Nada me leva a favor dos EUA e do seu imperialismo sobre várias nações do planeta. Sabemos que ambos, quer os EUA quer a Rússia, se comportam da mesma forma de há várias décadas a esta parte. Movimentando-se na cena política internacional apoiando líderes simpáticos à sua causa ou ideologia e ditaduras conservadoras ou socialcomunistas, criando alianças militares, intimidando países terceiros. O fim da Guerra Fria trouxe um desanuviar de tensão entre as potências hegemónicas, porém, passámos de duas para uma, e os EUA puderam reafirmar a sua superioridade militar, económica, política, cultural. A Rússia passou a um papel secundário, ou menos ainda, com a ascensão da China. Nunca o encarou bem, e todas as tentativas americanas de estender a sua influência no leste europeu foram encaradas como uma ameaça pelos russos. Para os americanos, mais do que se defenderem da Rússia, procuram defender-se do Irão e da Coreia do Norte, criando escudos antimísseis nos países aliados da OTAN/NATO. Às portas da Rússia, portanto.
Há um princípio basilar do direito internacional público que é o da soberania estatal. Afastando-nos dos propósitos e expectativas de americanos e russos, todos os países são, ou deveriam ser, livres para conformar o seu destino como queiram, firmando as alianças que queiram. Se ocorrem golpes de Estado, são questões internas de cada Estado soberano, e devem ser resolvidos pelo seu povo. Portugal teve um golpe de Estado em Abril de 1974, EUA e a Espanha franquista cogitaram invadir o país temendo que os marxistas tomassem o poder e creio que ninguém hoje apoiaria essa solução. É exactamente o que se passa no leste europeu: há, na Ucrânia, um governo desfavorável aos russos, há o problema da aproximação da Ucrânia ao ocidente, e a Rússia, numa intimidação absolutamente inaceitável, não o permite, ou seja, a soberania dos países do leste europeu é uma farsa. O ascendente da Rússia mantém-se e a política de intimidação não chega sequer a assumir um carácter moderado, dissimulado. Ontem mesmo a Rússia ameaçou contundentemente a Suécia e a Finlândia com consequências militares caso adiram à NATO. Já não falamos de ex-repúblicas soviéticas. Ainda que o fossem.
Ideologias de lado, só há um caminho que me parece correcto, respeitador da soberania do povo ucraniano e do direito desse mesmo povo de viver em paz e de poder decidir sobre o seu futuro. É nisso que consiste a autodeterminação dos povos. Tudo o que se afaste um milímetro destes princípios não atende à vontade do povo ucraniano, justifica a guerra sem o aval das Nações Unidas (no fundo, apoiando agora o que anteriormente se criticou nos EUA) e abre o precedente de que qualquer Estado pode intimidar ou inclusivamente invadir outro se considerar que há razões que o justifiquem. É um atropelo ao direito internacional, é o caos nas relações entre os Estados.