31 de maio de 2021

Castro Caldelas.


   Ayer M. y yo estuvimos en un pueblo cercano a donde vivimos, exactamente a unos veinte y pocos kilómetros. Se llama Castro Caldelas, tiene una superficie más grande que nuestro pueblo, pero menos población. Según mi entendimiento, es un pueblo más hermoso y luminoso, con su castillo medieval y su atmósfera fría y gris por las mañanas. Se situa en medio de un valle.


Las vistas del pueblo


    Por la mañana, hemos visitado el castillo y su casco histórico, sus dos iglesias, una de ellas en el interior del cementerio. Por la tarde, comimos en un restaurante de posada, un cocido gallego que yo tampoco había comido ninguna vez, muy semejante a nuestro cozido à portuguesa: las mismas carnes, las patatas, el repollo, el chorizo, pero con garbanzo, como se hace y se come en el norte del país y Alentejo.


La plaza De Castro Caldelas


   Después del almuerzo, visitamos algunas calles más, con sus casitas antiguas, y descubrimos un inmenso y espléndido mirador hacia el castillo y el pueblo. Por la tarde, una amiga vino a recogernos con su coche y nos llevó a su finca, mostrándonos sus flores, sus animales -tres tiernos perros, con los que a Diesel seguramente le encantaría jugar-, y así nos quedamos unas horas charlando, riendo, hasta el anochecer, que aquí en Galicia ocurre más allá de las 22h.

Las fotos han sido sacadas por mí y su uso necesita previa autorización.

29 de maio de 2021

Dias.


   Há dias, eu e o M. marcámos o local das nossas férias de Verão e comprámos as respectivas passagens que nos levarão até lá. Estou imensamente entusiasmado, por dois principais motivos: viverei experiências únicas até então, e essas mesmas experiências vivê-las-ei na companhia do M. Serão momentos especiais com alguém especial.

  Conto os dias para que aconteça. Sabem quando temos um evento com data marcada e parece que todos os nossos pensamentos nos conduzem a esse dia? Assim estou eu, expectante, ansioso, combatendo a languidez com ávidas leituras (de momento, La Casa de los Espíritus, em castelhano, a minha primeira leitura nesse idioma), reflexões fugazes e tardes amenas com o Diesel.

24 de maio de 2021

Eurovision Song Contest 2021.


   Eu nunca gostei da Eurovisão. Não sou bicha festivaleira. Em pequeno, gostava das votações dos países. Nunca prestei atenção às músicas, ao brilho, embora, já no plano interno, recorde algumas das canções mais emblemáticas que Portugal levou àquele que é o maior certamente musical europeu. Lusitana Paixão, Amor d’Água Fresca, A Cidade (até ser dia) Chamar a Música são quatro das que fizeram parte da minha meninice, a par, claro, dos velhos clássicos dos anos 70 e 80, que não vivi e que todos conhecemos.

     O meu marido gosta e até fui eu quem lhe propôs assistir à Eurovisão na noite de sábado. Vimo-la na cama, através da televisão do quarto, que o M. estivera de plantão na noite anterior e se encontrava bastante cansado. Surpreendentemente, não foi um frete. As prestações dos países sucederam-se de modo dinâmico, assim como as votações. E gostei de algumas canções. As do Chipre, da Grécia, da Alemanha, da Rússia, etc., ficaram devidamente guardadas na minha biblioteca da Apple (depois de ter conseguido mudar a loja da Apple Store da portuguesa para a espanhola, que há quase um ano e meio moro aqui e continuava com a Apple Store configurada para Portugal, num processo que me impossibilitou de aceder à minha conta da Apple Music por uns dias).

    A última vez que vira a Eurovisão foi justamente em 2017, quando o Sobral ganhou, num bar de ursos no Príncipe Real, e já mal me lembrava do quão inesperada era a votação do público, que no sábado provocou uma tremenda reviravolta no resultado: a França e a Suíça, as duas grandes favoritas, ficaram atrás da Itália, que arrebatou assim a sua terceira vitória, feito que lhe escapava há trinta e um anos (1990 foi o último ano em que Itália empunhou o troféu).

