29 de maio de 2019

Aladdin & Brightburn.


   Sexta e sábado regressei ao cinema. Esta fase de frequências é arrasadora. Aulas e avaliações ao mesmo tempo dão cabo de qualquer um.


   Vibrei quando soube que o remake versão real do Aladdin havia estreado. É que eu, contrariamente a muitos, não tive O Rei Leão como clássico de infância - que vai estrear brevemente também. O Aladdin é o segundo dos meus favoritos do selo Disney, logo a seguir ao A Pequena Sereia

   Os desenhos-animados dos anos 90, antes do advento da realidade tridimensional, eram muitíssimo melhores. O desenho-animado, ainda que com todos os efeitos, permite-nos uma liberdade que a opção por actores de carne e osso, mesmo com todos os efeitos, não.  A versão de 1992 é incomensuravelmente melhor. Chamem-me purista.



   O Jafar é extremamente frouxo. De grande antagonista, um dos melhores do universo Disney, passou para um vizir meio idiota, inseguro, sem aquele cinismo e aquela maldade inabaláveis. Ponto fraco do filme. Aliás, um grão-vizir novo e sensual não combina absolutamente em nada com a exigência e responsabilidade do cargo de grande conselheiro do sultão. É quase o homicídio do Jafar animado. O Génio não desapontou. Will Smith manteve aquela graça do bonacheirão azul. Era um ponto extremamente sensível. Sabemos que a figura do Génio está intimamente ligada ao falecido Robin Williams. Quanto aos protagonistas, Aladdin e Jasmine, retrataram-nos mais próximos ao fenótipo do Médio Oriente, escolhendo actores para o efeito. Na versão animada, ambos são branquíssimos, como europeus, e só os cabelos negros denotam alguma ligação àquela zona do globo. Aqui, souberam ultrapassar esses preconceitos e arranjar actores à altura. Em 1992, presumivelmente, terão temido escurecer a pele aos bonecos. O Sultão, nesta versão real do Aladdin, passou de velhinho pachorrento e ingénuo para um homem amargurado, desapontado. Não combinou bem aquele Jafar fraco com um Sultão de personalidade forte. Nessa parte, o filme falhou categoricamente. Aliás, não há serpente gigante no final e nem o Iago está tão antropomorfizado. 

   Will Smith carregou o filme às costas, literalmente, porque Naomi Scott (Jasmine) e Mena Massoud (Aladdin) convencem pouco enquanto casal. A Naomi falta-lhe a sensualidade da princesa, embora a força e a determinação da personagem animada estejam presentes aqui. Guy Ritchie também deixou escapar alguns detalhes: a princesa podia ou não sair do palácio? Saía escondida? Houve cortes no filme que nos fazem perder pormenores que não são assim tão irrelevantes.

   Juntaram-se músicas novas, algumas descontextualizadas, mas os clássicos estão lá. Os efeitos ficaram ligeiramente aquém do esperado. Já sabemos das limitações do live-action  comparativamente ao desenho-animado; assim mesmo, o filme pedia mais arrojo, mais brilho. Peca por contenção. É uma versão menor, talvez a possível, onde a magia se dilui. Não nos faz brilhar os olhos.

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    O terror actual faz-me bocejar, como sabem. Sou um crítico constante de tudo o que se faz no catálogo terror actualmente. Este filme fez-me querer dar, de hoje em diante, uma oportunidade ao terror recente. Prendeu-me ao ecrã. Desde logo, o argumento é original. Depois, não imaginamos ser possível ver actos tão cruéis e calculistas num ser aparentemente tão indefeso.

    A estória faz-nos ainda repensar a resistência de alguns laços que julgamos indestrutíveis, e no final perceberão àquilo a que me refiro. Será, até, no limite, a parte mais perturbadora, mais do que o maxilar completamente à banda do tio Noah, que impressiona pelo realismo, e tão-só.



   Todo o filme tem uma realidade obscura profundamente angustiante. O celeiro abandonado, enorme, nos limites da propriedade, que guarda um enorme segredo, e aquela criança, que volta e meia se empoleira nas janelas e se suspende no ar, qual figura sinistra e aterrorizante, a antítese do Superhomem. Gostei do desempenho dos pais, interpretados por Elizabeth Banks e David Denman. Foram extremamente convincentes e essenciais no desenrolar da narrativa. É evidente que mãe não é só aquela que pare, e Tori recusou-se a acreditar, quase até ao fim, que a criatura que acolhera em sua casa, no seu lar, era o responsável pelos estranhos homicídios. São características comuns aos progenitores: amor incondicional, devoção

   No mais, temos os típicos momentos de suspense e aqueles grafismos já previsíveis, mas impressionáveis, de violência e morte. Não sendo um filme maravilhoso, consegue ser melhor e mais competente do que muito do que se tem feito recentemente na categoria.

