disse-me para que não o fizesse, que aqui estaria melhor. E tinha razão. Eu vivia com ela e o seu companheiro, numa relação muito atribulada - dávamo-nos muito mal, eu e ele.

   Entretanto já mudei de casa, a minha mãe e o companheiro partiram, pelo meio foram-se o meu pai e a minha avó, perdi toda a família que me restava em Portugal e continuo aqui. A vida, o destino, Deus, o que lhe queiram chamar, leva-nos por caminhos imprevisíveis.

3 de março de 2024

Uma casa.


   Começarei por um pequeno resumo: quando vim viver para Espanha, fui para uma pequena aldeia de 2.000 habitantes. Arrendámos um apartamento, um lugar muito simpático, acolhedor, com umas vistas lindíssimas sobre os montes. Umas vistas de sonho. Vivemos ali cerca de 2 anos e alguns meses. A aldeia era realmente muito, muito pequena. A transição de Lisboa para aquele lugarejo não foi fácil. Rapidamente me fartei e comecei a pressionar o meu marido para sairmos. Decisão errada. Quem não as comete, não é? Erramos tanto ao longo da vida.

    Pressionado por mim e também porque ali não tinha posto fixo como médico, em 2022, finais, mudámo-nos para uma vila, a 40km daquela aldeia, com 15.000 habitantes, após o M. ter firmado o seu contrato como médico definitivo (na aldeia estava numa situação provisória, como médico interino). Desta vez, e porque não nos quiseram arrendar um apartamento pelo facto de termos um cão, tivemos de comprar um apartamento meio à pressa, sem poder escolher e reflectir em condições (a nossa ideia era arrendar primeiro e depois, com calma, comprar uma casinha). Também não queríamos gastar muito dinheiro num apartamento -o fito da casa sempre esteve presente-, pelo que “agarrámos” em dois e lá nos decidimos por um porque teve mesmo de ser.

     De umas vistas maravilhosas sobre as montanhas, passei a ter umas sobre o prédio da frente. A par disso, mais ruído; contudo, o pior são os vizinhos. Por baixo de mim vivem uns tipos que fumam marijuana, de muitíssimo mal aspecto, com quem já me indispus várias vezes. São barulhentos, não respeitam o horário de descanso, enfim. Ficam com uma ideia do meu tormento. Admito que exagere um pouco, sou mesquinho, mas a verdade é que não era esta a ideia que tinha da vila; ou seja, quando saí da aldeia, pensei que viria para melhor, que seria mais feliz, e tal não sucedeu. Sim, aqui há mais comércio, tenho mais por onde me mover, mas vivo num apartamento que detesto, com uma decoração que detesto (comprámo-lo mobilado - teve de ser tudo à pressa), com uns vizinhos que abomino.

     Este apartamento nunca foi uma decisão definitiva. O fito da casa estava e está presente. O que se passa é que o meu marido é esquisito com todas as casas que vemos e vimos, nenhuma lhe agrada -sobretudo pelos preços, que até poderíamos pagar-, e entretanto a minha saúde mental, já de si frágil, vai-se deteriorando. Além de sempre ter querido ter um pequeno jardim -nada de extravagâncias, não quero um palácio nem lá perto-, vejo-me a viver numas condições que não suporto, entre uma gente que, e permitam-me, não está ao meu nível e nem sequer ao do M., um médico. Ele quer uma casa boa, bem localizada, com jardim, bem construída e barata. Quer o céu e mais alguma coisa. Isso não existe. Ou é cara e boa, ou é barata e há que fazê-la toda de novo. E, repito, até nos podíamos permitir comprar uma casa bem boa. Para ele, podemos esperar, ir vendo. Eu não sou tão paciente, e sofro muito mais (ele não sofre nada) com o facto de vivermos aqui. Todas as casas que visitamos não lhe servem, e vamos ficando, ficando…

      Estou muito infeliz aqui. Muito. Não sei quanto tempo vai durar esta situação. Sei que não posso e não devo exigir mais -é o meu marido quem cuida de mim-, mas ao mesmo tempo estou no limite das minhas forças. De todas elas. 

   Esta publicação foi um desabafo. Um desabafo. Só posso escrever. Não o quero aborrecer mais, e já não tenho mãe nem pai com quem possa falar.

29 de fevereiro de 2024

Close.


   Soube deste filme belga através de uma publicação no Instagram, e despertou-me a curiosidade, sobretudo pela cena que vi, dum miúdo a chorar, sendo que o fazia com tanta maestria e convicção que me levou a pesquisar acerca. Foi aí que tomei conhecimento de que abordava a relação de amizade entre dois rapazes que acabavam de entrar para o secundário. A relação de ambos era marcada por muito carinho, ternura, olhares e atitudes cúmplices, se bem que a nenhum momento nos é dado a entender que fossem namorados. Eram amigos. O realizador quis trocar-nos as voltas com as típicas relações de amizade entre rapazes, nas quais não há lugar a carinho, a fragilidade, a ternura. São relações muitas vezes de disputa de força, de afirmação de egos. Os homens ainda têm dificuldade em demonstrar fraqueza, em chorar, e neste filme eles choram, eles são meigos uns com os outros. Sabemos que na vida real não é assim. É normal vermos um miúdo a deitar a cabeça no colo de outro mesmo que não sejam namorados? 





     Em relação ao filme em si, a fotografia é lindíssima. Vemos as planícies coloridas pelos tons das flores. Um dos rapazes, o Léo, ajuda os pais, nos tempos livres, numa indústria que parece estar relacionada com o comércio de flores. 

     É uma estória triste, solitária, comovedora, que põe os homens em situações de fragilidade a que não estamos habituados. Desconstrói o machismo e a masculinidade. As interpretações são bastante boas. O filme esteve inclusive nomeado para, entre vários prémios, o Oscar de melhor filme estrangeiro.

23 de fevereiro de 2024

Da avó de Mortágua aos filhos de Tavares.


   A política é uma actividade suja, de confronto, de traições. Todos os actos eleitorais são marcados por episódios novelescos que nada têm que ver com política e pouco interessam aos cidadãos. Neste que agora se avizinha, já os há também. Não são novidade - quem não se lembra, algures por 2005, quando Santana Lopes disse que José Sócrates preferia “outros colos”, aludindo a uma suposta homossexualidade do socialista?

    Quando entrei em Direito, em 2010, no dia em que fiz a matrícula havia, no átrio da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, várias banquinhas, como as de feira, das diversas forças políticas, procurando seduzir-nos, ao caloiros, com a filiação neste ou naquele partido. Eu ignorei, rejeitando o conselho do meu pai que me dizia para me meter na política, que tinha o “futuro garantido”. Oportunismo, talvez; realidade, certamente. A política, muito mais do que a defesa do melhor para a colectividade, é um trampolim pessoal. Vale mais do que um curso superior.

    A desilusão não é de agora; acentuou-se agora. Não votarei em branco porque não confio, mas é a vontade que tenho. O boletim está ali, à espera que o ponha no correio e o envie para Portugal. A cruz lá irá, meio a contragosto. É um acto automático, sem nenhum valor, sem nenhuma crença, nem no futuro de Portugal e ainda menos, muito menos, nos políticos.

20 de fevereiro de 2024

Debate PS-AD.


    Ontem, finalmente, numa emissão tripartida entre RTP, SIC e TVI, deu-se o embate final entre o Partido Socialista, através do seu secretário-geral, Pedro Nuno Santos, e a coligação Aliança Democrática, na pessoa do presidente do Partido Social Democrata, Luís Montenegro. Embora o que esteja em causa seja a eleição dos nossos deputados (e, a propósito, recebi hoje, por correio, o meu voto - que voto, ainda que viva no estrangeiro), assistimos desde há muito àquilo a que um saudoso professor de Direito Constitucional que tive, o Prof. Paulo Otero, chamava de “eleições para se escolher um primeiro-ministro”. Por isso, ontem pudemos ver o debate entre um dos que será o nosso futuro líder do Governo.

     Luís Montenegro começou mal. Pedro Nuno Santos esteve mais combativo, mais “agressivo”, e conquanto estivesse, aparentemente, em posição de desvantagem, uma vez que não só se apresenta como líder de um partido desgastado por 9 anos de governação como ele próprio pertenceu a esse governo, conseguiu ganhar o debate. A determinado momento, Nuno Santos alertou para o facto de Montenegro não ter convidado Passos Coelho para o acompanhar, ao que Montenegro respondeu algo como: “Nem você chamou o Sócrates”. Interessante comparação. (risos) Passos Coelho deve ter ficado muito lisonjeado.

