29 de janeiro de 2011

Um Medo Maior


O amor, sendo um sentimento maior e abstracto, deve ser vivido de forma espontânea e livre. Se o amor é o verdadeiro motor da Humanidade, porque razão milhões de seres humanos escondem o seu amor, tão legítimo como qualquer outro, dos olhos impiedosos do mundo? E que direito tem o mundo de julgar um amor como sendo superior ou quantitativamente inferior a outro sentimento idêntico? Existirão, porventura, amores mais válidos, reais ou merecedores de um tratamento diferente?
O amor é só um, manifestando todo o seu esplendor de variadas e diversificadas formas. Não existe uma fórmula para amar, um guião de como, quando e quanto amar. Ama-se e é tudo. E amar é o que basta ao mundo. Todas as formas do amar devem ser entendidas como algo de benéfico e não de destrutivo. Uma forma diferente de amar não compromete outra forma diferente de amar. Ambas poderão coabitar livre e espontaneamente, com o acréscimo de que a tolerância enriquece e compromete a fidelização da diversidade.
Não existe, por isso, uma supremacia de um amar sobre outro amar. Existe, isso sim, a supremacia do amor sobre todos os sentimentos que radicam na nossa sociedade.
Contudo, o amar exige, nos dias de hoje, uma boa dose de coragem. Sobretudo o amar diferente. O amar contra ventos e marés, tempestades de preconceito e trilhos ardilosos. Apenas o acto simbólico de amar é uma prova de valentia num mundo carregado de ódio e de sentimentos nefastos. Mas o amar diferente é o mais complexo. É um amar menosprezado, como se se tratasse de uma mera peça barata que vai a leilão. Um amor olhado com desdém, visto como o cúmulo da loucura e da insanidade de dois seres humanos. Então, torna-se um amor escondido, marginalizado, tratado como o lixo imoral que vagueia na perdição. Este amor é um filho menor de um mundo imperfeito, amoral e desprovido de tolerância.
É um amar com medo. 
É um medo maior.








 A todos os que sofrem por amar... diferente.

28 de janeiro de 2011

Convites


Hoje recebi a nota que aguardava da faculdade. Passei, claro. Assim como passei a todas as cadeiras. Bom, no fundo, no fundo, eu já sabia, mas nunca é demais guardar os festejos para o final. Torna tudo bem mais divertido. O melhor é que foi com valores bem superiores às minhas expectativas iniciais, pese embora o facto de todas as pessoas me dizerem que estava a ser modesto. Nunca fui modesto, todavia, achei por bem sê-lo nesta nova caminhada que é ser estudante universitário. Convém ter alguma cautela.
O R. voltou a telefonar-me. Reprovou definitivamente a uma cadeira, está pendente em duas e apenas passou a uma com uma nota baixa. Marcámos definitivamente o dia em que, veja-se!, vou ajudá-lo no estudo para as orais e, segundo ele, dar-lhe umas explicações. Ironia do destino!... Eu, simples e modesto colega, dou explicações a um outro colega que era suposto saber tanto quanto eu. Faço-o de bom grado. Volta e meia, convidou-me para ir a Setúbal almoçar à sua casa. Confesso que me senti acarinhado. Senti-me uma verdadeira namorada-cujo-namorado-vai-levá-la-a-casa-para-conhecer-os-futuros-sogros-cunhados-e-afins. Uma caturra! Admitam!: foi um querido. E eu? Aceitei, claro. É tudo para a semana. Qualquer dia pede-me em casamento. LOL
Pouco tempo depois do telefonema do R., recebo um telefonema do pai a convidar-me para o, veja-se! (repetição), Porto x Benfica que, ao que parece, é na quarta-feira. AHAHAHAHAHAHAHAHA! O pai é um amor e sabe mesmo que eu adoro futebol! LOL É que acertou! Conhece-me tão bem... Era TÃO habitual ir ver futebol com ele... Bom, pelo menos ele tem camarote no Estádio do Dragão. Não me misturo com a populaça, como é evidente. E eu? Aceitei, claro, vale tudo! Estou por tudo (pode ser que me aumente o salário...). Enfim, saio daqui e vou até à minha querida e adorada cidade do Porto que amo de paixão. Beijinho, beijinho aos portuenses.
Que dia maravilhoso e excitante. LOL
Lá vou eu perfumar e levar a Luz ao Estádio do Dragão. Será o melhor jogo da época. E ganhe quem ganhar, quero lá saber.








P.S.: Ai, só espero que aquela gente não desate aos tiros e às pedradas. Português é assim, minha gente!

26 de janeiro de 2011

Nunca tão Longe...


A tua imagem e o que vivemos continua impresso na minha memória. Há um pedaço que nos pertence, que jamais algum tempo poderá dissipar. Apesar de nada ter dado certo, as experiências vividas são um pouco de ti e um pouco de mim que se misturam naquele todo que é a eterna recordação dos bons momentos.
Nem todos os momentos foram bons, mas todos eles guardam algo de inesquecível, algo que faz parte da nossa história pessoal.
Todavia, tudo o que de bom vivemos suplanta as experiências infelizes. Guardo em mim as caminhadas pela praia, os gelados no Verão, as viagens de carro, as horas de estudo, o verde da relva, o azul do céu e as cores que nós imprimíamos nas nossas vidas.
O tempo, esse impiedoso e devastador, nada levará de mim. Não permitirei que me retire o teu melhor, as lembranças dos nossos momentos e o que de bom aconteceu entre nós.
É impossível não te comparar com outra pessoa. Eras tão especial, tão fantasticamente único na tua forma de ser. O teu olhar transmitia-me segurança, as tuas mãos um conforto seguro e as tuas palavras a eterna paz.
Nunca tão longe. Nunca te afastarás demasiado de mim. A cada momento, a esperança de que me tornes a amar renasce em mim. Sei que é ilusório, sei que é passado, mas não evito o que desejo. Ninguém é como tu, ninguém me conhece tão bem, ninguém me amou da mesma forma tão especial.
Tudo é um mero pedaço de ontem. Porém, um ontem que vive em mim.
Não, não te afastes demasiado. Mantém-te sempre por perto. Faz-me reviver o passado. Faz-me pedir por mais.
Não tão longe.
Nunca tão longe.

