31 de dezembro de 2018

O ano em revista.


   Mais um ano que agora finda. Dois mil e dezoito teve tanto de bom quanto de mau. Nos primeiros seis meses, dediquei-me a explorar Lisboa e arredores, nos seus museus e monumentos. Conheci todos os museus e grande parte dos monumentos - preparai-vos, que virão novidades agora em Janeiro. Nos últimos seis meses, tive um grande contratempo, que não explorei em qualquer rede social, e que não o farei, porque, ao contrário do que muitos julgarão, só partilho o que quero, e regressei à faculdade, cujo semestre terminei como um dos melhores alunos a determinada disciplina - Processo Penal.

   Vamos, então, revisitar 2018 - já sabem que poderão reler cada publicação clicando na respectiva hiperligação: logo a iniciar o mês, debrucei-me sobre os dez anos do blogue, um decénio de muitas aventuras e mudanças. Recordo-me de me propor a republicar um texto antigo todos os meses. Acabei por desistir da ideia porque a apatia da blogosfera torna qualquer esforço um mal evitável. No primeiro fim-de-semana do mês, fui ao Museu da Marinha e ao MAAT, no primeiro dos meus cultural sundays. No segundo fim-de-semana do primeiro mês do ano, visitei o Palácio da Ajuda, que não conhecia. Última visita de Janeiro, a Igreja de Santa Engrácia, um dos nossos panteões nacionais, e o Museu Nacional de Arqueologia. Pelo meio, no dia 20, fui convidado a comparecer numa palestra da Nova Portugalidade, subordinada ao tema d'Os Jesuítas em Portugal: um projecto do tamanho do mundo.

   Fevereiro começava com um sol radioso, e logo pelo dia 4 fui ao Mosteiro de São Vicente de Fora e ao Museu Nacional de Etnologia. No fim-de-semana seguinte, tive o Jantar da Amizade, habitualmente por aqueles dias, e passei pelo Museu Nacional de Arte Antiga (sobretudo pela exposição sobre o arquipélago da Madeira). Revi o Call Me By Your Name, um filme que me deu a conhecer o Timothée Chalamet, que adoro. Na terceira visita do mês, decidi-me pelo Museu do Azulejo e pelo Museu da Água. Vi o Forma da Água, que adorei. Na minha sétima visita desde o início do ano, optei pelo Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado e pelo Mosteiro dos Jerónimos. As idas ao cinema ainda há pouco haviam começado. Num ápice, vi o The Post, o I, Tonya e o The Florida Project. No último fim-de-semana do mês mais curto do ano, fui ao Museu Nacional de Arte Popular, subi ao Padrão dos Descobrimentos e passei pelo Jardim Tropical de Belém. Antes, todavia, de o mês findar, mais duas sessões de cinema: Three Billboards Outside Ebbing, Missouri e Phantom Thread.

   Março, primavera quase a despontar, mas ainda com muito frio. Para começar, a recriação das horas mais difíceis de Churchill na II Grande Guerra, com Darkest Hour. Dois dias depois, um filme de guerra, também ambientado no mesmo conflito: Dunkirk. Tantos filmes só poderiam culminar com a minha crónica sobre os Oscars de 2018. Na primeira visita deste mês de Março, a escolha recaiu sobre o Museu de São Roque e a Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva, num domingo que não esquecerei pela molha que apanhei à saída da fundação. Tempo ainda de ver Lady Bird, que acabara de estrear, seguido de Get Out. Na segunda visita do mês, fui a três museus: Museu do Aljube, Museu do Teatro Romano e Museu de Santo António. Pelo meio, um filme sobre a triste realidade do bullying homofóbico, Marvin. Antecipando um pouco as visitas culturais, no dia 16 de Março fui ao Museu do Oriente, em Alcântara, que adorei. No domingo seguinte, três visitas: Museu do Fado, Atelier-Museu Júlio Pomar e Lisbon Story Centre. Tempo de mais dois filmes, Final Portrait, com Armie Hammer, que tantos deixou loucos, e Red Sparrow, uma desilusão. Para encerrar o mês, no que às visitas diz respeito, três visitas: Museu Bordalo Pinheiro, Museu da Cidade e Museu do Centro Científico e Cultural de Macau, também em polos opostos da cidade. Dois filmes deram o mês por concluído, efectivamente: Maria Madalena Hostis.

  Abril, águas mil, com um Março que já havia sido chuvoso. Na primeira visita do mês, Casa Fernando Pessoa e Museu Colecção Berardo. Mais cinema, para não perder o hábito, com 7 Days in EntebbeCinema Paradiso, que se converteu num dos meus filmes preferidos. Num mês chuvoso, nada como visitar o Museu de Farmácia e o Reservatório da Mãe d'Água das Amoreiras, o que fiz no dia 7. O pior filme a que assisti, no cinema, foi em Abril, sim, e chama-se Manifesto. De fugir. A visita que se seguiu contemplou três locais: a Fundação Ricardo Espírito Santo, no Palácio Azurara, o Museu de História Natural e da Ciência, com o seu Jardim Botânico, e o Reservatório da Patriarcal. O mês continuou concorrido, entre visitas e cinema. Seguiu-se A Maldição de Casa de WinchesterSoldado Milhões, sobre o percurso pessoal do bravo Aníbal Milhais, que se distinguiu pelos seus feitos no CEP da I Guerra Mundial. Penúltimo fim-de-semana do mês, com uma passagem pelo Museu do Dinheiro e pelo Museu da Música. Houve tempo ainda para uma crónica sobre o 25 de Abril. No derradeiro final de semana do mês do meu aniversário, escolhi o Aqueduto das Águas Livre, o Museu da GNR e o Museu Arqueológico do Carmo.

   Maio começou com uma comédia sobre a morte de Stalin. Para variar, o filme que se lhe seguiu fiz questão de ver no Nimas, sobre Callas, Maria Callas. No dia 3, assinalei o décimo aniversário do blogue - dez anos que se passaram num piscar d'olhos. A polémica com o futuro Museu dos Descobrimentos estava ao rubro, tendo sido o tema da crónica de dia 6. O tempo começava a ficar progressivamente mais quente. Na primeira das visitas daquele mês, fui à Casa-Museu Medeiros e Almeida e ao Museu da Fundação Portuguesa das ComunicaçõesAll I See Is You foi o filme de dia 9. Midnight Sun, um drama adolescente com interesse. Falou-se de José Sócrates, e dos desenvolvimentos nos casos que o visam, antes de recebermos, pela primeira vez, a organização de uma edição da Eurovisão, que trouxe milhares e milhares de turistas a Lisboa. No mesmo dia do certame, e arriscando, pus os pés a caminho, com uma visita ao Museu Geológico de Lisboa e ao Museu da Carris, passando, entretanto, pela Capela de Santo Amaro. Mais um filme, ambientado, desta feita, no Médio Oriente, Beirut, para viajar até às paisagens britânicas, com The Guernsey Literary and Potato Peel Pie Society. Já com menos azáfama, quando comparando com o fim-de-semana que o precedera, andei pelo Museu do Desporto e pelo Museu da Electricidade. Um filme pesado preenchia as noites de finais do mês, com You Were Never Really Here, com um mais ameno, digamos, poucos dias depois, Submergence. Na última visita cultural do mês, andei pelo Museu do Combatente e pela Torre de Belém. Encerrando as sessões de cinema, How to talk to girls at parties.

   Em Junho, as minhas visitas culturais diminuíram drasticamente, ao ponto de terminarem. Por, sucintamente, três motivos: o tempo já estava bastante quente, tornando as visitas mui cansativas e desgastantes; o Campeonato do Mundo começara, levando-me a acompanhar todos os jogos; em último, haviam sido seis meses, todos os fins de semana. Quis parar. Em todo o caso, comecei logo com uma comédia giríssima, I Feel Pretty. Na penúltima visita cultural do ano, fui à Quinta da Regaleira. Cinema português, no dia 6, com Cabaret Maxime. Passei, inevitavelmente, pela Feira do Livro. Na última visita cultura do ano, fui ao Aquário Vasco da Gama e ao Centro de Arte Manuel de Brito, ambos em Algés. O Campeonato do Mundo / Rússia 2018 começou, levando-me a acompanhar, como gosto, todos os jogos, do primeiro, da fase de grupos, ao último, na final, disputada entre a França e a Croácia. Também as idas ao cinema se ressentiram. Houve uma última, de terror, Hereditário, no final do mês.