25 de maio de 2019

As Europeias.


   A um dia das eleições, a publicação peca por tardia. Descansem que não venho fazer o tradicional apelo ao voto (útil), pelo contrário, que o mais certo será votar nulo. Não voto em branco porque o voto em branco é um perigo, e eu não confio em ninguém. Não vi qualquer debate, mas, a julgar pelos partidos e pelas pessoas, não é difícil imaginar o que defendem. Começando nos bastas e acabando nos blocos, temos tudo para todos os gostos, para alimentar o filão de Bruxelas e de Estrasburgo.

   Já sabem o que penso sobre a UE. É um grilhão de povos. Um invento franco-alemão, que surgiu com dignos propósitos de se evitar a guerra na Europa, é certo, e que décadas depois virou um instrumento de domínio. As desigualdades continuam a existir, e talvez, digo eu, seja bom para muitos que elas existam. Aqui, claro, não isento de responsabilidade os dirigentes que tivemos nos últimos trintas e tal anos, que se aproveitaram dos fundos estruturais, e não só, em proveito próprio. 

   Tão-pouco acredito que o voto para o parlamento europeu modifique seja o que for. As decisões são tomadas mais ao lado, em Berlim. A Europa, hoje, para estes senhores que nos representam, é mais um lugar seguro, fonte abundante de privilégios e prestígio. Se preciso for, em nome de uma qualquer vantagem para o país, deixa-se o barco e ruma-se a Bruxelas. Já nos aconteceu. A vantagem foi pessoal. Ninguém lucrou nada a não ser o próprio.

   Tenho ainda conhecimento das restrições que o direito europeu comporta para o nosso ordenamento jurídico. Os regulamentos, nomeadamente, vigoram automaticamente, sem necessidade de transposição. O direito europeu tem primazia sobre nacional. A nossa soberania, e não será excessivo dizer-se, está sequestrada por senhoras e senhores que representam interesses suspeitos. Longe vão os tempos do sonho europeu, que Portugal acalentou por anos, quando, despojados à força do império, nos disseram, em uníssono, Europa, Europa, Europa. E, por aqueles tempos, em nada mais acreditávamos. Julgávamos que iríamos ser recebidos de braços abertos numa Europa de comunhão e partilha. Ilusões.  Exceptuando-se Espanha, com quem mantemos, malgrado todo o passado de conflitos, uma história em comum, somos ilustres desconhecidos na Europa. Na Europa das instituições. Não na Europa das pessoas. Portugal, pelo tanto que tem a oferecer, seja na sua qualidade de vida - que não se afere apenas pelo dinamismo da economia e pela justiça social, mas também - na amabilidade do nosso povo ou no clima. 

  Há dias, assinalámos o 840º aniversário sobre o reconhecimento papal da nossa soberania. As comunidades europeias estão ainda longe dos cem anos, e a UE, como a conhecemos, nem tem trinta. Decerto que os mais atentos se perguntarão acerca da necessidade de se entregar o fundamento último da nossa existência nas mãos de terceiros, que desconhecem a nossa realidade e a nossa história. Lutámos tanto por algo que, de momento, trocamos por umas moedas. É tudo o que resta de nove séculos? A resignação? 

  Não, não acredito que os eurocépticos de hoje continuem, bem refastelados no parlamento europeu, desconfiados da UE. Não, não acredito que o voto, nestas eleições, faça a diferença. Não, não defendo o isolamento, o orgulhosamente sós do passado. Mas sim, não prescindo da nossa soberania, das nossas fronteiras, da nossa capacidade de fazer acordos comerciais com outros estados, sem intermediários.

   O voto nulo, que não acarreta o peso do desleixo, vislumbra-se-me a única opção possível. Um rotundo não à Europa. O branco, o voto, tem a mensagem política do descontentamento, e o nulo, a que eu lhe quiser pôr.

24 de maio de 2019

Um Ato de Fé.