    Pedro Nuno Santos, segundo se dizia, vinha numa espiral de maus resultados nos debates, e, pelo contrário, Luís Montenegro vinha-se afirmando, mas ontem sucedeu o inverso. Logo ao início, Nuno Santos disse claramente que não aceitaria negociar sob coacção, porque tivemos a circunstância inédita e surrealista de ter uma manifestação de polícias à porta do local do debate. Eu não vejo assim tanto perigo para a democracia como se apregoou. Estou com os polícias nesta questão. Acho que são profissionais mal estimados, mal remunerados e profundamente cansados de tanta tareia dos sucessivos governos. Todavia, Nuno Santos aí teve uma posição de firmeza, e reiterou-a ao longo do debate. Montenegro esquivava-se às perguntas, atropelava o adversário, não respeitava os moderadores, foi nitidamente beneficiado com o tempo do cronómetro e tem, isso já numa apreciação pessoal minha, um sorriso arrogante que me deixa agoniado. Pedro Nuno Santos foi mais claro nas contas, mais assertivo, mais sereno e mais responsável no debate, defendendo-se quanto ao que fez e ao que pretende fazer. Falou-se dos temas já habituais nos debates (SNS, habitação, economia, saúde, emprego), com ambos a reafirmar o que vêm dizendo nestes debates. 

      Restam-nos dois debates: um hoje, dos partidos sem assento parlamentar, e outro, o último, no dia 23, onde estarão todos os partidos com assento parlamentar. Não sei se os analise, uma vez que o primeiro é manifestamente desinteressante e o segundo será uma repetição de tudo quanto tem sido dito nesta maratona de 30 debates que vi, vi todos. E também verei os que faltam. Outra coisa é que escreva sobre eles. Já verei.

19 de fevereiro de 2024

Debates AD-IL e BE-PAN.


    Estes dois debates foram os penúltimos do modelo 1 a 1. Hoje, mais logo, teremos o grande duelo entre PS e PSD, mas foquemo-nos por ora nos embates entre PSD (ou AD) e Iniciativa Liberal: bom, na verdade, foi um namoro ao postigo. O noivado foi assumido. Só não sabemos se dará em casamento. Montenegro reiterou que quis ir em coligação com a IL, que recusou, entretanto, os programas eleitorais da Aliança Democrática e da Iniciativa Liberal são totalmente compatíveis e negociáveis -como os próprios fizeram questão de assumir-, designadamente numa maior intervenção privada no sector da saúde; depois, quanto à baixa do IRC. Discordaram na privatização da Caixa Geral de Depósitos, que a IL defende e o PSD não. Ficámos a saber que, caso necessário, unirão forças no dia 11 de Março.

   O confronto entre Mariana Mortágua (BE) e Inês Sousa Real (PAN) foi mais aguerrido. Mortágua, mais uma vez, confrontou o PAN com a indefinição ideológica; mais, acusou o partido de se ter coligado nas ilhas com uma formação que integra o PPM de Gonçalo da Câmara Pereira, isto é, quis Mortágua passar a mensagem de que o PAN se coliga com qualquer um. Depois, na Madeira, acusou o PAN de se aliar ao governo regional que em nada respeita o ambiente devido às suas políticas ambíguas na área da construção. Inês Sousa Real, por sua vez, é um género de metralhadora: repete uma e outra vez as mesmas ideias -já perdi a conta à quantidade de vezes que disse que o PAN é o único partido de deputada única que mais conquistas conseguiu em termos de projectos de lei aprovados. Sousa Real, nestes debates, como creio que referi noutra ocasião, perdeu o norte. Pouco fala de animais, e sabemos que o seu eleitorado é composto sobretudo por animalistas urbanos. De vez em quando lá se lembra de dizer a palavra animais, só naquela… Querem acudir a todas as frentes, e assim não se destacam entre o seu eleitorado-base. O BE foi para o debate com uma intenção de poder roubar votos ao PAN, e creio que o propósito foi conseguido, pelo menos em teoria.

   Gostaria apenas de destacar um pormenor que me parece interessante: acho curioso que uma líder de um partido animalista se apresente num debate com uns sapatos padrão-tigre.

18 de fevereiro de 2024

Debates AD-LIVRE e PS-PCP.


    Irei ser muito conciso sobre estes debates. Aquele que pôs à conversa Luís Montenegro e Rui Tavares foi bastante civilizado. Trocaram-se ideias, muitas repetiram-se. Houve divergências, naturalmente, nomeadamente quanto ao crédito à habitação. Registo que Luís Montenegro referiu, expondo um exemplo, a compra de um apartamento a 100.000€. Não sei em que país vive. Só se for entre as vacas. Tavares ainda lançou umas farpas ao CHEGA, depois daquela luta na lama. Não irei explorar o conteúdo do debate uma vez que me estaria repetindo. Estes debates são telegráficos. Os candidatos levam umas frases feitas que, em 15 minutos para cada um, debitam, e depois exploram superficialmente cada um.

    No debate entre Luís Montenegro e Rui Tavares, bem assim como no debate entre Pedro Nuno Santos e Paulo Raimundo falou-se de justiça. Depois do “escândalo” da detenção de 21 dias, que se sucedeu a outros erros do Ministério Público, os partidos têm clamado por uma reforma da justiça que envolva um consenso alargado entre todas as forças políticas. Depois, como é expectável, cada qual faz a defesa dos ideais do seu partido e apela de forma mais ou menos reiterada ao voto útil, ou necessário, como lhe chamou Raimundo, no seu partido. É a caça ao voto. Os problemas estão diagnosticados (ontem mesmo Nuno Santos admitiu que mais do que baixar o IRC é preciso estimular a economia - a economia portuguesa, pouco competitiva, é o maior entrave ao desenvolvimento do país). E foi mais longe: nem todas as promessas são possíveis, porque nos esquecemos muitas vezes de que o dinheiro não é ilimitado. Há que fazer opções, e portanto também aí Nuno Santos vai assumindo uma postura de estadista. Uma última palavra para o PCP e a sua política externa: parece que vivem num mundo irreal, quando, questionado sobre a questão da NATO, Raimundo disse que os comunistas defendem a paz. Creio que todos defendemos. Mas a paz nem sempre é possível. Assumam de uma vez o apoio à Rússia. A política também deve ser feita de honestidade intelectual.

17 de fevereiro de 2024

Debates PS-BE e CHEGA-LIVRE.


   O debate entre o Partido Socialista e o Bloco de Esquerda antevia uma enorme expectativa. Pedro Nuno Santos negociou os acordos da chamada geringonça, e Mariana Mortágua já dissera anteriormente que queria fazer um acordo pré-eleitoral com o PS - o que só lhe fica bem. 

     As pessoas são naturalmente anti-poder. É comum dizer mal do governo, mas um governo que deixa boa memória aos portugueses é justamente o de 2015, que derrotou a direita de Passos Coelho e Paulo Portas e repôs todos os cortes financeiros ideológicos que foram inclusive além do memorando de entendimento com a troika. A memória colectiva é curta, mas essa gente chegou-nos a tirar os feriados. 

      O tema da Madeira foi invocado. Nuno Santos procurou corrigir o que dissera dias antes, quando, perante Ventura, afirmou que a justiça estava a funcionar bem. Bom, se entendemos que é normal alguém estar detido 21 dias sem ser presente a um juiz de instrução criminal…
     Na banca, Mariana Mortágua quer que a Caixa Geral de Depósitos possa fixar limites ao spread do crédito à habitação, ou seja, um intervencionismo estatal bastante presente no banco público, o que vai contra a linha programática de Nuno Santos. Mortágua, todavia, estava mais interessada em falar sobre a saúde. Quer um regime de exclusividade dos médicos no SNS, a que Nuno Santos contrapôs com o actual regime de dedicação plena. O programa do BE está bastante mais à esquerda, ao passo que o do PS, em todas as matérias, é mais moderado.