    Em Julho, comecei com um filme sobre a temática gayLove, Simon. Regressando às crónicas, achei por bem opinar sobre a trasladação dos despojos mortais de Franco, envolta em polémica. Mais sessões cinematográficas, com Nico, 1988, Lean on PeteMamma Mia! Here We Go Again e, em mais um filme da temática gayDesde Allá. A completar o mês, uma pequena dissertação sobre as incoerências da esquerda.

   Agosto, sol ao rubro e filme péssimo. Gotti figurará entre os piores a que assisti em 2018. Backstabbing for Beginners foi um nadinha melhor, se bem que o passeio pelo Jardim do Torel me soube bem melhor. No dia 16, o mundo despedia-se de Aretha Franklin, após anos de luta contra uma doença do foro oncológico. No mesmo dia, Madonna assinalava o seu 60º aniversário, agora que mora em Lisboa, sendo praticamente minha vizinha. Praticamente. Encerrei o mês com dois filmes: Down a Dark HallSlender Man.

    Em Setembro, e após uns retemperantes dias no sul do país, voltei e associei-me ao MotelX, com o primeiro filme que vi do festival, Unsane. Seguiu-se-lhe um remake do clássico Papillon, com o grande destaque do mês, efectivamente, a incidir no festival de cinema LGBT de Lisboa, o Queer 2018, que acompanhei do início ao fim, com sessões diárias. Foram nove, entre filmes e documentários, traçando, no final, o meu balanço.

   Outubro, já em pleno vapor nas aulas, reflecti sobre o regresso. Ronaldo estava no meio da polémica em torno de um alegado abuso sexual, enquanto Haddad e Bolsonaro se digladiavam pela mais alta magistratura da nação brasileira. Tivemos mais cinema, sim, com SearchingBad Times at the El RoyaleA Star is Born, o aguardado filme de Lady Gaga, e First Man, sobre a campanha norte-americana para levar o primeiro homem, Armstrong, à Lua. No final do mês, Bolsonaro lograva obter a vitória no segundo turno das eleições brasileiras.

   O ano encaminhava-se a passos largos para o final, logo, em Novembro, com dois filmes: um de terror, Halloween, sobre o terrível Michael Myers, Bohemian Rhapsody, o filme sobre Freddie Mercury, que alegrou uns quantos e decepcionou outros tantos, e The Wife, um dos melhores do ano, a meu ver e entre os que vi. Nova crónica, no dia 11, acerca dos cem anos sobre o Armistício que pôs termo à I Guerra Mundial. Cinema alemão, com Dieses Bescheuerte Herz, numa das escolhas do mês. Lisboa já estava preparada para receber o Natal, iluminação que fiz questão de ver em primeira mão, no dia 24. Beautiful Boy, com o meu Timothée Chalamet, se me permitem, encerrou o mês.

   Em Dezembro, procurei direccionar as actividades, tanto quanto possível, para a quadra que celebramos. No dia 9, tive o meu primeiro concerto de Natal, na Aula Magna, que adorei. Os exames não me permitiram actualizar o blogue com a frequência habitual. Em todo o caso, tive um concerto no dia 21, que ainda não me mereceu quaisquer palavras - fá-lo-ei em Janeiro, e o grande Jantar de Natal - Lisboa 2018, no dia 22. Ben is Back, há dois dias, dava também por concluído o ano no que respeita à sétima arte.


   Como facilmente se verifica, 2018 foi um ano preenchido, nos primeiros seis meses, com fins de semana culturais. As sessões cinematográficas perpassaram todo o ano, do início ao fim. O blogue ressentiu-se nas crónicas. Houve menos do que em anos anteriores, uma vez que também privilegiei outras actividades. Não será menos justo atribuir às aulas a responsabilidade por alguma ausência destas lides. Ainda assim, conclui-se mais um ano em que, estoicamente, mantive o padrão que sempre, desde há dez anos, imponho a mim mesmo quanto ao blogue.

   Resta-me agradecer-lhes por me terem acompanhado ao longo destes doze meses. Que o novo ano, a não ser melhor, não seja pior do que este que está a parcas horas de terminar. Excelentes entradas em 2019! Vemo-nos por aí!

A azul, as hiperligações para os artigos correspondentes.

28 de dezembro de 2018

Ben is Back.


   De regresso ao cinema, após a pausa para as frequências, com um filme que me ficou sob a mira após assistir ao trailer. Ter Julia Roberts no elenco principal ajuda, ajuda muito.

   O filme mostra-nos 24 horas da visita de Ben à família, para passar o Natal, vindo do centro de desintoxicação. Nesse curto período de tempo, Holly, a mãe, descobre mais sobre o filho do que em anos. Várias revelações vão surgindo, até, inclusive, a de uma troca de favores sexuais com um professor, visando obter dinheiro para a droga ou para o pagamento de dívidas a ela associadas.

   Mais um filme sobre adição, como Beautiful Boy, o último que tinha visto. Difícil não fazer um paralelismo com este. Beautiful Boy é mais impactante do ponto de vista visual, mais dramático; Ben is Back, talvez por se passar no Natal, que é um filme natalício, retrata o mundo das drogas mais sob o prisma de um dealer, que também é consumidor, e que, mesmo sem o querer, envolve a mãe numa busca incessante pelo seu cão, furtado como forma de retaliação, após uma investida sobre a sua casa. O realizador, Peter Hedges, que por acaso é pai do actor principal, Lucas Hedges, poupou-nos à degradação física e psíquica dos toxicodependentes, muito embora a cena final seja de uma angústia total. Duas maneiras de abordar o mesmo assunto, comungando, ambas, de uma cena de overdose.



   Também, uma vez mais, e numa semelhança com Beautiful Boy, o realizador mostra-nos um rapaz amigo da família, brincalhão, quando limpo. E Roberts, aquela progenitora, bem como em Beautiful Boy, que no caso era o pai, é uma verdadeira mãe-coragem, destemida, impiedosa, quando é caso - atentem no diálogo com o pediatra dos filhos. A raiva está lá, mitigada pela coragem e pela obstinação em não abandonar o filho que tanto dela precisa. Holly culpa-se, ainda, pelo divórcio, indagando-se se o mesmo não terá influenciado, de alguma forma, o comportamento de Ben. Sem descurar o ambiente que os envolve, Holly é confrontada com a realidade, dramática, dos toxicodependentes, quer nos amigos do filho, quer nos locais que ele frequenta. Um retrato de uma realidade com a qual, sociedade, convivemos.

    Uma palavra para Lucas Hedges, que teve um desempenho à altura da classe de Roberts.

24 de dezembro de 2018

Feliz Natal.


   Natal, um substantivo com significados tão díspares, fonte de controvérsia. Há quem o comemore, há quem o considere o expoente máximo do cinismo e do consumismo, há quem o enfrente, e poucos lhe são indiferentes. O ano encaminha-se para o Natal, se repararem, uma vez que se trata do período de união por excelência, quando as famílias se reúnem, que tantas e tantas vezes os seus membros estão afastados por milhares de quilómetros durante os onze meses que o antecedem. É, efectivamente, "the most beautiful time of the year".

  Sem querer cair em lugares-comuns, o mais importante no Natal é a paz e a comunhão com os que queremos. É tempo de fazermos balanços, de pensarmos - não só hoje como nos restantes dias do ano - nas pessoas que nada têm, e são tantas. Nas que o passam, ao Natal, nas ruas. Nas que o passam em hospitais. Nas que o comemorarão pela última vez. Também em Deus, para os cristãos, que se fez carne para que alcançássemos a salvação. Tão pouco se fala de Deus no Natal...

  A todos os meus leitores, aos que o são e aos que o foram, um feliz e santo Natal. 