25 de janeiro de 2011

Sensível no Medo


Sempre fui uma pessoa propensa à sensibilidade ou ao medo. Medo, entenda-se, daquelas situações do quotidiano. De situações que, à primeira vista, parecem banais e facilmente ultrapassáveis para a grande maioria.
Vejamos, eu tenho imensos medos e sou sensível a uma inumerável lista de situações.
Tenho imenso medo de cães. Pavor, diria mesmo. Se vejo um cão na rua, grande e de aspecto maligno, não passo até que o dono coloque a coleira no animal. Como se sabe, os portugueses são dos povos mais incultos e irresponsáveis do planeta, logo, as leis que obrigam a que os donos de cães considerados perigosos não os soltem na rua e lhes coloquem «aquela coisa na boca» são totalmente subvertidas. Felizmente, onde habito, só há praticamente daqueles cães pequenos e felpudos... cães de tia, vá, exceptuando um ou outro...
Tirar sangue. Odeio. Tenho imenso medo de agulhas. E mesmo no particular, o cuidado dos enfermeiros não é nada de especial. Faço sempre imensa fita. Fico a tremer, ajeito a franja do cabelo (o meu típico sinal de nervosismo...)... As pessoas ficam a olhar assustadas. Às tantas, o enfermeiro/a já não sabe o que me fazer. Pareço uma criança. Tenho de olhar para o lado e apertar a mão de alguém.
Ontem, da parte da tarde, a avó mediu a diabetes com aqueles aparelhos que dão uma pica no dedo. Ao medir a minha taxa de glicémia, fiz uma fita. Pus o dedo na boca a choramingar. Eu bem tento controlar estes impulsos medrosos, mas não consigo.
Insectos, roedores, aracnídeos e répteis, morro de medo! Tenho imenso medo de tudo o que sejam baratas, ratos, lagartixas e aranhas. Q'horror! Só de pensar chego a ficar incomodado. Ao visualizar os membros destas espécies do demónio, sou capaz de gritar mais alto do que uma mulher furiosa...
Todas estas situações acima descritas podem ser indicadoras de uma pessoa medrosa ou sensível. Varia consoante as diferentes percepções de cada um. Contudo, eu distingo estas situações como medos e ponto final. Sou sensível em outras questões. Sou muito sensível a manifestações de ódio, intolerância e, apesar de ser irritadiço, podendo, por vezes, responder mal às pessoas, sou particularmente sensível ao ódio alheio. Também sou sensível aos resultados escolares. Aí, não sei se há lugar para uma distinção nítida entre medo e sensibilidade. Tenho medo de tirar uma má nota (o que não acontece desde o básico) e sou sensível ao meu progresso escolar e ao que poderá suceder de negativo nesse trilho de objectivos por mim delineados.
Tenho a noção de que o meu lado emocional é mais feminino do que masculino. Sinto que as minhas emoções, os meus medos e receios são semelhantes aos das mulheres e consequentemente diferentes do lado emocional da maioria dos homens. Precisamente por isso, abomino rudeza de carácter, brutalidade, falta de educação, machismos e demonstrações patéticas de masculinidade infundadas. Creio mesmo que para a existência de um mundo sadio e melhor, deverá existir a combinação perfeita entre o pragmatismo tipicamente masculino e a sensibilidade feminina/homossexual masculina. Uma colaboração estreita entre estas características resultaria num avanço para a Humanidade.

24 de janeiro de 2011

Uma Boa Oral


Salvo o carácter dúbio do título do post, as orais são a única solução para quem quer fazer as disciplinas, vulgo cadeiras, sem ter tido avaliação contínua positiva. Não é o meu caso, mas é o caso do R...
Hoje acordei de manhã cedo, pese embora ser domingo, e soube que o dia do processo eleitoral em família já tinha sido previamente combinado. É bom saber que tenho fortes apoiantes cavaquistas em casa... Da parte da tarde, e depois do almoço na casa dos avós, fui com a mãe, os avós, os tios e os primos à boca das urnas. Apesar de, habitualmente, as pessoas daqueles lados gostarem muito de votar, a verdade é que vi pouquíssima afluência às urnas de voto. Lá votei e tenho um reparo a fazer: subitamente, e tomado por um ímpeto anti-cavaquista, acabei por votar num outro candidato de forma a diminuir a vantagem do Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva. Ganhou com uma enorme expressão eleitoral, sem prejuízo da enorme abstenção verificada, mas não teve o voto de uma pessoa: eu. E sinto-me muito bem por não ter contribuído para aqueles que serão os cinco anos mais risíveis que Portugal alguma vez teve.
De volta à casa da senhora minha avó, fomos lanchar com os primos no quentinho da lareira e aguardar pelos terríveis programas eleitorais. Um domingo em família (detesto domingos em família). Recebo uma chamada do R.. Fui até ao alpendre, a tremer de frio, para falar mais à vontade. Disse-me o que eu já sabia. Reprovou a duas cadeiras e às duas terá de ir a orais. Convidou-me, todavia, para estudar com ele num destes dias. Aceitei o convite. Uma das coisas de que mais gosto nele é a sua humildade. Eu jamais o convidaria para estudar comigo estando na sua situação. Seria quase um pedido urgente de ajuda («por favor, ajuda-me, tenho medo de me afundaaaaaaaaaaaaaaaaar!....»). Para além de fazer uma boa acção (ação?, que mal que isto me parece escrito), posso estar um pouco mais com ele. Mas já o avisei: dispense-me de ir àquelas péssimas cantinas universitárias cheias de gente com copos de cerveja nas mãos. Quer estudar, estudaremos, porém, num local apropriado. Como a minha casa, por exemplo. :) Ou então num local neutro: uma biblioteca universitária, geralmente melhor frequentadas porque os portugueses, regra geral, odeiam livros e os locais onde estes se encontram. Está decidido. Gostei do facto de me ter ligado. É sinal que se lembrou de mim, que reconheceu o carácter imprescindível da minha presença na sua vida, totalmente insubstituível, muito menos por uma qualquerzinha de saia e tetas de fora. :)
Lá estaremos, para a semana, a estudar. Ele, que eu não preciso.



