24 de março de 2020

Espanha (parte 1).


   Perfaz hoje exactamente um mês que estou na Galiza. Estive três semanas em Ourense e há uma semana que estou em Pobra de Trives, uma localidade rural, lindíssima, da província homónima. Espanha é muitíssimo maior do que Portugal. As províncias aqui são enormes.


A catedral sobressai ao longe 

A torre do relógio 

  Cheguei a Ourense, como disse, há um mês, após uma breve passagem pelo Porto, ainda em Portugal, e por Vigo. Só mesmo de passagem, no dia da viagem. Na noite em que cheguei, os ourensanos divertiam-se no Carnaval. Trajavam e desfilavam pelas ruas. Um cenário tão distinto daquele que temos agora... Adiante...


A Ponte Nova e o Viaduto fotografados desde a Ponte Medieval 


   Ourense é uma cidade bonita. Atravessa-a o Rio Minho, estando por isso dotada de algumas pontes (quatro ou cinco), nomeadamente uma medieval e outra mais moderna, do início do século. Sendo o terceiro maior aglomerado populacional da Galiza, é conhecida sobretudo por ser uma cidade termal. As suas termas são um dos vectores que a tornam popular na Galiza e no resto do país. Eu pude testemunhar que as águas de fonte geotérmica são realmente quentes. Se têm ou não propriedades curativas, pois acredito que sim. Ainda não as pude experimentar.


A Fonte das Burgas

  A Catedral de Ourense é um monumento que aconselho. Por dentro, decepciona um pouco, é verdade, porque é bastante pequena; pelo menos foi essa a sensação com que fiquei após ter estado a vê-la de fora por alguns dias. Há umas igrejas que também merecem que as conheçam, a par da Praza do Concello, que fica, aliás, pertinho das Termas das Burgas. Para os que gostam de mais movimento e de um ambiente mais urbano, Ourense dispõe da Rua do Paseo, a principal rua comercial da cidade, que em nada fica a dever à nossa Rua Augusta (para os lisboetas) no que respeita à diversidade de lojas. Encontram de tudo. Ourense, como creio ter dito na publicação anterior, é bastante movimentada. Na mesma rua, encontrarão um centro de exposições (Centro José Ángel Valente). Ao início da Rua do Paseo, têm outro (Centro Cultural Marcos Valcárcel). Têm ainda à disposição o Liceo de Ourense, uma associação cultural que promove actividades artísticas e literárias. Se puderem, passem por lá que tem interesse. Se dispuserem de um tempo extra, poderão conhecer o pólo universitário.


O Liceo de Ourense e a sua entrada 

18 de março de 2020

Olá!


   Não, não desapareci, e nem o blogue findou a sua actividade. Estou bem, de quarentena, ou perto disso, e em Espanha, onde permaneço desde as últimas três semanas. Não tenho tido muita vontade de escrever, eis a verdade, contudo, lembrei-me dos que me acompanham e resolvi deixar algumas palavras, não fossem ficar preocupados, até pelo pânico generalizado que se instalou em todo o mundo. Quando saí de Portugal, já se falava da pandemia, mas estava longe de imaginar que o pico de infecções se deslocaria lá do Sudeste Asiático para as nossas cidades, para os nossos bairros, na pior das hipóteses.

  Como têm sido estas semanas? Há um misto de sentimentos. Andei por Vigo, Ourense (onde permaneci duas semanas), Santiago de Compostela e agora estou em Pobra de Trives, uma vila pequenina da província de Ourense, a cerca de 70 quilómetros da cidade. Por circunstâncias pessoais e também, de certa forma, para escapar, ou tentar, à pandemia, muito embora Espanha já seja o quarto país mais afectado após a China, o Irão e a Itália. Há cerca de duas semanas, adoeci. Estive a antibiótico. Pensei no pior. Afinal, era mais uma das partidas da minha caríssima asma. Isso levou a que adiasse a minha ida a Santiago de Compostela para a semana seguinte, impossibilitando que a conhecesse quando queria. E ainda me falta Pontevedra. 

   A Galiza é uma região encantadora. Notei diferenças acentuadas entre os grandes polos urbanos, como Ourense, e os rurais, ou semi-rurais, como Trives, da língua usada nas comunicações diárias às relações interpessoais. Os galegos da cidade são descontraídos, vaidosos. Usam o castelhano, que consideram quase uma língua culta; os do mundo rural, pelo contrário, são mais discretos, menos eufóricos e bastante mais simples, inclusive no modo como se apresentam e vestem. E falam galego. Julguei que encontraria mais semelhanças com os portugueses. Há algumas, evidentemente, mas não aconselharia a que aumentassem muito a fasquia, que poderão sair desiludidos. Em Ourense, a primeira impressão que ressalta é a de que a malha urbana está melhor estimada. Há vida nas ruas. Sendo apenas a terceira maior cidade da Galiza, tem avenidas que bem poderiam ser de Lisboa.

    Para não mais me alongar, relato a situação actual em Espanha: já estamos em estado de alerta, portanto, impedidos de sair à rua. Apenas o podemos fazer para suprir necessidades básicas, como uma ida ao supermercado ou à farmácia. Em Portugal, pelo que soube, os órgãos de soberania decidir-se-ão no mesmo sentido, visto que o número de infecções não pára de aumentar.

    Nos próximos dias, espero começar a actualizar o blogue com os passeios que dei, os lugares que conheci, apesar de o ânimo, meu e geral, aqui e aí, por toda a humanidade, ser pouco. Estamos a viver algo novo, a que nos acostumámos apenas a conhecer através dos livros de História. Estamos a viver o que viveram os nossos pais, avós e bisavós com a gripe espanhola, os racionamentos, os medos.

     Cumprimentos a todos, sorte, saúde e força para o que aí vem.