   A prestação de Portugal, longe de ser das que me caíram no goto, foi equilibrada, em inglês, e conseguiu um azedo 12º lugar, pouco num país que já saboreou a vitória e razoável considerando a história das participações do país no festival europeu. Portugal obteve sempre lugares maus e modestos. Nos anos 90, posicionou-se algumas vezes entre as dez melhores, e presumo que o mesmo tenha ocorrido excepcionalmente antes disso (em 1980, por exemplo, José Cid, com Um grande, grande amor, saiu de Haia em 7º).

   Sinto uma mudança a nível europeu no que respeita ao prestígio da música e dos intérpretes portugueses, o que acompanha a evolução na qualidade da música nacional. Temos uma música que se aproxima mais do melhor que se faz lá fora, e já nos conseguimos igualar na disputa. Os Black Mamba, goste-se ou não do género ou da decisão de se levar um tema em inglês, passariam por um grupo internacional. É bem verdade que a Eurovisão deveria ser o festival da variedade cultural, que se reflecte na música, nas danças e nos trajes que se apresentam em palco, mas não devemos ignorar a tendência para se obter um padrão que vende, que vence, e esse padrão geralmente obedece a determinadas características: cantar-se numa língua franca internacional ou adoptar-se a um estilo que esteja de moda. São as regras informais do jogo. Depois, claro está, cabe a cada país optar por se manter fiel às raízes ou apostar em algo mais mainstream. Portugal ganhou não sendo comercial, eurovisivo, festivo, um feito que não sei se se repetirá com frequência independentemente do país. Naquele caso em concreto, pesou mais, quanto a mim, o facto de Salvador se apresentar como anti-vencedor e de ter interpretado, mais que cantado. A música, como é de idioma universal, chegou aos europeus, que o escolheram em massa. Foi, de certa forma, a fórmula que a França levou, sem sucesso. A França não é aquele pequeno país do sul da Europa que jamais havia ganhado e que levava uma canção meio jazz, meio bossa nova, numa língua amplamente desconhecida no continente. Houve um conjunto de causas que levaram Portugal ao primeiro lugar.

   O factor surpresa torna a Eurovisão num espectáculo aliciante: pode ganhar uma Netta (com uma interpretação totalmente eurovisiva), um Sobral ou uns Maneskin, contrariando-se apostas e preferências.

21 de maio de 2021

La crisis de Ceuta.


    La crisis de Ceuta me recuerda la de Oriente Medio. Ocasionalmente, Marruecos e Israel, o más bien el Hamás, inician un nuevo conflito, hasta que todo se tranquiliza. De verdad, me parece que la primera es de más fácil resolución, aunque no sea simple. Además de las corrientes migratorias, hay el problema del Sahara Occidental, antigua colonia española que Marruecos reivindica como parte de su territorio y que España abandonó a su suerte en 1975, tras la muerte de Francisco Franco.

   Los españoles argumentan que Ceuta, que fue conquistada por Portugal en 1415 y decidió no seguir con el reino en 1640, es una plaza legítimamente suya; que el Reino de Marruecos tampoco existía en el siglo XVII cuando, después de 1668, con el tratado de reconocimiento de la independencia de Portugal, Ceuta se quedó en sus manos. Hay unos cuantos ultranacionalistas que retroceden más, defendiendo que el norte de África hizo parte de la antigua región romana de Hispania en un momento determinado de la historia. En mi opinión, es toda una clase de argumentos supremacistas y anacrónicos. Ceuta está en el territorio norteafricano, es decir, naturalmente es marroquí, y Marruecos seguirá “acosando” la ciudad. Un día, logrará reunir Ceuta, y probablemente Melilla, a su territorio. Otra cosa es la autodeterminación del Sahara, que defiendo sin reservas. Además, España, con alguna hipocresía o crisis amnésica, reclama el cumplimiento del derecho internacional relativamente a Ceuta, infrigiéndolo al no devolverle Olivenza y sus pueblos promiscuos a Portugal, ocupación nula desde el Congreso de Viena (1815).