23 de dezembro de 2018

Jantar de Natal - Lisboa 2018


  Comecemos pelo Jantar de Natal, o evento por que todos esperávamos. O encontro havia sido combinado para 19h:20m. Fui o primeiro a chegar. Aos poucos e poucos, foram-se juntando os demais convivas, um por um, ao local acordado: a Cervejaria Portugália, na Almirante Reis, a clássica.

   Tivemos uma noite com céu limpo, não excessivamente fria, sem aguaceiros. Não poderia ser melhor.



    Veio uma pessoa que ninguém conhecia, nem eu. Este jantar teve, portanto, ao contrário de outros, esse factor surpresa. Uma pessoa que animou a mesa com os seus pontos de vista, que colidiram com outros, apimentando-se o convívio. Foi, talvez, o jantar mais dinâmico, com conversas soltas. Tratou-se vários assuntos, abrangentes, e ninguém se ficou apenas pelas costumeiras conversas da época. A interacção entre os presentes foi o ponto alto.



    No que respeita à comida, a maioria optou pelo fantástico bife com molho à Portugália, a grande especialidade, mas rodaram gambas também. Ainda antes, devorámos as fantásticas entradas que nos disponibilizaram: recheio de sapateira, salada de polvo e, claro, as manteigas da praxe. Nunca vi tão poucos comerem tanto pão. Quatro cestas. Mais, só rogando a Deus para que os multiplicasse - bem a propósito. De sobremesa, não tenho palavras para descrever o delicioso bolo de chocolate quente acompanhado de uma bola de gelado de baunilha, no contraste quente / frio. Que maravilha!



   Após o jantar, jogámos ao tradicional Amigo Secreto. O trato tinha sido cada um trazer um presente simbólico, algo que não fosse caro para não termos uma disparidade entre o que se recebe e o que se oferece. Em todo o caso, houve quem não o cumprisse. Tive sorte, e arrecadei um livro sobre o Eça de Queiroz - felizmente, não era um livro do Eça, que considero um aborrecimento.



   Ainda que pareça um lugar-comum, foi um dos melhores jantares em que participei, e que tive a honra de organizar. O grupo era simpático, pequeno, o que permitiu que todos pudessem conversar uns com os outros. Houve inclusão. Como referi acima, foi um jantar dinâmico. Teve poucos momentos (terá tido algum?) de acalmia. Conversou-se muito, e com qualidade, o mais importante.

   Quero agradecer aos que estiveram presentes. Ano após ano, cada vez mais sinto o apelo para organizar estes jantares de confraternização. O Natal é uma época que me é mui especial. Partilhar o espírito da quadra com outras pessoas é do melhor que há. Tive um verdadeiro presente antecipado: a vossa companhia. Obrigado!

20 de dezembro de 2018

Dear Jesus.


   Lisboa, aos vinte de dezembro de dois mil e dezoito,


   A ti,


   Aproxima-se outro Natal. Estamos a meros quatro dias. Este ano, entretanto, ao contrário dos anteriores, o Natal tem um sabor diferente. Não tenho tido muito tempo para pensar nele, como sabes. As aulas terminaram ontem, e bem, que fui uma das melhores notas da turma a Processo Penal, dispensando o exame de Janeiro. Quero agradecer-Te por isso também. Não fosses Tu, a força que me tens dado, não sei se conseguiria.

  Bem sabes que, este ano, nada mais peço para mim, senão que continues a guiar-me no meu trilho universitário. Peço, sim, pelos meus pais, e sobretudo pela minha mãe. Precisamos ambos de ti, que os últimos seis meses do ano tiveram tanto de bom, - o meu regresso às aulas -, como de mau. Os detalhes ficam connosco.


   Hoje, mais logo, irei às minhas tradicionais compras de Natal. Nada de novo. Encher-me com algumas porcarias que não me fazem falta e que, surpreendentemente, já nem me confortam. Até nisso estou a mudar. Creio que irei comprar mais para oferecer do que para mim, e é isso que subjaz aos presentes, ofertar a quem gostamos, já assumindo que o Natal, verdadeiramente, é tudo menos consumismo e gula. Na sexta, amanhã, terei o meu concerto de Natal e, no sábado, o jantar que estou a organizar, com um grupinho simpático que já confirmou presença. É este o encanto da quadra na qual evocamos o Teu nascimento: os pequenos momentos vividos, que fazem a diferença face ao resto do ano.

   Nada mais quero do que passar os próximos dias com serenidade, na companhia de velhos amigos e da minha mãe. Se mo permitires, já te ficarei grato.

   Não te prendo mais. Vai olhando por mim, pelos meus e pela humanidade, regra geral. Perdoa-nos as falhas.



Lots of Love,
Mark

16 de dezembro de 2018

Jantar de Natal - Lisboa/2018


   Sim, já estamos no dia 16! Quer vir ao jantar de Natal e não confirmou a sua presença? Teme ter ultrapassado o prazo? Não há problema! Excepcionalmente, até ao dia 20, quinta-feira próxima, portanto, aceito umas últimas inscrições. O local e a hora estão definidos. Quer mesmo perder um jantar num local agradável, perto do Natal, completamente dominados pelo espírito da quadra? Tenho a certeza de que não.

  Não pense duas vezes! Ponha os receios de lado. Clique no banner que encontrará no canto superior direito do blogue e participe! Venha desfrutar de um jantar animado, com boas estórias e bons convivas, afinal… é tempo de partilha. Conto consigo! :)


10 de dezembro de 2018

Concerto de Natal.


   Há já uns dias que não vinha ao blogue. Tenho andado assoberbado com avaliações. Tive duas, na semana passada, com um intervalo de dois dias entre cada uma. É manifestamente pouco. Quando não estou em aulas, estou a estudar. Os dias têm sido passados assim. Aguardo ansiosamente pelas férias do Natal, que serão curtas. Em Janeiro, o mais provável é que tenha exames - digo provável porque há sempre a hipótese, remota, de os dispensar.

   Como só terei uma avaliação na semana que antecede o Natal, aproveitei e fui ao concerto da Universidade de Lisboa. Um concerto com a orquestra e o coro próprios da universidade. Teve lugar na Aula Magna, e foi lindíssimo.

   Gosto de música clássica e, como é sabido, do Natal. Conjuguem-nos. O auditório estava lotado. Tinha um convite a mais. Lembrei-me e convidei um amigo. No final, jantámos e fomos observar de perto a iluminação natalícia do Chiado, que ainda não havíamos visitado. A zona d'A Brasileira está giríssima, cheia de enfeites coloridos. Um enorme Pai Natal ornamenta a Praça Luís de Camões. Não que a Câmara negligencie a iluminação, se bem que este ano se esmerou. A cidade está um encanto, que dá gosto calcorreá-la.

    Deixo-lhes algumas fotos.

O concerto foi sublime

Bem decorado, o átrio da reitoria
" Oh, Oh, Oh! "


30 de novembro de 2018

Beautiful Boy.


   Esperava há muito por este filme. Já o havia dito: o Timothée Chalamet é o meu crush desde que o vi em Call Me By Your Name. Ele tem ali qualquer coisa que o torna irresistível para mim. A par destas preferências mais pessoais, também o considero um excelente actor, talvez o melhor, ou um dos melhores, da sua geração. O miúdo tem mesmo jeito, e a interpretação neste Beautiful Boy veio comprová-lo; veio, por assim dizer, corroborar e legitimar tudo o que se tem dito sobre um actor que ainda não se deixou corromper pela indústria.

   É um filme com som e cheiro de filme independente. Foi buscar uma realidade que está meio fora de moda, a do mundo das drogas. E é nesse novelo, de dificílima saída, que cai Nicholas, "Nic", Sheff, de dezoito anos, que vive feliz com o pai, a madrasta e dois irmãozinhos mais pequenos. Chalamet tem encarnado miúdos, porque ele é um miúdo. Miúdos que estão na adolescência e que, de uma ou de outra forma, são problemáticos. Nic é-o excepcionalmente.