    Pedro Nuno Santos, ontem, assumiu uma postura de primeiro-ministro. Não fez aquele discurso típico do BE que, por exemplo, defende as nacionalizações a torto e a direito. Foi contido. Propôs medidas que se adequam a um futuro líder. Ambos estiveram bem, contudo, as ambições de Nuno Santos são outras, daí a postura bastante mais responsável.


    Bastante distinto foi o debate de André Ventura com Rui Tavares. Aliás, aquilo não foi um debate. Não sei definir o que foi. Perderam-se quinze minutos a discutir em que colégio estudam os filhos de Tavares, se no público ou no privado. Contextualizando, surgiram umas fotos nas redes sociais de Tavares com um dos filhos ao colo, num colégio caríssimo de Lisboa. Alegadamente, essas fotos foram divulgadas por membros ou simpatizantes do CHEGA para demonstrar a hipocrisia do líder do LIVRE, que defende o ensino público e na volta educa os filhos no privado. Isso foi trazido para a televisão. Tavares exaltou-se -tocaram-lhe na família-, e naturalmente que Ventura, no terreno onde se sente bem, o confrontou com esses dados. Tavares explicou que a mulher é diplomata, daí que os seus filhos estudem numa escola internacional privada, não conseguindo, entretanto, desviar sobre si a nuvem dessa “hipocrisia”. Os minutos que sobraram de esse grande nada foram usados para se falar da Rússia de Putin, do Brasil de Lula, da Hungria de Orbán, com acusações populistas de ambos. Tavares quis chafurdar, passo a expressão, no lamaçal de Ventura, e perdeu. Ventura foi eficiente, a tal ponto que até sobre mim fez pairar a suspeição sobre Tavares. Eu diria que o estado de graça de Tavares -aquela figura simpática para o eleitorado, que diz coisas bonitas e leves- acabou, e acabou às mãos de Ventura.

16 de fevereiro de 2024

Debate IL-BE.


     Ontem, tivemos apenas um debate entre a Iniciativa Liberal e o Bloco de Esquerda. Uma vez que nos aproximamos da recta final dos debates, as propostas começam a ser repetidas uma e outra vez. Este debate foi dos mais interessantes porque temos dois partidos que estão nos antípodas das ideias políticas: estatização e nacionalizações vs. liberalismo e privatizações. Portanto, desde logo poderão imaginar como se desenrolou. 

   Não acho que tenha havia um vencedor. Ambos o foram defendendo os seus programas e falando sobretudo para os seus eleitorados. Um bloquista não vai votar IL; um liberal não vai votar Bloco. Indecisos entre ideias tão opostas não me parece que abundem (ou talvez me equivoque).

    Há ideias que me parecem boas e más num e noutro lado. Mortágua espalhou-se um pouco na habitação. Casas a 60.000 euros? Quem é que compra um apartamento por esse preço? Só se for um casebre. Já Rui Rocha, que quer privatizar a banca, bom, ainda nos lembramos dos bancos privados que faliram e que tiveram de receber dinheiro nosso para assegurar as poupanças dos clientes, e em alguns casos (como no BES) há lesados que o serão indefinidamente. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Ambos estão nos extremos, e os extremos não são bons locais. Quando estamos no extremo, arriscamo-nos a tombar. Eu diria sim à iniciativa privada como complemento do Estado em determinados sectores. Não quero que o Estado controle todo, como também me parece temerário pôr tudo em mãos privadas. 

15 de fevereiro de 2024

Debates LIVRE-PAN, PS-CHEGA e IL-PCP.


   Ontem houve outros três debates para as legislativas de 10 de Março. O primeiro pôs frente a frente Rui Tavares do LIVRE e Inês Sousa Real do PAN. São dois partidos que disputam o mesmo eleitorado, um eleitorado ambientalista e animalista. Sousa Real, como vem sendo habitual, apresenta-se bem preparada, com um discurso fluente e ideias claras. Eu diria que saiu por cima de Tavares, conquanto tenha sido um debate educado. Falou-se de ambiente, da revisão extraordinária da Constituição (que, segundo Sousa Real, o LIVRE não acompanhou o PAN), e foi, em síntese, um debate sem atritos.

     O oposto foi o debate seguinte entre Pedro Nuno Santos do PS e André Ventura do CHEGA. Ventura assumira que o PS era o seu principal adversário, e eu devo dizer que este debate, entre todos aqueles em que participou Ventura, foi o menos demagógico. Naturalmente houve acusações de ambas as partes, alguns insultos (Ventura chamou Nuno Santos de “frouxo”), porém, trocaram-se ideias, repetiram-se outras. A estratégia de Nuno Santos foi a de descredibilizar Ventura e o programa do CHEGA, aludindo à sua inexequibilidade. Nuno Santos, importa dizer, foi partícipe de um governo que agora está em gestão, e portanto traz esse ónus de, por um lado, apresentar as suas ideias e, pelo outro, procurar escudar-se relativamente àquilo que fez.

    Populista ou não, Ventura tem razão quando diz, por exemplo, que a justiça em Portugal é o que é; José Sócrates esteve preso preventivamente há 10 anos e ainda andamos com recursos e mais recursos, a adiar-se o julgamento. Há crimes que podem prescrever. Ventura não diz só o que as pessoas querem ouvir; ele diz a verdade. São formas distintas de se olhar para a mesma realidade. Uns metem debaixo do tapete; outros confrontam. Outra coisa é se ele mudaria algo ou deixaria tudo como está. Contudo, começar por se dizer as verdades na cara é importante. A justiça em Portugal é podre - e a frase é minha.

    Os comentadores aos debates parecem-me bem pouco imparciais. Também neles há uma espécie de cordão sanitário a Ventura. Nunca lhe dão a vitória nos debates. Vale o que vale. Não é essa, contudo, a percepção do eleitorado. Naquele debate em concreto, de ontem, Ventura esteve por cima. Nuno Santos, um pouco mais desenvolto, ganhou um certo fôlego quando procurou desconstruir o programa do CHEGA, mas mesmo assim não creio que tenha sido mais eficiente do que Ventura.


     O último debate foi sobretudo ideológico, entre Rui Rocha da Iniciativa Liberal e Paulo Raimundo pela CDU. Raimundo vem ganhando confiança nos debates e saindo-se melhor. Queria destacar um ponto do debate, que me ressaltou e que envolve um centro hospitalar que conheci relativamente bem: Rocha pôs em causa o fim das PPP (parcerias público-privadas), o que na sua opinião deteriorou a gestão dos hospitais públicos. Eu conheci, infelizmente, o Hospital de Vila Franca de Xira enquanto era uma PPP. Parecia um hospital privado. Funcionava bem. Quando se acabou com as PPP, o declínio foi evidente. Posto isto, não é verdade que o Estado seja melhor gestor. Eu sou favorável às PPP, acho que foi um erro ter acabado com elas. Por outro lado, o que as pessoas querem, além de um SNS que responda à procura, é que os seus problemas de saúde sejam resolvidos, no privado ou no público, portanto, faz-se mister apostar nessa colaboração sobretudo quando o SNS não responde, e muitas vezes não responde. Vemo-lo com as listas de espera para se marcar uma consulta ou conseguir uma cirurgia ou com grávidas que não têm onde dar à luz. A obstinação ideológica do PCP pode servir os interesses do partido, mas não serve o das pessoas comuns que recorrem aos centros de saúde e aos hospitais.

14 de fevereiro de 2024

Debates AD-CHEGA, PCP-LIVRE e CHEGA-BE.


   Anteontem assistimos ao confronto -foi um confronto- entre Luís Montenegro da AD e André Ventura do CHEGA. Dizem os comentadores que foi uma estrondosa vitória para Montenegro. Eu, que vi o debate, não vi nenhuma vitória tão significativa. Aliás, não vi vitória nenhuma, de nenhum. Vi um debate acalorado, com troca de acusações, com muitas interrupções e poucas ideias. Montenegro quer fazer convergir o complemento solidário para idosos com o salário mínimo nacional e Ventura pretende convergir todas as pensões. Tal proposta do líder do CHEGA levou a que Montenegro o acusasse de irrealista quanto à execução do seu programa. Depois, houve ofensas. Ventura disse que Montenegro era o “idiota útil do PS”; por sua vez, Montenegro disse que o CHEGA era uma formação racista e xenófoba. Mais do mesmo. Após a instrumentalização dos idosos -táctica antiga, que o diga Paulo Portas- perdeu-se demasiado tempo com as forças de segurança, PSP e GNR, que sem dúvida alguma, no meu entender, devem ver a sua profissão e o risco que ela acarreta devidamente reconhecidos, porém, não posso concordar com Ventura na defesa da greve para os polícias. Quem assegura o Estado de Direito e a ordem pública? “Ai, houve ali um homicídio. Não há polícias. Estão de greve”. No populismo realmente vale tudo. A questão dos serviços mínimos em caso de a lei vir a reconhecer a greve das forças policiais teria de ser muito bem estudada. Não me parece que possamos propor essa revisão com tanta ligeireza. Por algum motivo o legislador preferiu excluir essas classes profissionais do direito à greve.