   Una solución política y pacífica para Ceuta (y Melilla) es poco probable en un futuro inmediato. La Unión Europea reconoce la soberanía de España. Posiblemente, Marruecos esperará la confirmación de sus derechos hacia el territorio saharaui para, después, dirigir su atención a las dos ciudades autónomas españolas, amenazando, quizás, el propio territorio peninsular, haciéndose la guerra. Un pronóstico terrible, pero no imposible con esta escalada de tensión.

17 de maio de 2021

Día das Letras Galegas e Día Internacional Contra a LGBTfobia.


   Creo que hoxe é o día adecuado para escribir a miña primeira publicación en galego normativo, ou sexa, o galego que é ensinado nos institutos galegos e que a Real Academia Galega recoñece. Fixen, incluso, un vídeo que publiquei nas miñas redes sociais e que obtivo eloxios entre alguns galegos que coñezo. 

  Todos os anos, o Día das Letras Galegas, que ademais é festivo en Galicia, é dedicado a unha personalidade galega que se distinguiu polo seu activismo en defensa do galego. Este ano tocoulle a Xela Arias, falecida precozmente no 2003, con 41 anos. No meu vídeo, con todo, eu quixen alertar os galegos para a necesidade de protexer o galego, se posible achegándoo ao portugués. Neste momento, a sociedade galega padece unha diglosia que cada vez máis puxa o galego para a desaparición. Os nenos falan menos en galego e incluso nos medios rurais comezamos a verificar que o galego e o castelán se mesturan. A fronteira entre cada un queda máis tenue, e o prexudicado é o galego, a lingua máis fraca nesta relación de supremacía. Para axudar a incrementar o uso e dominio do galego, poderíase cumprir coa Lei Paz-Andrade, do 2014, que, por exemplo, promovía a difusión da televisión portuguesa en Galicia. Ata agora. Non hai vontade política.


   O Día Internacional Contra a LGBTfobia segue facendo todo sentido en países nos que as persoas LGBT son perseguidas. Miramos o Oriente Medio e alí mesmo atopamos países que condenan homosexuais e transexuais á morte. Por aquí, pola Europa Occidental, a discriminación desapareceu dos ordenamentos xurídicos, pero frecuentemente manténse no cotidiano de mozos, e menos mozos, vítimas de acoso e agresións verbais, emocionais e ata físicas. A loita contra a LGBTfobia faise diariamente, previndo, axudando, denunciando.

16 de maio de 2021

Eva Wilma (1934-2021).


   Este obituário será, porventura, pior que o de há dias. Hoje despertei-me com a notícia da morte de Eva Wilma, uma das actrizes brasileiras por quem mais carinho sentia e talvez a que maior impacto teve na minha infância. Em 1997, Eva Wilma encarnou uma personagem que, pelas suas características, ganhou um lugar de destaque na teledramaturgia brasileira, tal qual a própria Eva. Falo-lhes de Altiva, ou Maria Altiva de Mendonça e Albuquerque, a vilã da novela ambientada na cidade fictícia de Greenville, em A Indomada. Uma antagonista pérfida, porém cómica, num estilo que já nos é conhecido de Aguinaldo Silva, que mistura, na própria ficção, um universo surrealista e fantasioso, assente frequentemente no exagero do religioso e nos estereótipos e folclore do povo brasileiro. No colégio, para procurar atenuar vivências não tão positivas ou até, quiçá, dar azo a uma faceta artística, imitava os trejeitos e bordões de Altiva.