   É, no fundo, uma bonita estória de amor, de amor incondicional de um pai pelo seu filho - e podemos dizer que também do filho pelo pai, nos olhares, nas reacções e nas palavras que trocam. David Sheff, interpretado por Steve Carell, é o pai de três filhos que nutre um carinho especial pelo primeiro, Nic. Percebemo-lo a cada passagem do filme. Ele não se consegue abstrair da tragédia que se abateu sobre o seu primogénito, completamente dominado pelas metanfetaminas, na pior das drogas que usa. "Everything", como perceberão.

  A fotografia é outro ponto alto de Beautiful Boy. As pausas deliberadas, as retrospectivas. Um drama familiar, do impacto que a toxicodependência tem entre uma família que tinha tudo, incluindo estabilidade, para viver tranquilamente, entre sorrisos rasgados, que também os vemos, nos momentos em que o Nic sob o efeito das drogas alterna com o miúdo afável, brincalhão, amigo dos irmãos e divertido,  em processo de recuperação. Chalamet deve ter uma atracção por filmes ambientados em décadas anteriores. Se Call Me By Your Name era passado na doce Itália dos anos 80, Beautiful Boy mostra-nos a perigosa San Francisco dos 90.

  Mais do que um filme sobre a droga, sobre o tal mundo que referi acima, eu preferia defini-lo como um filme de amor, de amor e de renúncia, renúncia ao amor, quando necessário, e de forma particularmente dolorosa, e à dita droga, numa luta que é diária, e que o rapaz que inspirou o filme, e um livro, enfrenta ainda hoje. É isso.

26 de novembro de 2018

Christmas time is in the air... again.

 
  Estamos a um mês do Natal, e a cidade, Lisboa, já está a postos para o receber. No sábado passado, dia 24, com alguma chuva, as luzes natalícias acenderam-se pela primeira vez neste ano, mostrando-nos a magia dos enfeites que pelas próximas semanas irão ornamentar as principais artérias e praças da capital.

A Avenida da Liberdade, com os seus pendentes brilhantes

   Eu, claro está, interrompi o estudo e, munido de guarda-chuva, fui espreitá-las. Gostei imenso, como vem sendo habitual. Adoro o Natal, que para mim é este período que agora começa. Mais do que a véspera e o próprio dia 25, o que tem encanto é a quadra, as músicas, o espírito, os doces... Continuo a gostar infantilmente do Natal, sem ter vergonha de o assumir. Quando nos tornamos adultos, parece que, para muitos, gostar do Natal se torna ridículo ou despropositado. De todo, quanto a mim. Ontem mesmo, domingo, fui comprar uma nova árvore de Natal, que a que tinha, de quase nove anos, atingiu o limite. Esta é surpreendentemente alta. Tem 2,10 cm. Não vejo a hora de a montar. Costumo fazê-lo no dia 8 de Dezembro, que, como sabem, é o dia consagrado à Imaculada Conceição de Maria, cuja festa litúrgica assinalamos. Diz-nos a tradição que a árvore deve ser erguida nesse dia, quedando-se até aos Reis.

A bolinha onde todos querem entrar

   E, por falar em Natal, não se esqueçam do jantar de Natal que irei organizar no dia 22 de Dezembro. Quem ainda não confirmou a presença, poderá fazê-lo até ao dia 8, relembro. Para tudo saberem, cliquem no widget que encontrarão no canto superior direito do blogue.

Encantador, o antigo Palácio dos Estaus, hoje Teatro Dona Maria II

   Deixo-vos algumas das fotos que tirei com o meu iPhone. Quem me segue por outras plataformas, terá acesso às restantes e a tantas outras que ainda quero tirar. Não explorei todas as ruas.

Laços e mais laços que iremos tirar dos embrulhos




19 de novembro de 2018

Dieses Bescheuerte Herz.


   Estranho o título, não? O filme é alemão. Decidi-me por este Dieses Bescheuerte Herz ao ler várias sinopses de filmes. Não ia ao cinema há uma semana, por aí, o que para mim já é incomportável.

   É um filmito que foge à lógica e aos holofotes de Hollywood. Cinema europeu. O argumento tem interesse e é baseado numa história verídica. Sucintamente, temos um tipo - giro, por sinal - que aos trinta anos é um boémio de primeira. Mora com o pai, não termina o curso, só quer saber de engates e copos. Do outro lado, um miúdo de quinze anos, gravemente doente, com a vida comprometida. As suas existências cruzam-se abruptamente. Lenny e David, de seus nomes, criam um laço fortíssimo, como se dois verdadeiros irmãos se tratassem.


   O filme, pelo que li, fez imenso sucesso na Alemanha. Longe de ser inesquecível, a narrativa é bonita. É meiguinho, vá. Daqueles que se vêem bem em família, sobretudo nesta quadra natalícia. E tem a vantagem de terminar bem, quando tudo aponta para o contrário. Às vezes, salvamo-nos mutuamente. Às vezes, tudo quanto precisamos é de um ombro verdadeiramente amigo, que está lá naqueles momentos-chave. Lenny ensinou David, ensinou-o como um irmão mais velho; David orientou Lenny, no sentido de se encontrar, de dar valor ao que importa, de se tornar mais responsável.

   O objectivo era o de se conseguir que David chegasse aos dezasseis anos. Hoje, David está com vinte. É, o amor tem destas.

Não se esqueçam do Jantar de Natal. :) Têm até ao dia 8 para se inscrever. Podem consultar tudo aqui.

11 de novembro de 2018

Portugal na I Guerra Mundial, por ocasião do centenário do Armistício (1918).


   A I Guerra Mundial terminou há precisamente cem anos, com a assinatura do Armistício, a 11 de Novembro de 1918. Há historiadores, entre os quais Boxer, que discordam desta nomenclatura, "I Guerra Mundial", aplicada ao conflito de 1914 - 1918, argumentando, e bem, a meu ver, que a verdadeira primeira guerra mundial terá sido o conflito que opôs Portugal à República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos, travada em todos os continentes da Terra e envolvendo potências terceiras, designadamente a Inglaterra e Castela.

   Independentemente destas divergências, a I Guerra Mundial, cujo final hoje assinalamos, foi o primeiro conflito a ceifar a vida a tanta gente, acrescendo-se-lhe, ainda, esforços de guerra nunca antes vistos - precisaríamos de mais vinte anos para assistir a algo em maior escala.

   Portugal participou na I Guerra Mundial a partir de 1916, com a formal declaração de guerra da Alemanha na sequência do aprisionamento de navios alemães em portos nacionais, não obstante já estarmos envolvidos em escaramuças com os germânicos desde 1914, pelas ambições territoriais destes em Angola e em Moçambique, sobretudo neste último. A nossa participação veio, também, num quadro de aliança com os britânicos, secular, e em colaboração com estes. No início do século passado, Portugal vivia um período conturbadíssimo a nível político, com a I República. A decisão desta, de se envolver no conflito, terá ajudado a ditar o seu fim abrupto, em 1926, com o golpe de estado que instituiu a ditadura militar. Conta-se, de modo desapropriado, quanto a mim, que a nossa entrada na guerra se deu unicamente à acção dos britânicos, que alguns anos antes, em 1890, até nos haviam sujeitado a um humilhante ultimatum. Não é verdade, como se sabe, porque urgia defender as nossas possessões africanas. Uma eventual vitória alemã escorraçar-nos-ia de territórios cuja presença remontava há quatro séculos e meio. Além disso, a  República Portuguesa, com meros seis anos, carecia de legitimação internacional. Houve um conjunto de factores que nos empurraram para as trincheiras.