Ah, já me ia esquecendo: Parabéns ao Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva. De entre muitas coisas que aprendi em pequeno - e aprendi muitas - «quem ganha, ganha sempre bem». Parabéns!

22 de janeiro de 2011

Maturidade


A maturidade é uma das qualidades que mais aprecio numa pessoa, talvez porque não abunde significativamente em mim. Sim, embora aparente ser uma pessoa madura, a verdade é que me sinto bastante imaturo. Não confundamos imaturidade com irresponsabilidade. Não sou, evidentemente, irresponsável. Sou imaturo. Mas a minha imaturidade convive com alguma maturidade que possa ter e que se manifesta em variadas ocasiões. Bom, os rapazes tendem a ser mais imaturos do que as raparigas e eu constato isso todos os dias. Sou bastante mais imaturo nas conversas do que grande parte dos meus colegas e amigos, embora principalmente dos meus colegas. Eles conseguem ter conversas sérias e eu muito frequentemente disperso o meu pensamento com frivolidades insignificantes. Muitos, que vêm de longe, preocupam-se com prestações a pagar, contas e aqueles problemas do quotidiano. Mesmo os de cá, preocupam-se com assuntos sérios, adultos e maduros. Eu não. Não me preocupo com nada, nada me tira uma noite de sono, no fundo, nada de faz pensar, logo, nada me faz crescer.
Talvez seja por estes motivos que sempre tive tendência a gostar de pessoas mais maduras, não signifique isto mais velhas. Pessoas mais responsáveis, pessoas que soubessem cuidar de mim. Sou muito leviano. Gosto de correr pela vida e vê-la a correr por mim. Gosto de rir, brincar, gargalhar, falar de assuntos que não despertam o mínimo interesse nas pessoas maduras. Mas gosto de ter quem me diga "agora chega". Acho que projecto numa relação amorosa a estabilidade que necessito de um pai, um pai que me diga o certo e o errado. O pai, apesar de ter sido presente, nunca me colocou muitas regras. A mãe sempre assumiu mais esse papel. Projecto, então, esse papel masculino numa pessoa.
Daí o gostar do R., apesar de nada termos em comum (ele é a tal figura). É a parte madura que me completa.
Se vocês me pudessem conhecer, veriam o quão imaturo sou. Talvez porque nunca nada me faltou, talvez. Porventura, ficariam surpreendidos no como eu posso ser maduro quando as situações assim o exigem. É um paradoxo de personalidade irrepreensível. Aí estará o que me distingue de uma larga maioria. A capacidade que eu tenho de guardar em mim o mais infantil e o mais responsável.
Parafraseando a avó: "Sou uma criança que fala de assuntos de gente crescida como ninguém."

20 de janeiro de 2011

Tens Namorada?


Hoje, depois de ter feito o meu último exame do semestre, recebi um telefonema da mãe a convidar-me para almoçar. Há imenso tempo que não almoçava com a mãe a um dia da semana. Foi buscar-me à faculdade e fomos a um restaurante muito conhecido, aliás, é uma das cervejarias mais conhecidas de Lisboa.
Quando chegámos, já quatro amigas da mãe aguardavam numa mesa. Só conhecia uma delas. Constatei que não eram as amigas habituais da mãe e, questionada sobre a origem destas senhoras, disse-me que eram da empresa. Menos mal.
O almoço foi agradável e a conversa também. São as típicas quarentonas que traem os maridos na primeira oportunidade. Mas eu gosto daquela geração. São informadas, simpáticas e giras. Estas mulheres são extremamente sensuais. E depressa me incluíram naquelas conversas delas que, como devem calcular, foram de tudo menos de trabalho. Até do Burlesque falaram!...
Um rapaz novinho no meio daquelas mulheres ávidas é um pitéu. Desataram-me a fazer perguntas de todo o género e feitio: estudos, gostos musicais e. . . namoros, melhor dizendo, namoradas. Todas me perguntaram se tinha namorada e, ouvindo a resposta "não", ficaram admiradas, do género: "Como é possível?" E depois foi todo aquele rol de afirmações parvas: "Um rapaz tão querido"; "... um cabelo tão fofo"; "...um olhar tão expressivo", etc, etc, etc. Bah! Lá surgiu o tradicional "Porquê?".
Porque, e sem me alongar na minha vida pessoal, não quero. Foi a resposta que lhes dei. Detesto, mais, abomino quando me perguntam se "tenho namorada". Não gosto e implico verdadeiramente com isso! Era suposto ter? Talvez seja. É suposto porque vivemos numa sociedade machista em que um rapaz tem obrigatoriamente de ter namorada. Mais importante do que as notas, mais importante do que a saúde, é um rapaz ter ou não ter namorada! Não, não tenho. Se quisesse, tinha; como não quero, não tenho.
Eu respeito imenso a mãe, mas pensam que fiquei envergonhado ou acanhado? Eu? Ahahahahahahah. :D
-"Mas não seja por isso. A senhora quer se candidatar?" - perguntei à pior de todas.
Risota total.
-"Não, devido à idade. Se fosse mais nova bem que queria..." - respondeu.
-"Pois, mas consigo não queria eu. Nem assim, nem em nova!"
Silêncio total.
A mãe ficou constrangida e a primeira a quebrar o gelo foi aquela sua amiga que já conhecia.
Ainda pensei em dizer-lhe para me apresentar um filho da minha idade (se tivesse) ou o maridão que tem lá em casa (um sugar daddy charmoso tem que se lhe diga...).
Fica para a próxima.