 
  Montenegro pediu uma maioria absoluta. Despudoradamente. Creio que tudo o que os portugueses não querem é uma maioria absoluta. Preferem um entendimento entre várias forças políticas, como aquele que resultou das legislativas de 2015. Veremos no dia 10 de Março se eu tenho razão. 

      Honestamente, eu acho que quem quer votar CHEGA vai votar CHEGA, independentemente do desempenho dos debate ou do balanço que os comentadores façam. E fá-lo-á por simpatia a Ventura e às suas ideias. Não vejo como meia hora de debate poderá demover alguém de votar Ventura para votar Montenegro. O eleitorado de Ventura é o dos descontentes, e os descontentes estão-no com o sistema. O PSD representa o sistema.



     No dia de ontem, houve dois debates, o primeiro entre PCP e LIVRE e o segundo entre o CHEGA e o BE. Começando pelo primeiro, foi um debate ameno, educado, onde se discutiram ideias. Eu diria que, no plano internacional, à semelhança do que víramos com o BE, a principal diferença entre o PCP e o LIVRE é o eurocepticismo dos primeiros frente ao europeísmo dos segundos. Paulo Raimundo parece ficar embaraçado em assumir que o PCP está, como sempre esteve, ao lado da Rússia, embora o tenha procurado disfarçar colocando os Estados Unidos e a NATO como interventores na guerra da Ucrânia. Rui Tavares, nesse ponto, foi muito mais claro ao reconhecer que a Ucrânia nunca mais teve paz desde que Putin chegou ao poder. Ambos concordaram, e eu também, já na política interna, que o voto útil é um voto que impeça a direita mais retrógrada de governar, e que promova um entendimento entre as forças de esquerda. Os portugueses estão cansados de maiorias absolutas. Pareceu-me, sobre as forças de segurança, ouvir por parte de Raimundo uma defesa do PCP quanto à fusão da PSP e da GNR num único órgão. Gostaria de ver essa ideia adensada.

    O segundo debate opôs Mariana Mortágua do BE e André Ventura do CHEGA. Bem, não sei se lhe chame debate ou batalha. Ganhou a demagogia, como em todos os debates em que participe Ventura. Ele transforma-os a todos em conversas de taberna. Falou-se de corrupção, de imigração, de habitação, contudo, o que se retém são os ataques dum lado e doutro, com uma nítida supremacia de Mortágua. Ventura parece cansado, ou então -o mais provável- o discurso populista que apregoa esgota-se em si mesmo. Tenho a dizer, em abono da verdade e da coerência, que concordo com Ventura quando diz que não podemos aceitar imigrantes sem controlo, que a questão dos vistos da CPLP foi um disparate. E também considero que estamos a esticar demasiado a corda com a ideologia LGBT. Ensinar ao respeito é necessário - eu fui uma vítima de bullying homofóbico na escola; conheço as terríveis consequências que pode ter numa criança e num jovem. Ainda assim, não é com conteúdos imorais e impróprios que se promove o respeito. Cai-se facilmente na ridicularização. Quanto à habitação, o BE tem telhados de vidro. Lembramo-nos do caso Robles, também nos lembramos dos familiares de Catarina Martins que têm alojamento local. O BE tem um mau historial no tema da habitação. No restante, foi-se demasiado longe, com acusações de terrorismo e até assassinatos por parte de membros das listas de ambos os partidos. Creio que esse estilo não dignifica o debate.

12 de fevereiro de 2024

Debates AD-PAN e BE-PCP.


    O debate entre Inês Sousa Real e Luís Montenegro começou, uma vez mais, com a porta-voz do PAN numa postura ao ataque. Desta vez veio à tona o parceiro fraco da Aliança Democrática, o PPM, Partido Popular Monárquico, que surge na coligação recuperando o espírito da AD de Francisco Sá Carneiro, mas que Luís Montenegro pretende esconder o máximo possível. Dêem-se ao trabalho de escrever, no Google, Gonçalo da Câmara Pereira mulheres, e lerão declarações terrivelmente machistas e marialvas sobre as mulheres. É indecente que um partido de responsabilidade como o PSD se deixe associar a Gonçalo da Câmara Pereira. Necessitarão tanto assim dos 260 votos do PPM?, além da questão das touradas, bandeira do PPM, a que Inês Sousa Real aludiu, e bem. Montenegro quis defender-se dizendo que o PSD foi pioneiro na primeira lei que visava proteger os animais e o ambiente. Não convenceu, decididamente. Lembra-me um ditado: “Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és”.

    O resto do debate foi um atropelo contínuo de Montenegro, que tão-pouco consegue disfarçar o seu machismo. Interrompeu sucessivamente Sousa Real como já antes o fizera com Mariana Mortágua. Um senhor é um senhor, e Montenegro demonstrou que não o é, e não me refiro a uma postura condescendente perante as mulheres, senão a uma postura na vida, e na política, de respeito e educação, atributos que Montenegro revelou não ter.

  O segundo debate da noite opôs Mariana Mortágua a Paulo Raimundo. BE frente a frente com PCP. Na realidade, como chegou a dizer Raimundo a determinado momento, foi uma “troca de ideias”. Não acho que seja negativo que se entendam alguns debates assim. Nem tudo tem de ser uma discussão de faca e alguidar, e eu creio mesmo que se deve evitar ao máximo cair nessa armadilha. Ambos, BE e PCP, disputam o mesmo eleitorado, e é verdade que nem Mortágua nem Raimundo fizeram muito no sentido de levar os eleitores a decidir-se por um ou outro. O alvo foi sobretudo o PS e o apelo de Nuno Santos ao voto útil. Quando confrontados com as diferenças, Mortágua frisou o apoio do PCP ao regime russo, mencionou ainda a lei da eutanásia -que o BE apoia e o PCP não- e uma eventual aliança europeia no campo da defesa, substituindo-se à NATO. Aí ganhou pontos. É sobretudo na política externa e nalguns aspectos que o BE e o PCP se distinguem. No âmago, têm as mesmas ideias na defesa dos direitos das pessoas. Foi um debate sem interrupções, o que portanto permitiu a troca de ideias de forma civilizada. Assinalo a homenagem que Raimundo fez a Odete Santos e a Nelson Mandela, uma vez que ontem se assinalou o aniversário dos dezassete anos sobre o referendo da interrupção voluntária da gravidez (Odete Santos foi uma grande defensora da IVG) e outros tantos sobre a libertação de Nelson Mandela.

11 de fevereiro de 2024

Debates AD-PCP e PS-PAN.


   Luís Montenegro deu um passo atrás e voltou a participar nos debates. Ontem fê-lo desde os estúdios do Porto, à distância. Uma encenação? Quiçá. Foi um debate civilizado com Paulo Raimundo do PCP, que esteve melhor preparado e veio mais combativo, com outra atitude. Apresentou uma proposta de aumento extraordinário, já em Abril, das pensões dos idosos em 70 euros, uma medida que me parece benéfica, mas aquém das legítimas expectativas das pessoas. Os idosos foram um tema central num debate curto. Aliás, este modelo de debate é escasso para as ideias que se querem expor. Raimundo confrontou várias vezes Montenegro com os tempos da troika, em que se verificaram os maiores cortes salariais e de pensões de sempre.

    Foi um debate ideológico, naturalmente, ao estarem ambos em polos opostos. Verificou-se, por exemplo, quando Montenegro defendeu a baixa do IRC para as empresas, por forma a atrair investimento e, assim, gerar riqueza que permite posteriormente o aumento de salários, medida que Raimundo interpreta de outra forma: como um favorecimento aos grandes grupos económicos. Montenegro leva a razão neste aspecto: não é o Estado que cria riqueza; são as empresas. Empresas que pagam muitos impostos não se fixam no país, mas aqui, lá está, colidem as duas ideologias antagónicas. Vê-se a mesma questão por prismas distintos.