Despedida de militares portugueses antes da partida para a Flandres

   Por forma a que saibam mais sobre o dia a dia dos militares portugueses que partiram para a Flandres, para combater, eu aconselhar-lhes-ia um livro de uma autora que também foi minha docente de História no Secundário e que é uma das mais destacadas especialistas nacionais nesta matéria. Falo-lhes de Isabel Pestana Marques. Tem várias obras editadas, destacando eu Das trincheiras, com saudade - a vida quotidiana dos portugueses na Primeira Guerra Mundial, da Esfera dos Livros. Como é sabido (e retratado no cinema e na literatura), as tropas estavam mal preparadas, desnutridas, exauridas. A participação do Corpo Expedicionário Português entre os Aliados foi desastrosa. Perdemos milhares de homens, sofremos uma derrota em La Lys, ainda que a ofensiva alemã haja sido sustida. Destacou-se, nesta batalha, o célebre soldado Milhões, Aníbal Augusto Milhais, que, sozinho, cobriu com fogo a retirada de soldados portugueses e ingleses, munido de uma metralhadora. Tal acto de heroísmo e coragem levou-o a ser condecorado com a mais alta insígnia militar portuguesa.

   A I Guerra Mundial pôs cobro aos grandes impérios europeus, o Alemão, Austro-Húngaro, o Russo e o Otomano. Criou-se uma ineficaz Sociedade das Nações, precursora da ONU e, sobretudo, enfureceu-se a Alemanha, sedenta por vingança. Os termos de paz impostos foram considerados vexatórios da sua honra e dignidade, e vieram permitir que Hitler, mestre da retórica, incendiasse a ira do povo. O caminho estava aberto para a guerra de 1939 - 1945.

10 de novembro de 2018

The Wife.


   Estava com expectativas razoavelmente elevadas com este The Wife, sobretudo pelos elogios velados que a crítica tem prestado ao desempenho de Glenn Close. Devo dizer que as corroboro: a actriz, uma vez mais, para não destoar, tem aqui um desempenho inenarrável. 

   Neste filme, o argumento, as interpretações, os figurinos e a fotografia concorrem para o tornar num produto de valor, desde logo porque nos leva a reflectir sobre os limites do amor, ou, melhor dizendo, sobre as diferentes formas de amar. Amar implicará anularmo-nos, prescindirmos de quem somos pelo outro ou para fazer com que determinada fórmula familiar resulte? É disso que se trata. De uma mulher, intelectualmente dotada e criativa, que alimenta, com o seu engenho literário, um casamento que, a páginas tantas, não entendemos se feito de amor ou de interesse. Talvez uma mistura de ambos. Joe Castleman, o afamado escritor, vencedor do Prémio Nobel, realmente tece elogios insistentes à mulher, quem sabe por se sentir em dívida, mas trai-a descaradamente, sem pudor algum, chegando ao limite de brincar com isso. E ela, condescendente, aceita-o. É talvez das poucas - a única! - crítica que posso apontar ao argumento: nunca chegamos a saber o porquê de Joan, a mulher, consentir com tamanho abuso, abuso duplo: as infidelidades e a apropriação da sua arte, do seu intelecto, das suas ideias. Medo de não ser aceite num mundo de homens - ao longo do filme, vamos conhecendo a estória do casal Castleman desde que se conheceu, com outros actores, claro, que encarnam Joan e Joe em novos, pelos anos 50 ou 60 - ou simplesmente por não conseguir viver sem aquele homem, por depender emocionalmente dele.


   Também seria leviano descartar-se a ideia de que aquele casal seja um corpo de duas cabeças (lembram-me, por ora, um célebre casal da nossa praça, em que uma dá o nome e o outro é que escreve): Joan escreve sobre a vida de ambos, sobre os episódios de traição. Ele inspira-a e ela escreve. Eram quase como uma dupla. O que sentimos, pelo menos eu senti, é uma imperiosa necessidade de que tudo se descubra: acreditei que o filho denunciaria a situação, ou o pretenso biógrafo, ou eventualmente a própria Joan, em meio da cerimónia em Estocolmo. Nada se vem a concretizar, como viram, ou como verão, depende de quem lê.

  Close, uma vez mais, tem um desempenho arrebatador. Tanta veracidade. A forma como se impõe, a subtileza em determinados olhares, gestos. Um mimo. Daquelas actrizes que nunca desiludem nem deixam qualquer realizador ficar mal, tipo Meryl Streep. Foi bem acompanhada por Jonathan Pryce, que esteve à sua altura, e por Max Irons, o giríssimo filho problemático, actor que não conhecia.

  Se Joan não ganhou o Nobel da Literatura, que Glenn Close ganhe, de uma vez por todas, o Óscar de Melhor Actriz. Já é tempo de a Academia reconhecer, com a estatueta, o valor desta mulher.

8 de novembro de 2018

Jantar de Natal - Lisboa/2018.


   Alguns pensarão: "Já?". Já. O Atrium Saldanha, em Lisboa, está decorado. O El Corte Inglés, idem, e eu, que ainda não estou festivo, sei que estes eventos devem ser previamente divulgados, não só para que as pessoas adiram como também para que afiram a sua disponibilidade. O Jantar de Natal - Lisboa/2018 é a terceira edição de uma tradição com dois anos. Em 2016, organizei inteiramente o Lanche de Natal, e no passado, pela primeira vez, o extraordinariamente bem sucedido Jantar de Natal - Lisboa/2017, antecedido por um lanche, da parte da tarde, e antecedendo um after-dinner maravilhoso, com um grupo bem-humorado e divertido.

  Este ano, a ideia repete-se. O jantar de Natal terá lugar num sábado, dia 22 de Dezembro, em data ainda provisória. Acredito que seja tarde para algumas pessoas. Se assim for, e para quem estiver interessado em ir, faça o favor de me sugerir, então, outra dia através do e-mail que facultarei adiante. Em virtude de ter recomeçado os meus estudos, terei provas até ao dia 18, daí ter optado pelo dia 22, que é o sábado imediatamente a seguir. Temos disponíveis, portanto, os dias 19, 20 e 21.


   Uma vez mais, impõe-se que se diga: não será um jantar de blogues. Será um jantar de amigos, de conhecidos e, eventualmente, de novas pessoas, novas caras, o que também se quer. Poderão vir acompanhados também, desde que mo comuniquem previamente.
  Não descarto a ideia do lanche, ainda a cozinhar. Dependerá da vontade de quem se decidir a participar. O mesmo se aplica ao after-dinner. O evento será o jantar. Pelo feedback do ano passado, a maioria foi ao jantar e nem tanto ao lanche, pelo que, por agora, deixo apenas a sugestão a pairar sobre vós. O que haverá, sim, será o nosso amigo secreto, simbólico.

  Com uma blogosfera moribunda, é um acto de alguma coragem anunciar-se um jantar de Natal por aqui. Não o faço pelos números. Ainda que só apareçam duas pessoas, será sempre bom, terá sempre valido a pena. Adoro o Natal, a sua magia, luminosidade e o seu espírito. É o que subjaz, no fundo, à ideia: confraternizar-se numa época tão bonita. Poderão confirmar a vossa presença através do e-mail do blogue: asaventurasdemark@hotmail.com, e até ao dia - anotem nas vossas agendas, pf., 8 de Dezembro. Não quero que vos falte tempo.

   Está lançado o mote. É tudo. Quaisquer dúvidas que surjam, já sabem, têm a caixa de comentários e o próprio e-mail, para questões que exijam mais recato. Obrigado pela vossa atenção.

p.s.: Espero que tenham gostado do banner, hm? :) O texto a verde, ao clicarem, encaminhar-vos-á para as respectivas hiperligações.

4 de novembro de 2018

Bohemian Rhapsody.


   Bohemian Rhapsody, deliberadamente escolhida para título por figurar entre as melhores criações dos Queen, e de Freddy, sobretudo, que a escreveu, é um filme sobre a vida artística do performer. Começa em 1970 e termina em 1985, quando Freddie já era seropositivo. A caracterização é o ponto alto do filme. Rami Malek faz o melhor Freddie que já vi, e não o digo apenas pela prótese. Tudo foi estudado milimetricamente: os maneirismos, as poses, os olhares. Não admira que, perante um ser tão magnetizante, as outras personagens, entre as quais os membros da banda, quedem eclipsadas. O argumento podia ser melhor, é verdade. É só morno.  Vemos um Freddie quase doméstico, que alterna com o cantor. Falta-lhe um toque qualquer que o tornasse verdadeiramente arrebatador.