   Estava com expectativas algo elevadas em relação a este filme. Numa altura em que tanto se fala em religião, e em que se ser cristão é quase crime lesa-majestade, estórias destas vêm ao encontro da nossa fé. Agora, não esperava tamanho bad acting e um argumento tão desinspirado. Quase tudo correu mal. O facto de se basear num acontecimento real é do pouco que se aproveita, porque é inspiracional, e faz-nos duvidar das certezas da ciência. Afinal, como a determinado momento se diz, estamos num terreno desconhecido.

  Há tempos, li um estudo que indicava que a fé pode curar. Eu acredito. Temos forças de que nem nós sabemos, sem querer, claro, diminuir o mérito de Deus - sou crente, como é público.


   O filme, sendo cristão, não é católico. Apostasias à parte, de certa forma gostei de ver a proximidade do pastor com as famílias, o que já vai acontecendo menos e menos no catolicismo, com excepção das terras mais pequenas. Todavia, e com o perdão da palavra, que todas as religiões me merecem igual respeito, não senti a verdade naquilo. Nos EUA, e não só, pululam igrejas protestantes. Pergunto-me como é que alguém pode pôr em causa a autoridade moral, religiosa e dogmática da instituição humana mais antiga que ainda resiste, a Igreja Católica. Também a sequência de factos que conduziram ao grande milagre final não escapou à banalidade. Trataram um tema potencialmente interessante de forma… rasca. É mais um dramazinho de classe média norte-americana, com um bombeiro afro que redescobre a fé, como o selvagem que Deus resgata. Ainda assim, diria que o ponto alto se dá quando, à porta do hospital, vemos um coro cantando pela cura do rapaz. É bonito de se ver toda a comunidade em torno de um propósito: fazer com que as preces sejam mais facilmente atendidas por Deus.

   A propósito, hoje vou o Aladdin, a adaptação do clássico de 1994 da Disney. Estou ansioso!

18 de maio de 2019

Extremely wicked, shockingly evil and vile.


   Não tenho boas recordações dos filmes com o Zac Efron. Vi um, uma vez, do qual não me recordo o título, e aquilo não (lhe) correu nada bem - sim, eu sei que podia ir ao Google pesquisar, mas não me apetece. Claro que o moço me despertou a atenção, na altura, e pouco mais.

   "Extremely wicked, shockingly evil and vile". Foi com esta afirmação que o juiz presidente de um tribunal da Florida se referiu a Ted Bundy, o serial killer americano, um dos mais conhecidos e sanguinários de sempre, que ceifou a vida a dezenas de raparigas. Tudo se passou nos anos 70, e Bundy, após uma série de interposições de recursos, acabou na cadeira eléctrica, em 1989, quase uma década depois do julgamento. Julgamento esse que se tornou famoso porque o assassino em série acabou por repudiar o advogado, assumindo ele o comando da sua própria defesa. Nas alegações finais, o juiz chegou ao ponto de assumir que gostaria de o ter conhecido noutras circunstâncias, e que Bundy, que acabou por se formar em Direito na cadeia, teria dado um excelente advogado. Um psicopata.

   Zac Efron esteve bem na pele de Bundy. O mesmo já não poderei dizer da sua parceira de cena. Lily Collins, que quis tanto representar a parceira sofrida que mais pareceu uma múmia. Seguramente que faria bem de múmia.




   Gostaria de salientar que o realizador contornou as cenas macabras, excepto no final. Quis mostrar a faceta mais humana de Ted, com a companheira, com a filha da companheira, e as suas inusitadas fugas dos presídios. Foi um retrato humanizado do criminoso, pérfido criminoso, que a todos enganava com o seu comportamento ordeiro e cortês, aliás, algo muito habitual em pessoas com estes transtornos.

   « Few people have the imagination for reality », como disse Goethe. Efectivamente, casos destes escapam à nossa capacidade fantasiosa. Conseguimos sempre, enquanto pessoas, ir além daquilo que o imaginário pode conceber.

13 de maio de 2019

Plaire, aimer et courir vite.


  Há um mês que não punha os pés no cinema. As aulas não me têm permitido e as frequências começam já esta semana - a propósito, não estranhem alguma ausência nas publicações, nas respostas aos comentários e nas visitas aos seus espaços. Não vou ter tempo para nada até ao final do mês.

  Plaire, aimer et courir vite, em português, "Agradar, amar e correr depressa", é o típico filme que aborda a temática gay. Não vão aos anos 80, ficam-se pelos 90, também no auge da epidemia de HIV / SIDA. E é neste contexto que um romancista (Pierre Deladonchamps) conhece um miúdo, deixando-se apaixonar, o que só percebemos para o fim, que durante o filme há uma sucessão de rapazes e de engates que nos deixa confusos.

