A trágica fatalidade que paira sobre a Alemanha provocou o alerta entre as companhias aéreas mundiais. Ao tradicional medo de voar, presente em alguns, junta-se assim a insegurança. O escrutínio feito aos pilotos, todos os testes físicos e psicológicos por que passam revelam-se insuficientes para garantir a tranquilidade nas viagens pelo meio de transporte tido como o mais seguro do mundo.
Em boa verdade, a maior diferença que encontramos entre os acidentes de aviação e viação diz respeito à ocorrência de uns, mínima, se comparados, e à taxa de mortalidade, com elevado grau de probabilidade de não sobrevivência, a rondar os cem por cento, em caso de desastres envolvendo aviões.
Sobre o acidente em concreto que ceifou a vida a centena e meia de pessoas, não se compreende como, ainda que escondendo o atestado médico da empresa, a Lufthansa, ninguém percebeu que aquela pessoa estava doente e a precisar de ajuda, acrescendo que era acompanhado, há alguns anos, visto ter um diagnóstico de depressão. Equiparo aqui, com as devidas ressalvas, os casos de agentes da polícia que se suicidam sem que colegas, os que com eles mais convivem de perto, consigam detectar quaisquer mudanças no seu comportamento.
Houve indícios. Segundo consta, uma namorada ouviu afirmações suas, dúbias, e tinha conhecimento do tratamento psiquiátrico a que o jovem piloto estava sujeito.
Tratando-se de episódios isolados, e sendo os pilotos submetidos a testes rigorosos, pouco se pode fazer. A psique humana será fonte de interrogações por mais que a ciência evolua no sentido de a compreender progressivamente melhor. Se tudo pudéssemos detectar a tempo de evitar actos trágicos como este e outros, não existiriam perícias criminais, tribunais, estabelecimentos prisionais; o próprio Direito.
O que a Lufthansa e as demais companhias áreas podem fazer é reforçar a exigência nas provas que estabelecem para a admissão de pilotos. E todo o staff destas empresas deve aprimorar os sentidos na busca - permanente - de indícios que demonstrem possível ocorrência de perigo para vida de pessoas que culpa alguma têm dos distúrbios que podem afectar qualquer um de nós. Além, como é evidente, de modificar as regras de acesso e permanência nos cockpits, medidas que, ao que tudo indica, já estão a ser tomadas.
Andreas Lubitz quis que o seu nome ficasse para sempre conhecido. Conseguiu-o. À custa de cento e cinquenta vidas que impediu de poderem dar o conhecer os seus.