  Este Bohemian Rhapsody é um daqueles filmes, e há tantos assim, que se salvam (tanto quanto possível…) por uma interpretação e por uma caracterização de excelência. Não é fácil recriar-se Freddie Mercury. O meu maior medo, suponho que partilhado pelos ultra-fãs dos Queen também (eu não sou ultra-fã; apenas fã), era o de que Malek se espalhasse ao comprido, tornando aqueles 138 minutos numa experiência tortuosa. Longe disso. O realizador só não foi ambicioso. Os momentos musicais ajudam a carregar o filme até ao final. Final que, diga-se, também não gostei. Não compreendi o raciocínio de se ficar no Live Aid. Zénite da banda? Quiçá. Freddie já estava doente. Já tinha tido episódios da fase aguda da infecção. Os ensaios para o grande evento angariador de fundos para a Etiópia haviam sido complicados. A voz ressentia-se da paragem que os Queen fizeram, na qual Freddie se lançou autónoma e fracassadamente no mercado musical. Claro que nada transpareceu para o público. Um bilião e meio de pessoas acompanhou os Queen em Wembley, naquela que é, com o Live at Wembley, do ano seguinte, em 1986, uma das suas melhores actuações.


  Uma vez que adoro tudo o que é retro, deliciei-me com aquelas roupinhas e com as músicas da fase inicial dos Queen, nos anos 70. Nos anos 70, Freddie conheceu Mary Austin, com quem se relacionaria até ao final da sua vida. O que os unia era singular. Freddy, bissexual, tinha aventuras com homens e com mulheres. Dos homens, buscava o sexo louco, regado a muito vodka, champagne e cocaína, mas Mary dava-lhe uma segurança e uma tranquilidade ímpares. Era aquele colo amigo. Deve ter sido, direi eu, a única pessoa que amou verdadeiramente. A ela deixou a maior fatia da sua colossal fortuna. Isto dirá muito acerca do carinho e da confiança que lhe tinha. Sobre a vida sexual de Freddie, li algures que criticam no filme o facto de não ter sido mais explorada. A menos que estivessem à espera de um grande bacanal com o público, ficou claro que Freddie se entregava a excessos de todo o tipo. Vemo-lo naqueles pubs estranhíssimos, cheios de homens envergando cabedal e transpirando sexo, vemo-lo a segui-los em casas de banho, ou seja, esse lado obscuro está lá, em Bohemian Rhapsody, com toda a excentricidade dos milhentos gatos com um quarto para cada.

  Os Queen são umas das maiores bandas rock de sempre, com milhões de seguidores. Desde que foi anunciado, este filme corria logo inúmeros riscos. Já falei da interpretação de Malek, e não só: a música, quais os segmentos escolhidos, a modo como se abordaria a sua sexualidade e a SIDA, enfim. Nem tudo consegue ser uma obra-prima. O Bohemian Rhapsody, sem o ser, é uma das visões possíveis de Freddie Mercury. Só acrescentar um pormenor: quando os filmes terminam, as pessoas levantam-se logo e saem. Com os créditos, foi exibida uma apresentação de Freddie no lado esquerdo da tela. Ninguém saiu da sala, lotada, enquanto não terminou. Trinta anos sobre a sua morte, Freddie Mercury continua a prender-nos, literalmente, ao ecrã.

  De sublinhar que, em 2019, estreará um filme sobre o nosso Freddie, o irreverente António Variações. Desnecessário dizer-se que estou ansioso, não?

2 de novembro de 2018

Halloween (2018)


   Os típicos filmes de Halloween, que, aliás, não é uma festividade portuguesa, senão importada do norte da Europa. Com tudo o que incorporamos de países culturalmente mais fortes, como os EUA, passámos a dar mais importância e visibilidade a tradições não-autóctones em detrimento das nossas, e temos tantas e tão bonitas, máxime no norte do país, nas regiões do Minho e de Trás-os-Montes. Bom, isto levar-nos-ia a outra discussão.

   A saga Halloween começou em 1978. De lá para cá, já se sucederam uma panóplia de filmes que exploram sempre, ou quase, a vida de Michael Myers, o terrível psicopata, encarnação do mal, que matou a irmã, no primeiro filme, e que persegue a mais nova, bebé aquando do início da sua actividade criminosa. Devo dizer que não vi os filmes todos da saga. Vi um remake, salvo erro, aqui há uns anos, que me surpreendeu pela violência gráfica. É isso, aliás, o que nos leva a procurar estes filmes.



   Neste Halloween de 2018 encontrarão mais do mesmo. Um psico que se evade de uma prisão de alta segurança e que desata a matar todos, impiedosamente, quantos encontra pelo caminho. Surpreendidos? Imagino que não. Como nestes filmes não há muito a dizer no que toca às interpretações, que passam quase despercebidas, diria que temos um filme razoavelmente interessante para um 31 de Outubro ou qualquer sexta-feira de tormenta. Já vi pior, muito pior, até no género.

   Creio que o resultado final teria sido melhor se tivessem explorado mais a componente psicológica naquela tensão de quarenta anos entre Laurie e Michael. O realizador dispersou-se demasiado num conjunto de personagens que não acrescem nada de substancial ao que se pretendia. Uma filha traumatizada pela psicose de Laurie com o regresso de Myers, uma neta adolescente com vive uma desilusão amorosa e grita por socorro no meio dos bosques. É o que venho dizendo: as fórmulas estão desgastadas, e repetirem-nas exaustivamente não faz com que nos habituemos a gostar delas, não.

  Não sabemos se Myers morre ou não, no final, mas, admitindo que tenha morrido, o filme, ao menos isso, deu-lhe um enterro digno. Não foi ruinoso.

29 de outubro de 2018

Bolsonaro, Presidente eleito da República Federativa do Brasil.


   Nada mais natural do que começar a publicação com esta evidência: Bolsonaro, o candidato que começou por ser uma piada, que chegou a perder um debate com, veja-se!, Marina Silva, fez-se eleger Presidente do Brasil. Mérito seu, muito, e o PT também lhe deu um valente empurrão. Desgastado por tantos escândalos de corrupção e favorecimentos, o PT, através de Haddad, pensou que colar-se a Lula teria um efeito positivo. Esqueceu-se de que o povo brasileiro está farto de instabilidade, de estagnação económica, de violência, de ver e sentir os seus direitos diariamente atacados e restringidos. Os opositores temem pela sua liberdade, estando longe de perceber que já não a têm: não há liberdade sem paz social, sem segurança, sem tranquilidade.

   Bolsonaro, com os votos apurados, ganhou por quase 55 %, ao passo que Haddad se terá ficado por pouco menos de 45 %. Não venceu à tangente, não. Teve uma vitória significativa, ainda que considerando que a sociedade brasileira está totalmente dividida. O que quero dizer é que não foi uma disputa renhida. Bolsonaro ganhou e Haddad perdeu. Uma machadada no PT, sem hecatombe. Haddad, no seu discurso de derrota, não pronunciou nem por uma única vez o nome de Lula. Um momento de viragem no partido, quem sabe.

  Agora que a vitória está consumada, começaram os desafios de Bolsonaro. Eu apontaria três imediatos, a concretizar nos seus dois primeiros anos de mandato: primeiro, pacificar a sociedade brasileira, totalmente fragmentada com esta campanha. Houve casais que se separaram, amigos de longas décadas que se deixaram de falar. Este acto eleitoral foi fracturante. A sociedade brasileira está como que dividida em duas partes. Em segundo lugar, Bolsonaro terá de assegurar a governabilidade. Na Câmara dos Deputados, o presidente eleito tem 52 deputados. Muito pouco. Terá de conseguir gerar consensos. Num parlamento com dezenas de partidos, é difícil conseguir-se chegar a um pacto de salvação nacional, a um compromisso. Em terceiro, Bolsonaro terá de mostrar resultados nomeadamente na diminuição da criminalidade, talvez um dos pontos nevrálgicos, com os costumes, destas eleições.