  O filme acaba mal (ohhhhhhhh!), mas vale pela fotografia, em Paris, pelo enquadramento romântico-cultural e para quem gosta do submundo gay, além daquele processo inicial de conquista entre dois homens. O resto é realmente mais do mesmo. A abordagem poderá ser outra, mas não há, efectivamente, nada que o torne inovador. Aliás, diga-se de passagem, o "acabar mal" já é habitual em filmes gay, sobretudo quando envolvem o HIV / SIDA. Não seria fácil acabar bem no dealbar dos anos 90.


   O que verdadeiramente temos é um à-vontade com uma característica típica do mundo gay: a promiscuidade. Sabemo-lo. Só falta que tenhamos coragem de o dizer. E o realizador soube deixá-lo evidente sem recorrer quase à pornografia. Ficou tudo devidamente tratado de forma, como direi, composta, sem nos provocar constrangimentos na sala de cinema. Acima de tudo, há uma inocência, uma candura e a tal conquista que são tão bonitas.

   Os retratos crus do estágio final da infecção também nos são costumeiros nestes filmes. Aqui, uma vez mais, não somos poupados àquela realidade tão dolorosa física e emocionalmente, pelo impacto que tinha numa comunidade já de si tão discriminada. Um lado preconceituoso que o realizador, Cristophe Honoré, quis esbater com a aparente normalidade com que o filho do protagonista encarava a homossexualidade do progenitor. São quase pequenos hiatos do presente transpostos para trinta anos atrás.

   Há tempo para termos uma visão diferente daquilo que o sexo deve simbolizar nas nossas vidas. A dado momento, Arthur (Vincent Lacoste), já tomado pelos efeitos do álcool, que é quando as verdades emergem, faz-nos pensar se fará sentido nos reprimirmos tanto, afinal, o sexo, o desejo e até os actos lascivos menos reflectidos fazem parte da vertiginosa aventura que é viver tendo hormonas. Para quê tanta repressão, segundo os personagens, se a vida, no fundo, é uma banheira sem fundo de aflições?

6 de maio de 2019

Politiquices.


   Uma vez mais, assistimos a um fim-de-semana verdadeiramente ridículo da vida político-partidária nacional. E não sei se o digo mais pela eventual aliança do PSD e do CDS com o PCP e com o BE, que afinal não terá lugar, ou pela manobra estratégica do PS, na pessoa de António Costa. O que resulta disto tudo é mais uma descredibilização dos partidos e dos seus dirigentes junto do eleitorado, em ano fecundo em eleições. Um madeirense, por exemplo, terá três, entre as europeias, as legislativas e as regionais.

   António Costa conseguiu dar xeque-mate a Rio e a Cristas, que saem totalmente desmoralizados. Quer o Governo caísse, quer não, e não cairá, ao que parece, a direita - que até me custa chamar direita àquilo - perderá votos. Em ano de eleições, as pessoas não perdoariam uma crise política inesperada, com antecipação de legislativas para o Verão, quando estamos na recta final do término da legislatura. Poderia comprometer uma solução governativa que vem de 2015, e que agora, por birrice, deitaria a perder o esforço na recuperação da economia e do bem-estar das famílias. Não havendo demissão do Governo, tão-pouco perdoarão a manobra cínica do PSD e do CDS, e acredito que já se ressentirão nas europeias deste mês.

   No fundo, o PSD e o CDS defendem e reconhecem que não estão criadas as condições para repor aos professores o que lhes foi tirado nestes nove anos. E atiram a bola, passo a expressão, para o Governo. É um recuo, um recuo travestido de compenetração e seriedade, e o povo, que é o grande julgador destas coisas, retirará as suas ilações. Eu já tirei as minhas, e o voto nulo assemelha-se-me uma opção mui razoável em todos os actos eleitorais, ao menos nos seguintes. Esta política baixa, oportunista, rasteira, irrita-me. O PS, e eu recordo que apoiei esta solução governativa quando surgiu, porque o neoliberalismo de 2011 a 2015 deixou-me farto, até soube governar para as pessoas, mas o escândalo familygate, outra vergonha, deixou-o desnorteado. Costa quer salvar as europeias, que sabia em perigo pelo familygate, navegando a todo o vapor rumo à maioria absoluta de Outubro, a ver se se livra daqueles dois pesos pouco mortos que são o PCP e o BE.

