15 de outubro de 2018

Searching.


   Anteontem, ou ontem, fui ver o Searching ao cinema. Calma, calma. Perguntar-se-ão: "Então, mas ele não sabe se foi num dia ou no outro?" Em abono da verdade, fui nos dois. Sábado e ontem, domingo. Sábado, como saberão, - aliás, como todos sabiam, menos eu - o furacão Leslie passou por Portugal, deixando atrás de si um rasto de destruição sem precedentes num furacão, até porque nós, aqui, nem estamos habituados a estes fenómenos. Acabara de jantar, após ter estado a tarde toda na sala de estudo da faculdade, e estava confortavelmente na sala 3 do El Corte Inglés quando, aí pelo meio do filme, cai a energia. Ficámos só com as luzes de emergência ligadas. Eram 22h:30m. Ligo os dados móveis e descubro que estamos a passar pela hora crítica da intempérie. Primeiros pensamentos: um, o serão está terminado, não irão repor o filme hoje; dois, vamos lá ver se tens transporte para casa. Escusado será dizer que fiquei aflito.

  Não, não tive sessão, nem eu nem ninguém, mas foram simpáticos e devolveram-me o dinheiro, e sim, tive transporte para casa, atrasado, mas tive. Ontem, então, domingo, e desta vez no Colombo, para ser diferente, fui ver o Searching, a parte que já tinha visto, claro, e o que me faltava ver.

  Adorei o filme. É um thriller que nos deixa expectantes até ao último minuto, digno de um exame de Direito Penal. Quando parece que o mistério do desaparecimento de Margot está finalmente desvendado, surge-nos outra hipótese, que se cruza ainda com outra. Um novelo tão enleado quanto a própria internet, e o filme põe-nos na perspectiva de um stalker. Assistimo-lo como se estivéssemos diante de um ecrã de computador ou de iPhone.


   A par do argumento em si, que é bastante interessante, gostei também do modo como a estória nos foi apresentada, com suspense, com dinamismo, com aquela capacidade já rara de nos prender os sentidos. Como referi acima, são tantos os caminhos que nos podem levar a Margot, uns mais frágeis do que outros, que tudo na internet pode ser tão frágil, que a partir de determinado momento somos levados a desconfiar de todos, até do à primeira vista insuspeito e simpático tio.

  As interpretações são para lá de boas. John Cho, que faz aqui de pai de Margot, o inconsolável David, não desiste de encontrar a filha, mesmo quando as pistas não lhe são favoráveis, mesmo quando tudo lhe aponta para baixar os braços e entregar a investigação nas mãos de quem de direito. Ficamos - eu pelo menos fiquei - tão condoídos com o sofrimento daquele homem, completamente desesperado, que se vira para todo o lado e que tem de começar a lidar com um mundo tão pernicioso quanto o da internet, com as suas milhentas redes sociais. Esse submundo é-nos dado a conhecer. Os perigos da rede são explorados: os amigos virtuais (que não o são), os perfis falsos e as contas igualmente falsas, as correntes de apoio, as hashtags, a informação actualizada a todo o instante, os julgamentos nas caixas de comentários, o assédio, as salas de conversação com desconhecidos, enfim, tudo o que sabemos que existe sem que ponderemos, na maior parte das vezes, os riscos a que nos sujeitamos. O realizador levantou, simultaneamente, um problema ético, como o da privacidade. David vê-se obrigado a invadir o iMac da filha, procurando obter pistas sobre o seu paradeiro. Até que ponto o podia fazer, sem ser da polícia? Questões que nos dão que pensar.

  Podemos, ainda, acompanhar e evolução surpreendente que se deu na tecnologia. O filme começa com um Windows XP e termina no último macOS. Vemos o que mudou. Aquando do desaparecimento de Margot, ela e o pai, David, comunicavam-se por iMessage ou FaceTime, estando permanentemente em contacto. Um mundo no qual todos estamos online. Sempre online. Assustadoramente online. E expostos.

10 comentários:

  1. Uma vez vi um filme de terror que também se passava assim no computador e o menu era muito idêntico ao meu. Devias ver a minha cara de assustado quando terminei o filme, fechei a respetiva janela e vi um menu tão idêntico ao do filme. Por momentos achei que o meu computador estava também possuído, até começar a reconhecer as minhas pastas haha!
    Espero que tenhas aproveitado o serão e que a tempestade não te tenha trazido estragos maiores. :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Assim do género, recordo-me de um filme de terror que me perturbou muito: uma miúda que começou a ser vítima de um stalker super perigoso, que a espiava através da câmara do portátil. Às tantas, conseguiu-se meter dentro da sua casa. Super perturbador. Não sei se o viste.

      Este não é de terror. É um thriller.

      Aproveitei-o no domingo, heheh. A tempestade fez-me apanhar frio. :/

      Eliminar
    2. Não, não era esse. Acho que envolvia espíritos. Chama-se Unfriended, não é incrível, mas vê-se bem.
      Alguns thrillers conseguem assustar-me mais do que uns de terror haha!
      Boa semana!

      Eliminar
    3. A ver se o pesquiso. Ando sem tempo nem para coçar o nariz.

      Continuação de boa semana!

      Eliminar
  2. Este final de semana, como afinal todos os outros, ando quase sempre por terras alentejanas, por isso, não senti qualquer tempestade terrível. Aliás, nem sabia que tal estava previsto, pelo que, posteriormente, fui apanhado de surpresa pelas notícias.
    Houve alguma chuva, que me deu muito prazer, pois significou que o meu jardim/horta estava a ser regado, e que iria ter um outono com algumas flores, antes que cheguem os rigores do inverno, que, naquela zona, o
    são bastante.
    Não houve vendavais, nem rajadas de quase 200Km/h, nem dilúvios nem nada que se parecesse.
    Fiquei surpreendido com as notícias sobre o distrito de Coimbra onde, há anos atrás, tive uma casa.

    Quanto aos filmes de "stalkers", gosto de ver um de vez em quando, mas continuam a não ser do meu interesse, que vai sempre para a recriação histórica, biografia, ou dramas bem concebidos, sobretudo quando construídos em torno de situações reais.
    Assim, os filmes afetam-me na medida em que podem constituir situações verdadeiras ou verosímeis.
    Há anos atrás vi um filme que, ainda hoje, não consigo revê-lo, pela realidade que poderá ser a de um futuro que, adivinha-se, não estará muito longínquo: The Road", de 2009, realizado por John Hillcoat.
    Após tê-lo visto, e durante anos, aquele filme perseguiu-me e creio que, por vezes, ainda me traz à memória coisas que preferia não recordar.
    Hoje evito esta categoria cuidadosamente.
    Uma boa semana
    Manel

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá, Manel. Perdoe pela demora em responder ao seu comentário. Ando numa correria.

      Eu tive azar. Fui ao cinema no sábado, com um amigo, e escolhemos mui mal o dia. Apanhei imenso frio. Para mais, esteve calor durante toda a manhã e tarde, levando-me a optar por uma t-shirt... Não queira saber.

      A minha preferência recai em históricos, biografias, dramas e bom terror. Sobretudo estes.

      Não conheço esse filme que mencionou. Outra sugestão! :)

      Uma continuação de boa semana, Manel.

      Eliminar