  Ouvi os discursos dos dois candidatos. Da parte de Haddad, desde logo tenho a lamentar que não tenha, democraticamente, dado os parabéns ao oponente. Não lhe ficaria mal, muito antes pelo contrário. Os brasileiros votaram em liberdade, repito, em liberdade. Elegeram o seu presidente para os próximos quatro anos, e fizeram-no por uma maioria expressiva de 55 milhões de eleitores. É bom que a esquerda e simpatizantes o interiorizem. Depois, não reconheceu a derrota. Referiu-se a quem o apoiou apenas, como se os demais brasileiros não lhe interessassem, e prosseguiu no discurso de terror que caracterizou o PT e a esquerda brasileira (e internacional) durante a campanha. Já Bolsonaro, por seu lado, e pese embora tenha achado aquele momento de oração meio circense, teve um discurso inteligente e equilibrado, diferente do Bolsonaro que conhecemos. Frisou que quer aproximar o Brasil dos países desenvolvidos. Claramente um piscar d'olho para Donald Trump, que será o seu aliado. Lamento não ter ouvido nenhuma menção a Portugal e aos países de língua portuguesa. Espero que esta ausência / esquecimento não se traduza numa efectiva indiferença com respeito ao povo português, antepassado do brasileiro.

  Bolsonaro conseguiu o apoio de 15 entre os 27 governadores eleitos. Nas comunidades estrangeiras, em quase todos os núcleos onde os brasileiros puderam votar, Bolsonaro saiu vencedor. A mensagem do povo irmão é inequívoca: quer uma mudança urgente. Acredito que muitos tenham votado em Bolsonaro sem simpatizar com o militar na reserva. Rejeitam eleger mais do mesmo. O povo brasileiro está cansado de promessas vãs, de políticos que se sucedem no tempo sem que o país melhore efectivamente. Para o presidente eleito, chegou o momento, após tomar posse, em Janeiro, de mostrar trabalho. Os anos de congressista terminaram. O povo cobrar-lhe-á medidas efectivas.

  No discurso, Bolsonaro enunciou as linhas mestras, em traços muito gerais, do que será o seu mandato. Foi bem mais conciliador, pacificador. Está já a trabalhar no primeiro dos desafios que lhe apontei acima. Comprometeu-se a respeitar a democracia, e referiu inúmeras vezes a palavra liberdade. Alinhar-se com a esquerda está fora de questão, e bem, a meu ver. O viés ideológico, para o presidente eleito, terminou. Um bom sinal para o Brasil, que se afastará assim, definitivamente, de Cuba e da Venezuela, do socialismo internacional. As bancadas religiosas serão o seu grande suporte. Antes de discursar, quem o acompanhava mencionou os cristãos, evangélicos e católicos, que estiveram sempre na linha da frente de apoio ao então candidato.


  O Governo e a Presidência da República já enviaram as felicitações a Jair Bolsonaro. As relações entre Portugal e o Brasil continuarão estáveis. Com a geringonça no poder, não auspicio grandes aproximações. Muito os separa de Bolsonaro. Espero que o impulso, então, parta do presidente brasileiro. Urge aproximar Portugal e o Brasil. Não me contento com as meras relações bilaterais, formais. Essas, estabelecemo-las com qualquer país. O Brasil representa-nos bem mais. Que Bolsonaro seja sensível aos estragos que a esquerda brasileira operou nas nossas relações, através dos discursos de ódio de Lula, e que procure a conciliação. Portugal pode ajudar o Brasil nessa busca pela sua identidade: lusófona, cristã, tradicional.

  Para terminar, também eu felicito o presidente brasileiro. Num mundo global, nunca sabemos por quem somos lidos. Estou confiante. Que Bolsonaro seja sensível ao capital de esperanças que milhões, no Brasil e não só, depositam em si.

28 de outubro de 2018

First Man.


   Estava com imensa curiosidade neste First Man, realizado por Damien Chazelle, que nos brindou com La La Land  no ano passado. Por vários motivos: por rever Ryan Gosling, um actor do qual confesso gostar, e por abordar uma temática que me interessa sobremodo: a expansão espacial. Já vos disse que nutro um carinho pela Astronomia desde pequeno. Se envolve planetas, estrelas, asteróides, eu estou lá. A missão da Apolo 11 consubstanciou um passo decisivo para a Humanidade, embora curto para o homem, parafraseando aqui Neil Armstrong. Ninguém diria melhor.

   E é precisamente em Armstrong que a narrativa incide. Vai alternando entre o pai de família e o astronauta. O pai que não recupera de uma dolorosa e antinatural perda e o astronauta dedicadíssimo, que passa das críticas e da desconfiança de todos a cabeça primeira do novo, à época, projecto que se propunha a levar o homem à lua e a ultrapassar os soviéticos, então pioneiros. Não nos esqueçamos de que haviam lançado o primeiro homem para o espaço, Gagarin, anos antes.

  A competição com os soviéticos, que não foi esquecida no filme, era um imperativo nacional, em anos em que a Guerra Fria se expandiu para além da atmosfera terrestre. Kennedy investira bastante nos programas, e a NASA, sob fortes críticas da opinião pública, manteve o propósito de, até ao final da década, provar ao mundo que os americanos estavam um passo à frente da URSS.


   Creio que perderam demasiado tempo com os driving tests. Mais de metade do filme, que alterna entre 1961 e 1969, recai nos falhanços da NASA, nos acidentes que vitimaram astronautas antes da bem sucedida missão de Armstrong, para, bem perto do final, nos presentearem com escassos minutos de Lua. Parece que se esqueceram do culminar, improvisando uma sequência de cenas. Quanto aos pormenores técnicos, não abusaram nos efeitos, o que considero excelente. As sequências das missões, inclusive as fatidicamente falhadas, tiveram um realismo ímpar, com alguma ressalva, devo dizer, da aterragem no satélite. Gostei da fotografia da superfície lunar, se bem que não se teria perdido nada se houvessem afastado um pouco as objectivas, dando-nos uma visão mais ampla da solidão daqueles dois homens (com um no módulo, que não desceu) no meio de um nada estéril, a 300 e tal mil quilómetros de casa, ainda sem saber se voltariam.

  De igual modo, gostei imenso das interpretações, quer de Ryan Gosling, quer de Claire Foy, que faz de sua esposa. A interacção dos dois foi intensa. Janet temia, e naturalmente, perder o marido, após ter conhecimento de tantos projectos fracassados da NASA. Por seu lado, Armstrong sabia que tinha em mãos o maior desafio da sua vida, que não podia falhar, nem que para tal tivesse de sacrificar os momentos em família. Gosling soube transpor, para o grande o ecrã, o desalento de um homem pela perda da filha, que o acompanha sempre, ao longo da estória. Um engenheiro aeroespacial de inestimável valor e coragem, um pai desolado. Um homem a quem a tragédia pessoal veio a ajudar na determinação necessária para enfrentar as expectativas de milhões e a pressão de outros tantos que queriam estar no seu lugar. Jogava-se o tudo ou nada.

  Na cena final, de que gostei particularmente, entre Armstrong e a mulher, Gosling e Foy dão um show de interpretação. Os olhares de ambos denotam o que lhes vai por dentro. Em Janet, um misto de medo de que aquele casamento falhe, uma vez que a estabilidade que tanto pedira não passava de um velho sonho. Ela sabia que teria de dividir o marido com o espaço, arriscando-se a perder o pai dos seus filhos. Opções que os grandes têm de tomar. Segundo li, o casamento fracassaria duas décadas depois, quem sabe motivado por feridas abertas nestes tempos.

  Aconselho vivamente. Entre o drama e a acção, temos aqui um filme que irá render algumas categorias, direi eu, nos Oscars do próximo ano.

24 de outubro de 2018

A Star Is Born.


   Ontem, então, aproveitando o festival de cinema a preço convidativo (iria, de qualquer forma), fui ver este A Star Is Born, com Lady Gaga, não no papel principal, que o filme gira mais em torno de Brandley Cooper, não obstante, pelo título, aparentar que estaremos em torno da ascensão meteórica de uma estrela pop.

