7 de junho de 2018

Cabaret Maxime.


  Bruno de Almeida engendrou esta estória em torno do velhinho cabaret Maxime, que durante décadas animou a noite lisboeta. Inaugurado antes dos ecos da liberdade soarem aos ouvidos dos portugueses, em Abril de 1974, o Maxime impôs-se como casa de variedades, de comédia e de burlesco, striptease e música ao vivo, onde meninas voluptuosas, quais feiticeiras, seduziam homens susceptíveis com os seus encantamentos. O pai, que tem já a provecta idade de 69 anos («belo número», nas palavras de Mota Amaral), contou-me episódios do Maxime, que chegou a frequentar nos seus tempos de menino e moço, quando a noite lisboeta não tinha o perigo de hoje. Não havia Urbans, nem enchentes de brasileiras e de mulheres do leste europeu. Outros tempos, em que tudo parecia divertido, e era-o.

  Cabaret Maxime não é ambientado no antigamente. É um filme actual, que retrata os nossos dias - os últimos anos da velha casa de espectáculos, que sobrevive em meio da concorrência com os seus números de palco gastos. A decadência sobressai ali pelos lados da Praça da Alegria. Os donos dos bares são intimidados para que cedam os estabelecimentos a novas realidades, no conhecido fenómeno de gentrificação. Bennie Gaza enquadra-se no alvo ideal. Paga uma renda baixa pelo Maxime, que o proprietário procura aumentar, sem sucesso, recorrendo à chantagem.

  Gostei das interpretações do americano Michael Imperioli e da veterana Ana Padrão, portuguesa, que dá alma e corpo àquela performer / artista de personalidade instável, profundamente perturbada, talvez porque tudo tem a sua época, e a dela já havia passado. A noite, para estas mulheres, pode ser de uma violência brutal. Todavia, entre Bennie e Stella há amor, com uma cena impactante que o deixa claro. Curioso, num meio com tanta exploração e proxenetismo, falar-se de amor, como se nos quisessem mostrar um qualquer contraste, uma qualquer esperança no meio daquele caos, o caos da personagem de Ana Padrão e o caos de um cabaret acabado.

   O núcleo do filme é restrito. Não há uma abundância de personagens. O realizador quis dar grande destaque às actuações de palco, com direito até a anedotas de baixo-calão (ouvirão uma de Brigitte Bardot fenomenal…). Uma palavra para a malograda Celeste Rodrigues, que nunca sobressaiu por ser irmã de quem é, e que aqui dá ar da sua graça numas poucas cenas.

   A noite ou o lusco-fusco são o pano de fundo de Cabaret Maxime. Noite, copos, fumo, descontrolo físico e emocional, prostituição de rua, compondo. Imprescindível para quem quer conhecer mais sobre os meandros que envolvem estas casas de má fama.

2 comentários:

  1. Ainda não vi, lolololol Obrigado pela dica

    O Café correu muito bem ;)

    Grande abraço amigo

    ResponderEliminar