4 de junho de 2021

Chile, 1973.


   Nos últimos dias, influenciado pelo livro que leio de momento, La Casa de los Espíritus, de Isabel Allende, surgiu-me um interesse inesperado pelo golpe de estado de 1973 no Chile, que derrubou Salvador Allende, presidente eleito democraticamente, e impôs ao país, por longos dezassete anos, uma ditadura com a benção dos EUA. Com o apoio dos yankees, Pinochet ordenou directamente o assassinato de milhares de pessoas, outras tantas desapareceram para sempre ou foram sujeitas a torturas.

   Allende ganhara as eleições e propusera-se a implantar um regime de inspiração soviética, é certo, mas distinto do que vigorava na U.R.S.S. Se o faria ou se assistiríamos ao despontar de uma nova Cuba na América do Sul, nunca o saberemos, mas sabemos, sim, que o regime de Pinochet arruinou com a classe média, favoreceu a burguesia mercantil e, naturalmente, os militares, que governaram com total impunidade. A inflação disparou e a maioria da população não se podia permitir à aquisição e consumo de determinados produtos. A Igreja Católica, aí, desempenhou um papel fundamental ao dar leite aos meninos, abrigos aos que tremiam de frio e pão aos famintos.

   No momento em que Portugal deixava para trás as longas décadas de repressão, o Chile conhecia a tirania. Em 1990, Pinochet foi afastado, mantendo, porém, prerrogativas que abandonaria muito mais tarde, como as de senador-vitalício. As investigações que lhe foram dirigidas culminaram em nada. O antigo ditador morreu tranquilamente. Não foi o único, como sabemos.

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