18 de janeiro de 2011

Porto


A minha relação com a cidade do Porto já vem de longe.
A mãe e o pai adoram o Porto por vários motivos. Em primeiro lugar, o pai é do Futebol Clube do Porto desde criança, o que o levou a criar uma admiração pela cidade; em segundo lugar, ambos viveram no Porto durante três anos, antes de eu nascer. A mãe já lá tinha vivido quando a mana mais velha nasceu (precisamente no Porto).
Por todos estes motivos, o Porto sempre esteve presente na nossa casa. Recordo-me de ir ao Porto durante muitos anos nos finais de Agosto. Depois de sairmos do Algarve, íamos ao Norte passar uns dias. Parafraseando um conhecido locutor e apresentador de televisão português, eu fui muito feliz no Porto. Lembro-me de brincar no Marquês, de passear pela Rua de Santa Catarina e pela Constituição, de ir até à Avenida dos Aliados...
O Porto tem algo que me seduz, algo que me prende sempre que lá estou. O brilho da cidade, o seu ar que, segundo a mãe, relembra Londres, o encantamento da sua arquitectura mais tradicional. Depois, o carinho das pessoas nortenhas. São mais afáveis e carinhosas. Direi mesmo mais solidárias. Têm uma outra proximidade com os forasteiros.
Apesar de ter nascido e crescido em Lisboa, o Porto ocupa um lugar muito importante no meu coração. Costumo dizer que adoraria viver na Cidade Invicta um dia. Talvez repartir o meu tempo entre Lisboa e Porto, quem sabe!... Agora até já há El Corte Inglés em Gaia.
Já não vou ao Porto há imenso tempo. Não tenho andado muito longe, uma vez que o pai está no Norte, embora ultimamente seja ele quem vem a Lisboa para estar comigo.
Sempre fui muito acarinhado no Porto. As críticas de que os lisboetas são mal recebidos não passam de boatos e mentiras. Aliás, sempre fiz muito furor no Porto. Acho os rapazes do Norte mais sensuais e espontâneos. E adoro aquele sotaque portuense. Considero-o tão masculino quando pronunciado pelos rapazes. Até os palavrões conferem aquele ar de masculinidade. São mais homens, digamos. No Porto era bem mais notado do que em Lisboa. Chegaram-me a dizer que adoravam o meu sotaque alfacinha. Em 2005, tive um flirt nas férias de Verão que passei com o pai (na altura estava lá). Nada muito sério, até devido ao facto de eu saber que o deixaria de ver mal Setembro chegasse. Mas o rapaz, que nunca mais vi, tinha um sotaque bem carregado e uma pegada... Era bem masculino e engraçado. Lá dizia os típicos palavrões, mas enfim. :)
Já tenho dito à mãe para mudarmos para o Porto. Vontade não lhe falta, mas temos a nossa vida aqui.
É uma pequena ambição e um desejo.

Penalizações


Ontem, à conversa com a mãe, soube que se tirar alguma negativa nos exames, o mesmo corresponderá a menos cinquenta euros mensais do que me costuma dar. Digamos que fiquei perplexo com a forma peremptória com que tudo isto me foi dito. E o pior é que sei que ela não terá quaisquer problemas em fazer o que prometeu.  Soube, também, que ligou ao pai a dizer-lhe que se eu tirar alguma negativa será a primeira a informá-lo, ou seja, deixarei de receber do Norte. O problema é que são cinquenta euros por cada cadeira. É imenso dinheiro. E as minhas despesas? Os meus telemóveis, a minha roupa (que ando sempre a comprar), os meus ténis, os meus livros, os meus álbuns musicais, etc? O pior estava para vir... A mãe disse-me que, caso tire mais do que uma negativa, para além da subtracção de cinquenta euros/disciplina, retirará a minha internet. Não!, eu não preciso de comprar roupa e ténis todos os meses, assim como álbuns de música e livros, mas a minha net? Pensei logo na solução mais próxima e fácil: os notebooks da mãe (ela leva um para a empresa e deixa o outro no escritório cá em casa). Mas não é que é mais inteligente e perspicaz do que eu (como é possível?; não o admito a ninguém!)? Disse-me que fechará, sendo esse o caso, o escritório à chave. Wireless, bye, bye! E a banda larga dela é a banda larga dela!
É injusto! Nós temos internet desde meados dos anos noventa, era eu pequenino. Ainda me recordo. Era um modem que estava conectado à tomada do telefone. Uma coisa tão arcaica. Não é possível que me retire uma ferramenta imprescindível nos dias de hoje. Diz que para «qualquer papel ou documento importante das aulas imprimes na faculdade» e que, veja-se!, «MSN, facebook, não são necessários para os teus estudos». Resumindo: acha que estudo pouco. Quatro horas diárias? Ainda quer mais?
Não sabe ela do As Aventuras de Mark, o meu bebé, como conseguiria eu abandonar o meu bebé que já vai fazer três aninhos?
Estúpida! Deus queira que parta um dos saltos dos sapatos, daqueles saltos agulha, numa sarjeta!...
Bom, hoje recebi a nota de Direito Civil. Tive positiva, claro. Menos uma, e as esperanças de que nada do que escrevi acima se cumpra renascem e intensificam-se. O R. não conseguiu fazer a cadeira. Vai a oral. Fiquei tão triste por ele. O seu rosto ficou vermelho ao ver a nota afixada. Apeteceu-me tanto tocar-lhe no rosto, abraçá-lo fortemente e beijá-lo. Saiu furioso e sem se despedir de qualquer pessoa. Neste momento deve estar a digerir a nota. Ele não merecia, coitado. Estudou imenso e sei que se aplica.
Enquanto aguardo pelos resultados, tento assegurar os meus interesses de uma outra forma. Vou pedir à avó, caso reprove a uma cadeira e a mãe cumpra. É que eu já acho que ela me dá pouco. Se ainda tirar, como vai ser?
Que ódio, que ódio, que ódio! -.-