   Dois anos antes, Eva Wilma interpretou a desajeitada, tresloucada, Zuleika, em História de Amor, de Manoel Carlos. Outra das suas personagens que recordo particularmente.


Eva Wilma enquanto Altiva, em A Indomada (1997)


   São das minhas memórias mais vívidas de uma artista que, entre televisão, cinema e teatro, teve uma carreira de quase setenta anos.

   Eva Wilma estava bastante doente sobretudo desde o último ano. Não sendo a sua morte um facto inesperado, nem por isso nos merece menos pesar. Perdemos, portugueses, brasileiros, africanos, uma grande actriz, daquelas cujos papéis, pelo carisma que Eva trazia em si, são inesquecíveis.

13 de maio de 2021

Maria João Abreu (1964-2021).


    Para as pessoas da minha geração, a Maria João representava uma das actrizes mais queridas. O seu semblante era sempre de uma enorme doçura. Contrariando o vedetismo tão comum na classe artística, mostrava-se com um sorriso aberto, convidativo. Se há facetas e qualidades que transparecem, a humildade da Maria João era uma delas.

   Parte uma mulher demasiado nova, com imenso para viver e para dar ao teatro, sobretudo ao de revista, aquele que mais a preenchia como actriz. Entretanto, Maria João Abreu era completa, abrangendo a comédia e o drama. Recordá-la-emos assim, multifacetada. Dos papéis que interpretou, eu destacaria dois que recordo particularmente: Lucinda de Médico de Família, com o seu inesquecível bordão, de sandálias de salto alto e meias, e Anabela, personagem secundária de Jardins Proibidos (2001), a grande produção portuguesa para a televisão que foi uma pedrada no charco na ficção nacional e destronou, pela primeira vez, as novelas brasileiras.

   Reutilizo as palavras que recentemente escrevi a respeito de Cândida Branca-Flor: morrer jovem escandaliza-nos, deixa-nos revoltados. Tratando-se de gente boa, a perplexidade extravasa.

     Até já, Maria João.

12 de maio de 2021

Sporting, campeão 2020/21.

 

    Sportinguista, fiquei bastante feliz com a vitória de ontem do Sporting, que lhe permitiu, ainda antes do fim oficial do campeonato, consagrar-se campeão. Acompanhei o jogo, estando no estrangeiro, através de uma aplicação da NOS (operadora de televisão) da minha mãe, e o rescaldo, com os efusivos festejos, pela RTP Play, que instalei na minha televisão. Podia tê-los visto pela dita aplicação, que me possibilita visionar a televisão portuguesa tal qual como se estivesse em Portugal, conquanto disponha ainda da RTP Internacional, proporcionada pela minha assinatura de televisão com uma operadora espanhola. Enfim, tenho demasiado, mais do que preciso.

    Aquelas multidões que ignoravam o quadro de contingência sanitária em que estamos preocuparam-me e provocaram-me o assombro, mas não culpabilizo a PSP ou a DGS, como uns por aí. As pessoas têm de ser as primeiras a tomar a responsabilidade pelos seus actos. Não sendo a pandemia uma novidade, que há ano e meio que conhecemos as restrições que nos provoca, inclusive comprimindo direitos e garantias, tão-pouco podemos aludir à ignorância. O que se deu foi uma incúria generalizada, fomentada sobretudo pela nossa extraordinária capacidade de viver na negligência e transgressão constantes. Os anos em que o Sporting esteve à espera do primeiro lugar na liga não o explicam igualmente. Fossem o Benfica ou o Porto campeões e veríamos exactamente o mesmo. Enfim, o futebol é uma modalidade extremamente competitiva. Nestes momentos de vitória, há não somente uma descarga de energia contida como a necessidade de afirmação e provocação diante do adversário. Eu iria mais longe: estas rivalidades têm até um certo efeito catártico, afastando-nos do confronto directo. As massas focalizam a sua necessidade de guerrear para estes desportos de ampla aceitação social.

