Estive a falar com um amigo português que andou aqui nos blogues durante muitos anos (o Horatius, do Aqui no Campo), e calhou em conversa o tema das praias e do nudismo. Nunca fiz nudismo; ele sim. E acabei por comentar-lhe que estive duas vezes, salvo erro, na famosa Praia 19, ou simplesmente a 19. Fui com um amigo de há muitos anos (que não é aqui dos blogues), um dos meus melhores amigos -um rapaz excelente, diga-se, com um coração d'ouro-, e que tem queda para o cruising. Ele gosta, como tantos e tantos na comunidade gay, e eu, felizmente, deixei-me de moralismos. As coisas são como são. O cruising foi importante para muitos homossexuais durante os anos da repressão, aqui e em todos os países. Eram os únicos locais de encontro, onde, além das práticas sexuais, se podia conhecer alguém igual, semelhante nos gostos e preferências. Até um amigo. Não era apenas uma imoralidade, um “vício contra a natureza”, um atentando ao pudor público. Era muito mais que isso: era um tubo de escape para o ostracismo, a perseguição social e legal, o isolamento.
Foto na 19, e já tenho saudades do Verão! (Setembro 2019) |
Sim, estive na Praia 19. Sim, fui pelos arbustos e pelas dunas com o meu amigo. Não, não fiz nada com ninguém. Ninguém me perturbou. As pessoas estão nas suas vidas. Querendo, fazem; não querendo, não fazem. Mas vi. Vi práticas sexuais, algumas, e não me choca dizê-lo, ao contrário do que me chocou na altura ao vê-lo. Na inversa, é bom conhecer tudo o que há no mundo -isso é cultura-, e não viver numa bolha, indiferente ao que se passa. Assim, depois de conhecer, posso dizer com propriedade que não é o tipo de praia que goste de frequentar, não me sentindo à vontade, porém, lá está, há que conhecer para se saber, e há que conhecer antes de se criticar.