29 de setembro de 2024

Sanxenxo.


    De volta à península ibérica, as férias não haviam terminado. Nem pensar. Tínhamos mais uns quantos dias para desfrutar, e duas opções: descansar dos vôos e dos comboios em casa, na nossa piscina, ou aproveitar para passear mais um pouco e conhecer lugares novos. Escolhemos a segunda. Já com o nosso carro, decidimos ir até à costa galega, à maravilhosa localidade de Sanxenxo. Sanxenxo é uma vila do litoral da Galiza, muito procurada pelas pessoas da alta finança. Tem uma marina cheia de iates. Nas ruas não se vêem imigrantes. Apenas gente bem aposta, educada. Há tempos que o M. me disse que teríamos de ir lá, e eu simplesmente adorei. Senti-me em casa verdadeiramente. 


Foram dias muito bem aproveitados

   Não ficámos apenas em Sanxenxo. Fomos a duas vilas muito próximas, encantadoras também, mais tradicionais. Essas ficarão para uma publicação ulterior.

27 de setembro de 2024

Lanzarote IV (Casa José Saramago).


    “Uma casa feita de livros”. Foi desta forma que José Saramago definiu a sua residência dos últimos dezassete anos de vida. Foi, realmente, a visita mais interessante da estadia em Lanzarote e uma das mais interessantes que fiz na vida. Curioso, não? Podia eleger o British Museum ou outro qualquer, e tive muito mais prazer numa casa singela, sem luxos, decorada com gosto e com quadros bonitos, é certo, mas uma casa comum. Poderia ser a minha casa. 

   Tivemos a sorte de ser os únicos da visita (lembrei-me imediatamente da minha visita à casa de Amália Rodrigues, em que também fui o único). Passámos pela entrada, pelo escritório, o quarto (onde morreu, no Verão de 2010), a sala, a cozinha, o jardim -no qual contemplava o oceano-, e depois, noutro recinto em frente à casa, do outro lado da rua, a sua gigantesca biblioteca composta por milhares de exemplares.





     Aparentemente sem nada de especial, foi uma visita muito significativa para mim. À saída, na loja, adquiri várias obras de Saramago e mais umas quantas lembranças. O guia, espanhol, foi excepcional. Contou-nos algumas curiosidades sobre a casa e o próprio Saramago. Sendo os únicos, pudemos usufruir de uma atenção personalizada.

       Para terminar, um pouco da história da casa. Saramago e Pilar compraram aqueles terrenos, mandaram construir a casa, e Saramago estabeleceu lá a sua residência em 1993, em virtude de um dos seus livros, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, ter sido vetado pelo governo de Cavaco a um prémio literário europeu. Todas as obras a partir de então foram escritas em Lanzarote, muito embora Saramago tivesse um apartamento em Lisboa que, aliás, continuou a ser a sua residência oficial, e onde vinha com frequência. Recomendo.

25 de setembro de 2024

Lanzarote III (Jameos del Agua).


    Inicialmente, não queria ir aos Jameos del Agua. Comentei-o, aliás, com a recepcionista do hotel, a María, um encanto de senhora, sempre prestável, preocupada em fazer-nos sentir bem (se quiserem ir a Lanzarote, posso-lhes facilitar o nome do hotel por e-mail; basta para tal contactar-me). Pareceu-me um local turistificado à exaustão, muito comercial. Preferia fazer algo cultural sem cair no previsível. Fui aconselhado a dar-lhe uma oportunidade. Defraudou. Ah, eu sou assim. Quando gosto, gosto. Quando não gosto, não gosto.


Há quem possa achar isto idílico; eu não


   César Manrique, um pintor e escultor muito famoso em Lanzarote, idealizou os Jameos: num túnel vulcânico, criou um espaço natural, inaugurado em 1977. Tal como a Cueva de los Verdes, o espaço originou-se com a erupção do vulcão de La Corona. Ao passo que, lá, não moldaram aquelas grutas misteriosas, nos Jameos César Manrique deu asas à sua imaginação e idealizou um jardim, um lago, com palmeiras. Criou um belo entorno natural num túnel vulcânico. O problema, no meu entender, é que há demasiados turistas, o preço do bilhete é excessivamente elevado e, sejamos sinceros, não passa de um jardim exótico. No piso superior fizeram um museu do vulcão, que está ali como poderia estar em Madrid, em Lisboa, em Santa Comba Dão, quer dizer, nada de especial. Há um lago que alberga uma espécie protegida de caranguejo cego, mas são tantos turistas que não se consegue ver nada. A minha intuição estava certa. 


