11 de maio de 2021

Miniférias... em Santiago de Compostela.


   Depois dos dias que passámos na Corunha, rumámos a Santiago, a poucos quilómetros, que é a capital da Galiza e que eu conhecera no ano passado, em Março, ainda antes do primeiro confinamento, e cujo relato poderão encontrar aqui. Faltou-me, daquela vez, ir à Cidade da Cultura, um espaço novo em Compostela inteiramente dedicado a exposições. Um polo cultural. 


Um dos blocos da Cidade da Cultura, empreendimento polémico aquando da sua feitura 


   Soubemos através de terceiros que a Cidade da Cultura albergava uma exposição do Egipto com peças que lhe chegaram do British Museum. Os britânicos, como se sabe, estabeleceram um protectorado no Egipto. Suponho que muito daquele espólio pertença legitimamente ao povo egípcio. Enquanto não se faz justiça e não se devolve a César o que é de César, vamos desfrutando destas maravilhas sem termos de nos deslocar ao Norte de África.


Fragmento da tapa do sarcófago de Ramsés VI, c. 1143-1136 a. C.


  Uma vez na Cidade da Cultura, visitámos a exposição no terceiro piso, de arte moderna, que sinceramente não nos diz nada, e a do primeiro andar, essa sim com mais interesse para ambos, sobre Isaac Díaz Pardo, por ocasião do centenário do seu nascimento (1920-2020). Díaz Pardo faleceu em 2012. Foi um escritor, desenhador, pintor e inclusive ceramista, que ajudou a impulsionar as cerâmicas Sargadelos, deixadas de produzir em finais do século XIX, recuperando as antigas fábricas e o prestígio do selo Sargadelos.


Sempre digna de uma visita


    Passámos pela zona histórica, uma vez mais, encontrando a famosa Catedral ainda em obras, sendo que já é possível apreciar alguns dos trabalho de restauro no interior. 

   Tratou-se de uma visita curta, sempre agradável. Santiago de Compostela não é tão cosmopolita quanto A Corunha. Tem menos população, é mais recatada, e sente-se essa ausência de stress que na Corunha marca o dia-a-dia dos seus habitantes. Pareceu-me uma cidade com relativamente as mesmas dimensões do Porto. Viver entre ambas, tendo acesso a uma e a outra, ser-me-ia o ideal. Quem sabe.

Todas as fotos foram captadas por mim. Uso sob autorização.



6 comentários:

  1. Sabe sempre bem conhecer coisas novas :)

    Abraço

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  2. Tenho ideias contraditórias sobre a pilhagem feita pelos europeus da arte de países da Europa, África e Médio Oriente, como o Egipto, Grécia, antiga Pérsia e Mesopotâmia, Turquia ... e por aí fora.
    Por um lado salvaram a herança artística universal que, doutra forma, poderia ter desaparecido (como desapareceu grande quantidade das obras de arte inestimáveis que se encontravam no Museu Nacional do Iraque, em Bagdad, aquando da invasão americana do país) - por exemplo, as joias esculturais do Pártenon, expostas no British designadas, muito apropriadamente (estou a ser cínico, claro) como os mármores de Lord Elgin, foram exportadas para Inglaterra, dado o seu estado de degradação provocada pela explosão daquele monumento; aquela construção única e fantástica tinha sido transformada pelos otomanos em paiol e fortaleza militar nos séculos XVII e XVIII.
    Outro exemplo seria o próprio templo de Athena Niké, destruído mais uma vez pelos otomanos, para dar lugar à sua artilharia.
    Dados estes exemplo de barbárie, face a uma herança cultural e artística universal, percebo que se tentasse salvar o mais possível da pilhagem, como foi o caso igualmente da arte tumular egípcia, destinada a ser pilhada, destruída ou dispersa, durante séculos pelos próprios habitantes do país, e, posteriormente, por todas as outras civilizações que invadiram o país. Para não falar dos templos e esculturas que, face às vicissitudes da história, hoje resumem-se a fragmentos.
    As camadas que cobriam as grandes pirâmides desapareceram, pois foram pilhadas para se proceder a construções no espaço urbano do Cairo.
    Os próprios países não foram capazes de proceder à proteção das suas próprias heranças culturais.
    Se é verdade que esta pilhagem contribui para a riqueza da Europa, também é verdade que tudo isto se passa em detrimento dos seus verdadeiros donos, que ficaram mais pobres.
    O mesmo se passou com Portugal, e também não gosto que a arte deste país onde vivo fosse pilhada por estrangeiros, como foi o caso das imensas obras de arte levadas para Madrid após a invasão de Portugal em 1580.