     O segundo debate entre Inês Sousa Real do PAN e Pedro Nuno Santos do PS foi igualmente civilizado e, quanto a mim, um dos melhores debates. Abordaram-se vários temas, houve poucas interrupções, as ideias fluíram. Sousa Real recuperou desta vez o discurso mais ambientalista-animalista, designadamente quando se falou da exploração de lítio e do seu impacto ambiental. Tornou a defender a transferência dos milhões que são investidos nos combustíveis fósseis para os passes sociais. Quanto a mim, e embora seja uma medida benéfica para o ambiente, revela algum desconhecimento da malha de transportes públicos em Portugal, que no interior praticamente não existe e que inclusive nas grandes áreas metropolitanas funciona mal.

    A localização do próximo aeroporto -discurso que se arrasta há anos e sobre o qual eu, pelo menos, já não tenho paciência- foi outro dos temas em debate, com o secretário-geral do PS a defender a solução Alcochete, ao passo que a porta-voz do PAN prefere rentabilizar o que já existe em Beja, o aeródromo, e eu concordo com ela. Melhora-se o que ali já existe e constrói-se uma linha ferroviária directa que una Beja a Lisboa. Poupa-se dinheiro e põem-se de lado os projectos megalómanos. No debate, a única acusação, se se pode chamar assim, que existiu foi quando Nuno Santos confrontou Sousa Real com a família política do PAN. É de esquerda, é de direita? Ninguém sabe ao certo o que é. Sousa Real referiu-se como de centro-esquerda. Foi o melhor debate de Pedro Nuno Santos até ao momento e um dos melhores de Inês Sousa Real.

10 de fevereiro de 2024

Debates IL-PAN, PS-LIVRE e CHEGA-PCP.


   Ontem, dia 9, tivemos outros três debates para as legislativas de Março. Sem mais delongas, começando pelo primeiro, Iniciativa Liberal-PAN, foi um debate da ideologia, a IL, vs. um partido das causas, o PAN. Falou-se pela primeira vez de ambiente. A IL defende a energia nuclear, que é efectivamente uma energia limpa, porém, e bem, Inês Sousa Real lembrou que Portugal tem um problema crónico de seca, e os reactores nucleares necessitam de água para arrefecer. Ressalvo que, aparentemente, a IL já não nega a emergência climática.

   Falou-se também de corrupção, com, uma vez mais, o PAN a acusar a IL de ter votado contra num caso de alegada corrupção protagonizado por Galamba. A IL, pela sua ideologia, é sempre acusada de querer dar as mãos à banca e ao grande capital. Nesse sentido, Sousa Real referiu mesmo que o que a IL promete é, e cito, “um bilhete para um parque de diversões”, aludindo, estou em crer, à impossibilidade de concretização do programa da IL. Por seu turno, Rui Rocha acusou o PAN de ter estado ao lado do PS na votação dos OE, procurando colar o partido ao Governo socialista e ao estado actual do país.

  Foi um debate civilizado, com uma Inês Sousa Real mais agressiva, sendo que Rui Rocha soube-se defender. Destaco de novo o afastamento -provavelmente deliberado- do PAN da sua tradicional agenda muito focada nos animais. Imagino que seja estratégia para chegar às pessoas, o P de PAN, contudo, esse nicho animalista-ambientalista é do PAN, pode ser o que lhe garanta a sobrevivência (o partido passou de 4 deputados para 1, e arrisca-se a não eleger nenhum). Ao deixar passar em branco os animais, tem o LIVRE a disputar esse eleitorado.


     E foi precisamente entre o LIVRE e o PS que tivemos o segundo debate da noite. Um debate calmo. Vislumbra-se ali um hipotético casamento, passo a expressão, se o eleitorado o permitir, entre PS e LIVRE. Pedro Nuno Santos quis apelar ao voto útil no PS, ao que Rui Tavares respondeu com a necessidade de aumentar a representação do seu partido na Assembleia da República. Numa jogada bem dada, disse que útil é ajudar as pessoas nos seus problemas quotidianos, procurando desviar-se dessa vertente mais “pedincheira”, se me permitem, de um PS que não sabe se ganha, se perde. Naturalmente, o LIVRE está mais à vontade nas propostas que faz, não sendo um partido com aspirações governativas.

    O secretário-geral do PS -numa atitude que, aliás, é muito comum nos políticos- respondeu às questões apresentadas pelo moderador como bem lhe pareceu. Não foi claro se viabilizará um governo minoritário da AD, tendo dito, não obstante, que seria um risco demasiado elevado deixar a oposição para o CHEGA, isto é, se o PS não ganhar e não conseguir governar, e também o frisou, faz oposição. 

    Falou-se dos professores e dos cortes na carreira, de habitação, do Serviço Nacional de Saúde, onde ambos, regra geral, convergiram.


     Eu estava muito expectante com o último debate do dia entre o CHEGA e o PCP. Imaginava um confronto difícil. Superou as expectativas. Foi um debate terrível para ambos. Ventura ganhou, sobretudo pela impreparação de Paulo Raimundo, que se apresenta pela segunda vez num debate de forma muito mal, sem dominar os temas, com uma atitude displicente. Trocaram-se inúmeras acusações. O CHEGA acusou o PCP de ter assassinado pessoas em 1974, durante o PREC (sim, foi-se tão longe quanto isso), houve ameaças… Enfim. Já sabíamos que existe um fosso insuperável entre comunistas e… cheganos?, exigindo-se, ainda assim, um mínimo de bom senso e cordialidade de ambas as partes. Como ouvi por aí, Raimundo chegou de foice e Ventura passou-lhe por cima com o seu já habitual tractor demagógico e populista, no entanto, convém dizer-se, Ventura também não esteve bem. Ganhou com recurso a ataques populistas. 

    Paulo Raimundo embrulhou-se ao ter comentado que a corrupção está nas privatizações. Uma afirmação leviana. A maior parte da corrupção em Portugal está no poder local, mas foi com a saída da União Europeia e do Euro, bandeiras do PCP, totalmente irrealistas nos nossos dias, que Ventura deu o golpe final. O secretário-geral do PCP simplesmente não respondeu. André Ventura também entalou Raimundo, passo novamente a expressão, com um caso de venda duma sede do PCP em Aveiro que se transformou num edifício com apartamentos à venda por valores que rondam os quinhentos mil euros. Num momento em que Portugal vive uma crise da habitação, como se explica esta atitude do PCP em vender uma sede que vai dar lugar a apartamentos de luxo? Não foi esclarecido. 

    Raimundo, nos debates que se seguem, terá de mudar de postura e vir melhor preparado, caso contrário antevejo tempos muito difíceis para o PCP, que como se sabe é um partido que tem vindo gradualmente a perder influência junto do eleitorado, e estes debates ajudam, sim, ajudam muito na decisão pelo voto num ou noutro partido. Refiro-me no geral, embora, pasme-se, o PCP e o CHEGA, por mais antagónicos que sejam, disputam um eleitorado mais rural, agrícola, menos escolarizado, e portanto mais susceptível ao discurso populista de Ventura.

8 de fevereiro de 2024

Debates IL-LIVRE e BE-LIVRE.


   Rui Tavares, líder do LIVRE, estreou-se neste modelo de debates que surgiu, é curioso dizer-se, em 1999, quando António Guterres quis debater com todos os adversários. É um modelo de debate de todos contra todos que não existe em mais nenhum país.

    Ontem defrontaram-se, então, LIVRE e IL, e desta vez as coisas não correram muito bem a Rui Rocha. O outro Rui, Tavares, se me permitem, deu-lhe uma valente coça. O programa da IL é um experimentalismo, e depois Rui Rocha continua ser conseguir explicar como vai aplicar o choque fiscal de 9 mil milhões de euros. Tavares disse-lhe mesmo: a IL é um partido da banca, dos grandes interesses financeiros, da gente rica, e não das pessoas que querem chegar ao final do mês com as contas pagas, medicamentos comprados e, já agora, uma alimentação decente. Tavares dominou o debate e entalou, passo a expressão, o outro Rui com uma evidência: o liberalismo sem controlo daria mau resultado.