O auditório formado por pedra basáltica

    
       Talvez o mais interessante seja o auditório construído numa das secções do túnel.

23 de setembro de 2024

Lanzarote II (Cueva de los Verdes).


    Há pessoas que se esgotam em roteiros culturais. Nós, no Verão, não. Cada um estabelece as suas prioridades. O M. trabalha muito, demasiado, e quer sobretudo descansar. Meio contra a sua vontade, na segunda quinzena de férias, no Inverno, “obrigo-o” a andar de museu em museu, daqui para acolá, e de certa forma sinto-me culpado por não lhe permitir mais tempo de descanso, afinal, ele fá-lo por mim.

    Estas férias de Verão foram -sei-o- das mais relaxantes para o M., e isso agrada-me. Ele não gosta particularmente de praia e piscina. Vai por mim. Fica deitado, joga no telemóvel, lê um livro. E eu também aproveito a vê-lo descansar. Entretanto, achámos que podíamos fazer algumas coisas mais. Decidimo-nos a ir à Cueva de los Verdes.


O efeito espelho é um dos mais interessantes da cueva. Julgamos que estamos perante um enorme precipício. Nada mais falso. É água, tão límpida que faz um reflexo que nos leva a crer estar perante uma cratera


   A Cueva de los Verdes é uma gruta subterrânea originada por uma grande erupção vulcânica há cerca de 25.000 anos. As Canárias -aliás, à semelhança dos Açores, da Madeira, das Selvagens e de Cabo Verde- são um arquipélago de origem vulcânica, e configuram, todos, a Macaronésia.

   A gruta, a cueva, é interessante de se ver. Somos testemunhas de um passado remoto que moldou aquela paisagem. Podemos observar a lava solidificada, a forma como esculpiu aqueles caminhos debaixo do solo, que percorremos numa visita guiada que se faz muito bem. O norte da ilha de Lanzarote, no seu subsolo, é atravessado por um túnel totalmente inundado de água que se originou exactamente pela acção do vulcão de La Corona. A gruta formou-se precisamente no tecto do túnel. 

    Ir à Cueva de los Verdes é quase imprescindível numa passagem por Lanzarote.

21 de setembro de 2024

Lanzarote.


   É um destino sem grandes surpresas. A única reside na mudança de ilha. Após três anos seguidos na Gran Canaria, que junto a Tenerife é a maior ilha do arquipélago e uma das mais visitadas, decidimo-nos por Lanzarote. 


A ilha é assim: árida, vulcânica. Uma beleza singular 


   As Canárias são um arquipélago de que gosto muito. Sou intuitivo: ou me sinto bem num lugar, ou não, e quando me sinto bem, costumo ser fiel. Lanzarote pareceu-me bonita nas fotos: uma atmosfera que nos reporta um pouco a Marte, paisagens vulcânicas, praias selvagens, ventos permanentes que amenizam o calor pela proximidade ao Saara.


Uma das mais solicitadas: la Playa del Papagayo


   Adorei. Tivemos dias excelentes de sol, de calor, apaziguados pela brisa constante, que raramente apenas se traduz num vento desagradável. Pelo contrário. Foi uma estância muito, muito agradável.


O pôr-do-sol na Playa Grande, muito perto do hotel


   Optámos quase exclusivamente pelo descanso. O M. precisava muito. Os meses de Julho e Agosto são totalmente extenuantes no que respeita ao trabalho dum médico. Assim sendo, fizemos piscina e praia. Alugámos um carro. Percorremos a ilha. Não repetimos praias. Pontualmente, para descansar a pele e inovar, fizemos alguns percursos culturais. Fomos, naturalmente, à casa de José Saramago, aos Jameos de Agua de César Manrique e à Cueva de los Verdes. Deixarei cada um destes destinos para uma publicação própria. Creio que me merecem a pena.


A dinâmica noite de Puerto del Carmen


    Ficámos alojados num hotel simpático, quatro estrelas, só para adultos (peço desculpa, mas detesto crianças). Pessoal muito prestável, tranquilidade absoluta, sem ruídos. Foram umas férias de sonho. Das melhores que tive.

19 de setembro de 2024

O país a arder.


