26 de janeiro de 2021

As Presidenciais - A análise.


   Sem grandes surpresas, Marcelo conseguiu ser eleito à primeira volta. A dúvida que se gerou ao longo da noite eleitoral prendeu-se sobretudo à possibilidade, que se não veio a verificar, de André Ventura conquistar um segundo lugar, colocando-se na dianteira face aos demais candidatos. Ana Gomes, entretanto, foi-lhe levando vantagem. Eu segui as emissões especiais em directo, mesmo estando fora do país, com bastante entusiasmo. Este acto eleitoral muniu-se de certas especificidades que o tornaram único, mas creio que não irrepetível, na política portuguesa. O elemento inovador foi André Ventura, que obrigara, já nos debates, os seus adversários a adoptar uma postura incomum na política portuguesa. O alarmismo que provocara levou a uma confluência de esforços da esquerda em Ana Gomes, para roubar, por assim dizer, o segundo lugar, esse patamar psicológico, a Ventura. Tiveram êxito. A maior prejudicada foi Marisa Matias, a quem nem o golpe de publicidade do batom salvou do desaire.

  Os números da abstenção não foram mais alarmantes do que geralmente são, atendendo à actual conjuntura. Os cidadãos até se mobilizaram. Pudemos ver filas intermináveis nas maiores freguesias do país. Foi a maior desde 76, em presidenciais, números que provavelmente encontraríamos  em circunstâncias normais.

   No Alentejo, tradicional bastião comunista, André Ventura ficou à frente do candidato apoiado pelo PCP. Curioso dado, digno de uma análise de sociólogos e politólogos. O discurso de Ventura será bem recebido pelas populações menos escolarizadas e rurais, mais susceptíveis ao populismo. Ventura que, no dia de hoje, tem um peso eleitoral bem mais significativo do que nas legislativas. Segundo a sondagem avançada pela Universidade Católica para a RTP, se tivéssemos eleições legislativas agora, o CHEGA seria a terceira força política com maior representatividade parlamentar.

  Mayan Gonçalves, numa tendência que vinha dos debates, teve, quanto a mim, o melhor discurso da noite a seguir ao do presidente reeleito. A inexperiência com as câmaras de televisão e a sinceridade das palavras aumentaram-lhe os votos e conquistaram-lhe ao menos a simpatia das pessoas. Gomes, sobranceira e arrogante, manteve o registo habitual, Ventura gritou, pronunciou treuze e intimidou o PSD, e  Marcelo, responsavelmente, começou com a pandemia, que praticamente lhe preencheu todo o discurso. Contido, sem qualquer manifestação de entusiasmo, foi o que se esperava dele. Venho-lhe sendo crítico, mas, quando há que dar o braço a torcer, não nos fica outra alternativa. Gostei de o ouvir.

  Salpicadas por alguns fait-divers que me animaram no Twitter, estou em crer que estas eleições acarretaram uma mudança no modo como se fazia política em Portugal. Pessoalmente, foram as primeiras eleições em que participei estando no estrangeiro. Votei no vice-consulado de Portugal em Vigo.

1 comentário:

  1. A Esquerda deveria começar a fazer os trabalhos de casa, porque o Alentejo não são analfabetos nem coitadinhos como querem fazer crer. O Alentejo está farto das políticas de Lisboa. Acredito que Ana Gomes terá ganho no Norte porque André ventura é amigo do Vieira do Benfica. Portista é portista carago ahahhahaha

    Grande abraço amigo

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