    Hoje mesmo, pudemos assistir ao debate entre Mariana Mortágua (BE) e Rui Tavares (LIVRE). Rui Tavares foi eurodeputado pelo BE. Desfiliou-se numa ruptura difícil entre si e o partido, ou seja, foi um debate de duas pessoas da mesma família política, com ideias parecidas (para não dizer quase iguais). Diferem, por exemplo, na habitação: Mortágua defende que se proíbam os não-residentes (os tais ricos do Dubai, como lhes chama) de adquirir casas de luxo em Lisboa, o que só inflacciona os preços das casas, ao passo que Tavares, europeísta, diz que tal medida violaria os tratados europeus, preferindo antes taxar bem essas aquisições. Foi uma conversa morna, sem exaltações, talvez o debate menos conseguido. Nenhum explicou como poria o país a crescer.

    Duas breves notas: Mortágua não conseguiu explicar a questão da avó que invocou no debate com Montenegro (onde disse que a avó tinha recebido uma carta do senhorio avisando-a dum aumento substancial da renda, nos tempos da chama Lei Cristas, de Assunção Cristas). Confrontada com algumas incongruências, esquivou-se a esclarecer o assunto e, assim, encerrá-lo. A segunda nota é para a recusa de Luís Montenegro de debater com o LIVRE e o PCP, optando por dar a vez a Nuno Melo do CDS, isto é, segundo parceiro da Aliança Democrática. Compreendo que lhe queira dar voz, porém, não foi o acordado aquando da feitura dos debates. Parece-me, se não cobardia, falta de palavra, além dos problemas legais que Ricardo Costa, director de informação da SIC, aventou, ao ser o CDS, neste momento, um partido sem representação parlamentar e, por isso, excluído à partida deste modelo de debates entre partidos com representação parlamentar.

7 de fevereiro de 2024

Debates PCP-PAN, AD-BE, CHEGA-IL.


   Houve três debates nesta terça-feira. O primeiro, entre o PCP e o PAN, foi bastante civilizado. Inês Sousa Real foi melhor preparada do que Paulo Raimundo, na senda do seu anterior debate. A porta-voz do PAN tem procurado descolar a imagem do partido de mero defensor urbano dos cães e gatos, imprimindo-lhe uma faceta mais interventiva no quotidiano dos cidadãos, tenham animais ou não, e isso viu-se quando Sousa Real falou dos direitos das mulheres, um pouco ao acaso, diga-se. Raimundo, como bom comunista, foi mais contido, inclusive quando se tocou numa hipotética aliança com o PS para derrubar a direita, e esquivou-se demasiado às perguntas do moderador. Em suma, mais do que procurar as fragilidades do outro, cada um empenhou-se em dar a conhecer as suas propostas.

   Diametralmente oposto foi o debate entre Mariana Mortágua (BE) e Luís Montenegro (AD), que desde um ponto de vista ideológico foi o mais interessante até agora. Pareceu, a determinado momento, que estávamos a assistir ao combate entre dois potenciais primeiros-ministros. Disputado taco a taco, Mortágua foi particularmente acutilante nas áreas da saúde e da habitação, sobretudo quando acusou a maioria de direita de querer expulsar os idosos das cidades, ou ainda quando tocou nos vistos gold e, na saúde, das tentativas da direita de destruir o SNS através das más políticas que não evitam a fuga dos profissionais para o sector privado. Mortágua, quanto a mim, foi superior a Montenegro, que inclusive caiu no populismo barato ao associar o BE a Cuba e à Venezuela.

    Eu esperava que o último dos debates do dia, entre o CHEGA e a IL, fosse o mais interessante. Não foi, a menos que gostemos de populismo oco de ideias. Dum e doutro lado. De Ventura, já sabemos o que esperar, quando acena com os ricos e as pensões dos mais velhos, prometendo mundos e fundos, aproximando-se, curiosamente, da esquerda. A extrema-direita usou sempre o Estado para se impôr. Foi assim com todos os autoritarismos. Rui Rocha da IL soube aproveitar esse vazio de Ventura para o colar às medidas “socializantes” do PS, nomeadamente quanto à TAP. argumento que caiu pessimamente a Ventura, que não soube esconder o desagrado. Quando a mim, Rocha foi superior a Ventura, contudo, todo o debate foi uma súmula de ideias populistas e perigosas -aventureiras, diria mesmo-, e embora reconheça que Rui Rocha tem surpreendido como orador, cada vez menos me revejo nas propostas da IL, e estes debates, que ainda agora começaram, têm-me ajudado a desvendar possíveis alternativas para o meu voto.

6 de fevereiro de 2024

Debates PS-IL e CHEGA-PAN.


    Ontem começou uma leva de 30 debates que me preencherão as tardes e noites do mês. E bem, com dois embates de leões, passo a expressão: os experientes Inês Sousa-Real e André Ventura e os estreantes nestas andanças Pedro Nuno Santos e Rui Rocha. Comecemos pelos últimos, que protagonizaram o primeiro debate. Foi um debate disputado a meias. Naturalmente, Nuno Santos representa um partido desgastado por oito anos de dura governação. Rocha soube impôr as suas ideias liberais, mostrando em que aspectos faria distinto do socialismo. Em todo o caso, o secretário-geral do PS procurou as incompatibilidades da Iniciativa Liberal, no fundo, encostando Rocha à parede (referiu mesmo que era um programa “aventureiro”) : quanto custaria o programa da IL aos cofres do Estado? Um número que Rocha procurou contornar. Destaco um fortíssimo argumento do líder da IL: em 30 anos, o PS governou 21, e o país acaba invariavelmente mal. Disse mais, que o PS está “esgotado”.

     O segundo debate foi muito mais intenso, com uma porta-voz do PAN surpreendentemente, ou não, aguerrida nos ataques às ideias do CHEGA. André Ventura acusou os ambientalistas de serem uma bengala do PS na aprovação dos sucessivos orçamentos de estado, argumento ao qual Sousa-Real contrapôs, afirmando -por três vezes- que o CHEGA votara mais vezes ao lado do PS do que o PAN. Sousa-Real, antevendo o discurso particularmente feroz de Ventura nos debates, começou ela própria por “atacar” Ventura, que tentou, como é apanágio seu, reagir a essas investidas. Sinto que não esperava uma oponente tão agressiva. Falou-se, uma vez mais, sem grande impacto no debate em geral, da problemática das touradas, e de forma mais aprofundada dos boicotes da PSP e GNR, grupos profissionais de grande apoio ao CHEGA. Ventura garantiu que as eleições de 10 de Março não estão em perigo. Sousa-Real, por sucessivas vezes, reiterou que, sozinha, conseguiu fazer aprovar vários projectos de lei, enquanto que o CHEGA, com os seus doze deputados, nenhum.

     Valor final: ganharam, respectivamente, Rui Rocha e Inês Sousa-Real, porém, eu seria modesto nesta vitória. Não creio que Nuno Santos e Ventura tenham ficado muito aquém do esperado.

1 de fevereiro de 2024

Mea culpa.


   Mea maxima culpa. É um género de pedido de desculpa, não ao PS, não a António Costa, mas a todos os que me lêem. Em política, convém alguma contenção naquilo que se diz. O que é certo hoje, poderá não o ser amanhã. 

  Vamos al grano, como dizem os espanhóis. Quando surgiram as suspeitas sobre a honestidade de Costa, eu vim aqui ao blogue, numa publicação, crucificá-lo. Costa demitiu-se. Até hoje, não foi nem sequer constituído arguido. O Governo caiu, vamos a eleições. Também não sei se fui justo ou não. O tempo o dirá. Precipitei-me, é certo. Costa fez mais do que lhe seria exigido. Demitiu-se quando nem sequer fora constituído arguido. Depois disso, soubemos de erros graves do Ministério Público na condução do processo. Neste momento, e repito, neste momento, parece que Costa não tinha nada que ver com aquilo de que o “acusaram”, e ponho entre aspas porque não chegou a ser formalmente acusado de nada. Isto não invalida que o seu último governo estivesse profundamente fragilizado, após tantas substituições e o escândalo Galamba, a que se somou o do seu chefe de gabinete. Porém, quanto à idoneidade de Costa, está intocável.

