O ano aproxima-se da recta final. O último mês, para muitos o mais aguardado. Tenho um sentimento misto com Dezembro. Por um lado, mantenho a ingenuidade própria das crianças. Anseio por montar a árvore, por decorar a casa. Gosto do lado festivo do Natal. Da iluminação, incluindo nas ruas, do reboliço, das músicas, dos gorros e dos cachecóis coloridos. O reverso encontra alguma melancolia nas recordações que traz, dos anos em que tive verdadeiramente uma família. Não a melhor, a mais equilibrada: a minha, e dessa sinto profunda saudade.
Por vezes, é como se lutasse contra uma maré. Têm-me dito de que se trata apenas de mais uma época, que seria suposto relativizar a importância que dou a dois dias desvirtuados por completo do seu sentido primitivo. Refuto a crítica. As semanas natalícias são, no fundo, o pouco que ainda não foi tomado pelo realismo da vida adulta. Em verdade, o que consegue colocar-me um brilho nos olhos, um sorriso, um dinamismo qualquer que afaste a apatia.
Lisboa, salvo determinadas ruas, mergulhou num negro muito pouco enquadrado com um final de Novembro, em que seria suposto vislumbrar a árvore gigante, dignamente decorada, e a Avenida da Liberdade com alguns encantos. A Rua Augusta, graças à vertente marcadamente comercial, tem luz, brilho e decorações privadas que nos dão um cheirinho a Natal. Espero que revertam esta situação o quanto antes, até porque os gastos do orçamento municipal em iluminação são compensados pelo estímulo a que as famílias saiam ao centro da cidade, consumam, se divirtam e fujam dos centros comerciais.
Por cá, nada fiz. Ninguém tem paciência, ninguém me acompanha. Preciso ganhar coragem para tirar a árvore e para me empenhar na decoração. Comprei, há umas semanas, dois mimos no El Corte Inglés: uma rena vermelha, que posteriormente troquei por uma castanha, por defeito, e uma bola de pano também em tons rubros. Creio que o vermelho, o dourado e o prateado, este último menos, são as cores ideais para uma árvore. Não excessivamente ornamentada; a beleza encontra-se no equilíbrio. Queria comprar enfeites novos. Decidi substitui-los gradualmente, dado que já conjecturo a minha lista de presentes (disse-o há uns anos: não troco presentes, comprando o que gosto; mando fazer os embrulhos e ofereço-me... tem piada para mim). Além do presépio, o que completa o aparato em torno da árvore são, precisamente, os embrulhos no chão.
A mãe diz-me que ainda falta muito até ao Natal. Nós sabemos que não é assim. E a excitação não me permite que fique confortavelmente à espera que a quadra se concretize. Nada, nem os sonhos, se confirma se não perseguirmos.