   Todos os anos o cenário se repete. Ainda a memória de Pedrógão Grande está bem viva, já temos outro cenário com vítimas mortais a lamentar. Menos, é certo, mas as vidas não se contabilizam pelo número de perdas. Cada vida humana que se perde é uma vida. Como não há palavras que mitiguem o sofrimento causado por estes incêndios que devastam o país, eu só posso associar-me ao pesar manifestado pelas suas vítimas. Agora que vivo num meio rodeado de vegetação, consigo imaginar a angústia e o medo permanentes. Muita força.

18 de setembro de 2024

Olivença (uma vez mais).


   Voltámos de férias, e ainda me propunha a falar dos nossos dois destinos primeiro (sem contar com Chaves, que já me mereceu uma publicação), porém, Olivença e a sua questão são um tema que me apaixona. Sou patriota, defendo Portugal, e Olivença não me é -nunca me foi- indiferente. Provavelmente já terei falado da questão em momentos anteriores, mas, em termos gerais, houve uma guerra (uma de muitas com Espanha) em 1801, a Guerra das Laranjas, no contexto das invasões napoleónicas. Espanha era aliada de França e Portugal do Reino Unido. A guerra, ganhou-a a aliança franco-espanhola. Espanha anexou várias localidades fronteiriças, bem assim como Olivença. Devolveu-as a todas num acordo de paz, excepto Olivença, que manteve como “conquista de guerra”. Portugal, fragilizado, aceitou os termos do tratado (de Badajoz). No Congresso de Viena, em 1815, que se propôs a redefinir o mapa da Europa após a derrota de Bonaparte, os tratados prévios foram anulados e Espanha comprometeu-se a devolver Olivença a Portugal. Até hoje.

    Portugal manteve a reivindicação, que foi esmorecendo com o tempo. Entretanto, nos subsequentes tratados de reconhecimento de fronteiras entre os dois Estados, Portugal recusou-se a reconhecer a soberania espanhola. Desde então, de tempos em tempos, Portugal vai recordando o Estado espanhol dos seus direitos -legítimos direitos- sobre Olivença. Desta vez fê-lo por Nuno Melo.

  Naturalmente, muitos consideram um não-assunto, algo anacrónico e patético. Os oliventinos sentem-se espanhóis (pudera, duzentos anos depois e após um processo de extermínio da cultura e língua portuguesas!), Portugal prefere não comprometer as ditas “boas relações” com Espanha e o tempo tratou, dizem, de sanar o assunto. Eu não penso assim. Como diz o povo, numa frase tão simples, “uma coisa é uma coisa; outra coisa, é outra coisa”. Nem o tempo e nem o etnocidio do povo oliventino podem eliminar o direito português a uma parcela do seu território. Pretensões que o Direito Internacional acolhe. E se já que não levamos o assunto às instâncias internacionais -e deveríamos-, pelo menos temos o dever de, de tempos em tempos, ir recordando Espanha de que mantém, ilegal e ilegitimamente, território português. Admitam-no ou não. Eu só lamento que haja tantos portugueses a levar o assunto com tanta displicência.

1 de setembro de 2024

Chaves.


   Começaram as tão esperadas férias. As do Manel, porque eu, em rigor da verdade, estou por casa todo o ano. Bem, o trabalho de casa é trabalho, e é subvalorizado. Em casa trabalha-se, e trabalha-se bastante (falo por mim). Estaremos de férias pelos próximos 15 dias, mais qualquer coisa.


O castelo de Chaves



As termas romanas do século I d. C.


   Fomos até Chaves neste fim-de-semana. Chaves é uma cidade bonita, sossegada, que se percorre perfeitamente a pé. Viemos de carro, eu conduzi, que deixámos num parque muito perto do hotel onde ficámos hospedados.


Ponte Romana de Trajano


    Três anos depois, voltei a Portugal. Escolhemos Chaves pela proximidade, afinal, está muito perto da Galiza, sobretudo de Verín, cidade com a qual forma uma eurocidade.


Museu de Arte Moderna Nadir Afonso


    Aconselho que vão até ao castelo (que não é mais do que uma torre de menagem), ao museu Nadir Afonso, às termas romanas, ao forte (que actualmente alberga um hotel, mas a entrada no recinto é livre). Podem provar o tradicional pastel de Chaves (que é um salgado) e beber o famoso copo de água quente das termas. De igual forma, poderão entrar nas igrejas da cidade, e naturalmente calcorrear as ruas do centro histórico (devem).

      Já falarei dos próximos destinos destas férias grandes.