  Viajamos até à Madeira. Temos um Presidente do Governo Regional formalmente constituído arguido que não se quer demitir, e tem de vir o PAN a ameaçar fazer cair o governo regional caso Miguel Albuquerque não se demita. E temos ainda um líder do partido, Luís Montenegro -que bem assim como Miguel Albuquerque-, se apressou a pedir a demissão de Costa, e se remeteu ao silêncio quando um dos seus braços direitos se viu em mãos com um escândalo de corrupção. Dois pesos e duas medidas. É por isto (e por muitas outras coisas) que o PSD nunca me inspirou confiança. Quando se tem telhados de vidro, convém não atirar pedras ao telhado do vizinho. A lei do retorno não falha.

30 de janeiro de 2024

A Inversão Sexual.


   Não costumo falar dos livros antes de os ler, mas fiquei tão entusiasmado com esta compra que preferi não esperar, até porque tenho tantos em lista de espera para ser lidos que provavelmente demoraria anos a escrever uma palavra sobre eles.

   Hoje mesmo chegaram-me, de Portugal (eu continuo a pedir livros de Portugal, através dos sítios das editoras, pela internet), dois livros que são clássicos da literatura médico-científica sobre a homossexualidade, curiosamente ambos com o mesmo título: A Inversão Sexual; um deles o primeiro livro que aborda a homossexualidade desde um ponto de vista médico-científico em língua inglesa, de 1897, por Havelock Ellis, médico britânico, e o outro, de dois anos antes (1895), por Adelino Pereira da Silva, médico português que também se debruçou num estudo sobre a homossexualidade - o primeiro em Portugal.





     Provavelmente -seguramente- parecer-me-ão leituras antiquadas, contudo, não está mal conhecer a perspectiva médico-científica de então, com todas as suas falhas, preconceitos, imperfeições e juízos de valor enviesados. Sobretudo, há que fazer-se uma leitura descomplexada, tendo sempre em consideração a época em que foram escritos. Hoje mesmo relatei, nas minhas redes sociais, episódios de homofobia que sofri no colégio, no final dos anos 90 do século passado. Imagine-se no final do século XIX. Soube, entretanto, que pelo menos no que concerne ao primeiro, inglês, tem uma abordagem bastante tolerante para a época. Mais, só poderei acrescentar depois de os ler.

    Resta dizer que os comprei através da Amazon, e que são edições da Index eBooks, uma editora LGBT, cujos donos conheço pessoalmente - privei com eles nalguns jantares de blogues, e eram pessoas bastante assíduas, inclusive, aqui na blogosfera. Um deles era o João Máximo.

29 de janeiro de 2024

Ainda não sei bem em quem votar, mas…


    No dia 10 de Março, os portugueses serão chamados às urnas para eleger os seus deputados. Todos os portugueses. Eu também voto, embora não resida em território nacional. Escolho os deputados do círculo da Europa. São dois. Geralmente, um vai para o PS e outro para o PSD. Não votaria nem num, nem noutro. 

     Os debates ainda não começaram, não sei como os irei ver (essa é outra questão; tendo os meus pais falecido, já não consigo ter acesso a todos os canais portugueses, a menos que os subscreva, ou seja, pague, mas isso é outro assunto). Entretanto, mesmo sem os debates, que quero ver (não sei como, mas quero), creio que o meu voto, à partida, está definido, e será na Iniciativa Liberal.

     Não votaria no PS, por todas as razões que o mero bom senso explica. A recém-desenterrada Aliança Democrática (PSD/CDS-PP e PPM) cheira a mofo e tem monárquicos. O CHEGA, nem pensar. Não me identifico com a extrema-esquerda pró-subsídios, pró-Palestina e pró-imigração, portanto, 2 + 2 = 4: ou voto Iniciativa Liberal, ou voto branco. Ou mando-os à merda e voto nulo. Reservo-me o direito de mudar de intenção de voto até lá.

28 de janeiro de 2024

Six Feet Under.


   A Six Feet Under, em português Sete Palmos de Terra, é uma série maravilhosa. Não sei se a viram, ou se tão-pouco gostam de séries. Eu comecei a ver séries poucas semanas antes de sair de Portugal, quando subscrevi a Netflix. Aqui em Espanha, ao não ter muito que fazer, já que vivo num ambiente mais rural, ver séries tornou-se uma rotina das noites sobretudo. Vi muitas. Nem me irei dar ao trabalho de elencar todas (até porque não me lembro). Posso dizer que as minhas favoritas foram Game of Thrones, The Walking Dead e, agora, esta Sete Palmos de Terra. E quiçá alguma mais que me escape.

    As interpretações são brilhantes, mas os textos, os diálogos, são o que tornam esta série tão boa. É realmente boa. Se gostam de séries e ainda não tiveram a oportunidade de a ver, façam-no. Não sei em que plataforma está disponível em Portugal. Aqui em Espanha está na HBO. 





   Considerada uma das melhores séries de sempre, bem assim como o seu final, Sete Palmos de Terra transporta-nos ao quotidiano duma família que gere uma funerária. Cada capítulo começa com uma morte, contudo, há uma história transversal a toda a série, isto é, cada episódio não se esgota em si mesmo. Há uma continuidade.

    Aquela família é esquisita. Louca mesmo, diria. Em todo o caso, são unidos, cada um com os seus dilemas, preocupações, crises existenciais, escolhas…, e recorrentemente vêem-se confrontados com toda essa realidade de angústias, o que os leva a um exercício de auto-análise. E é nesse exercício, a que se somam as interpretações e o texto, que está a qualidade da série.

26 de janeiro de 2024

Activos vs. Passivos.


   É mesmo verdade. Vou abordar isto. Talvez não haja muito que dizer, porém, sou gay, nunca falei disto no blogue, o que não invalida que seja um dos temas mais discutidos entre a comunidade homossexual. Basta acompanhar-se os youtubers gays, ler blogues gays, falar com gays. É um tópico que vem sempre à tona. Activo ou passivo? Top or bottom? Nas aplicações de engate então -que eu, como quase todos os gays da minha geração, utilizei em solteiro- é quase pergunta obrigatória. Às vezes até antes do nome (risos).

   Eu sou activo. Não importa nem ninguém mo perguntou. Quis dizê-lo porque, já que toco no ponto, começo por mim. Se calhar pareço passivo, porque sou mais para o delicado (outro preconceito entre os gays; aliás, a comunidade gay é profícua em preconceitos). Nunca fui passivo. Como diz um amigo meu, que agora é amiga (descobriu que era trans), não tenho fome no cu. Perdoem-me a brejeirada. Não experimentei. Sou capaz de passar a adorar quando experimentar, e nunca o fiz por medo da dor. Sou muito sensível à dor. Basicamente é por medo. Em todo o caso, a minha vida sexual é satisfatória, estamos felizes os dois, eu e o meu marido, por isso não é problema que represente.

    Creio que a comunidade gay se preocupa demasiado com esta velha questão. O sexo é importante, a compatibilidade na cama (ou em cima da máquina de lavar, tanto faz) é importante, contudo, acho que o amor é-o ainda mais. Há quem veja o sexo primeiro, o amor depois (já o dizia a Rita Lee naquele seu sucesso, Amor e Sexo). Eu não o vejo assim. Acredito que, com o amor, encontramos forma de compatibilizar o resto. E depois há quem goste de sexo por sexo, sem amor, o que também está bem. Cada um sabe de si. 

    E acredito ainda que é possível que dois passivos e dois activos, amando-se, consigam arranjar uma forma para que ambos se sintam satisfeitos. O sexo é muito, mas muito mais do que a penetração. Vou mais longe: a penetração é um detalhe. Evidentemente que pensamos no sexo anal quando se fala em passivos vs. activos, embora a questão se coloque também nas demais práticas sexuais. Há muitas formas de se chegar a um bom orgasmo. A dois. Ou até sozinho.

24 de janeiro de 2024

Londres (XI).


   Para encerrar esta leva de publicações sobre Londres, queria antes de mais dizer que adorei a cidade. Londres não se conhece em dez dias. Torna-se necessário (para quem prefere não ir à aventura) fazer um plano, e algo sempre fica de fora. Sofro de TOC, não é novidade, e isso leva-me a ser muito organizado. Vejo-me incapaz de viajar sem um plano de locais a visitar e respectivos bilhetes comprados. Ir às cegas não é para mim. Não conseguiria. Acho que seria tomado por uma crise nervosa qualquer. 