   Parabéns ao Sporting, e não se esqueçam do quão feliz estaria (ou estará) a Maria José Valério, falecida há pouco tempo sem poder ver o clube que levou ao coração (e no cabelo) e cantou como campeão nacional de novo, vinte anos depois.


As Vinhas da Ira.

 

    Terminei de ler neste exacto momento as mais de quatrocentas páginas de um dos aclamados romances do século XX, e parece que levei um murro no estômago. As Vinhas da Ira é o mais duro retrato da exploração do homem pelo homem que li, aquela que cava miséria tal que nos trespassa a alma, inimaginável. Desde logo, apresenta-nos uns EUA diferentes daqueles a que estamos acostumados, mergulhados na Grande Depressão que forçou ao êxodo de milhões para a Califórnia, sujeitando-se a condições de subsistência indignas.

     O autor foi acusado de colaborar com os socialistas, os vermelhos, como no livro se lhes chama. Eu não vejo a apologia do socialismo, senão um retrato vívido da desigualdade social gerada por um capitalismo que devasta tudo quanto toca, do pequeno proprietário ao assalariado rural. Oitenta anos depois, continuamos a discutir o tema que Steinbeck considerou pertinente em 1939. Naquele tempo, a URSS era relativamente recente, Mao ainda não havia tomado o poder em Pequim. O sonho de um socialismo utópico pairava. Como idealizado, assenta numa ideia de igualdade e distribuição da riqueza e da terra que nos parece justa. Este modelo, o que temos, de economia de mercado, falhou, como falhou, no início dos 90, o regime soviético. As terceiras vias, encarnadas por regimes como os de Oliveira Salazar, mostraram-se igualmente incapazes de cumprir com o arquétipo cada vez mais inatingível de igualdade que, sim, é imperiosa e desejada. Não encaro a desigualdade como uma condição inevitável de haver dois homens com características e capacidades diferentes, porquanto sabemos que as oportunidades não são iguais para todos, que muito há a fazer para se cumprir com aquilo com que os Estados da Europa Ocidental, nomeadamente, se comprometeram. Nos EUA, tudo muda de figura. Por lá, a noção de Estado social é encarada com profunda desconfiança. 

    A meritocracia é uma falácia. Sabemos, hoje, que crianças nascidas em meios pobres se ficam aquém nos estudos comparativamente àquelas que nascem em meios favorecidos, ou seja, já se nasce inquinado, quase fadado a determinada sorte, salvo em raras excepções, que contudo não contrariam a regra.

    Provavelmente, as Vinhas da Ira é aquela obra a que não se deve chegar aos trinta anos sem ler. Redimi-me. Parece-me mais que aconselhada: obrigatória.

11 de maio de 2021

Miniférias... em Santiago de Compostela.


   Depois dos dias que passámos na Corunha, rumámos a Santiago, a poucos quilómetros, que é a capital da Galiza e que eu conhecera no ano passado, em Março, ainda antes do primeiro confinamento, e cujo relato poderão encontrar aqui. Faltou-me, daquela vez, ir à Cidade da Cultura, um espaço novo em Compostela inteiramente dedicado a exposições. Um polo cultural. 


Um dos blocos da Cidade da Cultura, empreendimento polémico aquando da sua feitura 


   Soubemos através de terceiros que a Cidade da Cultura albergava uma exposição do Egipto com peças que lhe chegaram do British Museum. Os britânicos, como se sabe, estabeleceram um protectorado no Egipto. Suponho que muito daquele espólio pertença legitimamente ao povo egípcio. Enquanto não se faz justiça e não se devolve a César o que é de César, vamos desfrutando destas maravilhas sem termos de nos deslocar ao Norte de África.


Fragmento da tapa do sarcófago de Ramsés VI, c. 1143-1136 a. C.


