12 de junho de 2018

Cultural Sunday... on Saturday [take 22].


   Último fim-de-semana antes do Mundial de 2018. Tal como na semana passada, saí de Lisboa, quedando-me pelos seus arredores, desta vez pelo concelho de Oeiras. Estive no Aquário Vasco da Gama e no Centro de Arte Manuel de Brito, ambos na mesma freguesia, em Algés.

   O Aquário Vasco da Gama, aventando eu que por incúria dos meus pais, foi uma novidade para mim. É provável que lá tenha estado algures na minha infância, numa visita qualquer da escola. Se assim foi, essas lembranças estarão entre as brumas da memória, que não consta nenhuma no registo. Lamentável, tratando-se o Aquário Vasco da Gama de um dos mais antigos da Europa e primeiro aquário português. É um espaço agradável, que transpira a antigamente. Não fossem os ruídos de algumas crianças pequenas (continuo sem entender o motivo pelo qual levam bebés de colo / berço a museus, monumentos, etc.) e teria conseguido concentrar-me mais no que via.


   No piso rasteiro, e logo à entrada, encontrarão vitrines com animais conservados em formol, a maioria dos quais capturados, e alguns a vários metros de profundidade, pelo penúltimo monarca da Casa de Bragança, aficionado pelos oceanos, como se sabe. Falo-vos de Dom Carlos, que nas suas incursões marítimas, com o iate Amélia, em muito contribuiu para o espólio deste velho aquário e para o incremento dos conhecimentos oceanográficos. O piso superior alberga o Museu do Aquário, com vários exemplares embalsamados, de aves a peixes, passando por mamíferos, muitos também que nos reportam a Dom Carlos.


   A parte mais interessante do Aquário, e que justifica que assim se chame, são os aquários propriamente ditos, e o Aquário Vasco da Gama tem-nos em abundância, a vários, muitos, recheados de espécies exóticas. Nem tudo são maravilhas: nota-se uma decadência e uma depauperação latentes naquele espaço. Presumo que o Oceanário de Lisboa, que este ano comemora o seu vigésimo aniversário, seja o responsável pelo quase abandono do Aquário Vasco da Gama. A percepção quanto à dignidade da vida animal não-humana também mudou através dos tempos, é certo, mas o recinto das tartarugas não alberga nenhuma e o recinto das focas tão-pouco. O Aquário vai sobrevivendo, a precisar de remodelações, de uma transformação qualquer que lhe dê novo ânimo.


   Da parte da tarde, depois de um almoço rápido, fui ao Centro de Arte Manuel de Brito, que não conhecia e que vi por acaso quando pretendia regressar a Lisboa. O meu plano para a tarde era outro. O centro, dividido também por dois pisos, encerra uma colecção apreciável de arte contemporânea. Não esperava encontrar três quadros de Paula Rego. Mas há mais: Júlio Pomar, Eduardo Batarda, por aí. É uma pequena jóia que Algés tem, seguramente, que nada conheço por lá. 

Carmen, 1983 (Paula Rego)

   É tudo neste primeiro semestre do ano. Farei, então, um pequeno intervalo nas próximas semanas, aproveitando para descansar. Mais de vinte fins de semanas a explorar as riquezas de Lisboa, também naturais, que fui a jardins botânicos, com os dois últimos fora do município. Estou cheio de ideias para futuras visitas, umas cinco, que terão de ser bem ponderadas. Por ora, e em vésperas de início de Mundial, irei dedicar-me ao torneio desportivo, com análises não-exaustivas, embora atentas, ao conjunto das selecções participantes e, naturalmente, com destaque sobre a nossa equipa nacional.

Todas as fotos foram captadas com o meu iPhone. Uso sob permissão.

6 comentários:

  1. Respostas
    1. Ainda bem que gostas aí desde além-mar, meu amigo.

      um abraço.

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  2. O quadro de Paula Rego que aqui deixa pertence à série d'"As Óperas", que a autora começou nos inícios dos 80, e pela qual tenho apreço por várias razões: o domínio perfeito e seguro da linha, e a interação de seres híbridos de humanos e outros animais que criam um universo paralelo, fantástico e monstruoso, que, na minha cabeça, e sabe-se lá porquê, aparece sempre aliado a outro autor, só que este dos séculos XVIII e XIX - Goya - talvez dos maiores génios da pintura da época (não gosto de usar, e evito, termos comparativos ou superlativos, mas tenho verdadeira paixão por Goya).
    É bem verdade que não me agrada toda a obra de Goya, que muita dela era enjoativa, e destinava-se a ganhar dinheiro (não se vive só do ar, claro) ou a manter uma posição dentro da sociedade aristocrática para quem ele trabalhava, mas refiro-me a segmentos dela, nomeadamente um dos conjuntos de desenhos/gravuras tortuosos que criou nas transição dos séculos XVIII e XIX, denominada "Os Caprichos", que por pouco não lhe valeu uma condenação pela Inquisição.
    Com esta sátira corrosiva da sociedade espanhola de setencentos, escapou por pouco àquele órgão tenebroso espanhol, e também porque era reconhecido por Carlos IV como um artista de valor (não teria tanta sorte com Fernando VII).
    Não sei se Paula Rego buscou inspiração naqueles desenhos/gravuras, mas, na minha cabeça, aparecem sempre intimamente relacionados.

    O aquário Vasco da Gama está em caminho acelerado para a decadência (já estava, há 3 décadas atrás, quando o conheci).
    E é uma pena, pois tem informação diferente da do Oceanário, com o qual não pode competir, mas pode abordar campos do conhecimento diferentes, menos espetaculares, sem dúvida, mas bastante científicos.

    Uma boa tarde, na esperança de dias mais soalheiros
    Manel

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    1. Também fiquei impressionado pelas linhas, pelo tanto de insanidade que têm, como se estivéssemos num sonho. São três quadros que aquele centro tem. Três da Paula Rego. Vale tanto a pena ir lá! Não conheço muito de Goya. Terei de pesquisar mais numa colecção que tenho de História da Arte, que a minha mãe me fez há uns anos. Um conjunto de 19 ou 20 volumes que lhe ficaram numas centenas de euros.

      A Inquisição sempre foi um entrave ao progresso científico. Veja-se Da Vinci, com as suas dissecações, tão criticadas pela Igreja. Tudo era associado a práticas demoníacas. Bartolomeu de Gusmão, por cá, teve a sorte de cair nas boas graças de Dom João V, porque a sua "Passarola" também não caiu nas boas graças do Tribunal do Santo Ofício, valendo-lhe perseguições. Isto extrapolando as artes plásticas.

      Não tenho termo de comparação, mas senti esse vazio. O Aquário está mal estimado. Não tem quase nada a par de uns aquários e do museu.

      Uma boa semana para si, e obrigado pelas palavras atentas e enriquecedoras.

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