Lembras-te de como éramos? Das vezes que falámos sem pensar no amanhã? Lembras-te de como dizias que gostavas de mim? Da nossa inocência e do carinho que nutrias por mim e eu por ti? Ainda me lembro de cada vez que saímos. Tenho saudades de quando me levavas a sítios onde nunca tinha ido. Da vez em que fomos passear pelo Parque das Nações, mesmo junto ao rio. Lembras-te? Lembras-te quando eu te quis dar a mão e tu recusaste? Tinhas medo que alguém visse, que nos julgassem por aquilo que tu tanto temias. Tinhas medo de ser descoberto por algo de que não podias fugir. Lembras-te dos beijos que trocámos atrás das escadas, no colégio? Lembras-te de quando olhavas para mim com aquele olhar terno que nunca irei esquecer? Tenho saudades do teu olhar. Lembras-te de quando passavas a mão pelos meus caracóis bem definidos, que tinha na época? Ainda me lembro de quando deitava a cabeça no teu colo e tu afagavas os pesadelos que viviam em mim. Lembras-te de quando te abraçava e te apertava junto a mim? Ainda me recordo do toque da tua pele. Lembras-te de quando a mãe ou o pai me vinham buscar ao colégio, e eu fazia-te adeus pela janela do carro? Ainda me lembro que preferia andar de transportes públicos, só para estar perto de ti. Lembras-te de quando ouvíamos músicas, as nossas canções? Ainda me lembro de correr junto a ti, ao som de "Losing Grip" da Avril Lavigne. Lembras-te quando, nas visitas de estudo, fazíamos de tudo para estarmos juntos? Ainda me lembro do passeio ao Alentejo em que te sentaste perto de mim, ignorando a tua turma. Lembras-te de quando planeámos as nossas férias? Ainda me lembro da nossa viagem a Vila Nova de Milfontes, num autocarro. Ainda hoje não sei como a mãe acreditou que tinha ido pelo colégio. Lembras-te? Lembras-te de como te apoiei quando a tua mãe esteve doente? Ainda me lembro do brilho dos teus olhos quando me viste entrar no hospital. Lembras-te da época, enquanto a tua mãe recuperava, em que dormiste em minha casa? Ainda me lembro que tinhas pesadelos e acordavas angustiado. Lembras-te de quando "roubei" a tua camisola da sala de aula, enquanto jogavas futebol no ginásio do colégio? Ainda me lembro que o fiz de modo a ter o teu cheiro sempre perto de mim. Lembras-te de quando descobriste? Ainda me lembro que me abraçaste como se o mundo acabasse amanhã. Lembras-te? Lembras-te quando um miúdo, bem mais velho do que nós, se meteu comigo, começando a ofender-me com aqueles nomes feios? Ainda me lembro da forma que me defendeste, sem nunca dares a perceber o que nos unia. Lembras-te do por-do-sol que fomos ver naquele miradouro que desconhecia? Ainda me lembro dos raios finais do sol a baterem-nos nas faces.
Esta poderia ser uma carta que te entregaria. Ou mesmo uma conversa a ter contigo. Mas não é.
Nem sabes que tenho um blogue. Nunca irás ler estas palavras.
Hoje é Sábado. A esta hora os meus amigos (sabes quem eles são) devem estar algures por Lisboa ou Cascais a divertirem-se. Eu não consegui. Estou a escrever estas palavras porque me lembro de ti.
Às vezes vejo-te. Mas não és o mesmo. Falamos, mas nunca como dantes.
Ainda te lembras?
Eu nunca me esqueci.