  Uma vez na Cidade da Cultura, visitámos a exposição no terceiro piso, de arte moderna, que sinceramente não nos diz nada, e a do primeiro andar, essa sim com mais interesse para ambos, sobre Isaac Díaz Pardo, por ocasião do centenário do seu nascimento (1920-2020). Díaz Pardo faleceu em 2012. Foi um escritor, desenhador, pintor e inclusive ceramista, que ajudou a impulsionar as cerâmicas Sargadelos, deixadas de produzir em finais do século XIX, recuperando as antigas fábricas e o prestígio do selo Sargadelos.


Sempre digna de uma visita


    Passámos pela zona histórica, uma vez mais, encontrando a famosa Catedral ainda em obras, sendo que já é possível apreciar alguns dos trabalho de restauro no interior. 

   Tratou-se de uma visita curta, sempre agradável. Santiago de Compostela não é tão cosmopolita quanto A Corunha. Tem menos população, é mais recatada, e sente-se essa ausência de stress que na Corunha marca o dia-a-dia dos seus habitantes. Pareceu-me uma cidade com relativamente as mesmas dimensões do Porto. Viver entre ambas, tendo acesso a uma e a outra, ser-me-ia o ideal. Quem sabe.

Todas as fotos foram captadas por mim. Uso sob autorização.



7 de maio de 2021

Miniférias... na Corunha.


   Nunca soube de alguém tão dedicado à sua profissão como o M. Sai às 8h30 e regressa não raras vezes depois das 20h. Se chega e se lembra de que deixou um domicílio por fazer, uma consulta telefónica por efectuar, torna a sair, fá-la desde casa. Com trinta e dois anos e uma responsabilidade enorme sobre si, não é difícil imaginar que tirar férias não é das suas prioridades. Sendo sincero, tira-as a pensar em mim e na necessidade que tenho de sair. Geralmente, vemos os trabalhadores ansiando pelas férias, pelas viagens. Não é o seu caso. Férias, tirando-as, passá-las-ia a dormir.

    A nossa ideia inicial (já é uma estória antiga...) era ir até Madrid. Pelas restrições ao turismo, ficámo-nos pela Corunha. O M., sendo galego, conhece a cidade. Para mim, sim, foi uma novidade. Dada a sua localização costeira, tem praias, um farol romano -a Torre de Hércules-, um aquário. É uma cidade de tradição marítima.


A Avenida da Marina


   Como de costume, fiz um roteiro que procurei cumprir. Conhecemos as principais atracções. Esta viagem teve a particularidade de coincidir com o meu aniversário. No dia em que chegámos, a 28, ficámo-nos pela zona histórica -o casco vello- (incluindo a famosa Praça Maria Pita) e visitámos o Castelo de San Antón, que na prática foi um forte. Fizemos ainda o percurso do passeio marítimo, indo conhecer o jardim dos menhires. No dia do meu aniversário, começámos cedo pelo Aquário Finisterrae, que é uma versão mais humilde e discreta do Oceanário de Lisboa, ou mais bem do Aquário Vasco da Gama, porém, com mais espécies do que o último, que perdeu muita da sua afluência e popularidade com a abertura do Oceanário. Dispõe, todavia, de focas, que no Aquário Vasco da Gama deixaram de existir, e de várias espécies de peixes, incluindo tubarões, que fazem as delícias dos miúdos, e não só. Antes disso, estivemos na Torre de Hércules, um farol romano, como havia dito, mas cuja fachada remonta ao século XVIII, ao reinado de Carlos III. É património da humanidade desde 2019 e o único farol romano que se mantém em funcionamento. À tarde, passámos pela praia, fazendo tempo para ir ao Planetarium, na Casa das Ciências. Importa referir que todos os bilhetes foram reservados antecipadamente.


O deslumbrante edifício do concelho na Praça Maria Pita


    Não ia a um planetário desde os dez anos, quando estive no de Lisboa, para os lados de Belém, através do colégio. É uma experiência interessante, desprovida do fascínio da infância, mas de repetir.