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    1. Tem razão, e ao mesmo tempo que assinalo essa subtracção do espólio, reconheço que os europeus, em muitos casos, o salvaram da destruição. Enfim, não deixa de ser mais um reflexo do paternalismo com que tratamos os outros povos, nós, europeus. Julgamo-nos quase messianicamente destinados a guiar, conduzir, proteger. Quantas vezes nós próprios, e o Manel relatou alguns casos, não pilhámos e destruímos o nosso património, com as inúmeras guerras que tiveram o seu epicentro da Europa.

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  3. Alba teve a incumbência de escolher tudo o que de melhor a coroa portuguesa tinha para ser enviado para a capital espanhola, e foi levado! Uma parte importante das tapeçarias que ornamentam hoje o palácio real de Madrid foram pertença da família real portuguesa.
    Catarina de Áustria foi uma colecionadora ambiciosa e tenaz; durante toda a sua vida teve embaixadores e pessoas conhecedoras incumbidas especialmente de lhe encontrarem tesouros por esse mundo fora, sobretudo no oriente, que adquiria a expensas do tesouro português. Onde estão estes tesouros? Uma parte fundamental deles foi parar a Espanha, claro, levados a mando do seu sobrinho, Filipe II.
    As célebres tapeçarias de Pastrana, mandadas executar por Afonso V, encontram-se hoje exatamente em … Pastrana, Espanha, e não se sabe muito bem como foram lá parar, é uma história que nunca foi contada.
    Também não gosto de saber que as tropas napoleónicas tivessem levado os nossos tesouros, face à pilhagem de palácios, igrejas e mosteiros a que o país esteve sujeito durante as Guerras Penínsulares (Wellington permitiu a sua saída, e foi uma das condições da capitulação de Junot), que recheiam alguns dos museus franceses, para não falar das coleções privadas por esse mundo fora.
    Por isso, e como disse inicialmente, a minha posição face a este espoliar de países é contraditório, pois percebo ambos os lado, e não concordo com nenhum deles.

    A talhe de foice, e sabendo que gosta de ler, refiro aqui alguma da literatura espanhola que fui lendo e que, de alguma forma, me deram prazer.
    Se gosta da prosa epistolar, li algo que me encantou - “Cartas Marruecas” de José Cadalso, editadas nos finais do XVIII, que foram escritas, creio, sob influência das “Lettres Persanes” de Montesquieu.
    Também gostei de ler, e que veio mesmo a calhar aquando da minha visita a Oviedo, uma novela construída à volta da catedral daquela cidade: “La regenta” de Leopoldo Alas “Clarín”.
    Não sei se gostará do tipo, mas a mim encantou-me.
    Quando em Sevilha, aproveitei para ler alguma da poesia do romântico Adolfo Bécquer, que também gostei bastante, apesar da poesia não ser o meu forte.
    Enfim, vá descobrindo o que esse país tem de bom, que é muitíssimo!!!! Espanha é um país com uma identidade que me encanta.
    Oxalá que tudo lhe corra de feição por esses seus lados
    Manel

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    1. Os casos desdobram-se. Provavelmente os franceses terão feito o mesmo aquando da sua passagem por Espanha para invadir Portugal (instalando inclusivamente um Bonaparte no trono), ou os nazis com as invasões da França, dos Países Baixos, Polónia etc. As riquezas sempre suscitam a cobiça dos homens. Somos atraídos pelo belo, e temos produzido muito de belo no campo das artes. Os homens tomam as terras e apossam-se de todas as riquezas dos que já lá estavam. Vale para as riquezas naturais, vale para aquelas que nos saíram das mãos. Recordo-me até, e foi um caso diferente, do furto de peças do nosso património nacional em 2006, quando enviadas para uma exposição nos Países Baixos. Um caso diferente, é certo, mas, a somar àquelas subtracções proporcionadas pelas invasões e conquistas, apenas nos diminuem culturalmente.

      Um abraço.

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    2. PS.: Obrigado pelas excelentes sugestões!!

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