   Quando elaborei o plano, sabia que não conseguiríamos visitar todos os monumentos e locais da cidade. Procurámos fazer o imprescindível, e houve outro tanto imprescindível que não fizemos. Por um lado é bom, porque nos obriga a regressar. Conforta-me saber que, uma vez mais, cumprimos com o plano. O que levámos (e vai escrito e imprimido mesmo), foi feito.

   Além disso, eu distingo o turismo de Verão do turismo cultural. Eu, no Verão, gosto de ir para a praia. Procuro não me comprometer com nada cultural. É para o bronze, é para o bronze. É forma de falar, porque do que eu gosto mesmo é de nadar e contemplar o mar. Isso não significa que, por exemplo, no primeiro ano em que fui para a Gran Canaria não tenha reservado um dia para conhecer Las Palmas, uma das capitais do arquipélago (a outra é Santa Cruz de Tenerife). Já no Inverno, quando geralmente temos mais duas semanas, escolho um destino qualquer para enriquecimento pessoal, e não dou descanso. É a dar-lhe todos os dias, sem parar. Não há cá tempo para dormir muito.

    Londres era uma das cidades que tinha mesmo de conhecer. Mesmo, mesmo. É multicultural, enorme, com um metro que funciona lindamente. Os ingleses são educados, receptivos. Senti-me incrivelmente seguro para uma cidade tão grande e tão densamente povoada. Foi muito bom.

21 de janeiro de 2024

Londres (X).


   Este monumento do qual lhes falarei em seguida, a St. Paul Cathedral, surgiu da necessidade de completar mais uma manhã em Londres, e é altamente recomendável. É absolutamente divina. Catedral, divino. Bastante apropriado. A sua cúpula é bastante distintiva, e a glória que foi ganhando entre os britânicos, a Catedral, levou-a a ser palco de grandes eventos pela positiva, como o casamento do então Príncipe de Gales, hoje Rei de Inglaterra, Carlos, com Diana Spencer, e pela negativa, os funerais, designadamente, de Winston Churchill e Margaret Thatcher.


Extraordinária cúpula 

O famoso púlpito em que discursou Martin Luther King


   A Catedral de São Paulo é lindíssima. O coro, o transepto, a cúpula (desde dentro, impressionante), as criptas e, inclusivamente, o pináculo, onde se pode subir. Através de umas escadinhas de ferro em caracol, empinadas, que amedrontam, podemos ascender ao ponto mais elevado da estrutura, cujas vistas sobre Londres são maravilhosas. O M. não o quis fazer. Tem vertigens. Num primeiro momento, também me neguei, por medo daquelas escadas tão íngremes; depois, revesti-me de coragem e lá fui eu. Àquela altitude, fazia um frio enorme, que me levou a trazer de volta uma constipação valente…


Pormenores


O relógio visto desde o topo


     À tarde, fomos à Tower Bridge. A ponte da torre é uma das várias pontes que unem os dois lados do rio, no entanto, é a mais conhecida. Naturalmente, já a conhecêramos por fora num dos inúmeros passeios que fizemos à beira-rio. Neste dia, fomos ao seu interior. Conhecemos os detalhes da sua construção, e pudemos desfrutar (eu, que o M. teve medo) de uma vistas fantásticas, não só desde as janelas como também de uns vidros fortemente revestidos, no chão, que nos permitem observar o movimento peatonal e automobilístico na ponte. Eu tivera uma experiência semelhante, pisando um vidro, na Ponte 25 de Abril. Subi ao elevador da ponte e andei sobre um vidro resistente. 


A Tower Bridge

A alguns pode-lhes dar medo, como ao meu marido


     Faltou acrescentar que quer a Catedral de São Paulo, quer a Torre da Ponte são monumentos de visita paga.


Todas as fotos foram captadas por mim. Uso sob permissão.

20 de janeiro de 2024

Londres (IX).


   Novamente num circuito mais comercial, fomos, naquele oitavo dia, ao Madame Tussauds de Londres. Há vários espalhados pelo mundo. São museus de cera, nos quais se retratam personalidades do mundo da música, desporto, política, história. Não é um museu gratuito; pelo contrário, foi o mais caro de todos quantos paguei para ver em Londres. Se vale a pena? É um museu de bonecos de cera. Depende do interesse que cada um tenha neste tipo de actividades. É totalmente mainstream. Tem um comboio que faz um percurso pela história de Londres através do recurso a várias reconstituições históricas. Além disso, têm uma parte dedicada à saga Star Wars e uma outra a Jack, o Estripador e outros criminosos ingleses. Os bilhetes são muito caros, como referi, o que ainda assim não desmotiva as pessoas. São filas e mais filas. A bem dizer, a afluência é comum em todos os pontos turísticos de Londres.


David Bowie. De cera, claro


    Da parte da tarde, tive um encontro extremamente agradável com um amigo que já não via há uns bons anos. Proporcionou-se ele estar por Londres naqueles dias e combinámos ver-nos no Tate Modern, o museu de arte moderna de Londres. Apresentei-o ao M., que ficou com boa impressão do meu amigo. É um excelente rapazito.


Babel, 2001, de Cildo Meireles


O edifício do Tate Modern, às margens do Tamisa


     Não gosto particularmente de arte moderna. Em todo o caso, não quis ir a Londres sem passar pelo Tate Modern. Pareceu-me desperdiçar uma oportunidade, boa ou má. Não deixa de ser enriquecimento pessoal, e até me surpreendeu pela positiva. Gostei de uma escultura, se se pode chamar assim, de rádios. Uma alegoria à comunicação humana. Tanta informação e, não obstante, cada vez menos nos entendemos, tal como a bíblica Torre de Babel, episódio que nos conta que Deus, para impedir que os homens erguessem uma torre com a qual chegassem ao céu, os fez falar línguas diferentes para não se entenderem entre si. O Tate Modern é gratuito e dispensa a aquisição antecipada dos bilhetes. Entra-se e pronto.


Todas as fotos foram captadas por mim. Uso sob permissão.

19 de janeiro de 2024

Londres (VIII).


   Sabem o filme Notting Hill? Eu conhecia-o de nome. Vi-o já depois de regressar a Espanha. Se não o viram, é um melodrama. Não sei se valerá muito a pena. Isto porque o sétimo dia levou-nos ao famoso bairro de Notting Hill onde foi rodado o filme com Julia Roberts e Hugh Grant. O bairro é bonito, naturalmente, embora seja um percurso mais comercial.


Tem o seu encanto


    O que mais me chateia no meio de tudo, e compreendo que seja comum nas grandes metrópoles como Londres, são as hordas de fotografeiros. Eu chamo-os assim, de forma despectiva, porque realmente são do pior que há. Não se consegue fazer nada tranquilamente, em interiores ou exteriores. Eu também fotografo, se bem que o faço mais para relato do périplo do que propriamente para gozo pessoal.


A livraria onde as personagens de Roberts e Grant se conhecem


   Notting Hill tem aquelas casinhas coloridas simpáticas, e um mercado de antiguidades na avenida principal que aglomera muita gente, e nós, salvo erro, fomos num sábado - o dobro das pessoas.


Notting Hill também é conhecido pelos seus mercados de rua


     Como seria de se esperar, é o filme que atrai toda aquela gente ao bairro. A mim, de certa forma, atraiu-me a atracção que suscita, por dizer assim.


Perante a impossibilidade de lhes poder mostrar melhor a sede do poder britânico, fica uma foto da entrada (já dentro do palácio de Westminster)


  À tarde, regressámos a Westminster, desta feita para ver o parlamento britânico por dentro. Entradas pagas. Fotografias proibidas, excepto nas antecâmaras. Compreende-se. Por razões de Estado, não querem que fotos das câmaras dos Comuns e dos Lordes pululem pelas redes. Retira dignidade ao órgão. Os portugueses, nisso, são menos susceptíveis, e cada um fotografa o que quer em São Bento. Eu agradeci, porque finalmente pude desfrutar dum espaço sem que alguém se atravessasse diante de mim para conseguir um melhor ângulo…


Todas as fotos foram captadas por mim. Uso sob permissão.