15 de janeiro de 2011

Presidenciais


Uma vez que as eleições presidenciais se aproximam rapidamente, creio que é necessária alguma reflexão sobre os candidatos e o futuro do país. Sempre me interessei imenso por política, não só devido ao contexto familiar em que estou inserido, mas também porque me provoca uma enorme avidez por mais informação. Afinal, é o cargo mais importante e de maior responsabilidade em Portugal  (apesar da figura omnipresente do Primeiro- Ministro).
Bom, vamos aos candidatos.
Aníbal Cavaco Silva. Abomino. A mãe e toda a família materna veneram o homem, considerando-o eficaz e imprescindível para o país. Para mim, é uma pessoa demasiadamente conservadora, daquele conservadorismo saloio e despropositado. É daquelas pessoas para as quais "o amor" é feito de luz apagada e sempre na velha posição do missionário. Será imprudente julgá-lo por mais do que a sua mera actividade política, no entanto, tenho a sensação de que se o conhecesse não gostaria dele. Antipatizo fortemente com a sua cara. Para além de todos os motivos enunciados, defendo a renovação política nos cargos e, sobretudo, de rostos. Cavaco Silva foi Primeiro-Ministro de 1985 a 1995 e Presidente da República Portuguesa de 2006 até ao dia de hoje. Já chega.
Manuel Alegre. Era o meu candidato desde o início. Senhor de uma Esquerda liberal e democrática, parecia-me o homem indicado para o cargo. Contudo, ao reflectir melhor, o que é que um poeta percebe de política? E quando chegar a hora de tomar decisões? Será que vai rezar ao Luís de Camões e ao Fernando Pessoa? É melhor que se deixe ficar pelos manuscritos...
Fernando Nobre. Não sei o que esse senhor é ou pensa. É de Esquerda, é de Direita, é o quê? Em que campo se posiciona? Eu sei que a dicotomia "Esquerda - Direita" está ultrapassada, mas ainda é a que se utiliza. Quais são as suas opiniões e convicções nos assuntos cruciais e decisivos? A mim, surge-me como um grande ponto de interrogação. Quer, no fundo, agradar a todos; não vai agradar a nenhum, pois vai ganhar nada mais do que juízo.
Quanto ao candidato comunista, lamento mas não me pronuncio. Na minha modesta e franca opinião, o Partido Comunista Português devia ter passado por uma enorme reestruturação à semelhança dos partidos comunistas de outros países europeus: nuns, extinguiram-se; noutros, mudaram de nome. A União Soviética já acabou oficialmente há vinte anos e Cuba aguarda pela morte de Fidel para seguir o seu caminho. O tempo do PCP já era.
Ainda existem outros candidatos, mas são tão insignificantes em ideias e em percentagem eleitoral que nem merecem qualquer observação. É verdade, nem sei bem quem são.
Perguntarão: "Vais abster-te?" Não, não vou. O dever de todo o cidadão é votar nas eleições do seu país logo que possa. Só assim adquirimos legitimamente o direito de poder criticar. Quem não escolhe, deixa que escolham por si.
É evidente que irei votar. Irei contemplá-los com um lindo e maravilhoso voto nulo. Vou desenhar uma borboleta fantástica no boletim e perfumá-la com um toque de Hugo Boss. Está decidido... Hum, surgiu-me uma outra ideia: mando-os, a todos, para um sítio que eu cá sei. É de ponderar, é de ponderar...
Cambada de inúteis. Mais cinco anos de razia e infortúnio.

13 de janeiro de 2011

Uma Questão de Estética


Ontem tivemos casa cheia. A mana e o esposo vieram cá a casa jantar, assim como os avós, dois tios, o mano e eu. Bom, não foi uma casa completamente cheia, mas já éramos bastantes. Pelo menos deu para ter a mesa minimamente composta de rostos humanos. Geralmente, só eu, a mãe e a Ana é que jantamos juntos. O Pedro está sempre com a namorada... Quando a mãe tem algum jantar de negócios, janto com a Ana.
Os jantares com a mana mais velha dão sempre em conversas sobre moda, beleza e estética. É vaidosíssima, puxou à mãe (também não posso falar muito...). A um determinado momento, começaram a falar sobre cirurgias estéticas. O Victor (esposo da mana) e o avô estavam entediados com aquelas conversas absolutamente inúteis para a grande maioria dos homens. Eu estava a adorar, mas o meu caso é um caso à parte. Ahahah. :)
O que, no entanto, mais me surpreendeu, foi quando a mãe disse que tem ponderado recorrer a uma cirurgia estética. Fiquei verdadeiramente Wtf?!, primeiro porque a mãe - e não é por ser a minha mãe que digo isto - é linda, bem feita e super sedutora; em segundo, porque não tinha a mínima ideia de que precisa de uma cirurgia. A mãe alegou que gostava de tirar umas pequenas gordurinhas que tem localizadas no abdómen. De facto, depois de três partos e já sendo uma mulher madura, é natural que existam diferenças. Mas eu nem tinha notado essas pequenas gorduras de tão insignificantes que são. Perguntou a nossa opinião. Eu concordei totalmente. Sou absolutamente favorável à cirurgia estética. Só os avós discordaram. A mãe também anda influenciada por duas amigas que já foram à faca. Uma aumentou o peito. Parece que tinha complexos em não poder usar decotes porque de mamas saía ao pai. E, ao que consta, o marido não se excitava muito com as mamas dela (o que as mulheres dizem umas às outras, ahahahahahahahah). A outra fez uma lipo (lipoaspiração), que é o que a mãe quer fazer. Por mim, faça o que entender. Eu próprio adorava fazer uma cirurgia estética, apesar de ser muito novo para isso e não saber a que parte fazer. É que sinto-me muito bem comigo, tanto física como mentalmente. Gostava apenas pela experiência. Ah, mas quando for velho não hesitarei nem um pouco. Começa tudo a descer e eu ficava a contemplar?... Na na ni na não! Vai à faca e pronto!
Dei por mim a pensar que Deus foi generoso para mim em vários aspectos. Vejamos: há com cada uma que põe colagénio nos lábios e ficam tipo monstras. Eu, por seu lado, já nasci com um colagénio natural. Deus foi muito generoso com os meus lábios. Como uma amiga minha diz, tenho «boca de bobó» (ahahahahahahahah, eu não escrevi isto!). Em relação às bochechas, imensas pessoas colocam botox porque têm a face lisa e sem graça. As minhas bochechas, todavia, têm umas saliências naturais que adoro. Um outro aspecto é o rabo empinado que meio mundo nesta blogosfera quer. Eu tenho uns glúteos bem feitos. O meu rabinho é estreitinho, mas bem empinado e rechonchudo. Ahahahahahah Os ares da faculdade têm agudizado o meu lado mais descarado. Ando a comprar uns jeans bem apertados que já despertaram olhares por aqueles lados, incluindo o tonto do R. (lembram-se no anfiteatro? Até fiz um post). :P Sinto que estou a voltar aos anos loucos da minha adolescência...
Pois bem, a mãe diz que quer marcar uma consulta e eu já a informei que pretendo ir com ela. Tenho uma determinada curiosidade neste mundo estético.
Só espero que a mãe, caso decida ir em frente, fique mais sensual e arranje um outro padrasto para mim, porque com este já não se podeeeeeeeeeeeeeeeeeee.... (velho, chato e estúpido).

