Podia ser um slogan promocional de uma qualquer campanha política populista, nomeadamente de José Sócrates, Paulo Portas ou Pedro Passos Coelho, no entanto, é mesmo o título de uma prioridade, a meu ver.
Portugal encontra-se numa situação bem mais difícil do que aquela que encontrou nos inícios do século XV. Viviam-se, então, tempos de escassez alimentar, fomes, pestes e guerras pela Europa. Portugal tinha à sua frente um sem número de desafios, muitos dos quais bem ousados para um pequeno reino do ocidente europeu, escassamente povoado e pobre. O maior desses desafios era manter a sua independência e a integridade territorial. Castela afirmava a sua hegemonia e prometia para breve a reconquista do sul da Península, o que se veio a verificar com a Queda de Granada, em 1492. Portugal iniciou a sua diáspora algumas décadas atrás, em 1415, com a tomada de Ceuta. Era a única hipótese que dispunha perante a força de Castela, uma Europa fragmentada e em guerras e uma aliança débil com a Inglaterra. O mar surgiu como a saída possível.
Nos territórios descobertos e tomados em nome da Coroa, Portugal subsistiu ao tempo e ao avançar dos séculos. Estabeleceu o seu Império Colonial e expandiu as fronteiras do reino a todos os continentes do planeta.
Assim o foi até ao século XX, quinhentos anos depois. Com o advento da descolonização, o território reduziu-se à parcela territorial na Europa e essa passou a ser o alvo de todas as atenções dos portugueses. Estávamos na era da integração europeia. Com a entrada nesse mercado comum, Portugal entregou parte da sua soberania às instituições europeias, abriu as fronteiras aos seus recentes parceiros europeus, recebeu fundos estruturais e iniciou o processo de desenvolvimento há tanto ansiado. Mas que Europa é esta?
Esta Europa unida por interesses económicos é um continente composto por variados mosaicos culturais. Jean Monnet sonhou, lançou o rastilho e os seus sucessores tentaram federalizar países que não têm absolutamente nada em comum. Países com culturas, línguas, tradições e mesmo religiões distintas. Não é possível uma Federação, um Estado Federal, à boa maneira norte-americana. O processo ocorrido nos E.U.A trata-se de uma união de soberanias de forma a constituir um estado unido e forte, capaz de enfrentar a metrópole descontente e a renitência dos países europeus em aceitar a Declaração de Independência. Foi - e é - um caso de federalismo perfeito. Mas esses estados federados, sem prejuízo do multiculturalismo americano, têm uma história, língua e tradições em comum.
Na Europa pretende-se fazer o mesmo, apesar de todos saberem que se trata de uma mera utopia. Nenhum país abdicará da sua soberania em nome de ambições de uma União Europeia que ninguém sabe bem o que será. Os mais conceituados economistas mundiais garantem que o euro irá acabar. Não é viável a longo prazo. A nosso velho aliado, o Reino Unido, olha com desconfiança para a integração europeia - e legitimamente - diga-se. Em que lugar está Portugal no meio desta Europa moribunda?
Portugal, agora como dantes, e devido a más opções estratégicas dos governantes pós-25 de Abril, está refém da velha e caquética Europa. Vive de esmolas e de ordens vindas de Bruxelas como se fosse um mero protectorado da União Europeia. Todavia, há soluções. E a única solução é aquela que Portugal encontrou em 1415: a sua vocação atlântica. Portugal dispõe de condições de que não dispõem a Grécia e a Irlanda. Portugal tem os seus irmãos onde pode investir e criar boas e sólidas alianças. O irmão mais velho, o Brasil, o quinto maior país do mundo, a sétima maior economia mundial e que, sem dúvida, verificada a reforma no Conselho de Segurança da O.N.U, ocupará o lugar devido de membro permanente. O Brasil, sim, pode ajudar Portugal. É para o Brasil que Portugal deve olhar. Não é tudo. Angola, um país em franco desenvolvimento, uma futura potência regional e com um subsolo rico em minerais. Portugal pode e deve olhar para o seu irmão mais novo. Também Moçambique e, por inerência, todas as restantes ex-províncias ultramarinas podem ajudar Portugal. A maior prova dessa solidariedade real veio de Timor-Leste, o irmão mais novo, que quis comprar parte da dívida portuguesa. Portugal, orgulhoso como dantes, qual orgulhosamente só, refutou discretamente essa intenção timorense. E porquê? Porque sente-se diminuído. O mesmo que sente em relação ao Brasil e a Angola. Ajudas familiares? Não, obrigado. Europa, Europa, Europa!
Contudo, a Europa nada nos dará. A Europa não gosta de cada país em concreto. A Europa usa os países de forma a aumentar essa farsa que é a União Europeia, esse sonho federalista carregado de anti-americanismo francês e alemão. Napoleão ensinou-os bem, é certo. A Europa não fala uma língua, nem duas ou três. Fala dezenas. Qual é a relação de Portugal com, por exemplo, a Finlândia? Nenhuma. O mesmo em relação aos restantes países europeus, com a honrosa excepção de Espanha, com a qual, de facto, dividimos um passado comum.
Cidadania Europeia? De que se trata?
Porque motivo Portugal e os sete países lusófonos não criam um Espaço Comum Lusófono, sem fronteiras, à semelhança da porcaria, permitam-me a expressão, do Espaço Schengen? Porque não oficializam uma Cidadania Lusófona, da qual já se vai falando, mas que ninguém ousa avançar efectivamente? Já que gostamos tanto do Reino Unido, porque razão não aprendemos com eles, que após o processo de descolonização criaram a Commonwealth? Hoje, mais de uma dezena de países estão unidos numa união pessoal, na pessoa do monarca inglês, e sob a égide desta organização que mantém a tradição britânica e os laços de amizade entre o mundo anglófono.
Sou totalmente eurocéptico e assumo-o confortavelmente. Sonho com o dia em que a União Europeia não passará de uma piada de mau-gosto. Concordo inteiramente com um quadro de cooperação institucional entre os países europeus, mas não posso aceitar um controlo total da Europa sobre a vida do país.
Concluindo, o rumo para Portugal está à frente de todos.
Haja a ousadia de fazer o certo, tal como outrora se fez.