   Estas manobras de uns e de outros deixam-me perplexo. De Cristas, devo dizer, não esperava muito mais, que, embora não pareça, ainda anda a apalpar terreno na política; Rio, depois de ter andado pela Câmara do Porto, de ter enfrentado a fúria de portuenses e de portistas (era persona non grata para o Futebol Clube do Porto), ainda se permite a ser completamente nocauteado, pegando numa expressão brasileira, por Costa. Costa que, aqui, manteve a coerência, diga-se: efectivamente, todos os portugueses sofreram cortes, e repor tudo o que os professores reivindicam, e que até lhes é devido, seria economicamente intolerável. Trata-se de uma ideia pura e crua de equidade. Aliás, é duvidoso que o PSD e o CDS se importassem tanto com os direitos dos professores se estivessem no poder. Há, ainda, como se verifica, uma dose enormíssima de hipocrisia que, juntada ao oportunismo, só torna tudo ainda mais lastimável. São muitos actos eleitorais, desde logo as europeias, que já sabemos que, com as autárquicas, servem sempre de cartão amarelo, ou não, ao governo, e depois as legislativas. Sente-se esse nervoso entre eles, expectável: há cabeças em jogo. A de Rio será a primeira a rolar. O ataque à liderança do PSD dar-se-á no início do próximo ano, não duvido, se o PS ganhar as eleições, o que, à distância de cinco meses, a menos que haja uma hecatombe, não me parece contornável - com esta direita, ainda menos.

    E a procissão nem saiu do adro.

3 de maio de 2019

XI Aniversário.


   Estava aqui a pensar sobre o que poderia dizer num décimo primeiro aniversário do blogue que ainda não tenha sido dito. E dei-me conta de que pouco. São onze anos, desde aquele 3 de Maio de 2008. Quando caio em mim, 2008, de facto, começa a ficar distante.

   Em rigor, o blogue está no seu ponto de rebuçado. Não me restrinjo a publicar crónicas de história ou de política, e não me reprimo por falar de música ou de cinema. No ano passado, e porque não estudava, senti que estava a levá-lo numa direcção que não me agradava, voltando, de momento, a sentir que encarrilei. Continuo a escrever, independentemente da projecção que venha a ter, ou das reacções. Ainda menos dos comentários. É um exercício de manifestação de opinião imprescindível e irrenunciável, de exteriorização de pensamentos e posicionamentos, que vive alheio ao impacto. Essa é a maior vitória: sobreviver ao retorno. Foi a falta de retorno, acredito, que afastou a muitos dos seus espaços. Ou de reconhecimento... Com mais de mil textos, é a minha plataforma por excelência, onde escrevo sem filtros, sem me poupar às palavras.

   Ser-me-ia fácil, e é até tentador, cair no autologio, como uns e outros que se julgam a última bolacha do pacote na blosgosfera e nada valem. Tenho a consciência de que, quando surgi, vim preencher um lugar inexistente. Não havia nenhum rapaz daquela idade, que eu conhecesse, que se dedicasse a escrever sobre história ou que filosofasse lá à sua maneira, boa ou má. Era tudo imediato. Deixei que a escrita fluísse e cheguei até aqui. Presentemente, este espaço representa um pequeno nicho, cada vez menor, de blogues de opinião que não são mediáticos e que, por isso, ainda são livres. Eu prezo muito a minha liberdade, a que imprimo em cada tecla. E acredito que o pior que poderia sentir seria um condicionamento a essa liberdade, uma autocensura, que tarde ou cedo surge entre quem sente que está permanentemente sob a mira dos detractores ou novos inquisidores.


   Meses atrás, coloquei uma foto de rosto no perfil, e também operei certa mudança na aparência do blogue. Tudo resultou, como expliquei, de uma percepção de que já não faria sentido manter um anonimato que, além do mais, não se coadunava com a realidade. Por outro lado, não havia razão para temer qualquer exposição. E foi, também, o coroar de um processo de amadurecimento que seguirá, estou certo disso. 
   Se tiverem curiosidade, leiam os textos antigos, dos aniversários que estão lá atrás. Encontrarão curiosidades engraçadas, detalhes, explicações e, principalmente, essa evolução entre quem fui e quem sou. Eu já o fiz, e ri-me.

   Creio que disse tudo o que esperava dizer. Obrigado por me acompanharem. Continuaremos cá, contra ventos e marés. É, fui dramático. Este texto é, de longe, dos mais animadores entre todos os que escrevi e que assinalam aniversários do blogue.

Com carinho,
Mark