11 de janeiro de 2011

Desassossego


Desde sábado que não tenho estado muito bem. Este caso do homicídio do Carlos Castro marcou-me imenso. Eu já sou muito sensível a situações análogas, embora os contornos macabros do crime tenham sido decisivos para o meu estado actual. Volta e meia, o caso surge-me no pensamento: estou a estudar, lembro-me; estou a comer, lembro-me; estou a falar com alguém, lembro-me.
Há várias coisas que continuam por esclarecer. O que terá levado aquele rapaz com cara de ingénuo a assassinar cruelmente um homem idoso? Sim, idoso (relembro que tinha sessenta e cinco anos, o que no nosso quadro legal corresponde ao início da terceira idade). Mesmo que tenha sido aliciado pelo Carlos com promessas de mundos e fundos, não há nada, relembro, nada, que justifique um homicídio, salvo o caso de legítima defesa contemplado na lei portuguesa e, creio, norte-americana.
Outra questão: é gay, não é gay? Parece-me relevante. Segundo o que ouvi, a amputação do membro sexual de alguém revela repugnância por um acto de cariz sexual praticado. O furar a vista poderá significar o querer cegar alguém devido ao facto de saber de uma possível relação homossexual entre ambos, neste caso, a própria vítima.
Da parte da família e dos amigos do indivíduo, sinto uma preocupação em limpar a sua imagem de uma possível homossexualidade. Desde o padre que fala, passando pelo treinador da equipa de basquetebol que, veja-se!, disse que o rapaz é heterossexual porque, e passo a citar, "envolveu-se com duas raparigas em cinco dias". Se o caso não fosse tão grave, eu dava uma risada. O senhor deve desconhecer a bissexualidade ou até mesmo o armário!... Terra pequena, todos se conhecem, qual seria a melhor opção? Compreendo que a família o defenda. Se fosse o meu irmão, defendê-lo-ia até morrer, mas a populaça? Haja paciência! Foi um ser humano que sucumbiu a uma hora de tortura, um portátil na cabeça, órgãos sexuais amputados e um olho furado!
As recentes declarações do rapaz em sua defesa não me merecem qualquer comentário. Fica à consciência de cada um.
Espero que a justiça americana seja célere como é hábito e que julgue equitativamente este caso, não caindo na vergonha que é a justiça portuguesa.
Em relação ao Carlos, mais uma vez, tenho uma imensa pena do homem, fosse o que fosse ou tivesse a língua que tivesse. Não consigo imaginar o sofrimento daquele ser humano.
O caso mexeu comigo e, pese embora o facto de ser macabro, a imaginação humana é fértil e esta história dará, com toda a certeza, um bom livro ou um bom filme. Deixemos isso nos E.U.A, que eles são especialistas.
Espero recuperar nos próximos dias. Eu sinto-me bem e isto não é uma novidade em mim. Quando a Amália morreu era pequenino e lembro-me de matutar na sua morte durante mais de uma semana. Sucedeu o mesmo com o Michael Jackson.
Sou mesmo assim.