   Vamos lá ver: filmes sobre pessoas que vêm do nada e chegam à fama há muitos, e não são poucas as cantoras que protagonizaram filmes mais ou menos autobiográficos - ao contrário do que sucede por cá, na Europa, nos EUA é muito bem visto vir-se do nada. Este A Star Is Born é, ele mesmo, uma adaptação de um original dos anos 30. Só que Gaga sabe cantar (o que Madonna não sabe) e actuar (o que Mariah Carey queria). Como não compararmos este filme com o Glitter, de Mariah Carey, um desastre? Gaga tem uma interpretação bastante boa num filme que é um melodrama, é verdade, mas que convence. Poucos anos separam Stefani Germanotta de Lady Gaga. Gaga ainda sabe fazer de quem nada tem. E foi isso, sobretudo, que convenceu, a par da química maravilhosa que teve com Cooper, que também é o realizador, a par de cantar. Multifacetado, o homem, hm?

   Gostei dos números musicais e das canções propositadamente escritas para o filme - Shallow merece que a adicione à biblioteca da Apple Music. Creio que Gaga, enquanto artista, soube afastar Ally de si própria. A personagem que encarnou pouco tem que ver consigo. Quando Gaga é, ela, excêntrica, Ally viu-se obrigada a sê-lo ao estar sujeita aos desmandos do seu produtor. É um retrato cru da vivência destes astros, que julgamos ricos e felizes, quando, tantas e tantas vezes, vivem numa redoma, a fugir do assédio e imersos num mundo de drogas e álcool - a personagem de Cooper, Jackson Maine, demonstra-o: um cantor country completamente dominado pelos vícios.


   O argumento, como referi acima, não é nada de excepcional. O filme resulta por uma conjugação de factores que lhe são exógenos: boas interpretações, boa música e natural empatia entre Gaga e Cooper, na queda de um, Jackson, e na escalada ao sucesso de outro, Ally. E vemo-lo quando, a determinado momento, é Ally quem diz enviar um carro para buscar Jackson, precisamente o que ele fez quando a viu cantar num cabaret de quinta categoria e não mais a largou, abrindo-lhe, indirectamente, a porta para o mundo da música.

   Ally, no filme, esteve nomeada para três Grammys, ganhando, pelo menos, o de Melhor Revelação. Gaga, há quem o garanta, vai estar nomeada para o Óscar de Melhor Actriz. Não me admiraria nada. A Star is Born, que decerto também estará nomeado, é das melhores histórias de amor dos tempos recentes, na sétima arte.

22 de outubro de 2018

Bad Times at the El Royale.


   Por uma questão de incompatibilidade de horários - leia-se, por a partir de determinada hora, aos fins de semana, não ter transportes - vi-me obrigado a decidir por este Bad Times at the El Royale, isto quando diminuí drasticamente as minhas idas ao cinema. Imperativos de estudo.

   Não gostei nada, nada, e nem a participação de Chris Hemsworth, que lavaria as vistas de alguns, o salva do fracasso. O enredo é extremamente irracional, sem um fio condutor. Parece um sonho confuso, que nos leva a acordar atordoados. Nada parece fazer sentido. Gostei do ambiente sixties. Das músicas. Da voz potente de Cynthia Erivo, do suspense final. Fora isso, é aborrecido e desinspirado. Talvez o realizador tenha querido fugir à lógica dos filmes actuais, bastante previsíveis, mas falhou alguma coisa. O filme, à primeira vista, auspicia algum glamour, até por toda aquela atmosfera de hotel-cabaret que se cria. Faltou o que sou levado, eu e todos de bom senso, a considerar nuclear: uma narrativa digna. O próprio realizador, Drew Goddard, assumiu que deixou que as personagens " ditassem a história ". Pois sou levado a dizer que a ditaram mal. Andamos às voltas, com personagens que entram a meio da trama, quase que vindas de outra estória, e que caem de pára-quedas num arranjo que já prenunciava ruir. 


   Uma palavra especial para Cynthia Erivo, que tem aqui uma interpretação melhor do que as dos seus pares, que, verdade seja dita, as interpretações ainda são do pouco que podemos elogiar.

   Esta semana, e interrompendo um pouco a saga no estudo, tenho três filmes para ver, um dos quais já amanhã, na terça, aproveitando o festival de cinema que começa hoje - com bilhetes, em todas as salas do país, a dois euros e meio. Aproveitem.

15 de outubro de 2018

Searching.


   Anteontem, ou ontem, fui ver o Searching ao cinema. Calma, calma. Perguntar-se-ão: "Então, mas ele não sabe se foi num dia ou no outro?" Em abono da verdade, fui nos dois. Sábado e ontem, domingo. Sábado, como saberão, - aliás, como todos sabiam, menos eu - o furacão Leslie passou por Portugal, deixando atrás de si um rasto de destruição sem precedentes num furacão, até porque nós, aqui, nem estamos habituados a estes fenómenos. Acabara de jantar, após ter estado a tarde toda na sala de estudo da faculdade, e estava confortavelmente na sala 3 do El Corte Inglés quando, aí pelo meio do filme, cai a energia. Ficámos só com as luzes de emergência ligadas. Eram 22h:30m. Ligo os dados móveis e descubro que estamos a passar pela hora crítica da intempérie. Primeiros pensamentos: um, o serão está terminado, não irão repor o filme hoje; dois, vamos lá ver se tens transporte para casa. Escusado será dizer que fiquei aflito.

  Não, não tive sessão, nem eu nem ninguém, mas foram simpáticos e devolveram-me o dinheiro, e sim, tive transporte para casa, atrasado, mas tive. Ontem, então, domingo, e desta vez no Colombo, para ser diferente, fui ver o Searching, a parte que já tinha visto, claro, e o que me faltava ver.

  Adorei o filme. É um thriller que nos deixa expectantes até ao último minuto, digno de um exame de Direito Penal. Quando parece que o mistério do desaparecimento de Margot está finalmente desvendado, surge-nos outra hipótese, que se cruza ainda com outra. Um novelo tão enleado quanto a própria internet, e o filme põe-nos na perspectiva de um stalker. Assistimo-lo como se estivéssemos diante de um ecrã de computador ou de iPhone.


   A par do argumento em si, que é bastante interessante, gostei também do modo como a estória nos foi apresentada, com suspense, com dinamismo, com aquela capacidade já rara de nos prender os sentidos. Como referi acima, são tantos os caminhos que nos podem levar a Margot, uns mais frágeis do que outros, que tudo na internet pode ser tão frágil, que a partir de determinado momento somos levados a desconfiar de todos, até do à primeira vista insuspeito e simpático tio.

  As interpretações são para lá de boas. John Cho, que faz aqui de pai de Margot, o inconsolável David, não desiste de encontrar a filha, mesmo quando as pistas não lhe são favoráveis, mesmo quando tudo lhe aponta para baixar os braços e entregar a investigação nas mãos de quem de direito. Ficamos - eu pelo menos fiquei - tão condoídos com o sofrimento daquele homem, completamente desesperado, que se vira para todo o lado e que tem de começar a lidar com um mundo tão pernicioso quanto o da internet, com as suas milhentas redes sociais. Esse submundo é-nos dado a conhecer. Os perigos da rede são explorados: os amigos virtuais (que não o são), os perfis falsos e as contas igualmente falsas, as correntes de apoio, as hashtags, a informação actualizada a todo o instante, os julgamentos nas caixas de comentários, o assédio, as salas de conversação com desconhecidos, enfim, tudo o que sabemos que existe sem que ponderemos, na maior parte das vezes, os riscos a que nos sujeitamos. O realizador levantou, simultaneamente, um problema ético, como o da privacidade. David vê-se obrigado a invadir o iMac da filha, procurando obter pistas sobre o seu paradeiro. Até que ponto o podia fazer, sem ser da polícia? Questões que nos dão que pensar.

  Podemos, ainda, acompanhar e evolução surpreendente que se deu na tecnologia. O filme começa com um Windows XP e termina no último macOS. Vemos o que mudou. Aquando do desaparecimento de Margot, ela e o pai, David, comunicavam-se por iMessage ou FaceTime, estando permanentemente em contacto. Um mundo no qual todos estamos online. Sempre online. Assustadoramente online. E expostos.