8 de janeiro de 2021

Os debates das presidenciais (II).


    Vêm-se sucedendo mais debates presidenciais. Algo que tem caracterizado este acto eleitoral, e que jamais acontecera até então, é a deterioração do espaço de opinião plural e democrático. Pelo menos em dois deles, assisti a insultos e provocações mais do que a uma troca de ideias que contribua para o esclarecimento dos eleitores.

    André Ventura tem sido o principal protagonista desta série de confrontos. Na minha perspectiva, conseguiu levar a melhor a Marisa Matias, e não fosse a esperteza política de Marcelo Rebelo de Sousa e ter-se-ia repetido o mesmo consigo. Marisa Matias, no cara a cara com Ventura, recorreu a algumas das armas do oponente, como a calúnia e os ditos e mexericos. Saiu-se mal. Não se trata de um estilo seu. Foi uma adaptação forçada em face do que aí viria. Repetiu-se praticamente o que havíamos visto no debate do líder do CHEGA com João Ferreira, porém, com menos gritaria. Debates assim, que não o são, não ajudam em nada o eleitorado e são sempre negativos para os políticos, a menos que vivam daquele estilo. Ventura vive dele. Está na sua praia. Naquele registo, ninguém lhe leva a melhor.

     Marcelo, por seu turno, e com as sondagens a garantir-lhe uma vitória folgada, tem-se passeado pelos debates, e só com Ventura se viu obrigado a pôr as garras de fora. Mais troca de acusações, mais casos e casinhos, parafraseando Marisa Matias, mas não se pode dizer que o professor tenha ganhado. Viu-se em esforço para não ser trucidado por um Ventura cada vez mais seguro de si.

    Num estilo radicalmente oposto, Tiago Mayan Gonçalves vem marcando pontos. Sereno, procura explicar as suas ideias, confronta os adversários e nunca o vemos perder a pose circunspecta. No confronto com Ana Gomes, de quem falarei adiante, pudemos assistir a um embate entre o socialismo e o liberalismo, cada um esgrimindo os seus argumentos. Foi dos debates mais interessantes do ponto de vista ideológico, a par daquele entre Mayan Gonçalves e João Ferreira. Nos dois casos, pesou mais a importância que cada um dava ao papel do Estado no sector económico, sobretudo.

     Ana Gomes mantém uma postura sobranceira que me repele. É ágil na argumentação e vê-se que se prepara bem. Há ali estudo feito. Quanto a mim, o que a prejudica é a impulsividade e a incerteza naquilo que viria a ser a sua actuação caso fosse eleita. Hoje mesmo, estará frente a frente com Ventura. Espero outro chorrilho de acusações e mais gritaria. Pode ser que me engane.


     Como  presumo ter dito na anterior publicação, não tenho visto todos os debates. É provável que o faça. Até lá, fica o essencial do que retive.

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