10 de janeiro de 2011

Reflexão Sobre Nós


Na sexta-feira passada tive um exame na faculdade. Mais um, dos três exames que ainda terei pela frente. O R. fez o exame ao meu lado no anfiteatro. Quando eu cheguei à faculdade, dirigi-me para a sala de estudo. Ao vê-lo sozinho, decidi sentar-me na sua mesa. Estudámos uma meia hora juntos. Ele continua simpático, afável, eu diria mesmo que senti um prazer visível no seu rosto por estar comigo novamente. Quando chegou a hora do exame, entrámos ao mesmo tempo e ficámos lado a lado. Eu fiz o exame em cerca de hora e meia; ele utilizou todo o tempo. Senti, todavia, que devia esperar pela sua saída e assim o foi. No final, quando ele acabou e abandonou o anfiteatro, convidei-o para almoçar comigo no Saldanha. Ele aceitou. Foi uma forma de o compensar pelo presente de Natal que não lhe ofereci.
No caminho para o Saldanha, no metro, senti que estava mais extrovertido. A sua forma física continua a mexer comigo. Adoro aquela altura, aquele corpo magro e esguio, apesar de ter formas e ser possante. Adoro os seus ténis desbotados e os seus jeans usados. Adoro a t-shirt lavada milhentas vezes e poucas foram as que o vi com outra. Adoro o cabelo curto, embora rebelde. Adoro aquele ar cool, «'tá-se bem», que todas as suas atitudes revelam. Por fim, adoro a sua masculinidade. Nunca vi um bi (gay?) tão, tão... homem. Tenho dificuldade em vê-lo como gay, porque ele tem tudo menos a imagem estereotipada de um gay. Durante o almoço, tentei pela primeira vez achar-lhe um jeito, algo que o denunciasse quanto à sua possível orientação homossexual. Ao fim de poucos minutos desisti. Ou ele controla tudo muito bem, ou então é mesmo assim. Apenas o sorriso revela alguma delicadeza. Apenas o sorriso...
Ele continua o mesmo cavalheiro. Tem coisas que me levam a adorá-lo. Trata-me como se eu fosse uma miúda, uma namorada que estima e protege. Ele abriu-me a porta do restaurante e deu-me passagem! Não era suposto fazê-lo. Tenho a certeza de que não foi educado assim e, vejamos, eu sou um rapaz! Porém, ele sabe que eu gosto, ele sabe que eu sou de um outro meio, ele sabe cativar a minha atenção... Muitos dirão que eu tenho uma enorme sorte em tê-lo como amigo e sinto o peso dessa sua presença na minha vida.
Mas nem tudo é tão idílico quanto parece. Há diferenças irreconciliáveis. Eu não me imagino num festival de Verão, sentado na relva, a fumar um cigarro, ou erva, ou lá o que é: ele fá-lo; eu não me vejo numa taberna, em Junho, a beber uma cerveja e comer uma sardinha no pão junto àquela gente toda: ele fá-lo; eu não cogito estar num campo de futebol a jogar uma partidinha com amigos e a suar aos píncaros: ele fá-lo. Entre várias situações. É que são mundos opostos e formas de estar que em nada estão relacionadas. Ele tem uma visão do mundo idealista. Tudo é possível, na sua concepção. Mas não o é e, no fundo, ele sabe. Quando ele começa a falar da terra "x", do lugar "y", da situação "z", eu sinto que não sei nada da vida, que nada conheço para além do meu mundo cor-de-rosa. A realidade das pessoas, triste e dura, escapa-me aos sentidos. Eu não tenho culpa, nem ele. Ele diz que eu vivo no cristal (expressão sua) e acredito que o mundo é bom porque para mim efectivamente o é. Eu desminto-o. Digo que sei o que é a vida, mas querem saber a verdade?: não o sei. Se me colocarem numa situação imprevista, a minha primeira atitude é chorar e ligar à mãe a pedir socorro. Ahahahahahah. Lembro-me de uma situação, aqui há uns anos, em que eu e umas amigas ficámos perdidos nos arredores de Lisboa. Todos berrávamos, mas eu berrava mais alto do que elas. Também era muito teen, mas qualquer rapaz vulgar desenrascar-se-ia. Ligámos aos papás em socorro. Ele percebe isso, no entanto, não me recrimina. Acho que é isso que o seduz. Sinceramente, ele quer ser dominante, quer mandar, quer quase tomar conta de mim. É o que sinto. Acha-me uma pessoa mimada e imatura. Disse-me, no almoço, esta frase, que memorizei porque quase que embateu em mim de tão forte:
-"Escreves bem, falas bem e és muito inteligente que eu sei, mas não sabes o que é a vida. És um menino da mamã e dos avós e dos tios e do papá, crescido."
E riu-se.
A minha cara? De espanto. Senti que me leu a alma. Senti-me nu e corei, logo eu, que de tímido não tenho  nada e não me recordo da última vez que corei.
Não sei o que fazer em relação a nós, mas tenho a ideia de que ele quer o meu bem e de que gosta qualquer coisa de mim. Preferia que ele me afastasse, dissesse que não queria falar mais comigo, até mesmo que me odiasse, mas ele não o faz. Prende-me e eu não quero, ou quero, sei lá...
Eu quero, mas não o quero assim.
Tenho de aprender a aceitar as coisas como elas são. E ele é assim.

8 de janeiro de 2011

Carlos Castro (1945 - 2011)



Só os homens com tomates é que os podem perder!

E se há homens que os tiveram, o Carlos foi um deles.
Que descanse em Paz!













lots of love for all eternity,

mark

6 de janeiro de 2011

Roma das Magistraturas ao Poder do Princeps


Com a queda de Tarquínio, O Soberbo, populus romano nunca mais reconheceu o poder vitalício e monocrático de um Rex. O período de transição entre a monarquia romana e a res publica (509 a. C - 367 a. C) foi um período em que o papel do rei passou a ser exercido por dois cônsules, sendo que os dois eram necessariamente patrícios. Em 367 a. C, com a Lex Genucia, um dos cônsules passou a ser obrigatoriamente plebeu, indo de encontro às reivindicações da plebe. Estas magistraturas tinham um carácter anual e dual. Um cônsul podia vetar a lei de outro cônsul e ambos eram responsáveis pelos erros cometidos no âmbito das suas magistraturas. Recordo que as magistraturas eram dotadas de imperium, ou seja, eram um poder em si mesmas.
Com o advento da República (367 a. C - 27 a. C), surgem as magistraturas ordinárias e as extraordinárias. Das magistraturas ordinárias destaco os cargos de Pretor, Cônsul, Censor, Edil e Questor; das magistraturas extraordinárias temos o Tribuno da Plebe e o Ditador.
O Senado, no período republicano, já não era apenas uma assembleia de patrícios, mas sim uma assembleia de toda a população romana. Tinha como funções a condução da política externa, as declarações de guerra e paz, aprovava as despesas para as operações militares, organizava as províncias, auxiliava os cônsules, fixava os cultos públicos permitidos, etc. Para além disso, mantinha o poder de confirmar as deliberações aprovadas nos comícios.
Todavia, com o tempo houve uma deturpação dos valores iniciais das magistraturas romanas e iniciou-se um período de forte instabilidade. Júlio César é chamado a repor a ordem e é nesse contexto que surge Octávio, seu sobrinho, que ganha destaque. Aos vinte anos de idade, Octávio é cônsul e aos poucos torna-se o único cônsul de Roma, adquirindo este cargo para si a título vitalício. Na teoria, Octávio manteve as magistraturas republicanas, porém, esvaziou-as do poder que detinham. Recebe os títulos de Imperator e Augustus.
Com o Principado, dá-se um controlo efectivo do Senado por parte do Princeps: o Imperador tinha mandatum e há, de facto, um aumento do poder centralizado nas mãos do Imperator. O Principado foi um período de grande poder e prestígio para Roma. De 98 d. C a 118 d. C, o Império atinge a sua extensão máxima, começando, a partir dessa data, a caminhar num período de decadência. O carácter dúbio e híbrido do Principado levaria, a par de outros factores, ao Dominado, protagonizado e "inaugurado" por Deocleciano (285 d. C - 395 d. C).