A Torre de Hércules, magnífica


    De presentes, o M. deu-me livros, o melhor presente que posso receber, e uma peça de vestuário. Entrámos numa loja de antiquidades e quinquilharias no centro da cidade, que funcionava também como alfarrabista. Foi na FNAC, entretanto, que comprei os que mais me interessaram.


A rosa dos ventos vista desde o alto da Torre de Hércules


     Na sexta-feira, 30, fomos ao Museu de Belas Artes. Comprámos ainda uma porcelana de Sargadelos, as melhores de Espanha, uma representação da Torre de Hércules.


O Castelo de San Antón

 
   No sábado, 1, seguimos para Santiago de Compostela, que dista poucos quilómetros, sobretudo movidos pela vontade de visitar a Cidade da Cultura e a sua exposição do Egipto com peças vindas directamente do British Museum. Deixarei o capítulo final das férias para outra publicação.

Todas as fotos foram captadas por mim e não podem ser utilizadas sem prévia autorização.

5 de maio de 2021

Las elecciones autonómicas de Madrid.

 

    España es, al revés de Portugal, un estado de naciones, un estado regional dotado de autonomías. Cada una de esas regiones ha ganado el derecho a elegir a sus representantes locales. Podemos comparar su estatuto con lo que tienen las autonomías portuguesas, las Azores y Madeira. Ayer, los madrileños han elegido a su gobierno autonómico. El PP ha obtenido una extraordinaria victoria a expensas de las izquierdas, en particular de Pablo Iglesias, que quedó en último lugar. Los socialistas del PSOE tampoco pueden quedarse tranquilos con el resultado, el peor de siempre en la comunidad.

   Evidentemente, hay una extrapolación de este resultado regional a la política nacional. En este contexto de pandemia, son muchos los que ven un fracaso de las políticas de Pedro Sanchéz en la gestión sanitaria, un desgaste que probablemente conducirá al PP o incluso a la extrema derecha a La Moncloa. Pablo Iglesias ha comunicado al país que abandonaría la política, una decisión in extremis, una autoresponsabilización inevitable, alejándose mientras recupera su condición de uno de los grandes líderes de la izquierda española.


   Yo he seguido estas elecciones con relativa indiferencia, no queriendo atribuirles una importancia excesiva. Además, hay otros asuntos que, en este momento, me merecen más atención. En los últimos tiempos, he aprendido que no debemos perder demasiado tiempo con circunstancias puntuales. La realidad cambia a toda prisa. La pérdida de energía con la política y sus sucíos meandros no es dignificante y nos aleja de lo esencial.

3 de maio de 2021

XIII Aniversário.

 

    Passaram-se treze anos desde o dia em que inaugurei o blogue, e este ano farei uma exposição diferente das habituais que têm por único mote assinalar a efeméride. Dar-lhes-ei conta de uma mudança que provavelmente foi perceptível para a maior parte dos que me acompanham. Uma mudança que teve repercussões nas poucas interacções que ainda mantinha após o longo período de incerteza que envolveu a chamada blogosfera.

    Durante anos, fiz parte, como quase todos, de um esquema que gradualmente me foi provocando alguma repulsa. Apercebi-me de que a maioria não escrevia por gosto ou apetência, mas tão-somente para receber aquilo que considerei ser estímulos ao ego, comentários de bajulação, que não justificavam o que entendia dever ser a prioridade numa rede social não tão imediata, e disso me fui dando conta com algumas participações de pessoas que verdadeiramente liam e interpretavam, opinavam de modo esclarecido, contribuíam para desenvolver ou aprofundar temas que apresentava.

