Olhando para o blogue, apercebi-me de que diminuí - e em muito - a minha assiduidade por aqui, contrastando em larga medida com os anos de 2010 e 2011, por exemplo. Ontem, quando me deitei, detive-me durante algum tempo sobre isto. Cheguei à conclusão de que me torno cada vez mais e mais adulto. Cessaram as aventuras do secundário, as peripécias dos primeiros anos universitários, logo, resta a monotonia. Não fico nada satisfeito. A vida da maior parte dos adultos é um tédio: trabalho - casa; casa - trabalho. Aos poucos, as saídas de final de semana dão lugar aos programas de tv; a barriga dos homens vai crescendo, andando em casa de chinelos; as mulheres, por sua vez, do cabeleireiro passam para a cozinha, fritando batatas gordurosas para os filhos e levando cervejas para o maridão que assiste ao Benfica. A propósito: sou lisboeta e não aguento mais ouvir gritos futebolísticos histéricos.
Queria ser um adulto diferente. Não me vejo num escritório todo o dia, lendo papéis e assinando despachos. Muito menos numa sala de audiências, engravatado, com aquelas calças largueironas dos fatos. Chegar a casa e abrir a legislação, procurando soluções para os casos em concreto, dia após dia, ano após ano, década após década. Haverá algo pior? Olho em redor, observo os meus colegas. Céus!, como estão crescidos. Não riem, não brincam, os semblantes estão demasiado sérios. Parecem pessoas de 50 anos em corpos de 20. Por favor, alguém me salve.
A sociedade impõe-nos esses comportamentos. O que é a sociedade? Por que motivo teremos de fazer o que todos fazem, vivendo as poucas décadas que a nossa natureza permite num profundo descontentamento? Questões que me atormentam por meses e que me levam a tentar encontrar uma qualquer janelinha por onde fugir. Sim, eu coloco em causa as raízes, a estabilidade, tudo o que defendia veementemente. Serei um inconformado. Gosto. Se estivesse no Estado Novo, apelidar-me-iam de revolucionário e seria preso.
Os tempos mudam. As vontades também. A minha passa por querer fazer algo que me satisfaça. Apenas não sei o quê.