4 de janeiro de 2011

Só na Multidão


Encontro-me só na multidão aguardando pelo teu abraço.
Vejo-me rodeado de pessoas, mas o calor que advém das suas palavras é insuficiente para me aquecer.
Sinto o frio de uma sala cheia, a incerteza do amanhã e do significado ambíguo da tua presença.
Pressinto o teu corpo, a tua entrada, o significado do teu sorriso e o brilho do teu olhar.
Tudo me parece demasiadamente longe e distante...
Se soubesses o que sinto e o que vive dentro de mim!...
Se soubesses como poderias afastar os meus fantasmas e fazer-me dormir à noite, quentinho no meu quarto.
Se soubesses quantas cores tem a minha alma e se conhecesses o tamanho do meu coração, verias que cá dentro cabe o teu melhor e o teu pior, o teu riso e as tuas lágrimas, o teu amor e a tua indiferença.
É tudo demasiadamente escuro para que possa desvendar o mínimo de esperança na incerteza.
Como queria correr para ti e sentir que os teus braços se abriam à minha chegada.
Como queria que dissesses que me amavas contra o mal e contra o bem.
Como queria ser a princesa do teu castelo e a fonte de luz dos teus olhos.
Como queria que vivesses um minuto por mim.
Como queria estar contigo esta noite.
Como queria estar contigo no meio da multidão.

2 de janeiro de 2011

Começou assim...


Pensava que o réveillon ia ser um tremendo tédio, uma coisa horrorosa e aborrecida. Atentemos no fantástico programa: ir com a mãe até Cascais para começar o ano junto a dezenas de empresários, a maioria com idades compreendidas entre os quarenta e sessenta anos, homens que falam sobre negócios, fumam charutos e cigarrilhas, bebem imenso e olham para as pernas das secretárias. Aliciante, não é? Motivo: nada combinei atempadamente com amigos. Não é que desgoste totalmente daqueles ambientes, mas ouvi, há dias atrás, algumas amigas da mãe dizerem que não iriam participar desta vez junto dos seus maridos. Prefeririam, antes, fazer a sua própria festa num local a condizer com o seu nível (hoje estou tão irónico, ahahahahah). Este pequeno detalhe tornaria este réveillon num encontro informal de homens de meia idade mais a mãe. Um horror! Tinha mais hipóteses, nomeadamente a família, mas a minha palavra é só uma.
Não é que foi divertido? Primeiro, alguns empresários tinham trintas, ahahahahahahah (a minha malícia é chocante) e, em segundo lugar, muitos sessentões levaram os seus filhos vintões. :) Oops, oops. Para além da mãe, só lá estavam mais três mulheres. O resto eram tudo homens e eu, claro (categoria intermédia?). Ahahahahahahahahahaha.
Muitos dos Senhores Doutores já são meus conhecidos, no entanto, a mãe apresentou-me os que eu não conhecia, que por sua vez me apresentaram os filhos. E eu, claro, também lhes fui apresentado. Bom, uma mancha hetero impressionante, com umas certas excepções porque aquele radar de que se fala ainda apitou algumas vezes. Um dos rapazes, filho de um amigo da mãe, é estudante de Economia e é fantástico. Inteligente, culto, atraente, de excelentes famílias, sensato, vá lá, pronto, bebe um pouco de mais, mas isso não é defeito, é feitio. :) O meu irmão gémeo, devido à semelhança de qualidades e gostos (falámos durante o jantar de diversos assuntos e o facto é que comungamos dos mesmos interesses em variadíssimos pontos), exceptuando o facto de ele ser um pouco mais fútil do que eu, com a diferença de que eu só sou quando quero e este pareceu-me que é quando quer e quando não quer. Ahahahahahahahah. Digamos que o ideal era uma mistura do R. com este. O R. é simples demais, aquilo nunca iria (ou irá...) dar certo. Somos uma antítese completa e os opostos não se atraem, pelo contrário. Isso são mentiras piedosas de apaixonados insensatos.
O jantar foi servido por uma empresa de catering contratada e é o único defeito que tenho a apontar. Foi péssimo. Quem os contratou cometeu o erro da noite.
Claro, o espaço estava cheio de fumo dos sessentões e achei uma graça ao facto dos rapazes da minha idade fumarem charutos com os pais. Péssimos hábitos que eu não compartilho.
Meia noite, muito ruído, muitos abraços, muito copo e muito fumo. Era o único que não tinha bebido nada. Para quem não sabe, sou abstémio convicto. Hora da dança. Aqueles pés de chumbo a dançarem foi o máximo. Têm imenso dinheiro, mas dançam tão mal. Até me senti deslocado e hesitei em invadir a pista, mas fui e dancei com a mãe, com as outras três esposas que lá estavam e, por volta das duas da manhã, com o alcoolizado estudante de Economia. Ahahahahahaha. De copo na mão, totalmente embriagado, dançava comigo e até chegámos a dançar agarrados! Os empresários já estavam alegres, logo, nem se aperceberam daquilo, mas mesmo que se tivessem apercebido, o álcool desinibe. :) O estudante é mais alto do que eu e o corpo caía para cima de mim. Ele tinha a noção do que estava a fazer, porém, acho que ele às tantas pensou que eu era uma mulher. Colocou as mãos nas minhas costas, envolvendo-me e sussurrava palavras completamente imperceptíveis devido ao seu estado e à música.
Saímos (eu e a mãe) por volta das quatro horas. De táxi, claro, porque a mãe já estava animada e nem um, nem o outro levou o carro. Eles ainda lá ficaram e soube que tudo acabou já a manhã espreitava. Custou-me deixar o estudante assim, abandonado, mas eu vou averiguar nos papéis da mãe o nome do pai dele (que já sei) e num instante chegarei a ele. É que mesmo enquanto esteve sóbrio, ou seja, durante o jantar, aquela porcaria do radar apitou. Apitou ao de leve, mas apitou.
Todavia, sinto-me mal em relação ao R., apesar de não estar nada definido, o que nos desobriga de qualquer dever de fidelidade ou lá o que é. Este estudante, sim, é algo que valha a pena (perdoem a sinceridade).
Foi uma noite agradável e diferente. O meu smoking vai imediatamente para a lavandaria e a minha cabeça ainda lateja um pouco, mas não me arrependo.
Vou ser um  Indiana Jones, amanhã, no escritório da mãe. :)