     Ter-me-ia sido mais fácil recolher-me ao silêncio (quando nada tens de bom para dizer, nada digas), mas não. Passei a ser absolutamente transparente nas minhas posições sobre o que lia, criticando, admitindo que roçando até a aspereza, também de certa forma para provocar alguma reacção. Ser o revés daquilo que se esperava, ainda daquela lógica da adulação virtual que não mais me fazia qualquer sentido, afinal, se seguia determinados espaços e se as pessoas os têm públicos, com a opção de comentários disponível, porque não escrever o que se me ocorria dizer?

    Fui alvo de todo o tipo de ataques de índole pessoal, inclusive de mortos que ressurgiram sabe-se lá de onde para me procurar achincalhar (um deles com quem tive um desaguisado em 2010 e que, onze anos depois, surgiu do nada para tirar ilações não sobre mim, que isso é possível e legítimo à luz do que escrevo, mas sobre a minha vida pessoal). Quando comentava os blogues e ia além dos limites do outro, fazia-o tendo em conta a interpretação prévia àquilo que acabara de ler; não é verdade que não possamos conhecer alguém somente pelo que escreve, sobretudo quando quem escreve elabora textos de cariz íntimo, pessoal. Como eu acabo por passar a ideia de mal-educado e arrogante, quem leio assume, perante mim, um esboço, e começo a formular uma concepção acerca da personalidade daquela pessoa. Nalguns casos, são blogues que acompanho há mais de uma década.


    De todas as inimizades -se é que é um termo apropriado neste contexto- que fui colhendo aqui e acolá, custa-me relativamente apenas a de um rapaz, e ele sabe quem é, que conheço... já lhe perdi a conta... e que reconhecia como sendo um amigo real. No demais, concebo que cada um possa reagir como quer. As publicações que me visaram, e serei de novo absolutamente transparente, foram recebidas por mim com tranquilidade e algum humor. Há três pessoas que me importam e que sei que me amam, a minha mãe, o meu pai e o meu marido. Tudo o que sobeja, com excepção de algumas poucas pessoas (o tal rapaz que referi ali está incluído, e um querido amigo que anda ausente, o M.), são contactos pontuais. No caso dos blogues, há uma plataforma, há um texto. Há ainda uma caixa de comentários. Comento, se quiser, sem ânimo de procurar rebaixar e sem me preocupar excessivamente com o reflexo em quem lê.

    O blogue continuará a existir, como já o disse, enquanto me fizer sentido. Escrevo -e também o disse- para mim. Não necessito sequer que me leiam. Eu sou eu e sou ainda o meu entorno querido, independentemente de ser malquisto pelo resto, que é... resto.

     Obrigado aos que continuam aí, não obstante.


Mark

2 de maio de 2021

Nomadland.

 

  “Nomadland” trata da quebra dos vínculos sociais a ponto de uma total dessocialização, uma ausência de ligação à colectividade, excepto aos que partilham dos mesmos valores de erraticidade e desprendimento.

   Frances McDormand iguala Meryl Streep em prémios Oscar, e merecidamente, que a sua interpretação é inenarrável. No entanto, há que fazer uma pequena ressalva: McDormand esteve como peixe na água, permitam-me a expressão. Em  “Three Billboards Outside Ebbing, Missouri”, a actriz interpretou, se a memória não me falha, uma mulher com uma vivência rural e desagregada que provavelmente terá motivado a sua escolha para este “terra nómada”.

   É uma estória deprimente? É-o, como a vida sem as cores que lhe damos para a tornar mais suportável. Há quem se recuse a cumprir com os padrões estabelecidos e tome efectivamente as rédeas do seu destino, ignorando automatismos sociais, normas comportamentais, obrigações decorrentes da própria manutenção daquilo que consideramos ser um patamar de dignidade. Na “terra dos nómadas”, há dignidade, há normas, mas não há uma escravidão ao trabalho, ao dinheiro; uma preocupação com a aparência. Existências numa primeira análise desprovidas de raízes, ainda que as tenham no espírito de cooperação que se estabelece entre quem divide um estilo de vida comum.